O futuro do escritório

  • Nuno Vinagre
  • 15 Abril 2021

Vários estudos floresceram colocando o escritório e o seu layout como um elemento central na estratégia de uma empresa.

Para elaborar sobre o futuro do escritório comecemos por uma breve viagem ao seu passado recente.

Em 2005, o arquiteto Clive Wilkinson remodelou a sede da Google em Silicon Valley, transformando-a num espaço aberto e transparente em oposição à estrutura cubicular anterior, estilo muito comum nos EUA na segunda metade do século XX. A mudança foi de tal forma disruptiva que várias empresas tentariam imitar, fazendo do escritório o pináculo do seu EVP (Employee Value Proposition), transformando-o num símbolo do sucesso, mas esta é, na minha opinião, uma interpretação muito superficial daquilo que estava realmente em causa.

Para além da psicologia, a biologia mostra-nos que o ser humano é extremamente influenciado pelo contexto que o rodeia. Desta forma, o impacto do ambiente de trabalho na produtividade individual e coletiva da empresa não pode ser descurado, e vários estudos floresceram colocando o escritório e o seu layout como um elemento central na estratégia de uma empresa, ou seja, muito para além da interpretação superficial que falava anteriormente.

Mais do que transformar gabinetes/cubículos em espaços abertos, situação que, só por si, até pode ser contraproducente, a criação de espaços diversos, seja no tipo ou no tamanho, permitindo flexibilidade de escolha do espaço mais apropriado à tarefa “em mãos”, bem como a criação espaços de convívio social que permitem interações num registo mais informal, mostraram estar correlacionados com empresas mais criativas/inovadoras. Adicionalmente, o foco no bem-estar e na saúde dos colaboradores levou empresas a monitorizar nos seus escritórios parâmetros como a iluminação, temperatura, qualidade do ar, humidade, ruído, etc., bem como a pensar em espaços exteriores que fomentem a conexão com a natureza, redução do stress, etc., garantindo assim um ecossistema ótimo para a alavancar a performance.

Na era do Data Analytics não faria sentido excluir esta componente da análise. A Humanyze, por exemplo, é uma empresa que reúne, há cerca de 10 anos, dados relacionados com a forma como as pessoas trabalham e interagem. Para além das conclusões acerca da importância da comunicação presencial na tomada de decisões e performance, é interessante observar alguns dados recolhidos, já nesta pandemia, que parecem indicar que trabalhar em full remote aumenta a comunicação com quem tínhamos laços mais fortes, mas diminui a comunicação com os restantes, levantando assim a questão de como evoluirão as relações sociais dos colaboradores que entraram neste cenário. Afinal, como afirmava Aristóteles, somos “animais sociais”.

Para mim, que já sabia o que era teletrabalhar antes de 2019, é agora mais fácil perceber a importância das viagens que fiz para estar fisicamente com colegas que trabalhavam noutras localizações, criando assim relações fortes mais fáceis de manter online. Ou também perceber aqueles candidatos que entrevistei que, beneficiando do teletrabalho para empresas estrangeiras ganhando salários acima da média em Portugal, me confidenciaram ter saudades de estar fisicamente com os colegas.

Assim sendo, pelo menos a médio prazo, acredito num futuro híbrido, em que o teletrabalho é uma componente da equação, endereçando o work-life integration, por oposição ao tradicional work-life balance, mas em que o escritório continuará a existir, cada vez mais humanizado, mas também mais suportado na ciência e com o propósito de elevar cada vez mais a performance das equipas e, por consequência, também a individual.

* Nuno Vinagre é Head of Transformation of People & Culture da Vision Box.

  • Nuno Vinagre

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