CEO da Altice Portugal vai fazer “o que for possível” para recuperar reputação da empresa

  • Lusa
  • 26 Julho 2023

Numa reunião com os colaboradores da companhia, Ana Figueiredo fez um apelo para o virar de página na sequência da 'Operação Picoas', desencadeada em 13 de julho, e que levou a várias detenções.

A presidente executiva (CEO) da Altice Portugal, Ana Figueiredo, assegurou aos colaboradores, numa reunião interna na terça-feira, que podem contar com a responsável para trabalhar o que lhe “for possível para recuperar a reputação” da empresa.

Contactada pela Lusa, fonte oficial da Altice Portugal confirmou a reunião com todos os colaboradores (6.300), em que presencialmente e online assistiram mais de 3.000.

Neste encontro, de acordo com alguns colaboradores da empresa, Ana Figueiredo fez um apelo para o virar de página na sequência da ‘Operação Picoas’, desencadeada em 13 de julho, que levou a várias detenções — entre as quais a do cofundador do grupo Altice Armando Pereira — e que contou com cerca de 90 buscas domiciliárias e não domiciliárias, incluindo a sede da Altice Portugal, em Lisboa, e instalações de empresas e escritórios em vários pontos do país, segundo o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) do Ministério Público (MP). Esta foi uma ação conjunta do MP e da Autoridade Tributária (AT).

A gestora, que acumula o cargo de chairwoman [presidente do conselho de administração] desde 19 de julho, apelou ainda para a tranquilidade e foco das equipas e à confiança no trabalho que vem sendo desenvolvido.

Os factos são, obviamente, preocupantes, são sérios, e têm vindo a ser tomados sob análise e em consideração por parte de todo o management team, não só ao nível de Portugal como do grupo.

Ana Figueiredo

CEO da Altice Portugal

“Os factos são, obviamente, preocupantes, são sérios, e têm vindo a ser tomados sob análise e em consideração por parte de todo o management team [equipa de gestão], não só ao nível de Portugal como do grupo”, afirmou Ana Figueiredo, citada pelos colaboradores.

“O que queremos, no final, e virando a página, é que esta empresa, que sempre se pautou pela transparência e pela ética, continue a atuar nesse sentido”, prosseguiu, recordando que cresceu naquela “casa” e que “talvez 80%” da sua vida profissional “tenha sido feita” na empresa.

Sabemos, e eu sei, que isto não nos representa. Trabalho aqui há mais de 20 anos e trabalhei diariamente para ajudar a colocar a empresa no lugar em que ela merece estar. E o que vocês podem contar de mim, daqui para a frente, é trabalhar o que me for possível para recuperar a reputação da nossa empresa, e colocá-la onde merece estar, onde todos vocês, como nossos colaboradores, merecem estar”, rematou a CEO.

Na sequência da ‘Operação Picoas’, Alexandre Fonseca suspendeu as suas funções no âmbito das atividades empresariais executivas e não executivas de gestão do grupo em diversas geografias, incluindo as posições de chairman em diversas filiais, entre as quais a da Altice Portugal, tal como o administrador da Altice Portugal João Zúquete da Silva, que tinha a área do património.

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Altice International suspende “vários” gestores, representantes legais e trabalhadores em Portugal

Grupo que manda na Altice Portugal anunciou que pôs de licença "vários" representantes legais, gestores e trabalhadores no país, mas também noutros mercados, por estarem ligados à Operação Picoas.

A Altice International suspendeu “vários” representantes legais, gestores e trabalhadores em Portugal, mas também noutros mercados, à luz das suspeitas que estão a ser investigadas na chamada Operação Picoas, anunciou a empresa num comunicado esta quarta-feira. A decisão mantém-se enquanto decorrer a investigação judicial.

“A Altice International e suas afiliadas colocaram de licença vários representantes legais, gestores e trabalhadores chave em Portugal e no estrangeiro enquanto esta investigação é conduzida”, lê-se na nota. O grupo avança também que a investigação interna que tinha sido anunciada pela Altice Portugal abrange ainda “outras jurisdições” além do mercado português.

O ECO perguntou a fonte oficial da Altice Portugal se esta decisão abrange algum membro da atual Comissão Executiva da dona da operadora Meo, que é encabeçada pela presidente executiva Ana Figueiredo. Encontra-se a aguardar resposta.

Ainda segundo o comunicado da Altice International, a holding “toma nota” de que as autoridades portuguesas “identificaram” que a Altice Portugal “foi alegadamente defraudada como resultado de práticas lesivas e má conduta de certos indivíduos e entidades externas”. Nesse sentido, sublinha, a Altice Portugal “é vítima de fraude”.

Além da suspensão de funções de pessoal relacionado com os factos sob investigação, o grupo avança que, “com efeito imediato”, vai “rever e reforçar os processos de aprovação em todas as aquisições, pagamentos, ordens de compra e processos relacionados tanto em Portugal como ao nível da Altice International”. Mais: “A Altice International e suas afiliadas estão atualmente a avaliar os próximos passos apropriados com os respetivos conselheiros legais e vai considerar todas as opções legais, em todas as jurisdições.”

Por fim, a Altice International garante, nesta comunicação, que “continua a operar as suas atividades” de forma “normal” e “continuará a conduzir negócios com a mais alta integridade e no melhor interesse de todos os acionistas, com os clientes e os trabalhadores na frente”.

A Operação Picoas é o nome dado a uma investigação do Ministério Público conhecida na semana passada, depois de as autoridades terem promovido buscas em vários locais no país, incluindo na quinta do cofundador da Altice, Armando Pereira, e na residência do ex-líder da Altice Portugal, Alexandre Fonseca, que até esta semana era co-CEO do grupo Altice a nível internacional.

As buscas culminaram na detenção de várias pessoas, incluindo o próprio Armando Pereira e um parceiro de negócios de longa data, Hernâni Vaz Antunes. Alexandre Fonseca, apesar de ter sido alvo de buscas, não foi detido, mas, como noticiou o ECO no fim de semana, provavelmente será constituído arguido.

A investigação centra-se na teia de fornecedores da Altice com ligações a algumas destas pessoas. Face às suspeitas e aos últimos desenvolvimentos, a Altice revelou esta segunda-feira que Alexandre Fonseca suspendeu funções executivas e não-executivas, para “proteger os interesses” da empresa.

