Altice pede “condições estáveis” ao Governo para continuar a investir

No encontro com o ministro das Infraestruturas, João Galamba, a CEO da empresa de telecomunicações, Ana Figueiredo, salientou ainda a importância da estabilidade regulatória no setor.

A CEO da Altice Portugal, Ana Figueiredo, pediu esta segunda-feira ao ministro das Infraestruturas, João Galamba, que crie “condições estáveis” no setor para que a empresa possa prosseguir com os investimentos no País.

Fonte oficial da empresa revelou ao ECO que a presidente executivo transmitiu ao ministro a importância de “um compromisso por parte do Governo no sentido de assegurar estabilidade regulatória para o setor, para que Portugal continue a estar na vanguarda desta indústria a nível mundial”.

Se houver essa “estabilidade”, a empresa garante “vai continuar a apostar na conectividade com o desenvolvimento de infraestruturas de nova geração e na inovação”.

Esta é a primeira reunião entre Executivo e a empresa de telecomunicações depois do escândalo da Operação Picoas e acontece mais de dois meses depois de o cofundador da Altice, Armando Pereira, ter sido detido para interrogatório, bem como Hernâni Vaz Antunes, que também é próximo da empresa. Ambos estão em prisão domiciliária.

O caso fez tremer o grupo Altice a nível internacional e pode implicar também Alexandre Fonseca, ex-CEO da Altice Portugal, que suspendeu as funções de co-CEO da multinacional quando o caso veio a público. Em causa estão suspeitas de negócios com fornecedores que terão lesado a Altice e o Estado português em largos milhões de euros. A Altice diz-se vítima desse alegado esquema.

O encontro desta segunda-feira entre Ana Figueiredo e João Galamba “foi uma reunião normal, regular, com um dos nossos principais stakeholders, o ministro que tutela o setor das comunicações eletrónicas, para debater temas relevantes do setor”, adiantou ainda fonte oficial da Altice.

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Altice testa apetite do mercado com emissão de 500 milhões

A Altice International está a preparar uma emissão de 500 milhões de euros a quatro anos, que poderá ter um custo anual de dois dígitos. É o primeiro teste ao mercado desde a Operação Picoas.

A Altice está a preparar uma emissão de 500 milhões de euros para pagar dívida que vence em 2025, o que representará o primeiro teste aos mercados desde a detenção para interrogatório do seu cofundador, Armando Pereira.

A operação será levada a cabo pela Altice International, o ramo do grupo que controla a operação em Portugal, onde se inclui a operadora Meo, e que é o menos endividado dos três pilares que compõem a multinacional (os restantes são a Altice France e a Altice USA).

Segundo o Financial Times, a Altice está a propor aos investidores um prémio de cinco pontos percentuais sobre uma taxa de referência variável, e um preço de 96% face ao par, para as obrigações que vencem a quatro anos. O jornal salienta que o custo anual desta dívida será de dois dígitos.

O grupo controlado pelo magnata Patrick Drahi tem estado sob pressão dos investidores devido à montanha de dívida que ascende a 55 mil milhões de euros. Em conjunto, a Altice France e a Altice International terão de pagar quatro mil milhões de euros de dívida até 2026, noticiou o ECO.

Para tal, a Altice está a estudar várias opções, incluindo a possibilidade de entrarem novos investidores na Altice France, ou até na Altice Portugal. A empresa está também a vender ativos não estratégicos, como o centro de dados que tem na Covilhã.

Além disso, no início do verão, a Altice Portugal foi alvo de buscas no âmbito de uma investigação a altos cargos da empresa, envolvendo negócios suspeitos com fornecedores que terão lesado a companhia e o Estado. No centro das atenções está Armando Pereira, parceiro de negócios de longa data de Drahi, que foi posto em prisão domiciliária.

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Altice anuncia cobertura total da ilha do Corvo com fibra ótica

  • Lusa
  • 21 Setembro 2023

O arquipélago dos Açores apresenta agora cerca de 94% de cobertura de fibra ótica e 72,8% em rede 5G, contando com 30 estações de rede móvel 5G, de acordo com a Altice.

A Altice Portugal anunciou esta quinta-feira a cobertura total da ilha do Corvo, Açores, com fibra ótica, cumprindo “o compromisso realizado pela Comissão Executiva” na visita à região exatamente há um ano.

“A cobertura integral da ilha do Corvo materializa o compromisso realizado pela Comissão Executiva da Altice Portugal na sua última visita à região, em setembro de 2022″, onde se inclui “uma vaga de novos investimentos em redes, tecnologia e inovação, que previa a expansão de fibra ótica e modernização de toda a rede móvel do arquipélago”, refere a dona da Meo, em comunicado.

Com um dos índices de cobertura “dos mais elevados a nível nacional, o arquipélago dos Açores apresenta agora cerca de 94% de cobertura de fibra ótica e 72,8% em rede 5G, contando com 30 estações de rede móvel 5G”, adianta a Altice Portugal.

Há um ano comprometemo-nos com o Governo Regional e com todos os açorianos a colocar os Açores no topo das nossas prioridades. Hoje, anunciamos mais um passo rumo a esse objetivo ao anunciarmos a cobertura integral em fibra ótica da Ilha do Corvo”, afirma a presidente executiva (CEO) da Altice Portugal, Ana Figueiredo, citada no comunicado.

