Venda dos fundos ECS fortalece banca, mas não chega para melhorar ratings, diz Fitch

Novobanco e BCP são os mais beneficiados com alienação dos fundos de reestruturação ECS . Fitch sinaliza que reforça rácios de capital dos bancos, mas não o suficiente para afetar os ratings.

A venda dos fundos de reestruturação ECS “fortalece os rácios de capital dos bancos portugueses, embora não o suficiente para afetar os ratings”, considera a agência de notação de risco Fitch.

Segundo a agência, os perfis creditícios do Novobanco e do BCP BCP 0,26% serão os mais beneficiados com o negócio, pois os respetivos rácios de capital comum Tier 1 (CET1) vão aumentar 25 pontos base e 15 pontos base. O impacto da transação no Santander Totta e a Caixa Geral de Depósitos (CGD) será menor “devido aos seus balanços já mais limpos e rácios de capital inicial mais fortes”, nota a Fitch.

Os bancos fecharam a venda dos fundos ECS ao fundo americano Davidson Kempner no final do ano passado por um valor a rondar os 850 milhões de euros. Caixa, BCP e Novobanco anunciaram que vão receber 644 milhões pelo negócio, com um pequeno impacto no lucro líquido.

A Fitch considera que a transação “dá continuidade ao progresso significativo do setor na eliminação de riscos de balanço desde 2016”. Por outro lado, reduz as necessidades de capital dos bancos para ativos problemáticos para níveis mais próximos dos bancos italianos e espanhóis com melhores notações de risco, observa.

“Estimamos que o rácio de ativos problemáticos não reservados do BCP para o capital CET1 tenha diminuído 5 pontos percentuais (pp) para ligeiramente acima dos 35%, o do Novobanco entre oito e dez pontos percentuais para cerca de 50%, e o da CGD entre dois e três pontos percentuais para cerca de 5%, o que é baixo para os padrões internacionais”, acrescenta.

Enquanto procuram vender o fundo Discovery, gerido pela Explorer e que se encontra avaliado em cerca de 400 milhões de euros, como revelou o ECO, os bancos ainda detêm no seu balanço outros 800 milhões em fundos de reestruturação, incluindo os fundos Aquarius, Vega e Fundo de Reestruturação Empresarial, como contabilizou o ECO em agosto.

A Fitch anunciou recentemente um “outlook neutro” para o setor bancário em 2023, tendo em conta os balanços mais fortes e o impacto positivo de taxas de juro mais elevadas na rentabilidade e também o impacto negativo de imparidades de crédito mais elevadas.

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BCP avança para a execução de sociedades de Berardo

Banco avança para a penhora de bens da Metalgest e Associação de Coleções, ambas ligadas ao empresário madeirense, após colocar ação de execução no valor de quase 2 milhões de euros.

O BCP avançou para a penhora de bens de duas sociedades do universo de Joe Berardo. O banco acabou de colocar uma ação de execução no valor de quase 2 milhões de euros contra a Metalgest e a Associação de Coleções, ambas ligadas ao empresário madeirense, que permite à instituição liderada por Miguel Maya proceder de imediato à penhora de bens de ambas as sociedades sem precisar da autorização do juiz do processo.

Esta ação de execução de sentença foi movida na quinta-feira passada junto do Tribunal da Comarca da Madeira, no Funchal, de acordo com o portal Citius. Neste tipo de ações, o que sucede é que, havendo já uma sentença do tribunal, o agente de execução (neste caso João Correia) pode avançar logo para a penhora dos executados (a Metalgest e a Associação de Coleções) a partir do momento em que recebe a ordem – começando geralmente por executar as contas bancárias e imóveis. Só depois da penhora os executados são citados para se oporem, se quiserem.

“Não vamos comentar”, adiantou fonte oficial do BCP ao ECO. Sempre que é confrontado com o tema “Joe Berardo”, o CEO do BCP, Miguel Maya, apenas diz que o banco defenderá os seus interesses e atuará no sentido de “recuperar o máximo” dos créditos em incumprimento.

O ECO também questionou Joe Berardo através da assessoria de imprensa sobre se as suas empresas tinham sido notificadas e os bens penhorados, mas não obteve uma resposta até à publicação do artigo.

Relações pouco amistosas entre Berardo e a banca

Nos últimos anos, o BCP tem avançado com várias ações contra empresas ligadas ao comendador por dívidas passadas, incluindo as duas sociedades que são agora alvo nesta ação execução.

A Metalgest, uma holding que Berardo utilizou para se financiar junto da banca para comprar ações do BCP na década de 2000, foi visada pelo banco em julho de 2021 numa ação judicial no valor de 2,17 milhões de euros, conforme noticiou o ECO na altura.