(Notícia atualizada pela última vez às 12h23)

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Alexandre Fonseca diz-se “completamente alheio” às suspeitas da Operação Picoas

Gestor reagiu no LinkedIn com uma fotografia de cabeça erguida e um texto em que cita Martin Luther King: "a injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar".

Alexandre Fonseca, ex-CEO da Altice Portugal, que suspendeu funções de co-CEO do grupo Altice na segunda-feira, por causa da investigação da “Operação Picoas”, recorreu ao LinkedIn para reagir às diligências de que foi alvo e às notícias que têm surgido sobre negócios suspeitos envolvendo a cúpula da multinacional. O gestor diz-se “completamente alheio ao que tem vindo a ser publicamente veiculado”.

Num texto que acompanha uma fotografia do próprio (reproduzida abaixo), na qual surge de cabeça erguida, Alexandre Fonseca, que foi alvo de buscas das autoridades à sua residência na semana passada, repete muito do que tem vindo a ser escrito pela Altice Portugal em vários comunicados que foi divulgando nos últimos dias. Mas acrescenta declarações novas. Diz que “o atual contexto exige respostas firmes e concretas” e garante que não hesitará” em “enfrentar o atual momento com a elevada responsabilidade que ele exige”.

“Quero reiterar que, por ser completamente alheio ao que tem vindo a ser publicamente veiculado no âmbito do processo em curso, irei exigir a clarificação de todos os factos e, assim, proteger a minha integridade, bom nome e o meu currículo publicamente reconhecido e valorizado”, escreve o antigo CEO da Altice Portugal, que subiu a chairman da dona da Meo em abril de 2022 e, até esta segunda-feira, dia em que suspendeu funções, era co-CEO da Altice a nível internacional.

O responsável termina a nota citando Martin Luther King, quando proferiu “a injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar”. “Reitero que não abdicarei de dar o meu total contributo e fazer a minha parte, pois tenho muito orgulho no que construí e desenvolvi na minha vida pessoal, familiar e profissional, nomeadamente em Portugal e no grupo Altice”, remata.

A fotografia de Alexandre Fonseca que acompanha a reação do gestor no LinkedInD.R. via LinkedIn

O ECO noticiou este fim de semana que as autoridades também diligenciaram buscas na residência de Alexandre Fonseca, podendo ser constituído arguido no mesmo processo que levou à detenção de outras altas figuras do universo Altice, incluindo o cofundador Armando Pereira. A Altice Portugal também já confirmou que estão a ser investigadas suspeitas que envolvem o período em que Alexandre Fonseca era CEO da Altice Portugal, tendo aberto uma investigação interna.

Perante estas informações, Alexandre Fonseca comunicou à Altice na segunda-feira que suspendeu temporariamente as suas funções para “proteger os interesses” da empresa.

A imprensa dá conta esta terça-feira de mais indícios e suspeitas do Ministério Público, envolvendo direitos do futebol e até uma empresa fornecedora da Altice USA. Na segunda-feira, o Correio da Manhã noticiou que Alexandre Fonseca poderá ter ficado com uma casa de luxo pagando apenas “preço de saldos”.

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Operação Picoas toca direitos da bola e até chega aos EUA

  • ECO
  • 18 Julho 2023

Investigação aos negócios da cúpula da Altice Portugal também tem suspeitas relacionadas com direitos do futebol e até chega ao mercado norte-americano, contam os jornais esta terça-feira.

A Operação Picoas, que atingiu em cheio a cúpula da Altice, continua a marcar a atualidade. Esta terça-feira, um dia depois de Alexandre Fonseca ter suspendido funções de liderança no grupo ao nível internacional, são várias as notícias na imprensa que dão conta de alguns dos contornos da investigação.

O Público noticia que o Ministério Público acredita que os alegados esquemas de Armando Pereira, cofundador, e do seu parceiro de negócios, Hernâni Vaz Antunes, cruzaram o Atlântico e chegaram mesmo aos fornecimentos da Altice USA, a subsidiária da Altice nos EUA. Ambos estão detidos.

Segundo o jornal, há registos de uma fornecedora de fibra ótica da Altice USA, chamada Excell Communications, que é detida por Yossi Benchetrit, genro de Armando Pereira e responsável de compras na Altice USA (Chief Procurement Programming Officer). Na tese da investigação, o francês pode ser mais um testa-de-ferro do universo de sociedades com participações cruzadas que gravita em torno da Altice.

Além disso, de acordo com o Público, a compra do antigo Edifício Sapo, na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, é um dos vários negócios feitos já durante o mandato de Alexandre Fonseca enquanto presidente executivo da Altice Portugal, e que está sob suspeita.

Também esta terça-feira, o Correio da Manhã dá conta de que a corretora de seguros Sabseg, parceira da Liga de Clubes, poderá estar envolvida num esquema de faturação falsa com Hernâni Vaz Antunes. Segundo o jornal, o Ministério Público acredita que uma empresa controlada pelo empresário, chamada Maratona Vanguarda, gerou faturas falsas para a Sabseg com a condição de a mesma continuar a ser fornecedora da Altice.

O Correio da Manhã refere que, entre 2017 e 2022, as autoridades estimam que tenha havido “faturação de conveniência” no valor de 8,1 milhões de euros. O mesmo esquema, segundo a investigação, terá sido replicado com outras empresas.

No Jornal de Notícias (ligação indisponível), esta terça-feira, é noticiado que as autoridades suspeitam que, a mando de Hernâni Vaz Antunes, a sua filha, Jéssica Antunes, terá desviado vários milhões de euros dos contratos da venda dos direitos televisivos, firmados entre a Altice e clubes da primeira liga de futebol portuguesa.

De acordo com o jornal, o esquema terá contado com a cumplicidade do empresário do futebol, Bruno Macedo, gerando ganhos ilícitos de cinco milhões de euros entre 2016 e 2017. O dinheiro, ainda segundo o Jornal de Notícias, terá sido espalhado por várias contas bancárias de empresas, incluindo empresas fantasmas, controladas por Armando Pereira e por Hernâni Vaz Antunes.