Este é “um contributo expressivo da Altice Portugal para a atenuação das desigualdades territoriais, indicativo do seu investimento no desenvolvimento das economias locais e do país como um todo”, remata a responsável.

A Altice Portugal “mantém-se na vanguarda da inovação e do progresso tecnológico, atingindo, no segundo trimestre de 2023, 6,3 milhões de casas passadas com fibra em todo o país, e 95% da população com 5G e 99,9% com 4G”, lê-se no comunicado.

O plano de cobertura 100% fibra da Altice Portugal “arrancou em 2019 com o objetivo de transformar Portugal no primeiro país da Europa com uma cobertura de fibra ótica praticamente integral”, um “objetivo rapidamente atingido e que contribui para aumentar a inclusão digital e promover o desenvolvimento económico, assim como acelerar a aptidão digital de toda a sociedade”, acrescenta a dona da Meo.

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Grupo Altice tem quatro mil milhões de dívida a vencer até 2026

Grupo volta a estar sob pressão para reduzir a avultada dívida, que supera os 55 mil milhões de euros. Quatro mil milhões de euros de dívida da Altice France e da Altice International vencem até 2026.

Além da investigação judicial da Operação Picoas, a Altice voltou a estar sob pressão dos investidores para reduzir a sua dívida, que ascende a 55 mil milhões de euros, dos quais mais de 32 mil milhões nas duas entidades que tem sedeadas na Europa. O grupo até já admite a entrada de novos parceiros de capital ou dívida, incluindo em Portugal, onde é bem conhecido do público por deter a operadora Meo. Só na Europa há quatro mil milhões de euros de dívida a vencer nos próximos três anos.

Esta montanha de dívida é o resultado de décadas de aquisições com recurso ao endividamento, sobretudo numa era em que os juros estiveram historicamente baixos. Agora, o ciclo económico mudou e Patrick Drahi, o magnata israelita que fundou a Altice na viragem do milénio, volta a estar vendedor — para já, de ativos considerados não estratégicos, como o centro de dados da antiga Portugal Telecom na Covilhã.

Não é a primeira vez que Patrick Drahi é pressionado pelos investidores. Por exemplo, na reta final de 2017, quando a Altice era cotada na bolsa de Amesterdão, um trimestre de resultados particularmente negativos colocou a empresa sob a luz dos holofotes, levando-a a anunciar uma nova estratégia de foco na liquidação do passivo, que já nessa altura girava em torno dos 50 mil milhões. Hoje a estrutura da Altice é diferente e é preciso mergulhar nos números para entender a posição em que se encontra.

No geral, o grupo Altice divide-se em três: Altice France, Altice International e Altice USA. No final do segundo trimestre, a maioria da dívida da Altice estava em França. A Altice France, que comanda a SFR, a maior operadora francesa, acumula 23,86 mil milhões de euros de dívida líquida, dos quais 4,19 mil milhões sem garantias, segundo a última apresentação de contas trimestrais. A maturidade média desta dívida é de 4,6 anos e 16% da dívida tem taxas de juro variáveis. O juro médio é de 5,6%.

São números que representam uma alavancagem, medida pelo rácio dívida líquida/EBITDA, de 6x, quando a média do setor das telecomunicações, de acordo com uma análise do banco ING, é de 2x. A liquidez da Altice France rondava 1,4 mil milhões no final do segundo trimestre.

A Altice International é a mais relevante para o contexto português. É a “casa-mãe” da Altice Portugal, o seu principal negócio, mas também comanda a Altice Israel (Hot), a Altice República Dominicana e a agência de publicidade digital Teads. Controla ainda a Fastfiber, que gere a rede de fibra ótica em Portugal, da qual é proprietária de 50,01%.

A mais recente apresentação de contas trimestrais da Altice International mostra uma empresa bem menos endividada, em termos absolutos, do que a homóloga francesa. No final de junho, a dona da Altice Portugal tinha uma dívida de 8,552 mil milhões de euros, a esmagadora maioria com garantias, com maturidade média de 4,6 anos e 15% a taxas variáveis, com um juro médio de 5,1%. O rácio de alavancagem também era inferior, situando-se em 4,8x, e a liquidez era de 600 milhões de euros.

É ainda preciso olhar para o outro lado do Atlântico, nomeadamente a Altice USA, que resultou de um spin-off em 2018 e é cotada na bolsa norte-americana. De acordo com informação regulatória, a dívida líquida consolidada do grupo nos EUA era, no final do primeiro semestre, de 24,543 mil milhões de dólares (quase 23 mil milhões de euros), e o rácio de alavancagem ascendia a 6,7x. Paga por esta dívida, em média, 6%.

Mas o perfil geral da dívida do grupo Altice não ficaria completo sem se falar de maturidades. E é por causa delas que Patrick Drahi corre contra o tempo: só nos próximos três anos, entre 2024 e 2026, as duas subsidiárias da Altice com sede na Europa (Altice France e Altice International) terão de reembolsar mais de quatro mil milhões de euros aos investidores, mais de metade em 2025. Nos EUA, há outros três mil milhões de dólares para pagar.