Meses mais tarde, em fevereiro do ano passado, a Associação de Coleções – outra associação de Berardo, além da Associação Coleção Berardo que detém a coleção principal – foi uma das três empresas visadas (juntamente com a Bacalhôa e a Statuschange) numa outra ação no valor de 8,2 milhões de euros. Ambas as ações foram colocadas no Tribunal da Comarca da Madeira.

Banca e Berardo têm estado numa intensa disputa nos tribunais nos últimos anos por conta de dívidas em incumprimento que ascendem a quase mil milhões de euros. Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP e Novobanco tentam executar a principal coleção de Joe Berardo que, segundo a última avaliação pedida pelo comendador, se encontra avaliada 1,8 mil milhões de euros.

Em maio do ano passado, Joe Berardo contra-atacou os bancos, reclamando em tribunal 900 milhões de euros, dos quais 800 milhões se destinam a compensar a fundação por se ter visto “despojada” do seu património para cobrir as dívidas contraídas junto dos bancos, enquanto outros 100 milhões visam para ressarcir o comendador por danos morais.

Entretanto, o comendador envolveu-se numa nova batalha judicial, desta vez contra o Estado, no sentido de evitar a extinção da Fundação Coleção Berardo. A defesa de Berardo apresentou uma providência cautelar no início deste ano – que foi aceite no Supremo Tribunal Administrativo – para travar o processo de extinção da fundação, considerando que “não é lícito o Estado roubar uma coleção de arte”.

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Sonangol admite fusão do BCP se aumentar valor do banco

  • ECO
  • 4 Janeiro 2023

CEO da petrolífera angolana considera que participação no BCP é estratégica e para manter. Ainda assim, admite fusão do banco com outra instituição se aumentar o valor em bolsa.

Apesar de considerar o investimento “estratégico”, a Sonangol admite o cenário de uma fusão do BCP BCP 0,26% com outra instituição desde que “promova o aumento do valor do banco e melhore as suas cotações na bolsa”, segundo adiantou o CEO da petrolífera angolana, Sebastião Gaspar Martins, em entrevista à agência Reuters.

“Acreditamos que, na medida em que qualquer movimento de fusão reforce a nossa posição, no que diz respeito ao aumento de vantagens competitivas e diversificação do risco, vamos continuar a prestar atenção ao comportamento dos mercados e as nossas decisões serão baseadas em avaliações a serem feitas antes de qualquer movimento”, adiantou o responsável.

A Sonangol detém uma participação de 19,49% no banco português, sendo o segundo maior acionista, atrás dos chineses da Fosun, com 29,95% do capital.

Os últimos meses têm sido marcados por declarações do governador do Banco de Portugal sobre movimentos de fusões e aquisições na banca portuguesa. Mário Centeno disse à Reuters em novembro que uma maior consolidação do setor é “inevitável”. Em dezembro, questionado pelo Jornal de Negócios (acesso pago) sobre uma eventual fusão entre o BCP e o Novobanco, o governador considerou que “sinergias desse emparelhamento seriam benéficas”.

Além do BCP, a Sonangol também está presente na estrutura acionista da Galp, com uma participação indireta por via da holding Amorim Energia, que controla 33% da petrolífera portuguesa.

Sebastião Gaspar Martins sublinhou que os dois investimentos representam interesses estratégicos e financeiros para a Sonangol, “e por esta razão mantém a sua participação nas duas empresas, continuando a acompanhar o seu desempenho, no sentido de assegurar a sua valorização e ganhos com dividendos”.

Disse ainda que “a Sonangol vai manter os seus investimentos nas duas empresas, enquanto se mostrar estratégica e financeiramente viável”.

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Moody’s: Novas medidas do crédito da casa “negativas” para a banca, mas “impacto será limitado”

Embora considere as medidas de proteção das famílias face à subida dos juros da casa negativas para os bancos, o impacto "será limitado", pois poucos clientes vão renegociar contratos, diz Moody's.

As novas medidas do Governo para proteger as famílias da subida dos juros do empréstimo da casa são “negativas para os bancos”, pois vai “afetar a rentabilidade do setor”, considera a Moody’s. Porém, o “impacto será limitado”, pois poucos clientes recorrerão a este mecanismo, segundo da agência de rating.

De acordo com a medida que entrou em vigor no mês passado, a revisão dos contratos só acontece com créditos até 300 mil euros e quando os clientes cumpram uma de três situações: quando a taxa de esforço é igual ou superior a 50%; quando a taxa de esforço é igual ou superior a 36% e tenha agravado mais de cinco pontos percentuais face ao ano anterior; quando a taxa de esforço é igual ou superior a 36% e a taxa de juro tenha aumentado mais de três pontos percentuais.

Os bancos terão 45 dias para identificar os clientes em situação de maior vulnerabilidade e propor soluções para reduzir as prestações mensais, as quais deverão passar por uma extensão dos prazos do contrato, uma redução do spread, entre outras flexibilidades.