Como noticiou o ECO, a Altice Portugal anunciou ter aberto uma investigação interna relacionada com os processos de compras e os processos de aquisição e venda de imóveis. A empresa também suspendeu todos os pagamentos às entidades visadas pela investigação.

O Jornal de Negócios refere que a investigação da Operação Picoas coloca a Altice Portugal sob ameaça de uma crise reputacional. Além disso, o Correio da Manhã noticia que a Justiça já congelou contas bancárias de Armando Pereira e Hernâni Vaz Antunes. Este último terá cerca de 100 milhões de euros nos bancos portugueses e viu ainda serem-lhe apreendidos 18 carros de luxo.

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Caso Altice é “bom indício” do erro que será privatizar a TAP, diz Mariana Mortágua

  • Lusa
  • 17 Julho 2023

Para a coordenadora do Bloco de Esquerda, "toda a situação da PT é uma história de terror, do que acontece quando uma empresa das mais importantes do país é privatizada".

A coordenadora nacional do Bloco de Esquerda (BE) defendeu esta segunda-feira que o caso de alegada corrupção na Altice devido a negócios imobiliários é um bom indício do erro que o Governo irá cometer ao privatizar a TAP.

Em declarações à margem de uma visita ao mercado semanal de Espinho, no distrito de Aveiro e Área Metropolitana do Porto, Mariana Mortágua comentou assim a renúncia apresentada por Alexandre Fonseca ao cargo de diretor executivo da antiga Portugal Telecom (PT) e, atualmente, a maior empresa nacional de telecomunicações.

“Devemos aprender com o que vai acontecendo, olhar para as empresas que foram privatizadas, perguntar o que aconteceu a cada uma delas e aprender com isso. Talvez isso possa dar um bom indício de por que é que é uma má ideia privatizar a TAP”, defendeu a também deputada e líder parlamentar do BE.

A partir do momento em que foi privatizada, a PT transformou-se num joguete na mão de poderosos, sejam eles Ricardo Salgado ou depois os seus donos internacionais, como a Altice.

Mariana Mortágua

Coordenadora do BE

Para Mariana Mortágua, “toda a situação da PT é uma história de terror, do que acontece quando uma empresa das mais importantes do país é privatizada”. Nesse contexto, a presente investigação do Ministério Público à empresa de telecomunicações “é o último episódio desse processo, que utilizou imóveis da própria PT, da própria Altice, para negócios pessoais e enriquecimento pessoal”.

A coordenadora do BE espera “que a justiça corra rapidamente”, mas considera que já há uma lição a retirar do caso. “A Portugal Telecom empregava milhares de pessoas, tinha tecnologia de ponta, desenvolveu serviços inovadores e fez tudo isto enquanto era pública. Mas, a partir do momento em que foi privatizada, transformou-se num joguete na mão de poderosos, sejam eles Ricardo Salgado ou depois os seus donos internacionais, como a Altice”, afirmou.

Bloco vê ligação entre corrupção e preço das casas

Durante a mesma visita, a coordenadora do BE alertou para ligações entre a corrupção imobiliária por parte de Estado, autarquias e empresas, e a crise na habitação. A sucessora de Catarina Martins distribui panfletos com alertas para o que o BE considera o erro das políticas com que PSD, CDS e PS fizeram, nos últimos anos, duplicar o preço das casas e aumentar em 50% o custo do arrendamento “em Lisboa, no Porto, em Espinho, em Viseu e em todo o país”.

Mariana Mortágua relacionou essas dificuldades com a contrastante facilitação imobiliária a entidades estrangeiras e deu um exemplo recente: “Esta semana ficámos a saber que um empresário chileno de uma petrolífera comprou 14 imóveis na zona de Lisboa através de vistos gold com um investimento total de oito milhões de euros. É um corrupto condenado. Os vistos gold serviram para um corrupto condenado conseguir nacionalidade para o seu filho e para o seu irmão e residência em Portugal”.

Para a líder do BE, “isso é o Estado a promover a corrupção através dos vistos gold”, até porque o Governo “anunciou em fevereiro” que ia acabar com essas autorizações especiais de residência para investidores, mas, chegado o mês de julho, elas ainda vigoram, com 8.000 pedidos em lista de espera.

“Quando o Estado diz que, para resolver o problema da habitação, vai facilitar ainda mais o licenciamento imobiliário, temos aí outro exemplo do que é corrupção”, acrescentou Mariana Mortágua, reforçando esse argumento com referência ao caso de Espinho, município da Área Metropolitana do Porto onde dois ex-presidentes de Câmara são suspeitos de práticas ilegais para agilizar negócios com imóveis.

A coordenadora do BE afirma, por isso, que a corrupção não pode ser um assunto que se valoriza em abstrato, mas que, na prática, não se combate. O discurso anticorrupção do recente texto do primeiro-ministro, António Costa, no Observador é, nessa perspetiva, apenas “um slogan que se usa”, refletindo uma estratégia que até vai “afinando as leis”, mas negligencia que, perante raras condenações, mais importante era lutar contra o que viabiliza as práticas ilegais.

“O que permite a corrupção, em primeiro lugar, é a porta aberta do Estado aos negócios – a forma como os interesses privados entram pelo Estado adentro. Pôr aquilo que é público nas mãos do privado (…) favorece o crime económico”, realçou a coordenadora do BE, notando que também ao nível autárquico “há neste país um problema muito sério de abuso de poder, crime económico e corrupção”.

Isso deve-se precisamente ao negócio imobiliário, “que durante muitos anos se encarou como uma forma de lucro fácil – muitas vezes até com consequências ambientais desastrosas – para enriquecimento de construtores e empresas”, referiu.

A crise da habitação é consequência dessas práticas, porque, enquanto esses negócios imobiliários ilícitos se desenrolavam, em Portugal “não houve uma política que protegesse a habitação” – ao contrário do que aconteceu em metade dos Estados-membros da União Europeia, que já têm legislação a regular as rendas, e em países como o Canadá e a Dinamarca, e regiões como Palma de Maiorca e Ibiza, que “já impedem ou querem proibir a venda de casas a não-residentes”.