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Altice admite entrada de novos investidores

Porque é que se voltou a falar disto agora? Na semana passada, o nome de Patrick Drahi voltou às páginas dos jornais, por causa de dois encontros que promoveu com investidores em Londres e Nova Iorque e nos quais foi acompanhado da presidente executiva da Altice Portugal, Ana Figueiredo. A motivar a iniciativa, chamada non-deal roadshow, por não estar associada a nenhum negócio em particular, estiveram as buscas à Altice em junho, que resultaram na detenção para interrogatório do parceiro de negócios de Drahi, Armando Pereira. Nestes encontros, o magnata insistiu que a estratégia da Altice, além de continuar a crescer, passa por reduzir o nível de endividamento, de olhos postos nas maturidades de 2025 e 2026.

Desde já, essa estratégia passará pela venda de 92 centros de dados que a Altice tem França, uma operação que lhe poderá permitir obter mil milhões de euros, segundo a imprensa internacional e o que disse uma fonte próxima da empresa ao ECO. Além disso, a Altice quer fechar no outono a venda do centro de dados da Covilhã. O ECO sabe que a venda, avaliada em cerca de 200 milhões de euros, esteve prestes a ser fechada no início do verão, mas as buscas das autoridades portuguesas ao universo Altice travaram o negócio, que estava quase a ser assinado com o fundo Horizon Equity Partners, de Sérgio Monteiro, antigo secretário de Estado das Infraestruturas.

A grande incógnita continua a ser o futuro da Altice em Portugal. Em 2021, o ECO noticiou que o grupo mandatou a boutique de investimentos Lazard para avaliar a possível venda da dona da Meo, mas, no final, Patrick Drahi terá decidido não avançar, por ter uma expectativa de preço diferente da dos potenciais compradores. Fonte próxima da empresa garantiu ao ECO que a venda da totalidade da Altice Portugal, tal como da francesa SFR, não está em cima da mesa, mas um dos cenários para o mercado português pode ser a consolidação ou a entrada de novos investidores no capital. O ECO colocou esta e outras questões à Altice esta segunda-feira e encontra-se a aguardar resposta.

Sendo um setor crítico, o Governo português está atento. No rescaldo das buscas à Altice Portugal, envolvendo suspeitas de que uma teia de fornecedores pode ter lesado o Estado e a própria Altice em milhares de milhões de euros, o ministro das Infraestruturas vai reunir com a CEO da Altice Portugal, Ana Figueiredo, no próximo dia 2 de outubro. Com a Altice a admitir a entrada de novos investidores, uma das coisas que o Executivo poderá querer impedir é uma situação à que aconteceu este mês em Espanha, em que, subitamente a Saudi Telecom, controlada pela Arábia Saudita, comprou 9,9% da Telefónica, numa operação que esteve meses a ser preparada em segredo.

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Portugal solicitou às operadoras “planos de implementação” da medida que exclui Huawei do 5G

Vodafone e Altice confirmam estar a desenvolver "planos de implementação" da decisão das autoridades portuguesas que exclui empresas como a Huawei do 5G. Nos só confirma "diálogo".

As três maiores operadoras do país, Meo, Nos e Vodafone, confirmam já estar a preparar a implementação da medida que as proíbe de recorrerem a fornecedores de “alto risco” nas redes 5G, como a chinesa Huawei. Dizem estar a desenvolver “planos de implementação” da decisão, para submeter à Anacom, que tem mantido o silêncio em todo este processo.

Por ser um tema sensível para a segurança nacional, a informação disponível é escassa. Desde que foi tornada pública a deliberação da Comissão de Avaliação de Segurança (CAS) o regulador do setor nunca se pronunciou sobre o assunto e, contactado pelo ECO, continua a recusar fazê-lo, ainda que a lei lhe confira o poder de “fazer cumprir” a decisão e de “fiscalizar” o seu cumprimento. Fonte oficial da Anacom remete todos os esclarecimentos para a CAS.

Por sua vez, a CAS, encabeçada pelo contra-almirante António Gameiro Marques, também não tem dado muitas explicações sobre a decisão de excluir do 5G as empresas que, entre outros critérios, estejam sedeadas em países fora da União Europeia, da OCDE ou da NATO. Mas, através do órgão em que se insere, o Conselho Superior de Segurança do Ciberespaço, revelou na semana passada que “as operadoras de telecomunicações estão a desenvolver os respetivos planos de implementação das deliberações da CAS a serem apresentados à Anacom”.

O ECO contactou depois as três principais operadoras. Fonte oficial da Vodafone Portugal confirma que lhe foi pedido para desenvolver esse plano, mas não se alonga em detalhes, nem explica que entidade fez o pedido (se a CAS, se a Anacom): “No âmbito do que lhe foi solicitado, a Vodafone confirma estar a desenvolver um plano de implementação da referida deliberação da Comissão de Avaliação de Segurança.”

Já fonte oficial da Altice Portugal também confirma estar a trabalhar num plano de implementação, a pedido das autoridades nacionais: “A Altice Portugal cumpre integralmente as disposições legais em vigor e presta toda a colaboração que lhe é solicitada pelas autoridades, estando a avaliar as deliberações da Comissão de Avaliação de Segurança e a desenvolver o respetivo plano de implementação.”