“A lei é negativa para os bancos, pois vai prolongar condições do empréstimo mais fáceis para alguns clientes, prejudicando a rentabilidade do setor”, consideram as analistas Maria Vinuela e Maria Cabanyes, numa nota desta terça-feira a que o ECO teve acesso. Ainda assim, “o impacto das novas medidas deverá provavelmente ser limitado por duas razões”, acrescentam.

Por um lado, “apenas uma pequena parcela do total de clientes com crédito da casa se qualificará para o alívio”, explica a agência de rating, citando dados do Banco de Portugal.

A taxa de esforço ultrapassa os 50% apenas em 4% dos clientes, percentagem que deverá subir para 9% até ao final de 2023. A taxa de esforço média situa-se nos 17% e deverá agravar-se para 22% no próximo ano. Além disso, “o limite de 300 mil euros também desqualificará uma elevada proporção de clientes”, nota a Moody’s.

"A lei é negativa para os bancos, pois vai prolongar condições do empréstimo mais fáceis para alguns clientes, prejudicando a rentabilidade do setor. “Embora consideremos as medidas negativas para os bancos, seu impacto provavelmente será limitado.”

Moody's

Por outro lado, é expectável que “um número limitado de clientes faça uso do programa”, prosseguem as duas analistas. Isso acontecerá porque a família que renegociar o contrato com o banco ficará marcada como “cliente em risco”, afetando negativamente a sua reputação no mercado em futuros pedidos de crédito.

Além desse estigma, a renegociação com o banco poderá aumentar a carga total da dívida para as famílias, mesmo que ajude a aliviar a mensalidade no curto prazo. “Essas considerações provavelmente impedirão alguns clientes bancários de aceitar a oferta de alívio no crédito”, conclui a Moody’s.

Desde o início do ano que as taxas Euribor estão a subir de forma expressiva, perante o aperto do Banco Central Europeu (BCE) para controlar a inflação. Isto tem implicado um maior esforço financeiro das famílias com crédito da casa. O Banco de Portugal vê a prestação média da casa subir mais de 90 euros no próximo ano. Os bancos disseram-se preparados para implementar as novas regras para ajudar as famílias. Na Caixa, o banco público disse estar em renegociações com 500 famílias.

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Mais de um terço da Bolsa nacional está nas mãos de apenas sete investidores

Xi Jinping, presidente da China, é o maior investidor da Euronext Lisboa, contando com participações diretas e indiretas em oito empresas cotadas.

Os maiores investidores da Euronext Lisboa, da esquerda para a direita: John Graham (Canada Pension Plan Investment), Lua Queiroz Pereira (Sodim), Fernando Masaveu Herrero (Oppidum Capital), Xi Jinping (China), Pedro Soares dos Santos (Sociedade Francisco Manuel dos Santos), Paula Amorim (Grupo Américo Amorim) e João Lourenço (Angola).

O mercado de ações da Euronext Lisboa conta atualmente com 37 empresas cotadas que agregam uma capitalização bolsista de 78 mil milhões de euros. A sua estrutura acionista é constituída por milhares de investidores, de onde sobressaem os fundos de investimento e os pequenos investidores nacionais, que compram e vendem vários lotes de ações diariamente.

No entanto, quase metade das cotadas (17) apresenta uma estrutura acionista totalmente blindada pelo controlo da maioria do capital por muito poucos acionistas. É disso o exemplo a EDP Renováveis EDPR 2,67% , a maior empresa da praça portuguesa com uma capitalização bolsista de 21 mil milhões de euros, que é detida em 75% pela EDP EDP 0,37% .

O mesmo sucede com a Jerónimo Martins JMT 1,77% , que tem 56% do seu capital nas mãos da família Soares dos Santos ou a Corticeira Amorim COR 0,77% , que é controlada pela família Amorim através de três holdings familiares.

Xi Jinping é de longe o maior investidor da praça financeira portuguesa. E não é de agora. O poder do Império do Meio tem sido construído ao longo da última década.

A forte concentração do capital entre as cotadas é espelhada no domínio da Bolsa nacional por um grupo muito restritivo de apenas sete investidores, que através dos seus investimentos controlam 35% do capital da Euronext Lisboa.

Grande parte deste grupo é dominado por famílias bem conhecidas: a Soares dos Santos, que detém a maioria do capital da Jerónimo Martins, a família Amorim, que é dona de uma carteira avaliada em 2,5 mil milhões de euros como resultado de investimentos realizados na Galp Energia GALP 0,68% , na Corticeira Amorim e no Estoril-Sol ; e a família Queiroz Pereira, hoje representada pelas três filhas do empresário Pedro Queiroz Pereira que, através da holding familiar (Sodim), controlam um império de 2,4 mil milhões de euros de participações maioritárias na Semapa SEM 0,23% e na Navigator NVG 0,29% .