Mariana Mortágua propõe-se corrigir as estratégias dos últimos governos nacionais e declara: “Queremos inverter essas políticas, protegendo a habitação com limites às rendas, com limites às taxas das prestações ao banco – porque as pessoas não estão a aguentar – e com regras apertadas na contratação com os privados e no próprio licenciamento”.

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Meo liga 5G e reforça 4G na linha vermelha do metro de Lisboa

  • Lusa
  • 12 Julho 2023

A linha vermelha do metro de Lisboa já tem 5G da Meo, implementada em colaboração com o Metropolitano de Lisboa, tendo também sido reforçada a rede de quarta geração.

A linha vermelha do metro de Lisboa tem a partir desta quarta-feira cobertura de rede móvel 5G da Meo, implementada em colaboração com o Metropolitano de Lisboa, tendo também sido reforçada a rede 4G, anunciou a Altice Portugal.

“Em colaboração com o Metropolitano de Lisboa, e pela primeira vez em Portugal, a Meo implantou a rede 5G no metro e reforçou ainda a rede móvel 4G, proporcionando uma cobertura dedicada ao longo dos túneis e nas estações de metro”, adianta a empresa.

Assim os utilizadores das estações da linha vermelha passam a realizar chamadas, streaming, partilhas, downloads e uploads “com maior velocidade e fiabilidade” durante as suas viagens.

A linha vermelha liga a estação de São Sebastião ao Aeroporto. “Este processo de modernização de infraestrutura tecnológica nas restantes linhas do Metro de Lisboa estará concluído até 2025″, adianta a Meo.

Esta implementação faz parte do projeto de inovação e modernização da infraestrutura do Metropolitano de Lisboa e é anunciada a menos de um mês da realização da Jornada Mundial da Juventude.

“Para o Metropolitano de Lisboa é importante continuar a trabalhar no sentido de desenvolver soluções que respondam às necessidades e expectativas dos nossos clientes, melhorando de forma contínua o serviço de mobilidade que prestamos”, afirma o presidente do Conselho de Administração do Metropolitano de Lisboa, Vítor Domingues dos Santos, citado em comunicado.

“Numa era marcadamente digital, a disponibilidade de informação em tempo real afigura-se, cada vez mais, essencial para melhorar a experiência dos atuais e futuros clientes da rede deste metropolitano, contribuindo, assim, para uma mobilidade mais sustentável e amiga do ambiente”, conclui.

Por sua vez, o administrador da Altice Portugal com o pelouro da tecnologia (chief technology officer), João Teixeira, refere que a empresa quer “continuar” a ser pioneira, através da tecnologia, “em soluções inovadoras capazes de mudar e melhorar o mundo”.

“Sabemos que o 5G traz um mundo de possibilidades e oportunidades, um mundo de velocidade, rapidez e eficiência” e “é isso que também queremos oferecer aos passageiros do Metropolitano de Lisboa”, remata o administrador.

“Esta operação cumpre o compromisso da Altice em investir na modernização das redes e na forte aposta no desenvolvimento da rede 5G em Portugal, contando já com 91% da população portuguesa coberta”, refere a empresa.

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Frente Sindical marca greve na Altice para 28 de junho por aumentos salariais

  • Lusa
  • 21 Junho 2023

Sindicatos que compõem a Frente Sindical anunciaram uma greve na Altice para 28 de junho, exigindo um aumento salarial mínimo de 110 euros, com efeitos a 1 de janeiro.

Os sindicatos que compõem a Frente Sindical anunciaram uma greve na Altice para 28 de junho, exigindo um aumento salarial mínimo de 110 euros, com efeitos a 1 de janeiro de 2023.

A decisão de avançar para a greve surge depois de uma resposta da administração da Altice às reivindicações dos sindicatos que, segundo a Frente Sindical, “revela mais uma vez a sua total aversão à procura de soluções através do diálogo social”.

“A resposta ignora por completo a nossa proposta”, afirma a Frente Sindical, composta pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Telecomunicações e Audiovisuais (SINTTAV), Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Correios e Telecomunicações (SNTCT), STT – Sindicato dos Trabalhadores de Telecomunicações e Comunicação Audiovisual (STT), Federação dos Engenheiros e o Sindicato de Quadros Das Comunicações (Sinquadros).

A Frente Sindical decidiu ainda avançar com um pedido de processo de conciliação à Direção-Geral do Emprego e das Relações Laborais (DGERT) para continuar a negociação, com vista à solução do conflito. Os sindicatos exigem um aumento salarial mínimo 110 euros para todos os trabalhadores, com efeitos a 1 janeiro de 2023, ao qual será deduzido o valor do aumento já aplicado aos salários na sequência da revisão do acordo coletivo da Altice.

Em fevereiro, a Altice Portugal assinou um acordo com vários sindicatos para a revisão do acordo coletivo, que definia aumentos entre 2% e 9,2%, de acordo com o vencimento, com efeitos em 1 de janeiro deste ano.

Além dos aumentos salariais, a Frente Sindical reivindica um aumento do subsídio de refeição e do subsídio especial de refeição (almoço, jantar e ceia) para dez euros, bem como a progressão para o nível seguinte de todos os trabalhadores que estejam parados no atual nível de proficiência há dez ou mais anos.

“Como tem sido propagandeado pela administração, a situação económica da empresa está de boa saúde e as receitas têm aumentado sempre, mas a resposta aí está, porque para a gestão da Altice Portugal, os trabalhadores só contam para produzir, o caminho do dinheiro é sempre para o bolso dos acionistas”, critica a estrutura sindical.

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Decisão que expulsa Huawei do 5G é “bastante ampla”. Altice Portugal está em “fase de entendimento”

CEO da Altice Portugal diz que a empresa está numa "fase de entendimento" da deliberação que expulsa tecnologia chinesa das redes 5G. Para já, desconhece a dimensão do impacto.

A presidente executiva da Altice Portugal disse desconhecer qual é o prazo para a exclusão de equipamentos da Huawei do 5G no país, mas deu como exemplo o caso de França, em que “foi dado um prazo de dez anos e, neste momento, já vai até 2031”.

De qualquer modo, a líder do grupo que detém a Meo confirma ter tido “conhecimento” da recente deliberação que expulsa a tecnológica chinesa do mercado das redes de quinta geração, a qual está a analisar, encontrando-se numa “fase de entendimento”.