A resposta da Nos é mais vaga: “A Nos encontra-se em diálogo com as autoridades e a analisar as deliberações relevantes, bem como os vários planos de ação e os seus impactos, com vista a salvaguardar a segurança e resiliência das redes de comunicações, bem como o melhor interesse dos seus clientes.”

No âmbito do que lhe foi solicitado, a Vodafone confirma estar a desenvolver um plano de implementação da referida deliberação da Comissão de Avaliação de Segurança.

Fonte oficial da Vodafone Portugal

O ECO contactou também fonte oficial da Anacom, questionando, entre outras coisas, se existem prazos que as operadoras têm de cumprir. Mas o regulador voltou a recusar responder, remetendo para a CAS.

Assinada a 23 de maio de 2023, a primeira deliberação da CAS estabelece sete critérios que determinam, no contexto do 5G, se um fornecedor ou prestador de serviços representa um “alto risco para a segurança das redes e serviços nacionais”. Basta que as empresas cumpram um deles para serem consideradas de “alto risco”, ficando excluídas de participar no desenvolvimento desta tecnologia.

Um desses critérios permite expulsar do 5G os fornecedores que estejam domiciliados ou vinculados a um país que não pertença à União Europeia, ou à OCDE, ou à NATO. É o caso da China, onde a Huawei tem sede, em Shenzhen, pelo que a tecnológica avançou no final de agosto com uma ação administrativa contra a CAS, na expectativa de travar a deliberação, avançou o ECO na passada segunda-feira.

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Grupo Altice avalia vendas para reduzir dívida

Grupo está a estudar várias opções para abater dívida que se aproxima dos 56 mil milhões de euros, incluindo a entrada de novos parceiros de capital ou dívida "em todas as geografias".

A Altice está a estudar “várias opções” para reduzir a montanha de dívida que, atualmente, se aproxima dos 56 mil milhões de euros (60 mil milhões de dólares). Para tal, o grupo está a tentar fechar a venda de ativos não estratégicos em França e Portugal, admite a entrada de novos parceiros de capital ou dívida “em todas as geografias”, e mantém a porta aberta à consolidação, apurou o ECO junto de fonte familiarizada com o assunto.

Patrick Drahi, o multimilionário que controla a Altice, tem estado sob pressão para reduzir o passivo do grupo internacional, perante a subida das taxas de juro e da aproximação de prazos de vencimento em 2025 e 2026, mas também por causa das buscas em Portugal relacionadas com a Operação Picoas e que conduziram à detenção, para interrogatório, do seu parceiro de negócios e cofundador da Altice, Armando Pereira.

O ECO sabe que as buscas resultaram na suspensão da venda do centro de dados da Altice na Covilhã, uma transação que a empresa estava quase a fechar com o fundo Horizon Equity Partners, de Sérgio Monteiro, antigo secretário de Estado das Infraestruturas. A Altice espera agora concluir a transação no outono, apurou o ECO, numa operação que lhe poderá permitir angariar 200 milhões de euros.

Além disso, na quarta-feira, o jornal francês Les Echos noticiou que a Altice está em negociações avançadas para a venda dos 92 centros de dados que tem em França ao Morgan Stanley. O negócio poderá ser avaliado em mil milhões de euros, uma informação confirmada pelo ECO junto de fonte familiarizada com os planos da Altice.

Na sequência das buscas realizadas em Portugal, Patrick Drahi viajou até Londres esta quarta-feira para responder às perguntas dos investidores, tendo cruzado o Atlântico esta quinta-feira para fazer o mesmo em Nova Iorque. Fonte familiarizada com o teor do encontro disse ao ECO que o multimilionário insistiu na intenção de reduzir o nível de endividamento da Altice e de continuar a fazer crescer o negócio.

Além da venda dos centros de dados em França e Portugal, o ECO sabe que está em curso o refinanciamento da XpFiber, a empresa de construção de fibra ótica da Altice em França, e, segundo disse ao ECO fonte familiarizada com o assunto, não está afastada a “potencial entrada de parceiros de capital ou de dívida”, uma reflexão que a empresa realiza “regularmente” nos mercados em que opera.

Contactada pelo ECO, fonte oficial da Altice declarou que “um dos objetivos principais, para além do crescimento de negócio, é a redução da dívida”. “Como tal, há várias opções em análise: venda de ativos não core; entrada de parceiros de capital ou dívida; ou ainda consolidação”, acrescentou.

A propósito deste assunto, citando o jornal francês Le Monde, a Bloomberg escreve esta quinta-feira que a Altice terá mandatado a boutique de investimento Lazard e o BNP Paribas para avaliar opções para a operadora francesa SFR, e que a Lazard também estará a estudar opções que envolvem a Altice Portugal, que detém a operadora Meo. O Morgan Stanley e o Goldman Sachs estarão a avaliar a empresa de publicidade digital Teads e a operação da Altice na República Dominicana, segundo a mesma fonte.

A Reuters também confirmou que estes quatro bancos de investimento estarão a avaliar os ativos da Altice para identificar potenciais negócios que permitam ajudar a cortar a dívida da companhia, incluindo a Altice Portugal.