Apesar de o capital nacional ser ainda a estrela maior na Bolsa lusitana, as 38 cotadas têm nas suas estruturas acionistas investidores qualificados (detentores de participações acima dos 2%) de mais 15 nacionalidades. Entre os países com maior peso na Euronext Lisboa está Espanha e Angola.

Destaque para o fundo Oppidum Capital, do grupo Masaveu do empresário espanhol Fernando Masaveu Herrero, que detém uma participação de 7,2% na EDP (em 2013 chegou a comprar a participação de 1% que o BES detinha na elétrica por 37 milhões de euros), e para o próprio Estado angolano, que através de posições no capital da Galp, NOS NOS 0,00% e BCP BCP 0,26% acumula atualmente investimentos de 2,3 mil milhões de euros.

A completar o leque dos sete maiores investidores da praça portuguesa está John Graham, presidente e CEO da Canada Pension Plan Investment, a entidade que gere o fundo de pensões do Canadá que acumula mais de 350 mil milhões de euros sob gestão. Atualmente, os canadianos deteem uma posição de 7% na EDP e, por arrasto, uma participação indireta da EDP Renováveis e no BCP.

Os mais poderosos da Euronext Lisboa

Fonte: Empresas, Euronext e Refinitiv. 11 de dezembro de 2022.

Pequim tem ganho poder na Bolsa desde os anos da Troika

No topo dos maiores investidores da Euronext Lisboa está Xi Jinping e o capital chinês privado, que por via de três empresas estatais (China Three Gorges, State Grid of China e China Communications Construction Company) e da empresa privada Fosun agrega um portefólio de mais de 8,5 mil milhões de euros de participações diretas e indiretas em oito empresas cotadas: EDP, EDP Renováveis, BCP, REN RENE 0,86% , Mota-Engil EGL 1,97% , Martifer , Inapa e Reditus.

Xi Jinping é de longe o maior investidor da Bolsa nacional. E não é de agora. O poder do Império do Meio tem sido construído ao longo da última década com o arranque, em 2011, do Programa de Assistência Económica e Financeira da Troika, que incluía uma forte política de privatizações, que abriu as portas ao capital chinês nas maiores empresas nacionais.

O primeiro teste do capital chinês na Bolsa portuguesa foi dado pela empresa pública China Three Gorges (CTG) em dezembro de 2011. Na altura, a CTG pagou 2,7 mil milhões de euros ao Estado português por 21,35% do capital da EDP, então liderada por António Mexia. Desde então, Pequim já aforrou mais de 2 mil milhões de euros só em dividendos com o investimento na EDP e alargou o seu raio de ação até à EDP Renováveis e ao BCP, através da participação de 21,08% que a CTG detém hoje no capital da elétrica nacional.

Seguiram-se investimentos na Redes Energéticas Nacionais (REN), através de uma participação de 25% da State Grid of China e de 3,9% da Fosun (hoje essa participação é de 5,3% e está associada à Fidelidade, empresa detida em cresceu 85% pela Fosun) no decorrer de processos de privatização da empresa e, mais tarde, em 2016, ocorre a entrada da Fosun no BCP com um investimento de 175 milhões de euros.

A carteira de Pequim na praça nacional fica completa com a participação de 32,4% da construtora China Communications Construction Company (CCCC) no capital da Mota-Engil e com o controlo de 57,8% da Estoril-Sol pela Finansol, uma sociedade detida pelo empresário chinês Stanley Ho.

(Notícia atualizada a 14 de dezembro com a clarificação de que a Fosun é uma empresa privada).

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Consolidação inevitável? Banca portuguesa foi a segunda que mais concentrou na Europa em duas décadas

Cinco principais bancos detêm quase 75% do mercado, acima da média europeia. Portugal foi o segundo país que mais consolidou nas últimas duas décadas. Mário Centeno vê consolidação como inevitável.

Mário Centeno voltou a colocar na agenda dos bancos portugueses o velho tema da consolidação. “É absolutamente crucial e é inevitável”, afirmou o governador do Banco de Portugal em entrevista à agência Reuters. Os banqueiros contrariam a tese, consideram que o mercado já está muito concentrado e apostam no status quo. O que dizem os números? Os cinco principais bancos detêm quase 75% do mercado, acima da média europeia. Mais: Portugal foi mesmo o segundo país onde aumentou mais a concentração nas últimas duas décadas.

O que disse Centeno?

Em entrevista à Reuters, publicada na semana passada, Centeno elogiou os progressos recentes que os bancos fizeram nos últimos anos em termos de reforço de capitais e de redução do risco, nomeadamente ao baixarem o nível de crédito malparado de 17% para menos de 5%.

“Depois deste reforço, a consolidação do sistema bancário [em Portugal] e o fortalecimento das suas instituições é absolutamente crucial e é inevitável que o sistema, o mercado, tenha consciência disso”, acrescentou o governador.