“Se olharmos para outros países, vemos que o que tem sido feito nos outros países é um prazo alargado”, comentou. O ECO noticiou esta quinta-feira que o Governo terá dado até cinco anos às operadoras para excluírem das redes 5G equipamentos de fornecedores considerados de “alto risco”, incluindo da chinesa Huawei. “Não sei de onde vem o tema dos cinco anos”, reagiu Ana Figueiredo.

A empresa está a par da decisão que foi tornada pública na semana passada: “Tivemos conhecimento de uma deliberação por parte do [Conselho Superior de Segurança do Ciberespaço]. Estamos a analisá-la”, confirmou, mesmo assim, a gestora. “A deliberação que define critérios para a classificação dos chamados high risk vendors. Nós estamos a olhar para essa deliberação, porque a deliberação é bastante ampla. Ampla no âmbito e ampla na definição de critérios de exclusão”, considerou.

“Neste momento, o que procuramos é entender e, obviamente, analisar. Estamos a analisar e tomaremos as decisões estratégicas e operacionais que acharmos mais convenientes. Adicionalmente, a Altice Portugal vai cumprir com todos os requisitos legais que forem impostos”, declarou.

Questionada sobre eventuais custos, acrescentou: “Qualquer alteração tem que ser equacionada e procuraremos as melhores soluções possíveis, sempre numa lógica de colaboração e numa lógica de diálogo com as entidades envolvidas. Estamos numa fase de entendimento, de clarificação, porque a informação ainda é escassa. Em função disso, fazemos a nossa análise tecnológica, operacional e só aí poderemos estar em condições de estimar se há ou não algum impacto e, depois, procurar soluções para colmatar esse impacto.”

A responsável lembrou ainda que existem fornecedores que, apesar de estarem sedeados na NATO, na União Europeia ou na OCDE, “dependem também de cadeias de abastecimento fora destas geografias”. A deliberação determina que fabricantes sedeados em países que não pertençam a esses blocos ficam excluídos do mercado.

Contudo, Ana Figueiredo confirmou que a Altice Portugal também usa tecnologia da Huawei na periferia das suas redes: “Usamos todos os fabricantes que existem no mercado.” Momentos antes, já tinha dito que a empresa “recorre a vários players e a vários fabricantes”: “Trabalhamos com vários parceiros tecnológicos de forma diversificada”, disse.

Por fim, a gestora deixou uma mensagem aos clientes: “Escolhemos os nossos fornecedores com base em critérios tecnológicos, técnicos, fiabilidade e, em cima disso, desenhamos redes que são resilientes também do ponto de vista de segurança. Os clientes Meo podem estar seguros de que temos a rede resiliente.”

Na semana passada, a Comissão de Avaliação de Segurança, inserida no Conselho Superior de Segurança do Ciberespaço, deliberou excluir das redes 5G em Portugal equipamentos ou serviços de fornecedores ou prestadores considerados de “alto risco”. Para este efeito, define critérios, incluindo todos aqueles que estejam sedeados fora da União Europeia, da NATO ou da OCDE.

A decisão abrange as partes core e não-core das redes de quinta geração e vai levar a que as operadoras tenham de substituir todos os equipamentos de marcas como a Huawei. O ECO noticiou esta quinta-feira que o prazo será de até cinco anos.

(Notícia atualizada às 16h39 com mais informação)

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“Agressividade” da decisão do 5G é “superior” à de outros mercados, considera Alexandre Fonseca

Deliberação do Estado expulsa empresas como a chinesa Huawei das redes 5G. Co-CEO do grupo Altice diz que é "evidente" que Portugal está a ser mais agressivo do que outros países europeus.

A recente deliberação que impede as operadoras portuguesas de usarem tecnologia chinesa nas redes 5G está a ser analisada pela Altice Portugal, mas o co-CEO do grupo Altice a nível internacional já tirou uma primeira conclusão: “parece” ser mais agressiva do que a de outros países europeus.

“Aquilo que posso dizer é que, de uma primeira leitura, me ressalta evidente que o nível de agressividade desta medida é superior àquilo que me parece – volto a dizer, parece – ser noutros mercados”, afirmou Alexandre Fonseca, à margem da cerimónia do sétimo aniversário da Altice Labs em Aveiro.

No entanto, o antigo líder da unidade portuguesa da Altice rejeitou ir mais além do que isto. “Não tenho os dados. Tenho a minha leitura, mas é uma leitura que eu vou guardar até que a equipa portuguesa faça a respetiva análise, para fazer essa análise comparativa”, disse.

Segundo o gestor português, “é um tema muito recente” que “a equipa portuguesa está a analisar”. “A equipa portuguesa irá fazer a sua análise em termos financeiros, operacionais, técnicos, jurídicos e regulatórios. Irá submeter ao grupo para nós analisarmos, em conjunto, quais serão os impactos e as medidas que teremos de tomar”, ressalvou, acrescentando que, “até lá, ao nível do grupo”, não serão feitos mais comentários.

Ainda assim, admitiu: “Obviamente que tudo o que possa ter impacto nas operações dos nossos países [enquanto grupo Altice] nos preocupa. Mas não queria estar a falar sobre um tema que ainda está única e exclusivamente na esfera nacional.”

De seguida, novamente sobre este tema, Alexandre Fonseca citou a política que foi seguida em França ao nível das orientações europeias para a segurança das redes 5G, nas quais se insere a decisão tomada na semana passada em Portugal: “Em França estamos em plena fase de substituição, mas França selecionou as oito maiores cidades francesas [para aplicar restrições] e alguns pontos estratégicos do ponto de vista militar ou de infraestruturas críticas. E, nesses pontos, foi um processo negocial.”

“O que me parece muito razoável, que aconteceu em França, foi o diálogo. O Estado e os operadores negociaram, discutiram e chegaram a alguns consensos e ausência de outros. Mas houve essa discussão. Em Portugal, vai depender da fase de análise”, concluiu.

Na mesma cerimónia em Aveiro, a atual CEO da Altice Portugal, Ana Figueiredo, também citou o caso francês e considerou que a deliberação portuguesa é “bastante abrangente” e afirmou que a empresa está em “fase de entendimento” para perceber quais as reais implicações da medida. A Altice Portugal usa equipamentos de fornecedores chineses nas partes periféricas da sua rede 5G.