Num encontro com representantes dos trabalhadores esta quinta-feira, o CEO da Altice France, Arthur Dreyfuss, terá confirmado que a Altice contratou consultores em “todas as geografias” para avaliarem a venda de participações ou de dívida, noticia também a Bloomberg, citando fontes familiarizadas com o assunto. Mas o gestor também terá afirmado que a Altice conduz periodicamente avaliações estratégicas nos mercados onde opera.

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Ana Figueiredo abana gestão da Altice Portugal após “trabalho de reflexão”

Alterações à composição da Comissão Executiva, com afastamento dos administradores financeiro e tecnológico, acontece depois de "reflexão" do board e permite enfrentar desafios com confiança renovada.

Com efeitos imediatos, Ana Figueiredo anunciou esta sexta-feira uma nova remodelação parcial da Comissão Executiva da Altice Portugal, substituindo os administradores financeiro e tecnológico e nomeando uma administradora responsável pela área legal. Há apenas ano e meio no cargo de CEO, deixa de ser a única mulher na cúpula da empresa e renova a confiança na gestão, após “um trabalho de reflexão do Conselho de Administração”, num momento particularmente crítico para a companhia que comanda a Meo.

A remodelação acontece depois de, a 13 de julho, a Altice Portugal ter sido alvo de buscas do Ministério Público, num caso que ficou conhecido por Operação Picoas, uma referência à zona onde se localiza a icónica sede do grupo, no centro de Lisboa. O processo expôs um alegado esquema financeiro envolvendo fornecedores da Altice que terá lesado o Estado e o grupo em centenas de milhões de euros, e que chegou a conduzir à detenção para interrogatório do cofundador da Altice, Armando Pereira.

De saída da comissão executiva está, desde logo, Alexandre Matos, que era administrador financeiro da Altice Portugal desde o final de 2017 e homem de confiança do anterior CEO, Alexandre Fonseca. O ex-líder da Altice também foi implicado na investigação e decidiu suspender as funções de chairman da Altice Portugal e de co-CEO do grupo a nível internacional, mas não foi constituído arguido. Com a sua saída de cena, ainda que alegadamente temporária, Ana Figueiredo assumiu também a função de chairwoman da Altice Portugal.

Para o lugar de Alexandre Matos vai Gonçalo Camolino, que fica responsável pelas áreas financeira, de planeamento estratégico e controlo de gestão, compras e património. Importa recordar que João Zúquete da Silva, chief corporate officer, que era responsável pelo património da Altice Portugal, foi um dos nomes suspensos de funções depois das buscas à Altice Portugal, tendo ficado de licença (segundo noticiou a Lusa na altura, a suspensão foi pedida pelo próprio). Como foi amplamente noticiado em julho, a investigação também se prende com a venda de imóveis detidos pela Altice Portugal.

João Teixeira, até aqui administrador tecnológico, também está de saída e foi substituído por José Pedro Nascimento, que passará a ter sob responsabilidade as áreas de engenharia e operações de rede, tecnologias da informação, cibersegurança e privacidade e transformação digital.

“Ao Alexandre Matos e ao João Teixeira, meus colegas de comissão executiva, deixo um especial agradecimento pelo excelente trabalho desenvolvido. Com grande foco e espírito de equipa, contribuíram em muito para os resultados da nossa empresa nos últimos anos e para a sua consolidação e liderança no setor”, escreve Ana Figueiredo num comunicado interno a que o ECO teve acesso.

É ainda criado um novo cargo de chief legal officer, que será ocupado por Sofia Aguiar e que terá sob responsabilidade as áreas de regulação, concorrência e jurídico, proteção de dados e compliance, que ganha relevância no contexto da investigação ao universo da empresa e em relação às quais a Altice Portugal tem repetido estar no papel de “vítima”.

Na mensagem divulgada internamente, a CEO anuncia ainda que decidiu nomear um novo chefe de gabinete, que vem do setor público, substituindo Luís Ribeiro da Silva.

“Fernando Marta, a quem dou as boas-vindas à Altice, é o meu novo chefe de gabinete. Possui uma larga experiência profissional no domínio das tecnologias de informação e na liderança de projetos inovadores nos setores público e privado”, lê-se na missiva.

De acordo com informação publicada pelo próprio no LinkedIn, Fernando Marta era, até aqui, administrador do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e membro do Conselho Diretivo do mesmo. É ainda visiting professor do ISCTE Executive Education e tem no currículo mais de 12 anos ao serviço da Agência para a Modernização Administrativa (AMA).

“O Luís Silva, a quem agradeço todo o apoio que me prestou, a mim e aos restantes membros do Comex [comissão executiva], reintegra a área de contencioso laboral/relações laborais da DRH [direção de recursos humanos]”, ressalva a gestora.

A par destas alterações na gestão de topo, Ana Figueiredo anunciou diversas alterações adicionais nas direções de alguns departamentos e manteve outros administradores.

Assim, João Epifânio mantém-se como administrador com os pelouros do consumo e do marketing, Nuno Nunes continua como chief sales officer, tal como Alexander Freese como o administrador que comanda as operações. Ana Figueiredo também mantém “temporariamente” as áreas dos recursos humanos e da Altice Cuidados de Saúde.

“Reflexão” ditou estas mudanças

Segundo indicou na mensagem interna, Ana Figueiredo decidiu realizar esta remodelação da Comissão Executiva na sequência de um “trabalho de reflexão do Conselho de Administração, tendo por prioridade o cumprimento das metas fixadas” no plano estratégico para os próximos anos.