O ex-ministro das Finanças disse que estava “satisfeito com a evolução” dos bancos, mas também sublinhou que “não há espaço para descansar” e que todos devem “desafiar-se a si próprios”. Centeno enquadrou a sua visão para o setor nos desafios que vai enfrentar: “É importante que este amadurecimento aconteça em paralelo a um reforço contínuo das instituições na sua dimensão, na sua capitalização, e sobretudo na sua capacidade de responder aos desafios da digitalização, ação climática, porque vai tudo ter impacto nos balanços dos bancos”, referiu, trazendo para a agenda nacional um tema que o Banco Central Europeu (BCE) tem procurado incentivar.

O que dizem os números?

Os banqueiros têm apontado o elevado grau de concentração mercado português para afastar o fantasma da consolidação. Ainda recentemente Mark Bourke, presidente do Novobanco, o mais badalado quando se fala em M&A (fusões e aquisições) na banca portuguesa, esgrimiu este argumento. “Somos cinco grandes players no mercado. É um mercado saudavelmente competitivo. Todos focam-se no serviço ao cliente e têm tamanho suficiente para os servir, para competir e aguentarem no mercado”, disse o responsável irlandês numa conferência que juntou os cinco maiores bancos nacionais.

O nosso plano é baseado no status quo, que é ser o Novobanco a funcionar e a competir no mercado. Vamos competir com os outros aqui. Não penso que existirão alterações na estrutura de mercado”, acrescentou Bourke, que trabalha (já não é segredo) para levar o Novobanco para a bolsa – fora desta lógica de consolidação que Centeno antecipa.

O Novobanco era visto como o principal candidato a mexer no mercado, mas será então carta fora do baralho. O Banco Montepio está a fazer o seu percurso de recuperação e a dona Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) também não tem interesse em vender – tendo em conta imparidades de mil milhões no seu ativo. Neste momento, os principais movimentos de consolidação envolvem os bancos pequenos – com o EuroBic, devido à saída de Isabel dos Santos, a liderar o processo, estando já praticamente fechada a sua venda aos galegos do Abanca. Mas daqui não advirá grandes mudanças estruturais.

Os números tendem a dar razão aos banqueiros, mas a realidade é mais complexa e é importante perceber que o mercado deixou de ter fronteiras e a concorrência fala estrangeiro.

Vamos aos números. Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP, Santander Totta, BPI e Novobanco concentram entre si quase 74% do mercado em termos de ativos totais (que inclui depósitos, empréstimos e capital próprio), de acordo com as estatísticas recolhidas pelo BCE referentes ao final do ano passado. A média na União Europeia (UE) é 67,7%.

Concentração de ativos nos cinco principais bancos

Fonte: BCE

Em termos históricos, Portugal foi o segundo país da União Europeia onde o grau de concentração mais aumentou desde 1999, ano em que os big 5 controlavam menos de metade do mercado – apenas a Grécia registou um maior movimento de concentração que Portugal neste período, atingindo atualmente um nível de quase 100%. Também houve quem tivesse feito o caminho contrário: Malta e Finlândia foram os mercados onde mais se “desconsolidou” neste período.

O processo de concentração no mercado português deu-se praticamente na primeira década do milénio, através de um processo de várias fusões e aquisições que tiveram lugar naquele período. Esta dinâmica abrandou após a crise de 2008 e ganhou nova expressão em 2015, ano da queda do Banif, absorvido pelo Santander. Nos últimos sete anos o mercado estabilizou.

Banca portuguesa nunca esteve tão concentrada

Fonte: BCE

Os dados situam Portugal no meio da tabela europeia, em que Grécia (98%) e Luxemburgo (29,7%) destoam claramente. Uma leitura simples das estatísticas: se Frankfurt deseja consolidação na Europa, talvez seja melhor começar a olhar para outros países como Luxemburgo (29,7%), Alemanha (31,8%), Áustria (38,7%), França (49,3%) ou Itália (51,6%), onde a margem para consolidar é bem maior. Só que o BCE está a olhar para outro tipo de consolidação: transfronteiriça, processo que consiste na aquisição de um banco por um banco estrangeiro.

O BCE lançou um guia sobre o tema em 2020, onde diz que os movimentos de consolidação “podem ser um meio de resolver os problemas de longa data no setor bancário europeu, como a baixa rentabilidade e o excesso de capacidade”. Com a subida dos juros do banco central, os bancos estão aos poucos a recuperar os níveis de rentabilidade, mas nem todos estão no mesmo patamar em função dos diferentes desafios que enfrentam, como deu conta o ECO.

Por sua vez, o braço de supervisão do BCE considera que “a consolidação transfronteiriça também pode apoiar uma maior diversificação do risco e contribuir para a integração do mercado financeiro, um importante objetivo da união bancária”. Ressalva, porém, que não é papel do BCE promover ativamente (ou evitar) qualquer forma de consolidação bancária e que a sua postura deve ser neutra.

