Comissão Europeia propõe acabar com importações de gás russo até 2027

Os Estados-membros têm até ao final deste ano para apresentar planos, a nível nacional, para eliminar as respetivas importações de gás, petróleo e combustíveis para energia nuclear com origem russa.

A Comissão Europeia avançou, esta terça-feira, medidas para eliminar as importações de gás, petróleo e de combustível para a energia nuclear com origem russa. No caso do gás, as importações devem cessar por completo até 2027, mas a Bruxelas não prevê subidas no preço da energia.

O comissário europeu com a pasta da Energia, Dan Jorgensen, defendeu em conferência de imprensa que já se chegou “longe, mas não longe o suficiente” no que diz respeito às sanções à Rússia. Desde 2022 até ao momento, as importações de gás russo para o bloco europeu caíram de 45% para 13% e as de petróleo de 26% para 3%.

Contudo, a Rússia recebeu, só no ano passado, 23 mil milhões de euros dos Estados-membros da União Europeia, uma média 1,8 mil milhões por mês. Uma soma que supera a ajuda monetária dirigida à Ucrânia, sublinhou. “Por essa razão, hoje, a Comissão adota um ‘mapa’ para terminar o trabalho”, numa abordagem que se quer “gradual” mas “resoluta“.

No que diz respeito ao gás, vão ser banidas todas as importações de gás russo, tanto gás natural por gasoduto como gás natural liquefeito, no que diz respeito aos novos contratos e contratos existentes já este ano.

O resultado esperado é que, só com esta medida, a UE reduza em um terço as importações atuais de gás russo. Em segundo lugar, as importações restantes devem ser gradualmente eliminadas até 2027, ano no qual se pretende que a UE esteja “completamente livre de gás russo”. Devem ainda ser introduzidas regras para aumentar a transparência, monitorização e o rastreamento da origem do gás.

As importações de urânio e outros materiais que alimentam a indústria da energia nuclear também vão sofrer restrições nos novos contratos de fornecimento, ao mesmo tempo que a cadeia europeia destes materiais será fomentada. Em relação ao petróleo, o ‘mapa’ define novas ações para responder aos circuitos através dos quais a Rússia estará a evitar as sanções.

“A Comissão vai reforçar os seus esforços diplomáticos e a cooperação com a Organização Marítima Internacional e começar a trabalhar em missões marítimas”, no âmbito da política comum de Defesa e Segurança.

Os Estados-membros têm até ao final deste ano para apresentar planos, a nível nacional, para eliminar as respetivas importações de gás, petróleo e combustíveis para energia nuclear com origem russa.

Preços do gás não devem subir mas CE disponibiliza apoio

Questionado pelos jornalistas sobre o efeito no preço, Jorgensen indicou que, tendo em conta a expansão da oferta global de gás e a redução anual que a UE tem registado no seu consumo deste combustível, “no cômputo geral, não estimamos que estas medidas levem a aumentos nos preços“.

Ainda assim, reconhece que a transição será mais difícil para uns países do que outros. “Isto não é desprovido de desafios, mas disponibilizaremos apoio aos Estados-membros onde e quando necessário“, assegurou Jorgensen.

Todas as medidas deverão ser acompanhadas de esforços para assegurar alternativas de fornecimento, como a agregação de procura e a otimização do uso da infraestrutura de gás existente, assim como da aposta em tecnologias de transição energética, lê-se no comunicado disponibilizado no site da Comissão.

Hungria critica

O Governo da Hungria, próximo do Kremlin e extremamente dependente da energia russa, criticou o plano da Comissão Europeia para pôr definitivamente termo às importações de gás russo até ao final de 2027.

“Depois do fracasso total das sanções contra a Rússia, a Comissão Europeia comete agora outro erro muito grave ao excluir à força, artificial e ideologicamente, as fontes de energia russas”, declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro, Peter Szijjarto, num vídeo publicado na rede social Facebook.

(Notícia atualizada pela última vez Às 16h)

 

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Sérvulo assessora BdP na aquisição à Fidelidade de edifício a construir em Entrecampos

A equipa foi liderada pelo managing partner, Manuel Magalhães e pelos sócios da Sofia Thibaut Trocado e Eduardo Gonçalves Rodrigues.

A Sérvulo assessorou o Banco de Portugal na celebração do contrato-promessa de compra e venda com vista à aquisição, à Fidelidade Property Europe, de edifício a ser construído em Entrecampos, nos antigos terrenos da Feira Popular, em Lisboa. A Fidelidade foi assessorada pela Garrigues.

Esta operação contou com uma equipa multidisciplinar, liderada pelo sócio e Managing Partner, Manuel Magalhães, responsável pelo departamento de Imobiliário, Turismo e Urbanismo e e pelos sócios da mesma área Sofia Thibaut Trocado e Eduardo Gonçalves Rodrigues, que prestou toda a assessoria legal na due diligence, e na negociação e formalização do contrato-promessa de compra e venda do edifício, que terá uma área bruta de construção de cerca de 32 mil metros quadrados.

Integraram esta equipa os departamentos de Imobiliário, e Turismo e Urbanismo – com o associado Pedro João Domingos – de Fiscal – com a Sócia Teresa Pala Schwalbach e a associada Lénia Carolina Sousa – e o Solicitador Luís Monteiro Romão.

A equipa da Garrigues que esteve do lado da Fidelidade foi liderada pelo sócio de Imobiliário e Urbanismo Jorge Salvador Gonçalves, com o apoio da associada Margarida Martins Ramos, e da equipa de Direito Fiscal, representada pela sócia Isabel Vieira dos Reis.