“Acredito que esta nova equipa de gestão reúne a competência e o conhecimento necessários para responder aos inúmeros desafios que a Altice Portugal e o setor enfrentam, bem como o compromisso e foco nos nossos objetivos estratégicos”, escreve a CEO.

“Todas estas nomeações têm em comum a promoção de talento interno, pessoas de elevada competência, com provas dadas e reconhecidas por todos, que conhecem bem o negócio e esta organização. Congratulo-me por terem aceitado o meu convite e o desafio que temos pela frente, possibilitando dar continuidade à nossa cultura de meritocracia”, remata Ana Figueiredo.

Acredito que esta nova equipa de gestão reúne a competência e o conhecimento necessários para responder aos inúmeros desafios que a Altice Portugal e o setor enfrentam.

Ana Figueiredo

CEO da Altice Portugal

Confiança renovada na equipa de gestão

Contactado pelo ECO esta sexta-feira à tarde, Jorge Félix, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Grupo Altice em Portugal (STPT) ainda não tinha sido informado oficialmente das alterações. No entanto, disse encarar as mudanças na administração com naturalidade.

Numa altura em que Ana Figueiredo assume “total responsabilidade” pela direção da Altice Portugal, “é natural que queira ter uma equipa da sua própria confiança”, afirmou o presidente de um dos sindicatos de trabalhadores da Altice Portugal.

“Em termos estratégicos, havia a possibilidade de acontecer isto. Toda a comissão executiva existente ainda vinha dos tempos da gestão de Alexandre Fonseca. É natural”, disse o sindicalista. “A comissão executiva era, essencialmente, ligada à anterior gestão e, quando saiu Alexandre Fonseca e entrou Ana Figueiredo, a Comissão manteve-se intacta”, concluiu.

(artigo atualizado às 18h27 com mais informações)

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Altice pode encaixar 700 milhões com venda de data centers

  • ECO
  • 11 Agosto 2023

Pressionado por uma dívida de 54 mil milhões de euros, o grupo que detém a Meo prepara-se para alienar os centros de dados que possui em Portugal (Covilhã) e França.

O grupo Altice poderá encaixar à volta de 700 milhões de euros com a venda dos centros de dados que possui em Portugal (Covilhã) e em França, ativos não essenciais que se prepara para alienar no âmbito da estratégia de desalavancagem pressionada pela dívida de 54 mil milhões de euros.

A estimativa é avançada pela agência Reuters, citando fontes da banca de investimento, com o Jornal Económico a escrever na edição desta sexta-feira que, deste montante, cerca de cem milhões de euros deverão advir da venda do data center localizado no distrito de Castelo Branco.

Fontes ouvidas pelo semanário advertem que este encaixe irá depender da forma como as alienações tiverem lugar e do impacto que o escândalo de corrupção que envolve o cofundador Armando Pereira terá na capacidade negocial da Altice, liderada por Patrick Drahi e que em Portugal é dona da Meo.

No início desta semana, durante uma teleconferência com os obrigacionistas da Altice International sobre o tema quente que envolve o grupo, a Operação Picoas em Portugal, o magnata franco-israelita disse que esse processo foi um “choque” e uma “desilusão” e que fez com que se tivesse sentido “traído”, inclusive por Armando Pereira. Drahi explicou ainda que o português já não detém ações da Altice, mas recebe 20% dos seus ganhos.

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Armando Pereira foi consultor da Altice France até ao final de julho, diz Patrick Drahi

Depois das acusações de "traição", os elogios. Patrick Drahi realçou o papel de Armando Pereira na francesa SFR e diz que o fim da "missão" de consultor em julho nada teve a ver com a Operação Picoas.

Armando Pereira foi consultor da Altice France até final de julho deste ano, já depois do desencadear da Operação Picoas, revelou esta terça-feira Patrick Drahi, o magnata franco-israelita que controla o grupo, adiantando, no entanto, que o fim do contrato foi independente da investigação portuguesa.

Na segunda-feira, numa teleconferência com os investidores na dívida da Altice International, que inclui a Altice Portugal (dona da Meo), Patrick Drahi admitira que a Operação Picoas foi um “choque” e uma “desilusão” e que fez com que se tivesse sentido “traído” pelo co-fundador Armando Pereira.

Nessa ocasião informou ainda que Armando Pereira já não detém ações da Altice, mas mantém um interesse económico de 20% da posição do magnata franco-israelita. Sobre o papel do português na gestão da Altice International, disse que tem sido inexistente nos últimos anos, deixando, porém, para esta terça-feira a explicação sobre o envolvimento na operação francesa.

“Sobre o envolvimento do Sr. Pereira em França, como a questão foi levantada ontem e eu prometi responder, ele foi vice-diretor geral do nosso negócio francês, ou seja, da SFR, não estando envolvido no negócio de média, desde o final de 2017 até ao início de 2019, onde ao lado do nosso atual CEO desempenhou um papel fundamental no relançamento do negócio e na construção da rede Xp Fibre, que já está mais de 80% implementada “, disse na teleconferência com os obrigacionistas para apresentar os resultados da Altice France.