Evolução da concentração entre 1999-2021

Fonte: BCE

O que dizem os banqueiros?

O tema da consolidação é tão antigo como sensível. Uma consolidação tem impacto na vida das pessoas e das empresas. Quando o Santander Totta ficou com o Banif (2015) e Popular (2017), nos anos seguintes despediu mais do que os quadros que passou a ter com aqueles dois bancos problemáticos. Ou seja, estas operações têm impactos sociais relevantes que implicam não só a perda de empregos (num setor que perdeu quase 17 mil empregos este milénio) como acelera o fecho de agências (cuja força motriz tem sido a digitalização da banca).

Em relação às operações transfronteiriças levantam o fantasma da transferência do poder de decisão para mãos estrangeiras. Este é sobretudo um receio do Governo em relação a um setor que é crucial nos momentos de crise e quando é preciso manter o fluxo de financiamento às famílias e empresas para não agravar ainda mais a economia.

Isto ajuda a perceber um pouco o que é o entendimento de Paulo Macedo, líder da Caixa Geral de Depósitos (CGD), sobre qual a importância de mantê-la na esfera pública e com impacto no mercado. “Não se justifica um banco público sem poder de ação no mercado. Um banco público justifica-se ter porque pode ser um player no mercado e um interveniente no mercado. Nesse sentido, a Caixa não é indiferente à consolidação”, dizia Macedo no final de 2020.

Um dos medos é a “espanholização” da banca. Do outro lado da fronteira, já não se olha para os mercados espanhol e português em separado, mas antes um mercado ibérico. Que o digam o CaixaBank (dono do BPI) e o Santander, que integram o top-5 das maiores instituições por cá. Mas os responsáveis dos dois bancos em Portugal afastam esses receios.

Não se justifica um banco público sem poder de ação no mercado. Um banco público justifica-se ter porque pode ser um player no mercado e um interveniente no mercado. Nesse sentido, a Caixa não é indiferente à consolidação.

Paulo Macedo

CEO da Caixa Geral de Depósitos

No Santander, a maior parte dos acionistas já são internacionais”, lembrou Pedro Castro e Almeida recentemente. “Vejo Portugal e a Europa como se eu estivesse em Faro e há um banco em Lisboa ou Bragança que quer ter presença em Faro”, acrescentou o CEO do Totta, desvalorizando a origem geográfica dos bancos.

Castro e Almeida “estaria muito mais interessado em comprar se houvesse um banco que tivesse muito talento, com pessoas que percebessem de tecnologia e uma preocupação em relação ao serviço aos clientes de forma diferente do que propriamente comprar um banco de tijolos”.

Garantindo que a administração é independente e autónoma de Madrid, João Pedro Oliveira e Costa já sublinhou que a prioridade do BPI é crescer por via da captação de mais clientes e negócios, afastando interesse na compra de outros bancos (depois do CaixaBank ter acabado de absorver o Bankia).

No BCP, cuja indefinição acionista e os problemas com o banco na Polónia deixam-no no radar do mercado, Miguel Maya deixa o tema da concentração para segundo plano. O CEO está mais preocupado em capacitar o banco para atrair clientes, talento e “em ter condições para remunerar aqueles que investem no BCP”. São as palavras de quem vê concorrência além-fronteiras: “Não são só os que estão aqui. É qualquer operador que esteja na união bancária”, lembrou o responsável.

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BCP rejeita reembolso antecipado de dívida por causa das “incomuns condições de mercado”

Banco não quis proceder ao reembolso antecipado de uma emissão de dívida justificando a decisão com as "atuais e incomuns condições de mercado". Avança com operação de troca de títulos.

O BCP BCP 0,26% decidiu não proceder ao reembolso antecipado de uma emissão de dívida no valor de 300 milhões de euros, “após ponderar vários fatores, incluindo as atuais e incomuns condições de mercado”, segundo adianta em comunicado enviado esta terça-feira ao mercado.

O banco poderia exercer a opção de reembolso antecipado a 7 de dezembro, mas revelou agora que não vai acionar essa possibilidade. Os títulos vencerão assim em dezembro de 2027, não existindo mais nenhuma janela temporal para o BCP recomprar os títulos antes de atingirem a maturidade.

A decisão de não reembolsar antecipadamente as notes foi tomada após a ponderação de vários fatores, incluindo as atuais e incomuns condições de mercado, bem como o reconhecimento da emissão para Tier 2 capital e MREL”, justificou a instituição, acrescentando que “avaliará e decidirá se exerce ou não opções de reembolso antecipado futuras de outros instrumentos caso a caso”.

Com isto, o cupão dos títulos — emitidos em 2017 — vai ser atualizado com base na taxa mid-swap do euro que se registar a 5 de dezembro acima da margem inicial de 4,267% ao ano.