“Neste momento, o que procuramos é entender e, obviamente, analisar. Estamos a analisar e tomaremos as decisões estratégicas e operacionais que acharmos mais convenientes. Adicionalmente, a Altice Portugal vai cumprir com todos os requisitos legais que forem impostos”, afirmou a gestora. Ainda não há estimativa de quanto poderá custar a substituição dos equipamentos considerados de alto risco.

Na semana passada, a Comissão de Avaliação de Segurança, inserida no Conselho Superior de Segurança do Ciberespaço, deliberou excluir das redes 5G em Portugal equipamentos ou serviços de fornecedores ou prestadores considerados de “alto risco”. Para este efeito, define critérios, incluindo todos aqueles que estejam sedeados fora da União Europeia, da NATO ou da OCDE.

A decisão abrange as partes core e não-core das redes de quinta geração e vai levar a que as operadoras tenham de substituir todos os equipamentos de marcas como a Huawei. O ECO noticiou esta quinta-feira que o prazo será de até cinco anos.

Regulação europeia em silos “não faz sentido”

Enquanto CEO da Altice Portugal, cargo que desempenhou até abril de 2022, Alexandre Fonseca foi o gestor que mais criticou publicamente a regulação da atual administração da Anacom, liderada por João Cadete de Matos, sobretudo durante o processo do leilão de frequência do 5G. O mandato de Cadete de Matos termina em meados de agosto.

Questionado sobre o que espera do futuro da regulação em Portugal, o gestor retorquiu que “a regulação europeia tem de se aproximar de uma regulação muito mais dialogante, muito mais eficiente e, acima de tudo, muito mais conhecedora e próxima do mercado”.

Mais ainda, o atual co-CEO do grupo Altice a nível internacional disse entender que é necessário a União Europeia se assumir “de uma vez por todas com uma regulação única”. “Não podemos continuar a gerir a Europa como pequenas quintas ou pequenos silos, totalmente independentes, porque isso tem um impacto em operadores como nós, que são operadores multinacionais”, disse o gestor português.

“Tenho de olhar hoje para a regulação em Portugal, que é diferente da regulação em França, que é diferente da regulação em Israel, e isto não faz sentido. Se queremos usar a Europa como bloco económico e social único, a regulação – e aí, diga-se, a lei da concorrência – tem de ser vista numa perspetiva integrada”, atirou.

Alexandre Fonseca sem ambições políticas

Sobretudo desde que deixou a liderança da Altice Portugal, Alexandre Fonseca tem apresentado propostas de reformas que entende serem necessárias fazer no país. Ainda esta quinta-feira, num discurso no aniversário da Altice Labs, criticou a tomada de “decisões erráticas” que “inibem” o investimento, bem como a decisão de acabar com as Parcerias Público-Privadas (PPP) na Saúde, e disse que o atual Código do Trabalho “não funciona”.

Esta quinta-feira, à margem do evento, o ECO perguntou a Alexandre Fonseca se tem ambições políticas. A resposta é “não”.

“Gosto muito de política. Sempre acompanhei desde muito jovem a política. Respeito muito quem dedica a sua vida à causa pública, porque em Portugal, de facto, ser político também não é fácil, seja qual for o quadrante ideológico. E respeito muito os políticos. Mas sou gestor. Gosto muito daquilo que faço e é esse o caminho em que quero continuar”, detalhou.

Ainda assim, e instado a explicar sobre a que “decisões erráticas” se referia no discurso, Alexandre Fonseca insistiu nas mudanças que considera que seriam benéficas para Portugal.

“Quando olho para Portugal, aquilo que vejo, e tenho pena enquanto português, é que a rentabilidade dos capitais que colocamos é inferior às outras operações do grupo. Ou seja, se quisermos de forma muito simples para que toda a gente perceba, por cada euro que eu invisto em Portugal, a rentabilidade que eu tiro desse euro é mais baixa do que em França, EUA, Israel. É isso que o acionista do grupo tem de estar preocupado. E essa rentabilidade não é por culpa da equipa de gestão portuguesa. É porque existem condições estruturais que não o permitem”, disse.

Depois, foi mais além: “As decisões que não têm sido tomadas por exemplo na área laboral e na área fiscal penalizam as empresas. Eu defendo uma maior flexibilidade no mercado de trabalho. E não estamos a falar de salários mais baixos, isso é demagogia. Estamos a falar de criar mecanismos que incentivem a flexibilidade do mercado de trabalho, a meritocracia e premiar o desempenho de quem trabalha e de quem é produtivo. São estas as transformações de que o mercado necessita.”

Por fim, o gestor voltou a apelar a “transformações fiscais”. “Não podemos dar-nos ao luxo, de forma direta ou indireta – não podemos só contar com impostos diretos, temos de contar com os indiretos – de ter uma das cargas fiscais mais altas da Europa.”

(Notícia atualizada pela última vez às 16h31)

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Alexandre Fonseca critica “decisões erráticas” que inibem investimento em Portugal

Antigo líder da Altice Portugal criticou o que disse serem "decisões erráticas" que prejudicam o investimento.

Alexandre Fonseca, antigo presidente executivo da Altice Portugal, que atualmente lidera o grupo Altice a nível internacional, criticou esta quinta-feira o que considerou serem “decisões erráticas que não dão estabilidade” e que inibem o investimento no país. O gestor português criticou ainda a atual legislação laboral.

Historicamente, enquanto líder da Meo, o responsável foi sempre muito crítico das medidas regulatórias da Anacom, que, entende, prejudicaram o setor. Mas a declaração desta quinta-feira também pode ser vista à luz da recente decisão do Estado português de impedir o uso de equipamentos e serviços de empresas como a chinesa Huawei nas redes 5G.

Para Alexandre Fonseca, o país deve “valorizar quem investe”, assim como os gestores e os empresários. “É preciso tratar melhor as empresas”, rematou.

Numa intervenção na cerimónia do sétimo aniversário da Altice Labs, que decorre esta quinta-feira em Aveiro, o gestor, que disse estar muito satisfeito por “voltar a Portugal”, também fez mira à legislação laboral portuguesa: “o atual Código do Trabalho não funciona, é preciso dizê-lo.” Uma declaração que se enquadra no contexto da entrada em vigor das medidas que resultaram da Agenda do Trabalho Digno.