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Os cinco novos desafios para a economia e para a banca, por Ricardo Reis

As tensões internacionais, muito exacerbadas pela gestão de Donald Trump, geram cinco novos riscos e desafios para a economia e para a banca, segundo o economista Ricardo Reis.

Os últimos meses, marcados pela ascensão da administração de Donald Trump, trouxeram vários novos desafios para a economia e para os bancos em particular, ainda que algumas das tendências já viessem de trás. “A banca está há mais de uma década a lidar com as mudanças no seu setor”, nomeadamente com a tecnologia, a concorrência das fintech, as criptomoedas ou as mudanças no seu papel, começou por dizer Ricardo Reis, Economista, Professor na The London School of Economics and Political Science, na sessão de encerramento da conferência Banking on Change, organizada esta terça-feira pelo ECO com a KPMG e a PLMJ.

Olhando para o futuro, “temos de pensar no contexto da Administração Trump, das mudanças macroeconómicas, no que é o mundo e o papel da banca nele e como a banca se vai adaptar a ele“, disse.

Ricardo Reis partiu de cinco grandes desafios para a economia mundial para ilustrar os novos tempos e que, de certa forma, servem de guia de navegação para os bancos e não só.

Em primeiro lugar, a questão das tarifas e da guerra comercial.

Num mundo de tarifas, a banca terá de se adaptar a uma nova realidade. Não sendo um dos setores mais exportadores ou mais integrados em termos globais, tem como uma das suas funções o apoio ao comércio internacional”, afirmou. “Num mundo em que temos um recuo da globalização, pelo menos no sentido de ser mais regional, exige-se que a banca tenha de adaptar a mercados que vão ser diferentes, a uma volatilidade de taxas de câmbio muito maior, com choques que serão mais regionais que internacionais”, acrescentou.

Neste sentido, há uma consequência lateral mais importante para os bancos nacionais.

No caso da banca portuguesa, isto pode levar a maior concentração ou abertura e internacionalização

Ricardo Reis

“No caso da banca portuguesa, isto pode levar a maior concentração ou abertura e internacionalização porque pode levar a um aprofundamento da regionalização e Portugal faz parte de uma grande região, que é a Europa”, continuou. “As fusões entre bancos e entre fronteiras vão estar em cima da mesa e estão criadas as condições para que aconteçam nos próximos anos”, acrescentou.

O segundo desafio prende-se com “o apetite de alguns governos usarem repressão sobre os agentes económicos”, algo de que o executivo de Donald Trump é um exemplo. “Se até agora vimos a repressão sobre a atividade comercial, parece ser um pequeno passo até que surja a repressão financeira”, reforçou.

Os governos podem “obrigar os investidores nacionais – fala-se sobretudo de bancos – a deterem obrigações do Tesouro remuneradas a uma taxa abaixo do que seria justo ou expectável no mercado considerando os riscos dessa mesma dívida”.

Neste contexto de alta pressão, admite o economista, pode haver um maior papel a ser desempenhado pelas critpomoedas, por exemplo.

A guerra e as suas múltiplas formas estão no terceiro desafio apontado por Ricardo Reis. Isto pode aumentar os ataques – nomeadamente os ciberataques – entre países. “Os problemas da guerra surgem com ataques às infraestruturas dos inimigos” e os “bancos são uma infraestrutura por excelência da economia de um país”. O professor lembrou que, neste campo, há vários países que estão muito à frente de Portugal na proteção das suas infraestruturas.

O papel do dólar e o seu domínio mundial está também a alterar-se, e constitui o quarto desafio dos tempos atuais. Para Ricardo Reis, é expectável que o dólar continue a ser a referência, mas que venha a perder peso para o euro e para o yuan, enquanto moeda de referência nas transações internacionais. Isto prende-se com vários fatores, mas que têm uma raiz comum: a erosão, por via das políticas de Trump, daquilo que está no fundamento de qualquer moeda, a sua segurança enquanto referência de poupança, investimento, liquidez e estabilidade. Para o economista, é possível que o euro e a moeda chinesa possam crescer “para perto de 20%” das transações mundiais, cada, deixando os restantes 60% para o dólar, face aos perto de 80% atualmente.

O último ponto destacado por Ricardo Reis é uma cada vez menor sintonia entre políticas monetárias dos diferentes bancos centrais, nomeadamente a Reserva Federal e o Banco Central Europeu. Entre estas duas entidades, “a política monetária foi muito concertada ao longo dos últimos 24 anos”, algo que “é expectável que não aconteça nos próximos 12 a 24 meses”, defendeu. Isto vai obrigar a “uma gestão muito mais ativa por parte dos bancos”, no que toca a coberturas de riscos, variações cambiais e riscos financeiros.

O professor concluiu advertindo que os riscos são muitos e alguns novos, sucedendo simultaneamente, o que constitui um desafio. Uma gestão mais atenta e mais ativa é essencial, para que as organizações se possam ir adaptando a condições que se continuarão a alterar muito rapidamente e nem sempre no mesmo sentido.

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Auditor da UE alerta para complexidade e pressão causadas por reprogramação na Coesão

  • Lusa
  • 6 Maio 2025

Bruxelas propôs uma reafetação das verbas da Coesão para promover a mobilidade militar e reforçar as capacidades de defesa, bem como para duplicar o financiamento disponível para habitação acessível.

O Tribunal de Contas Europeu (TCE) alertou esta terça-feira que a reprogramação da política de Coesão proposta pela Comissão Europeia, com reafetações para incluir prioridades da União Europeia (UE) como defesa e habitação, acarreta “complexidade e pressão administrativa”.