O BCP adianta ainda que, em face a esta decisão, vai avançar com uma oferta de troca, dando aos atuais titulares destes títulos a “opção e oportunidade” de os trocar por novos títulos que contam igualmente para capital Tier 2.

O BCP chegou a 30 de setembro com rácios CET1 e Capital Total (consolidados e fully loaded) de 11,4% e 15,1%, respetivamente.

Nos últimos meses, os bancos têm assistido a um aumento do custo das suas emissões de dívida para cumprirem os requisitos de MREL (requisito mínimo de fundos próprios e créditos elegíveis), que obriga os bancos europeus com importância sistémica a constituir uma almofada financeira adicional para fazer face às dificuldades.

No caso do BCP, a última emissão de 350 milhões teve um juro associado de 8,5%, com um spread acima de 5,5% — o que ajuda a explicar a decisão do banco de manter os títulos emitidos há cinco anos até ao final da maturidade.

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BCP reduz capital social para reforçar fundos elegíveis para dividendos

  • ECO
  • 14 Novembro 2022

Banco vai reduzir o capital social em 1,7 mil milhões de euros com vista ao "reforço dos fundos suscetíveis de qualificação regulatória como distribuíveis".

O BCP anunciou a realização de uma assembleia geral de acionistas no próximo mês para reduzir o capital social em 1,7 mil milhões de euros, com vista a reforçar os fundos que possam ser canalizados para dividendos.

No próximo dia 20 de dezembro, os acionistas vão votar “a reformulação das rubricas de capital próprio, compreendendo o reforço dos fundos suscetíveis de qualificação regulatória como distribuíveis, mediante a redução do capital social em 1.725 milhões euros”, segundo comunicou o banco ao mercado. A instituição adianta que a redução do capital não vai alterar nem o número de ações nem a situação líquida do banco.

O BCP registou lucros de 97 milhões de euros até setembro, uma subida de 63% em relação ao mesmo período do ano passado. O resultado, apesar de positivo, foi afetado negativamente pelos problemas com o banco polaco Bank Millennium.

Este ano, o banco liderado por Miguel Maya pagou um dividendo de 13,6 milhões de euros aos acionistas, correspondendo a 0,09 cêntimos por ação, por conta dos lucros do ano passado.

O BCP encontra-se num quadro de incerteza entre os seus acionistas, nomeadamente com a Fosun, que detém quase 30% e está a vender ativos para fazer face à sua dívida, embora o grupo chinês tenha garantido que vai continuar no banco. Também a Sonangol está numa fase de desinvestimentos.

Além do tema da redução do capital social, a assembleia geral do BCP tem mais dois pontos na ordem de trabalhos: deliberar sobre a ratificação da cooptação pelo conselho de administração dos administradores Altina Gonzalez e Pedro Ferreira Malaquias para o mandato de 2022-2025 e ainda deliberar sobre a eleição de vogal suplente da comissão de auditoria para o mesmo período.

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Lucros dos bancos privados duplicam mas nem todos são ainda rentáveis

Caixa anuncia esta quinta o melhor resultado em 15 anos. Não é preciso esperar pelo banco público para perceber que o setor regista ano como há muito não via. Rentabilidade ainda não chegou a todos.

Não será preciso esperar pelos resultados da Caixa, que deverá anunciar esta tarde o melhor resultado em 15 anos (a avaliar pelo desempenho semestral), para se perceber que os bancos estão a ter um ano como há muito não viam. Os lucros nos primeiros nove meses do ano quase duplicaram no setor privado. Porém, nem todos estão no mesmo comprimento de onda em termos de rentabilidade.

Que o diga o BCP. A Polónia continua a ser um fardo para o banco liderado por Miguel Maya que, apesar de ter visto o lucro subir 63,4% para 97,2 milhões de euros até setembro, apresenta uma rentabilidade dos capitais próprios (ROE) de 2,5%– a mais baixa entre os grandes bancos e muito longe da fasquia dos 10% considerada referência para o setor.

Para o BCP, a baixa rentabilidade surge num contexto de alguma indefinição na estrutura acionista, perante os problemas da Fosun – que detém quase 30% – com a sua gigante dívida. O grupo chinês tem vindo a desfazer-se de ativos, mas já garantiu que vai continuar no banco.

Porque é que o ROE é um indicador relevante? Porque nos diz se é atrativo ou não para investir no banco. Um ROE baixo levanta dois problemas à primeira vista: não cobre o custo do capital e leva um investidor a procurar alternativas mais atrativas para os seus investimentos. E, num setor a precisar de capital para responder aos desafios tecnológicos e à concorrência, o BCP tem um longo caminho a percorrer para melhorar a sua atratividade no mercado e não ficar para trás, como reconheceu Miguel Maya.