Alexandre Fonseca mostrou-se preocupado com a “dificuldade” que existe em “atrair e reter talento” e disse que o grupo quer “atrair para os quadros” jovens profissionais, retendo-os, mas não “à força” — “reter porque se sentem bem a trabalhar connosco”, esclareceu. “Estes são alguns dos desafios que temos hoje enquanto gestores”, declarou, num “mundo em que os novos paradigmas do trabalho” estimulam a rotação dos trabalhadores.

Na mesma ocasião, o gestor falou ainda em “decisões políticas” que levaram à descontinuação das Parcerias Público-Privadas (PPP) na Saúde, com “consequências diretas para os utentes” do Serviço Nacional de Saúde (SNS). E falando deste setor, denunciou a “falta de interoperabilidade entre setor público e privado”, e, em alguns casos, “mesmo dentro do setor público”.

(Notícia atualizada às 13h25 para clarificar que Alexandre Fonseca não se referiu diretamente à recente decisão do Governo)

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Exportações já valem 85% das receitas da Altice Labs

Unidade tem contribuído positivamente para os resultados da Altice Portugal e 85% das receitas do polo tecnológico de Aveiro já correspondem a exportação.

O peso das exportações nas receitas da Altice Labs já ascende a 85%, enquanto a restante parcela diz respeito a vendas à Meo, a operadora do grupo, disse esta quinta-feira a presidente executiva da Altice Portugal, Ana Figueiredo. Em meados do mês passado, no congresso das comunicações, a responsável tinha referido que a parcela das exportações era de 80%.

A Altice Labs, o polo de inovação do grupo, está a comemorar o sétimo aniversário, se for excluído o período em que se chamava PT Inovação e pertencia à antiga Portugal Telecom. A partir de Aveiro exporta tecnologia para “mais de 60 países”, impactando 300 milhões de pessoas, avançou a gestora numa cerimónia.

Nos últimos meses, o impacto positivo da Altice Labs nas receitas da Altice Portugal tem sido notório. Só no primeiro trimestre de 2023, a empresa obteve 364 milhões de euros com serviços empresariais, um aumento de 22% face ao período homólogo que a dona da Meo justificou com o “crescimento da Altice Labs”. Em fevereiro, a empresa recusou indicar ao ECO “valores desagregados” sobre a evolução do negócio deste polo tecnológico.

Esta quinta-feira, Ana Figueiredo parabenizou o líder da Altice Labs, Alcino Lavrador, e destacou o efeito da unidade “no desenvolvimento regional”, no “crescimento da Altice Portugal” e na “expansão da tecnologia portuguesa” além-fronteiras. Segundo a CEO, a Altice tem apostado num “investimento contínuo em investigação e desenvolvimento” que, no ano passado, atingiu 80 milhões de euros.

Para o futuro, a empresa quer continuar a “patentear o que de melhor se faz na Altice Labs” e tenciona duplicar o número de patentes de 50 para 100 até 2030, referiu a executiva.

Noutra intervenção, o diretor-geral da Altice Labs acrescentou que a unidade terminou 2022 com “quase 29 milhões de casas com tecnologia de fibra ótica” desenvolvida em Aveiro e que já foram vendidos dez milhões de routers. A empresa vai iniciar também a exportação de um novo equipamento desta categoria para os EUA, indicou Alcino Lavrador.

Feitas as contas, a atividade da Altice Labs é “sustentável” e vai “libertando recursos” para poder continuar a “investir em inovação e investigação”. “É marcadamente um negócio internacional. Acrescentámos mais países ao nosso mapa, mais parceiros e mais clientes”, atirou o diretor.

Altice desvenda nova tecnologia que diz ser relevante para 5G e 6G

Por ocasião do sétimo aniversário, a Altice Labs realiza a “primeira demonstração real” da tecnologia 25G-PON, que é “extremamente relevante” para o 5G e futuramente para 6G e que serve para alimentar infraestruturas como aeroportos.

Cláudio Rodrigues, responsável da área de comunicações óticas da Altice Labs, explicou que esta tecnologia é uma “evolução natural das atuais redes de acesso óticas” e que tem aplicações em infraestruturas como aeroportos, universidades e hospitais, entre outros. “Evoluímos para a tecnologia 25G-PON, sendo o próximo grande passo tecnológico que nos permite tirar benefícios das atuais redes instaladas de fibra ótica”, prosseguiu, explicando o que é que esta traz de novo.

“Traz um aumento de dez vezes mais velocidade face à tecnologia que temos atualmente na rede de fibra ótica”, permitindo “velocidades na ordem dos 25 gigabits por segundo simétricos”, acrescentou Cláudio Rodrigues.

Esta tecnologia “é extremamente relevante para as novas redes móveis, ou seja, o 5G atual”, mas também “para futuras aplicações como, por exemplo, o 6G”, de que já se fala, “ou aplicações imersivas de realidade virtual, tais como realidade aumentada, assim como de comunicações holográficas”. Esta é uma tecnologia mais dirigida ao mercado empresarial, através da qual “podemos alimentar um aeroporto”, um campo universitário ou até um hospital, rematou.

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Operadoras vão ter até cinco anos para expulsar Huawei do 5G

Tecnologia chinesa e de "alto risco" deve ser expulsa do "core" do 5G em três anos e da periferia das redes em cinco. Setor surpreendido com posição mais dura que a da UE e questiona: Quem vai pagar?

A recente deliberação que permite expulsar a tecnológica chinesa Huawei do 5G em Portugal surpreendeu os responsáveis do setor das telecomunicações, que não esperavam restrições tão abrangentes. Publicamente, são mais as dúvidas do que as certezas, mas mesmo para alguns dos players existem questões por esclarecer — por exemplo, saber quem paga a fatura. As operadoras terão até cinco anos para banir a tecnologia de “alto risco” das suas redes.

Há quatro anos, o primeiro-ministro, António Costa, rejeitou a introdução de “mecanismos de protecionismo” a “pretexto da segurança”. Mas foi mais além. Citando o exemplo de “países exigentes” como o Reino Unido e a Alemanha, declarou não existir “nenhuma razão para excluir a Huawei do acesso ao mercado” da quinta geração móvel.