“Em agosto de 2022, quando promovi Mathieu Cocq como CEO da SFR, pedi ao Sr. Pereira para aconselhar Mathieu sobre questões operacionais da SFR por um período de transição de um ano”, adiantou ainda. Assim, acrescentou, “independentemente dos recentes acontecimentos imprevisíveis, esta missão consultiva foi, portanto, encerrada no final de julho de 2023″.

O gestor sublinhou nessa altura que, entre outras medidas que incluem a suspensão de contratos com entidades envolvidas e uma investigação interna, a Altice suspendeu 15 colaboradores em Portugal, França e nos Estados Unidos.

A Operação Picoas, desencadeada em 13 de julho, levou a várias detenções – entre as quais a do cofundador do grupo Altice Armando Pereira –, contou com cerca de 90 buscas domiciliárias e não domiciliárias, incluindo a sede da Altice Portugal, em Lisboa, e instalações de empresas e escritórios em vários pontos do país, além de na residência do ex-líder da Altice Portugal, Alexandre Fonseca, que era até essa altura co-CEO do grupo Altice a nível internacional.

Em causa estão suspeitas de viciação do processo decisório do Grupo Altice, em sede de contratação, com práticas lesivas das próprias empresas daquele grupo e da concorrência, que apontam para corrupção privada na forma ativa e passiva. O Estado terá também sido prejudicado com uma fraude fiscal “superior a 100 milhões de euros.

Armando Pereira está indiciado de 11 crimes de corrupção ativa e passiva, branqueamento e falsificação de capitais. Já Hernâni Antunes, alegadamente seu homem de confiança, é suspeito de mais de 20 crimes de corrupção ativa, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada. Aos dois foi aplicada a prisão domiciliária sem vigilância eletrónica e ficam ambos sem acesso aos passaportes.

A 19 de julho, a Altice Internacional colocou de licença vários representantes legais, gestores e trabalhadores chave em Portugal e no estrangeiro, avançando também que a investigação interna que tinha sido anunciada pela Altice Portugal abrange ainda “outras jurisdições” além do mercado português.

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Participação económica de Armando Pereira na Altice “passa por mim”, diz Drahi. “É uma questão pessoal”

Patrick Drahi explica que o português, com quem fundou a Altice, recebe 20% dos seus ganhos. É uma questão "pessoal", sem impacto no grupo, salientou o magnata franco-israelita.

Numa teleconferência com obrigacionistas que teve verdadeiros momentos de emoção, Patrick Drahi explicou que Armando Pereira já não detém ações da Altice, mas mantém um interesse económico de 20% da posição do magnata franco-israelita.

Com o cofundador português indiciado por 11 crimes que alegadamente lesaram a empresa e o Estado português, o que acontecerá nessa relação? “É uma questão pessoal, não quero falar sobre isso hoje”, respondeu Patrick Drahi.

Na apresentação e conversa com os obrigacionistas da Altice Internacional, Drahi já admitira ter sentido “choque e desilusão” com a Operação Picoas, acusando ainda Armando Pereira de o ter traído.

Patrick Drahi fez questão de recordar o histórico da relação. “Quando fundei a Altice em 2001, criei uma equipa de gestão logo na primeira aquisição, onde contratei Armando Pereira em 2003, entre outros. Ele estava encarregado das operações técnicas, incluindo aquisições técnicas“, indica. No âmbito desta função — e à semelhança de muitos outros dirigentes do grupo –, Armando Pereira fez um pequeno investimento na primeira aquisição da Altice, representando menos de 1% do capital, e recebeu um carry interest indexado aos investidores de private equity da Altice.

“Com o tempo, a forma do seu interesse económico evoluiu, e desde 2005 ele não possui uma única ação ou direito em qualquer uma das entidades da Altice, mas simplesmente manteve uma participação de cerca de 20% do meu interesse económico pessoal”, explicou.

Questionado sobre o papel de Armando Pereira na operação da Altice International, Patrick Drahi referiu que o português nunca esteve envolvido na Teads (empresa de marketplace de vídeo adquirida em 2017), nem na operação israelita, por não falar hebraico. E não se deslocou à República Dominicana “provavelmente” desde 2017.

“Vivia de tempos em tempos em Portugal, portanto teve trocas com a equipa de gestão, mas posso dizer que não esteve envolvido em reuniões de gestão nem teve nenhum impacto no negócio aí nos últimos dois anos”, sublinhou.

De forma enigmática, concluiu que “isso poderá ser um bocado diferente amanhã, quando [falará] sobre França“, apontando para nova teleconferência com analistas, desta vez com obrigacionistas da Altice France.

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“Foi um choque e uma desilusão. Sinto-me traído”, diz Patrick Drahi sobre a Operação Picoas

Magnata franco-israelita expressou "choque" com a investigação de corrupção em Portugal, mas assegurou que o caso não vai afetar as contas ou o outlook da Altice International.

Patrick Drahi abriu esta segunda-feira a teleconferência com os obrigacionistas da Altice International com o tema quente que envolve o grupo, a Operação Picoas em Portugal. Uma realidade que o magnata franco-israelita diz ter sido um “choque” e uma “desilusão” e que fez com que se tivesse sentido “traído”, inclusive pelo cofundador Armando Pereira.

