Imigração?
Mais do que na imigração, é na natalidade que nos devemos focar.
De tempos a tempos, somos confrontados com a ideia de que nos teremos que habituar à imigração, porque vamos precisar dela de forma maciça, quer para evitar uma forte diminuição da população, quer para ajudar a sustentar a Segurança Social.
Em primeiro lugar, tem que se esclarecer que, se a médio e longo prazo isso poderá fazer algum sentido, a curto prazo não faz muito sentido. Ainda temos uma taxa de desemprego muito elevada, que vai levar uns bons anos a baixar, para além de um contingente significativo de emigrantes recentes, fugidos da crise, e que deveremos tentar recuperar.
Em segundo lugar, temos que ter muito cuidado com os imigrantes que iremos captar, em dois planos: o cultural e o económico. Em termos económicos, a coisa resolve-se por si porque, em princípio, atrairemos os imigrantes com as qualificações que nos escasseiam, porque os indiferenciados procurarão outros países onde o nível de vida é superior.
Em termos culturais é que a coisa é mais complicada. Antes de mais, precisamos de tomar consciência que temos tido uma sorte enorme com os imigrantes que temos acolhido, quase todos de base cristã, com uma minoria muçulmana muito mais pacífica do que é comum em outros países europeus.
Aqui vou ser muito politicamente incorrecto e afirmar, sem tibiezas, que o Islão apresenta dois graves problemas. Por um lado, não existe aí a separação entre Estado e religião que existe no Ocidente há muito tempo e, por outro – e muito mais grave – os países onde esta religião predomina vivem uma regressão civilizacional grave, com um peso crescente da religião, mais intolerante e agressiva do que no passado e com uma regressão nos direitos cívicos, em particular das mulheres e das orientações sexuais minoritárias.
Estou convicto de que essa regressão do Islão está por trás de uma atitude muito mais agressiva dos seus adeptos na Europa e, como resposta, do crescimento explosivo de uma extrema-direita nacionalista e quase tão intolerante como o islamismo que a fomenta.
Quando oiço sugerir que se atraiam imigrantes do Norte de África muçulmana, fico com os cabelos em pé. Como é possível pensar em destruir a nossa excepcionalidade na Europa e criar as condições para o aparecimento de uma extrema-direita nacionalista e intolerante, com todas as condições para colocar em causa a própria democracia no nosso país?
Para além disso, para que os imigrantes possam servir para salvar a Segurança Social, é necessário que a sua taxa de fecundidade seja muito superior à portuguesa. Mas, se isso acontecer, então, a prazo, eles passariam a ser a maioria da população, pondo em causa a identidade nacional. De novo, têm a certeza de que é isto que querem?
Por tudo isto, defendo que a chave da questão está na natalidade, porque ela é também a origem do problema. Há uma tendência muito portuguesa de, em vez dum foco na fonte da questão, procurar um remendo que gera mais problemas do que os que resolve.
O problema da queda da natalidade afecta todos os países europeus há varias décadas, tendo desencadeado um conjunto diferenciado de políticas que permitiram a inversão daquela tendência nos últimos anos. Só há um país onde ainda não se fez nada (para além de medidas folclóricas como baixar o IVA das fraldas) e a taxa de fecundidade continua a bater mínimos todos os anos: Portugal.
Repetindo o que venho defendendo há anos: não será já altura de se criar um Livro Branco sobre a Natalidade, que recolhesse as múltiplas experiências dos restantes países europeus, para ver o que funcionou e o que não produziu resultados, para se desenharem medidas para o nosso país?
Por opção própria, o autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico
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