A Comissão Europeia propôs, no início de abril, uma reafetação das verbas da Coesão para promover a mobilidade militar e reforçar as capacidades de defesa, bem como para duplicar o financiamento disponível para habitação acessível, entre outras prioridades da UE.

Hoje, o TCE emite uma opinião sobre tal proposta, apontando que, “embora seja necessário a política de coesão se adaptar à evolução dos desafios, […] a execução eficaz do financiamento da política de coesão já implica desafios e que os mesmos fundos estão agora a ser utilizados como um veículo para apoiar a evolução dos objetivos estratégicos da UE“.

“Os auditores alertam para o facto de as medidas propostas poderem aumentar a complexidade, exercer pressão sobre a capacidade administrativa e diluir o objetivo da política de reduzir as disparidades regionais. Salientam igualmente a falta de uma avaliação de impacto e apelam a regras de elegibilidade mais claras e a uma melhor coordenação com os instrumentos comunitários existentes”, elenca o TCE em nota enviada à imprensa.

Pelo peso dos montantes da coesão em Portugal, não é certo que o país vá fazer esta reprogramação para poder alocar tais verbas a promover a mobilidade militar e reforçar as capacidades, tendo o Governo português já dito que vê “com cautela” a reafetação.

“Nós olhamos para essa possibilidade, se ela eventualmente estiver em cima da mesa, com muita cautela, porque […] é importante que haja equilíbrio nas políticas públicas, é importante reforçar a defesa, mas, por outro lado, há outros pilares da União Europeia que não podem sair enfraquecidos por este reforço da despesa com defesa”, declarou o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, em entrevista à agência Lusa.

Numa altura em que Bruxelas pede mais gastos em segurança, dadas as atuais necessidades num contexto de tensões geopolíticas, Joaquim Miranda Sarmento vincou ser “muito importante que a União Europeia mantenha uma política de coesão forte”.

Estas alterações às legislações da política de coesão, propostas no contexto da revisão intercalar de 2025, vão ser discutidas pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho, sendo que a Comissão quer concluir a reprogramação ainda este ano para que os novos programas possam ser executados a partir do início de 2026.

Os países vão ter de rever os seus planos e Bruxelas terá de dar o seu aval para, idealmente em janeiro de 2026, as mudanças estarem em vigor.

Com um orçamento de 392 mil milhões de euros para o atual período de programação 2021-2027, a política de coesão é a principal política de investimento da UE.

Estima-se que este financiamento da política de coesão em 2021-2027 possibilite a criação de 1,3 milhões de postos de trabalho nos 27 países e o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) da UE em 0,5%, em média.

Em Portugal, um dos principais beneficiários destas verbas, os fundos da política de coesão deverão fazer crescer o PIB nacional em mais 3% até 2029.

O quadro comunitário em vigor na UE prevê cerca de 23 mil milhões de euros para Portugal executar os programas da coesão.

A legislação da UE exige que o TCE seja consultado sempre que esteja em causa um financiamento da UE.

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Regime de confisco de bens já está em consulta pública

Previsto na Agenda Anticorrupção, o novo regime da perda alargada de bens pretende reforçar os mecanismos legais no combate ao crime económico e organizado.

Já se encontra online a consulta pública do anteprojeto de revisão da legislação penal e processual penal em matéria de perda de vantagens de atividade criminosa, bem como o relatório final do Grupo de Trabalho nomeado pela ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice. Os documentos estão disponíveis até dia 30 de junho.

“Este anteprojeto e o trabalho desenvolvido pelo Grupo de Trabalho têm como objetivo garantir a transposição da Diretiva (UE) 2024/1260, de 24 de abril de 2024, designadamente no que se refere às modalidades de perda alargada de bens em espécie e de bens apreendidos no âmbito de uma investigação penal, bem como fornecer um enquadramento processual adequado às diferentes modalidades de perda de bens, colmatando o vazio atualmente existente“, lê-se no comunicado.

Previsto na Agenda Anticorrupção, o novo regime da perda alargada de bens pretende reforçar os mecanismos legais no combate ao crime económico e organizado. Entre as novidades está a permissão de declarar perdido a favor do Estado um bem específico, resultante de atividade criminosa, obtido por um arguido condenado num processo criminal, mesmo que não se prove a ligação entre esse bem e um crime concreto.

Outra das novidades diz respeito ao mecanismo subsidiário da perda de bens apreendidos associados a organização criminosa. Assim, possibilita o confisco de bens apreendidos no âmbito de uma investigação penal, mesmo sem condenação, desde que o tribunal conclua que resultam de atividade criminosa organizada.

Com o novo regime processual do confisco clarificam-se também as regras processuais, “dissipando dúvidas da legislação atual, colmatam-se lacunas e cria-se um novo sujeito processual (pessoa afetada) e uma nova forma de processo autónomo, de natureza não penal”.

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Via verde da imigração “é bom começo”, mas Portugal precisa de se promover como “destino bom para trabalhar”

Conferência Anual do Trabalho juntou empresários e especialistas para discutir um dos temas mais polémicos do momento: a imigração. "Via verde" recebeu elogio, mas é só um começo.

  • A Conferência Anual do Trabalho foi organizada pelo Trabalho by ECO e abordou os salários, a lei do trabalho, o futuro da Segurança Social, a formação e as migrações. Ao longo desta semana, serão publicadas peças relativas a cada um destes cinco painéis, sendo que pode rever já os principais destaques aqui.

A “via verde” para contratar imigrantes assinada no início de abril pelo Governo e pelas confederações empresariais é uma “boa solução” para atrair para o país as mãos de que tanto precisam os empregadores de vários setores, mas é apenas um começo. No painel “Talento que sai, talento que entra” da segunda edição da Conferência Anual do Trabalho, empresários e especialistas juntaram-se para debater a saída de jovens qualificados do país e a entrada de estrangeiros, com a mensagem de que Portugal precisa de se promover lá fora como “um destino para trabalhar”.