Só que, atualmente, a posição desses países é diferente da que tinham então. E a do Governo português acaba mesmo de dar uma volta de 180 graus, por admitir agora a expulsão de equipamentos e serviços de marcas como a Huawei e a ZTE não só das partes mais críticas do 5G, o chamado core, como também da parte periférica das redes, incluindo as antenas.

Nos bastidores, o exemplo mais citado é o de França, que limitou significativamente o recurso à Huawei em regiões estratégicas do país. Quanto à Alemanha, o Governo está a conduzir uma avaliação que, segundo a Reuters, poderá levar à expulsão de alguns componentes da Huawei das redes de telecomunicações do país. Na Bélgica, onde estão sedeados importantes organismos europeus, proibiu-se o uso de equipamentos de fabricantes considerados de “alto risco” do core do 5G e no Reino Unido as operadoras têm até 31 de dezembro deste ano para remover a Huawei também do core.

Portugal vai mais além, numa altura em que, no final do primeiro trimestre, existiam já perto de 7.000 antenas 5G instaladas em território nacional. A primeira leva de obrigações de cobertura que Meo, Nos e Vodafone têm de cumprir tem o prazo de 31 de dezembro. A isso soma-se agora a imposição de remover equipamentos de marcas como a Huawei num período que, segundo disseram ao ECO várias fontes, terá sido fixado em três anos para a parte core do 5G e cinco anos para a periferia das redes, em linha com o que foi revelado no domingo por Paulo Portas no seu comentário semanal na TVI (importa notar que a Huawei não estará já presente no core das redes 5G, por opção das operadoras).

A partir daqui, a informação é escassa. O que se sabe oficialmente é o que está na referida deliberação, tomada pela Comissão de Avaliação de Segurança, um organismo integrado no Conselho Superior de Segurança do Ciberespaço, e publicada na semana passada no site do Gabinete Nacional de Segurança. Esse documento, assinado pelo contra-almirante António Gameiro Marques enquanto presidente da Comissão, estipula, por um lado, as partes das redes 5G que são abrangidas e os critérios que determinam o que é considerado um fornecedor ou prestador de serviços de “alto risco”. Para este efeito, por exemplo, basta que tenha sede num país fora da União Europeia, da NATO ou da OCDE.

No entanto, existe outro documento, classificado como “Reservado”, onde estão mais detalhes sobre a decisão tomada pela Comissão. Isso mesmo é referido na deliberação e foi confirmado pelo secretário de Estado da Digitalização e da Modernização Administrativa na segunda-feira, ao dizer que “o conteúdo” da decisão é confidencial porque a divulgação podia “contender com os altos interesses do país e dos agentes económicos”.

Mário Campolargo disse ainda que a deliberação “deve ser feita cumprir pela Anacom”, que, nos termos da Lei das Comunicações Eletrónicas, terá de proceder ainda “à fiscalização do seu cumprimento”. Contactada, fonte oficial da Anacom não quis fazer nenhum comentário. Aliás, a sensibilidade do dossiê é patente nas conversas que o ECO tem mantido com vários responsáveis ligados à área das telecomunicações, que, apesar de pedirem o anonimato para poder discutir mais livremente estes temas, mostram apreensão em entrar em pormenores.

As três principais operadoras, ainda assim, já reagiram oficialmente à decisão, mas são parcas em detalhes. Fonte oficial da Altice Portugal diz que “respeitará todas as determinações legais e fará uma análise cuidada da comunicação recebida”, dando a entender, assim, ter sido informada da deliberação pelos canais oficiais. Porta-voz da Nos disse que a operadora “define elevados padrões de seleção de parceiros, tendo em conta a garantia de segurança e qualidade”. Do lado da Vodafone, é dito que “todos os fornecedores selecionados cumprem, naturalmente, elevados padrões de qualidade e fiabilidade”.

Quanto à Huawei, a principal visada por estas medidas, fonte oficial afirmou que a empresa “tem trabalhado com os operadores portugueses para desenvolver as redes de comunicações e prestar serviços de alta qualidade que servem milhões de pessoas”. Acrescentou não ter tido “conhecimento prévio” da deliberação.

Instalação da Vodafone com antenas 4G e 5G junto ao Parque da Bela Vista em LisboaHugo Amaral/ECO

Quem paga a conta?

Neste contexto, para as operadoras, a grande dúvida é saber quem vai pagar este processo, como também tinha sido suscitado por Paulo Portas: “Isto é uma alteração completa dos planos de investimento, alguém vai pagar isto”, dizia no domingo o comentador, no rescaldo da notícia do Jornal Económico que, na sexta-feira, colocou o tema na agenda. Tanto quanto foi possível apurar, nesta fase, não existem indicações do Governo sobre esta matéria.

Além do mais, uma fonte sugeriu que a deliberação não salvaguarda “a vida útil dos equipamentos”. Nesse caso, o prazo de até cinco anos seria rígido, não se permitindo que os equipamentos que passaram a ser proibidos continuem em operação até ao fim do seu tempo de vida útil. Tal faria aumentar os custos da substituição. Mas, em janeiro deste ano, quando noticiou a conclusão dos trabalhos técnicos da Comissão, o Dinheiro Vivo referia que os peritos iriam indicar às empresas de telecomunicações que as substituições deveriam ser feitas tendo em conta os ciclos de renovação normais.

Outro problema que tem sido suscitado é a possível demora na entrega de equipamentos para substituição, no contexto da escassez de componentes, um ponto que, no ano passado, chegou a motivar apelos das operadoras ao Governo para que dilatasse o prazo para o cumprimento das obrigações de cobertura, sem sucesso. Em junho do ano passado, Pedro Santos, diretor de desenvolvimento de rede da Vodafone, confirmou “um atraso muito maior na compra e entrega dos equipamentos” por parte dos fornecedores e disse que a empresa tinha de esperar “entre três e seis meses” pelas encomendas.

O ECO enviou várias perguntas sobre este processo ao gabinete de Mário Campolargo, que responde diretamente ao primeiro-ministro, mas não obteve respostas além das declarações remetidas no início da semana.

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