“Foi um choque e uma grande desilusão para mim. Se essas alegações forem verdadeiras, sinto-me traído por um pequeno grupo de indivíduos, incluindo um dos nossos colegas mais antigos“, disse Patrick Drahi, numa referência ao português Armando Pereira.

O magnata adiantou que o grupo está a levar as alegações com “muita seriedade” e que está a cooperar com as autoridades. Explicou ainda que, enquanto conduz uma investigação interna, a Altice Internacional pôs de licença cerca de 15 colaboradores em Portugal, França e nos Estados Unidos, tendo também instruído os CEO do grupo a suspender pagamentos e compras de entidades potencialmente envolvidas na investigação.

Minimizar danos

Apesar do choque e da desilusão, Patrick Drahi quis explicar aos obrigacionistas que o impacto no grupo será limitado. “Neste momento e tanto quanto é do nosso conhecimento, o âmbito da investigação judicial está limitado a Portugal”, disse, adiantando que internamente o grupo identificou que “as entidades da Altice fora de Portugal têm feito alguns negócios com os fornecedores afetados, identificados pelas autoridades portuguesas”.

“Embora as nossas investigações estejam em andamento, estimamos que o caso diga respeito a uma pequena parte das nossas compras globais, dígitos baixos a médios das nossas despesas totais, principalmente concentrada em compras técnicas, sendo o potencial valor fraudulento apenas a margem ou comissão sobre tais volumes”, referiu.

Em termos de impactos comerciais, “assumimos para medidas provisórias que as alegações
são verdadeiras e tomaram medidas prudentes e necessárias para minimizar possíveis danos ao grupo”, adiantou.

Segundo Patrick Drahi, em termos de impactos financeiros, o grupo espera “que os resultados financeiros históricos não sejam afetados. “Não esperamos impacto em caixa, nem na liquidez — e o guidance da Altice International para 2023 e além [desse ano] permanece inalterado”, vincou.

A Operação Picoas, desencadeada em 13 de julho, levou a várias detenções – entre as quais a do cofundador do grupo Altice Armando Pereira –, contou com cerca de 90 buscas domiciliárias e não domiciliárias, incluindo a sede da Altice Portugal, em Lisboa, e instalações de empresas e escritórios em vários pontos do país, além de na residência do ex-líder da Altice Portugal, Alexandre Fonseca, que era até essa altura co-CEO do grupo Altice a nível internacional.

Em causa estão suspeitas de viciação do processo decisório do Grupo Altice, em sede de contratação, com práticas lesivas das próprias empresas daquele grupo e da concorrência, que apontam para corrupção privada na forma ativa e passiva. O Estado terá também sido prejudicado com uma fraude fiscal “superior a 100 milhões de euros.

Armando Pereira está indiciado de 11 crimes de corrupção ativa e passiva, branqueamento e falsificação de capitais. Já Hernâni Antunes, alegadamente seu homem de confiança, é suspeito de mais de 20 crimes de corrupção ativa, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada. Aos dois foi aplicada a prisão domiciliária sem vigilância eletrónica e ficam ambos sem acesso aos passaportes.

A 19 de julho, a Altice Internacional colocou de licença vários representantes legais, gestores e trabalhadores chave em Portugal e no estrangeiro, avançando também que a investigação interna que tinha sido anunciada pela Altice Portugal abrange ainda “outras jurisdições” além do mercado português.

Também o genro de Armando Pereira, Yossi Benchetrit, responsável pela área de compras e imobiliário da Altice USA, está de licença.

[Notícia atualizada às 13h07]

 

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Altice. Empresário de Braga confessa pagamentos a Alexandre Fonseca

  • ECO
  • 27 Julho 2023

Ex-CEO da Altice Portugal terá recebido 380 mil euros em 2018 e 110 mil euros em 2017, por acordo entre Hernâni Vaz Antunes e Armando Pereira, através de sociedades nos EAU e contra faturas falsas.

Ouvido durante três dias pelo juiz de instrução Carlos Alexandre, o empresário bracarense Hernâni Vaz Antunes confessou grande parte dos factos que lhe vinham imputados pelo Ministério Público e identificou também os vários beneficiários de muitos dos pagamentos indevidos que realizou para ganhar mercados e contratos.

A notícia é avançada pelo Público esta quinta-feira, que inclui na lista dos beneficiários destes pagamentos indevidos também o ex-presidente executivo da Altice Portugal, Alexandre Fonseca — também foi alvo de buscas a 13 de Julho, mas ainda não foi constituído arguido –, a par do cofundador do grupo, Armando Pereira, do seu genro Yossi Benchetrit, diretor de compras da Altice Estados Unidos, e de Akim Boubazine, ex-CEO da Altice Estados Unidos.

De acordo com o mesmo jornal, que cita dados da investigação, Alexandre Fonseca, que se afastou do cargo de presidente da administração da Altice USA a 15 de julho, terá alegadamente recebido 380 mil euros em 2018 e 110 mil euros em 2017, por acordo entre Hernâni Vaz Antunes e Armando Pereira, através de sociedades dos Emirados Árabes Unidos e contra faturas falsas. Terá ainda comprado ao empresário bracarense por 200 mil euros uma moradia avaliada em um milhão de euros.

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