Quarto painel da segunda edição da Conferência Anual do Trabalho debruçou-se sobre migrações de talento.Henrique Casinhas/ECO

“A ‘via verde’ para a imigração é uma ótima solução. Um bom começo. É isso que nos permite fazer o encontro entre a oferta e a procura“, afirmou Gonçalo Saraiva Matias, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS).

O também ex-diretor do Observatório das Migrações sublinhou que, além disso, é essencial que Portugal tenha uma agência que promova o país no estrangeiro como um bom sítio para viver e trabalho, já que, neste momento, não se está a conseguir atrair trabalhadores para os setores que precisam de mãos.

Na visão deste responsável, uma vez que o tecido empresarial português é composto por pequenas e médias empresas, é necessário que esse trabalho seja feito por agências públicas, isto é, o Estado deve intervir e fazer a ponte, de modo a que as empresas consigam recrutar os estrangeiros de que precisam para as suas operações.

No mesmo painel, César Araújo, presidente da Associação Nacional das Industrias de Vestuário e de Confeção (ANIVEC), apelou à regulação da imigração, deixando claro que o país precisa, sim, das mãos que vêm de fora, mas estas têm de ser qualificadas. “Não queremos imigrantes de baixas qualificações. Então, não pedíamos aos jovens para estudarem e ganhar qualificações”, atirou.

“Não queremos quadros de baixa qualificação. Queremos quadros de alta qualificação, que nos venham ajudar na transformação. Temos de regular a imigração e trazer quadros de valor acrescentado“, salientou César Araújo.

Formação é a chave para a integração de sucesso

Rita Soares, responsável de seleção, formação e desenvolvimento do El Corte Inglés, participou na segunda edição da Conferência Anual do Trabalho.Henrique Casinhas/ECO

Neste que foi o quarto painel da Conferência Anual do Trabalho, participou também a responsável de seleção, formação e desenvolvimento do El Corte Inglés, Rita Soares, que avançou que na empresa cerca de 10% dos colaboradores já são imigrantes, de cerca de 23 a 24 diferentes nacionalidades.

“Os nossos projetos e programas dirigidos à contratação de imigrantes inserem-se em políticas mais latas de inclusão. Olhamos para eles como força ativa interessante. Vêm cheios de disponibilidade e interesse em aprender uma profissão“, declarou a responsável, que identificou a formação como a chave para a integração de sucesso destas pessoas.

Segundo Rita Soares, no El Corte Inglés a formação dura cerca de um ano e conta com o apoio de todas as estruturas e áreas da retalhista espanhola.

“O recrutamento é um recrutamento ético. São sujeitas a um processo de seleção igual aos outros. Temos que olhar mais para o comportamento do que para o conhecimento que já está adquirido“, disse ainda a responsável.

Já da parte da EY Portugal, Patrícia Agostinho, chief happiness officer, explicou que a maior parte dos jovens perguntam, quando chegam a esta consultora, se há possibilidade de ir para fora. “E há”, asseverou a responsável. Mas há também “muita gente a querer vir para” Portugal, assinalou Patrícia Agostinho.

“Portugal, dentro do universo EY, está a ser muito atrativo”, sublinhou a responsável. O que os traz? O escritório “espetacular”, mas não só, apontou. “Vêm com os salários do seu país. Lisboa é uma cidade muito atrativa. Vêm jovens já com famílias. Vêm à procura de melhorar competências“, contou a chief happiness officer.

Recorde abaixo o painel na íntegra:

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CEO do Novobanco minimiza riscos das tarifas para empresas nacionais

Apesar da queda dos lucros, Mark Bourke insiste que o banco vai cumprir os objetivos definidos para 2025 e que o choque das tarifas dos EUA será um pequeno obstáculo para as empresas nacionais.

O Novobanco apresentou esta terça-feira resultados do primeiro trimestre de 2025, marcados por uma descida homóloga de 1,9% nos lucros, para 177,2 milhões de euros. Mas o CEO do banco, Mark Bourke, destacou o desempenho “sólido” do banco, sem fazer qualquer declaração sobre o IPO da empresa, e minimizou os riscos para a economia portuguesa decorrentes da escalada das tensões comerciais internacionais.

“Estamos a fazer progressos no alcance dos nossos objetivos”, afirmou Mark Bourke na conferência com analistas, sublinhando o crescimento de 3% dos depósitos, o aumento de 12,3% nas comissões e a subida de 5% na concessão de crédito às empresas entre março de 2024 e março deste ano.

Questionado por um analista sobre a estratégia de crescimento do banco, Mark Bourke reforçou ainda o crescimento homólogo de 3,1% da carteira de crédito à habitação, para cerca de 10,3 mil milhões de euros no final de março, sublinhando: “Estamos a voltar aquilo que acreditamos que é a nossa margem normal em termos de quota de mercado de crédito à habitação.”

O banqueiro garantiu que o Novobanco está em condições de “reconfirmar a guidance para este ano”, mantendo como metas um crescimento do crédito em torno de 3%, um cost to income próximo dos 35% e uma rentabilidade em relação aos seus ativos físicos (ROTE) acima dos 20% até ao final de 2025. E ainda mostrou-se satisfeito por, esta segunda-feira, o Novobanco ter sido autorizado a reduzir o seu capital em 1,1 mil milhões de euros, que permitirá distribuir aos acionistas 2,2 euros por ação.

Sobre o impacto da guerra comercial dos EUA marcada por um aumento agressivo e cego das tarifas sobre bens importados, Mark Bourke considera que “a economia portuguesa está estruturalmente menos exposta às tarifas dos EUA sobre exportações de bens, enquanto se esperam medidas proativas para mitigar o impacto”.

O CEO destacou que “80% das empresas portuguesas obtêm menos de 10% das suas vendas totais das exportações para os EUA”, salientando que Portugal “será afetado, mas será um caso mais isolado que outros países”, notando que “Portugal é uma economia pequena e aberta”.

Além disso, sublinhou ainda o pacote de apoio de dez mil milhões de euros anunciado recentemente pelo Governo para apoiar as empresas mais expostas ao mercado norte-americano, incluindo novas linhas de crédito garantidas e fundos não reembolsáveis para reforço de liquidez, salientando ainda que, neste âmbito de apoio ao tecido empresarial nacional, o Novobanco irá focar-se em “suportar as empresas à velocidade que estas exploram novos mercados.”

Sobre o processo de abertura do capital do banco em bolsa (IPO), o banqueiro não fez qualquer comentário, nem teceu qualquer declaração sobre o conteúdo da assembleia geral extraordinária marcada para 4 de junho para que os seus acionistas deliberem sobre a admissão à negociação de ações no mercado regulamentado da Euronext Lisboa.

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Passos exige “espírito reformista”, avisando que não chega ter “estabilidade política”. Montenegro “de acordo”

Antigo primeiro-ministro apelou a que o país não se alheie do que está a acontecer no mundo e se prepare para "o que aí vem". Ferreira Leite acredita em "lucidez" dos portugueses.

O presidente do PSD, Luís Montenegro, durante um almoço com antigos líderes do partido: Santana Lopes, Fernando Nogueira, Marques Mendes, Cavaco Silva, Rui Rio, Luis Filipe Menezes, Passos Coelho e Manuela Ferreira Leite.MIGUEL A. LOPES/LUSA 6 maio, 2025

O antigo primeiro-ministro e líder do PSD Pedro Passos Coelho alertou esta terça-feira que o partido deve “fazer pleno jus à sua tradição reformista em Portugal”, avisando Luís Montenegro que não basta ter estabilidade política, é preciso avançar com as reformas que o país precisa. O primeiro-ministro garantiu estar “absolutamente de acordo”.

“O meu desejo profundo é que nestes anos que temos pela frente, o PSD possa fazer pleno jus à sua tradição reformista em Portugal. O mundo inteiro vive um período de transformações muito grandes, de grandes incertezas quer a nível de segurança e defesa, quer a nível económico e político, e isso acentua ainda mais a importância de tratar de relevar reformas importantes que o país ainda precisa de fazer para superar vulnerabilidades estruturais que ainda são manifestas”, referiu Passos Coelho.

O antigo presidente social-democrata falava em declarações aos jornalistas à entrada para o almoço de aniversários do PSD com os ex-líderes partidários, na sede do partido, em Lisboa. À mesa sentam-se também Manuela Ferreira Leite, Luís Marques Mendes, Aníbal Cavaco Silva, Fernando Nogueira, Rui Rio, Luís Filipe Menezes e Pedro Santana Lopes.

Para Pedro Passos Coelho, que chefiou o Executivo durante o período da intervenção da troika, “isso exige evidentemente estabilidade política, mas é mais importante sublinhar que não depende apenas da estabilidade política”. “É preciso que exista verdadeiramente um espírito reformista que possa estar ao serviço dessa estabilidade”, acrescentou.

O mundo inteiro vive um período de transformações muito grandes (…) e isso acentua ainda mais a importância de tratar de relevar reformas importantes que o país ainda precisa de fazer para superar vulnerabilidades estruturais que ainda são manifestas.

Pedro Passos Coelho

Antigo primeiro-ministro

O ex-presidente do PSD argumentou que “em anos a fio tivemos estabilidade que não esteve ao serviço de nenhuma agenda transformadora”, numa referência à governação de António Costa. “Tempos favoráveis”, disse, em que “o país devia ter feito reformas”.

“As duas coisas são necessárias: a estabilidade – para a qual os eleitores podem dar uma contribuição importante através das suas escolhas –, mas também reformismo, que é aquilo que os líderes dos partidos têm de fazer. As duas coisas são essenciais para os próximos anos. E é importante que o país não se alheie do que está a acontecer no mundo e se vá preparando para o que aí vem”, rematou Passos.

Montenegro “absolutamente de acordo” com Passos Coelho

O líder do PSD garantiu estar “absolutamente de acordo” com Pedro Passos Coelho, considerando que essa é a “essência do PSD”: “um partido confiável, que assegura a estabilidade”, mas que “nunca está satisfeito” porque quer sempre avançar. “É seremos capazes de fazer ainda mais”, afirmou, considerando que foi esse o sentido das palavras do antigo primeiro-ministro sobre “reformismo”.

O PSD deve assumir as suas responsabilidades, não deve apenas olhar para si próprio. Deve abrir-se. Somos um partido aberto a acolher o apoio entusiasmo, a adesão e a partilha“, disse à saída do almoço com os antigos líderes.

Montenegro adiantou que durante o encontro que durou cerca de duas horas, a conversa sobre a capacidade de tornar a governação do último ano, numa “maioria maior”. O primeiro-ministro reiterou acreditar que os portugueses procuram “estabilidade política” e que isso se refletirá no voto no dia18 de maio.

Ferreira Leite e Marques Mendes esperam “lucidez” do eleitorado

Passos não foi o único antigo líder a prestar declarações antes do almoço. Manuela Ferreira Leite acredita que os portugueses vão ter a “lucidez suficiente para saber que não é possível fazer progredir o país numa instabilidade permanente“. Ou seja, votar na estabilidade, isto é, na AD. Em declarações aos jornalistas, a antiga ministra das Finanças afirmou estar presente no encontro para celebrar o papel que o partido tem tido no país.

Ao lado de Ferreira Leite, Luís Marques Mendes acrescentou que esta terça-feira é um momento de recordar o contributo de Francisco Sá Carneiro e de Francisco Pinto Balsemão. O antigo líder e agora candidato presidencial considerou que, nas eleições de 18 de maio, “uma parte grande dos portugueses, vai votar sobretudo a pensar na estabilidade”.

O presidente do PSD, Luís Montenegro, durante um almoço com antigos líderes do partido: Fernando Nogueira, Passos Coelho, Rui Rio, Cavaco Silva, Manuela Ferreira Leite, Marques Mendes, Santana Lopes e Luis Filipe Menezes, no âmbito da campanha para as eleições legislativasMIGUEL A. LOPES/LUSA 6 maio, 2025

Uma parte grande dos votos, talvez, como tem acontecido no passado, vai ser a pensar na estabilidade. Se assim for, é um ato de lucidez por parte dos portugueses. O país não pode andar de ano a ano em eleições. Não pode ter crises anuais. Com o contexto internacional que é difícil, incerto e instável, não podemos acrescentar mais instabilidade à que vem lá de fora”, argumentou.

Por sua vez, Luís Filipe Menezes elogiou Luís Montenegro pela organização do encontro desta terça-feira. “Tem um valor muito emblemático o atual presidente do partido e primeiro-ministro trazer tantos ex-primeiros-ministros e ex-líderes do partido aqui. Significa uma unidade que não é artificial”, disse.

Tem um valor muito emblemático o atual presidente do partido e primeiro-ministro trazer tantos ex-primeiros-ministros e ex-líderes do partido aqui. Significa uma unidade que não é artificial.

Luís Filipe Menezes

Ex-líder do PSD

Já Rui Rio salientou a importância dos partidos tradicionais. “Numa altura em que eu tenho ouvido que os partidos tradicionais, entre os quais naturalmente o PSD, falharam nestes 50 anos e é preciso dar novas oportunidades porque foi um falhanço… Os 50 anos não foram um falhanço, Portugal hoje, em 2025, não tem comparação com o que era em 1974”, disse.

Ainda assim, apesar de admitir que Portugal “tem problemas, e os partidos tradicionais se têm de adaptar a esses novos problemas e ter coragem de resolver”, adverte que “coisa diferente é dizer que os 50 anos foram um desastre”. Por sua vez, Aníbal Cavaco Silva e Fernando Nogueira preferiram não prestar declarações.

Durão destaca “integridade pessoal” de Montenegro

Esta manhã, à margem de uma arruada em Leiria, Luís Montenegro já tinha destacado que “nenhum [dos ex-presidentes] disse que não” ao convite para este almoço comemorativo do aniversário do PSD, à exceção de Marcelo Rebelo de Sousa, que “como Presidente da República não deve ter uma participação partidária numa altura em que estamos em campanha eleitoral”.

Francisco Pinto Balsemão e Rui Machete não foram por razões de saúde. Ausente no estrangeiro, onde está a participar numa conferência, José Manuel Durão Barroso enviou uma carta, citada pelo Observador, sublinhando o contexto “internacional tão difícil e exigente”, mas dizendo-se “seguro de que, nas condições atuais, só um Governo da AD, sob a sua liderança, está em condições de oferecer a Portugal essa solução”.

“Impõe-se a eleição de um primeiro-ministro com integridade pessoal, experiência governativa, competência e capacidade política, qualidades que o meu amigo já muito claramente demonstrou ter. O nosso país precisa de estabilidade política e de um rumo governativo claro e firme”, escreveu o antigo presidente da Comissão Europeia.

(Notícia atualizada às 16h13 com declarações de Luís Montenegro)

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Novobanco? Banco de Portugal deseja diversidade acionista no setor

Clara Raposo referiu que tem "expectativas positivas" em relação ao desfecho do processo da venda do Novobanco. E frisou que o setor está hoje mais resiliente para enfrentar a turbulência global.

Questionada sobre o processo de venda do Novobanco, a vice-governadora do Banco de Portugal, Clara Raposo considerou que o supervisor preza a concorrência do mercado e que não vê com bons olhos que os bancos sejam iguais uns aos outros e dependam dos mesmos acionistas.

“Sabemos como temos o sistema a funcionar neste momento. Para nós é importante que haja concorrência e que idealmente não tenhamos os bancos exatamente iguais uns aos outros e dependentes das mesmas fontes de risco e acionistas”, disse Clara Raposo durante a conferência Banking on Change, organizada em Lisboa pelo ECO com a KPMG e a PLMJ.

Segundo explicou, “um sistema bancário que funciona com concorrência a todos os níveis tem vantagens claras para a estabilidade financeira, desde que as instituições sejam bem geridas”.

Ainda assim, relativamente ao processo do Novobanco, sublinhou que está com “expectativas positivas quanto à sua concretização”.

Na sua intervenção inicial, Clara Raposo deu conta dos progressos realizados pelos bancos em Portugal em matéria de redução do crédito malparado e de reforço da rentabilidade e da capitalização, uma evolução que colocou o setor num patamar de maior resiliência para enfrentar “dificuldades” no futuro.

“O setor está muito mais resiliente e mais preparado para enfrentar dificuldades do que estavam há 10 anos“.

“Temos um setor bancário que está a funcionar muito mais eficientemente. Temos algum espaço para atravessar período de turbulência no futuro”, afirmou.

Já em relação ao tema dos depósitos, lembrou que os bancos têm tido “anos de particular abundância de liquidez” e que por isso “não têm tido a necessidade de ir à procura de financiamento” junto das famílias.

Porém, Clara Raposo frisou que o supervisor está “atento” à política de remuneração dos bancos, “mas não é intrusivo”. “Fazemos os nossos alertas”, destacou.

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Carlos Tavares defende “pacto lusitano” na TAP para “satisfazer” a esquerda e investidor de fora da Europa

Carlos Tavares defende "pacto lusitano" na TAP para "satisfazer" esquerda e diz que tenciona investir nas áreas da hotelaria, automóvel, saúde, inteligência artificial e transporte aéreo.

Carlos Tavares, ex-CEO da Stellantis, defendeu, esta segunda-feira, um “pacto lusitano de acionistas para satisfazer a esquerda no Parlamento “na sua vontade de guardar o controlo” da TAP, que passa por um modelo em que Estado fica com 40% do capital da empresa de aviação, os empregados outros 20% e a criação um fundo de investimento com outros 20% que inclua empresas de turismo nacionais. Os restantes 20% seriam vendidos a uma companhia aérea de fora da Europa. “A sustentabilidade de uma empresa como esta passa pela recorrência dos lucros”, advertiu.

Na ótica do gestor, este modelo, que propõe para a privatização da TAP — um assunto que tem agitado as águas no país –, seria o mais consensual e uma forma de agradar à esquerda no Parlamento, uma vez que garantiria capitais nacionais. “Há um pacto lusitano de acionistas com a possibilidade de guardar um controlo português desta companhia que é uma das exigências, pelo que eu percebo da parte mais de esquerda da nossa Assembleia [da República], que é perfeitamente lógico na lógica deles”, afirmou Carlos Tavares à margem do jantar anual da Associação Comercial do Porto (ACP), que aconteceu na noite desta segunda-feira, no Palácio da Bolsa.

O ex-presidente da Stellantis está convencido de que a sua proposta para a privatização da TAP colhe unanimidade junto de todos os partidos com assento político na Assembleia da República. “Não vejo razão pela qual os partidos políticos não poderiam apoiar isto”, notou. Por isso mesmo, o gestor de 66 anos propõe que o fundo de investimento detentor de 20% do capital da TAP inclua empresários do turismo português, com “um assento à mesa desta empresa que é uma das ferramentas para desenvolver o seu negócio”.

Há um pacto lusitano de acionistas com a possibilidade de guardar um controlo português desta companhia que é uma das exigências, pelo que eu percebo da parte mais de esquerda da nossa Assembleia.

Carlos Tavares

Gestor e ex-presidente da Stellantis

Para Carlos Tavares, este “pacto lusitano de acionistas não impede ter uma gestão muito competitiva da empresa, numa indústria extremamente difícil, com margens fracas e com um nível de exposição à geopolítica que é muito elevado”.

Considerando que é ponto assente que “o Governo não sabe gerir a TAP” e, como tal, a privatização é uma “decisão estratégica, o gestor sugere ainda no seu modelo de negócio que 20% do capital seja vendido a uma outra companhia aérea que não seja europeia de modo a não gerar concorrência direta com Portugal na área do turismo.

Depois ficam 20% para uma parceria com uma outra transportadora aérea que não pode ser de um país europeu, porque qualquer país europeu é um concorrente turístico em Portugal”, defendeu. E como tal, “não poderá ter como objetivo estratégico desenvolver o turismo em Portugal”.

Os principais interessados na companhia europeia são todos europeus. Os grupos IAG, Lufthansa e Air France – KLM já manifestaram publicamente a sua vontade em participar na privatização, que transitou para o próximo Executivo.

Outra sugestão do gestor passa por incluir no caderno de encargos da privatização da companhia aérea o reembolso de mais de três mil milhões de euros em injeções do Estado português na transportadora aquando da pandemia da Covid-19.

Fora de causa está a possibilidade de vir a gerir a TAP. “Nem pensar; claro que não. Tenho 66 anos e, portanto, a minha vida de CEO já acabou. Posso ter um papel na governação da empresa, mas não na liderança executiva”, disse.

Não põe de lado, contudo, a hipótese de também investir na transportadora: “Posso ser investidor, mas isso é são números que não estão ao meu alcance. Posso ajudar para que se crie um grupo de investidores que esteja interessado”.

Tavares quer investir na hotelaria, IA e indústria

Carlos Tavares tenciona investir em Portugal nos setores da hotelaria, automóvel, saúde, inteligência artificial e transporte aéreo, admitindo que tem “tido vários contactos nesse sentido, mais na área da indústria”, nomeadamente do calçado. Ainda assim, o gestor afirmou que “ainda é cedo para falar sobre isso”, porque só o deverá fazer dentro de meses. “Isso vai acontecer naturalmente”, garantiu.

Mas uma coisa é certa para Carlos Tavares: “Se eu tiver a possibilidade de investir, será no meu país prioritariamente“, não descurando, contudo, a hipótese de se aliar a capitais estrangeiros nesse desígnio. Até porque, Carlos Tavares é apologista de que “alguns modelos de negócios de investimento estrangeiro devem incluir capital nacional”, nem que seja com um peso de 10 a 20%.

Vejo várias propostas em que se obviamente se está a investir em Portugal com um modelo de negócios estruturalmente negativo“, alertou, chamando a atenção para as consequências nefastas que daí podem advir caso assim não aconteça: não atrair capital português, reduzir as receitas fiscais, acabando por “sobrecarregar os outros atores económicos”, além de não fixar talento que o país tanto precisa e que emigra em busca de melhores condições de vida.

Temos interesse em que os nossos jovens graduados fiquem cá com postos de chefia e salários de bom nível [assim como] haja lucro e receitas fiscais para financiar a educação, a saúde e a segurança”, sustentou Carlos Tavares.

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Associação de Municípios contesta alteração do Governo à gestão de resíduos

ANMP aprovou parecer contra proposta de alteração da lei dos resíduos. Medida do Governo, que tenta evitar multa europeia, prejudica o ambiente e penaliza as autarquias, assegura a associação.

O projeto de decreto-Lei com o qual o Governo pretende alterar o Regime Geral de Resíduos, em resposta a uma infração apontada por Bruxelas, “prejudica severamente o ambiente e penaliza os municípios”, assegura a Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP) que contesta a medida.

Reunida nesta terça-feira, a ANMP aprovou, por unanimidade, um parecer desfavorável às alterações propostas pelo projeto de decreto-Lei que estabelece novas regras para o Regime Geral de Resíduos.

Este projeto surge em resposta a um processo de infração movido pela Comissão Europeia contra Portugal, considerando-se que o país não completou devidamente a transposição da Diretiva 2018/851. Nesta, Bruxelas regulamenta a gestão de resíduos, identificando-os como “dos mais complexos de gerir” e apontando para uma quota de 7 a 10% no volume total de resíduos produzidos no espaço comum.

O Governo português indica, nesta iniciativa legislativa, que “torna-se urgente e necessário aprovar o presente decreto-lei para assegurar a completa transposição da referida Diretiva Quadro dos Resíduos, garantindo o cumprimento integral do direito da União Europeia e o encerramento do processo de infração”.

No projeto de decreto-Lei a que o ECO/Local Online teve acesso, o Governo indica que “por forma a assegurar ou melhorar a valorização dos resíduos, no respeito pela proteção da saúde humana e do ambiente, devem ser removidas, antes ou depois da valorização, e sempre que necessário, as substâncias, misturas e componentes perigosos dos resíduos perigosos tendo em vista o seu tratamento”.

Para a ANMP, o projeto de decreto-Lei “não só não contribui para resolver o problema” dos resíduos perigosos, “como prejudica severamente o ambiente e penaliza os municípios, pois aumenta os custos com os resíduos indiferenciados – tanto ao nível da recolha, como do transporte e do destino final, em particular com a deposição em aterro e pagamento da TGR associada”.

A entidade liderada por Luísa Salgueiro pretende a imposição de “prazos, os mais curtos possíveis, que forcem a constituição das entidades gestoras [em falta], efetivando a responsabilidade do produtor e, bem assim, acautelar soluções transitórias de tratamento e gestão integrada dos fluxos específicos”.

Não só não contribui para resolver o problema [dos resíduos perigosos] como prejudica severamente o ambiente e penaliza os municípios, pois aumenta os custos com os resíduos indiferenciados – tanto ao nível da recolha, como do transporte e do destino final, em particular com a deposição em aterro e pagamento da TGR associada.

Associação Nacional dos Municípios Portugueses

Para a associação, não se justifica “dispensar expressamente os produtores [de resíduos perigosos] da rotulagem e não adotar idêntica solução para a operacionalização das recolhas de responsabilidade municipal”. Entre estes estão os resíduos perigosos, os têxteis e os monos, cuja recolha pelos municípios se tornou obrigatória a 1 de janeiro.

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Banco de Fomento espera lançar linha de 3,5 mil milhões para exportadores este mês

Gonçalo Regalado anunciou ainda que vai trabalhar para a criação de um fundo soberano de capital até ao final do seu mandato.

O Banco Português de Fomento (BPF) espera que a linha de 3,5 mil milhões de euros para ajudar as empresas exportadoras esteja ativa ainda durante este mês de maio, adiantou o CEO da instituição, Gonçalo Regalado, na conferência Banking on Change, organizada em Lisboa pelo ECO com a KPMG e a PLMJ.

“Estamos em negociações com Comissão Europeia para ter uma linha para os exportadores. São 3,5 mil milhões de euros que vão permitir aos exportadores portugueses ter uma linha para investimento como fizemos na Covid, mas ainda mais competitiva em termos de pricing”, disse o gestor.

“Queremos que a linha esteja ativa durante o mês de maio para todos os empresários exportadores, não para os exportadores para os EUA, mas para os 71 mil exportadores para todo o mundo”, acrescentou.

Gonçalo Regalado revelou que irá partilhar o protocolo da linha com os bancos comerciais “entre final desta semana e inicio da próxima ”.

“Que não falte segurança e estabilidade no acesso ao financiamento”, destacou o líder do banco de fomento. “Esperamos que haja boa tendência para que empresas portuguesas encontrem novos mercados”, afiançou.

“Portugal deve ter um fundo soberano de capital”

No mesmo painel, Gonçalo Regalado considerou que Portugal devia ter “um fundo soberano de capital” e anunciou que vai trabalhar na construção desse fundo até final do seu mandato.

“A nossa ambição é até final deste mandato criar e construir um fundo soberano de capital. O país deve ter isso. Os países desenvolvidos têm ou fundos soberanos ou bancos soberanos. É bom que Portugal tenha essa dimensão”, referiu o gestor.

Mas como irá ser financiado? “Nós temos uma proposta concreta no próprio banco, que está a ser trabalhada, estruturada e organizada para que possamos apresentar ao nosso acionista, que são os portugueses e o Estado”, explicou.

“O país deve ter instrumentos de capital. O capital é importante para as empresas”, disse Regalado.

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