Novobanco passou de prejuízos para ser o mais rentável

Fonte: Bancos; ROTE para BPI Portugal e Novobanco

Do outro lado, o banco com a rentabilidade dos capitais próprios mais elevado é o Novobanco: registou um ROTE (return on tangible equity) de 12,4% em função do lucro de 428,3 milhões de euros entre janeiro e setembro, uma subida de 177,9% em relação a 2021. Depois da longa caminhada no deserto e 3,4 mil milhões pedidos ao Fundo de Resolução, que é financiado pela banca, o Novobanco parece ter encontrado o caminho da sustentabilidade e Mark Bourke, enquanto admite rever em alta os objetivos, já pensa no futuro com um IPO.

Estes resultados não deixam de trazer alguma ironia: Miguel Maya, que tem sido um dos banqueiros mais críticos do regime de injeções no Novobanco, vê agora o banco rival a bater toda a concorrência quando o seu BCP se defronta com vários problemas para ser rentável. O polaco Millennium Bank tem sido um fardo que o grupo tem sido capaz de aguentar, muito compensado pelo negócio em Portugal – que atingiu um lucro de 295,7 milhões.

Banca lucra 4,4 milhões por dia

Em termos agregados, os quatro maiores bancos privados em Portugal tiveram lucros de 1.196,6 milhões de euros até setembro, cerca de 4,4 milhões por dia. Em relação ao ano passado, temos uma subida homóloga de 90,6%. “Não temos visto lucros caídos do céu, mas penalizações vindas do inferno”, atirou o CEO do BCP na apresentação dos resultados, apontando aos vários encargos que os bancos têm de pagar, com contribuições para os fundos de resolução, imposto extraordinário e adicional de solidariedade.

Cada banco enfrenta a sua própria realidade e há fatores extraordinários que explicam as variações. No caso do Novobanco, contabiliza os ganhos com a venda da sede em Lisboa, por cerca de 100 milhões, o que deu um impulso aos resultados. Já o Santander, há um ano, contou com um encargo extraordinário de cerca de 100 milhões com o plano de saídas e agora, sem essa despesa, viu o lucro mais do que duplicar para 385 milhões, que dá um ROE de 11,1% – melhorou 6,2 pontos percentuais face a 2021.

Já o BPI chegou a setembro com um ROTE de 7,3% na atividade em Portugal, que teve um lucro de 159 milhões. Outros 100 milhões vieram do angolano BFA e mais 25 milhões do moçambicano BCI.

Lucro da banca duplica para 1.200 milhões

Fonte: Bancos

Margem e comissões disparam

À boleia da subida dos juros do Banco Central Europeu (BCE), já era expectável que a margem financeira dos bancos engordasse. Os números até setembro mostram que as receitas com juros dispararam mais de 15% para 2.873,6 milhões de euros. Com os bancos ainda a resistirem a subir a remuneração dos depósitos, estão a ganhar mais nos juros que recebem dos empréstimos às famílias e empresas, o que ajuda a explicar este desempenho.

No BCP, o novo ciclo da política monetária está a conduzir a um aumento significativo da margem: acelerou 32,7% para 1.545,8 milhões (metade do valor conseguido pelos 4 bancos privados) muito à boleia da atividade na Polónia, onde o banco central foi mais rápido a subir as taxas de juro. O banco liderado por João Pedro Oliveira e Costa também observa um aumento de 10% na margem, totalizando os 374 milhões.

Por seu turno, a margem no Novobanco caiu 5,6% para 405,9 milhões, com o banco a ser penalizado pelo custo das emissões de dívida sénior no final do ano passado e o registo conservador dos juros para as operações TLTRO (empréstimos baratos do BCE). Também o Santander, presidido por Pedro Castro e Almeida, ainda não está a tirar partido da alta dos juros, na medida em que também está a pagar mais no mercado interbancário: a margem caiu 2% para 547,9 milhões.

BCE engorda margem

Fonte: Bancos

Contudo, a perspetiva de o BCE continuar a agravar os juros para controlar a inflação promete reforçar os ganhos dos bancos naquela que é a sua atividade principal (empréstimos e depósitos), depois de anos pressionados pelos juros negativos.

Em relação às comissões, subiram 8,2% para 1.366,4 milhões de euros. Não se deveu a uma subida do preçário, mas antes ao aumento das transações com a reabertura completa da economia, após o impacto da pandemia. Todos os bancos registaram crescimentos nesta rubrica.

Depósitos sobem mais que crédito

Apesar de os depósitos pouco renderem, os portugueses continuam a confiar o seu dinheiro aos bancos: os recursos de clientes de balanço subiram quase 6% para 187,1 mil milhões de euros no final de setembro.

O crédito aos clientes também aumentou, mas a um ritmo inferior: a carteira subiu cerca de 2% para 156,8 mil milhões de euros. Tendo em conta o atual contexto de alta dos juros e da inflação, que ameaça atirar a economia para uma recessão, os bancos já admitiram que vão apertar os critérios de concessão de empréstimos a empresas e famílias.

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Fosun de saída? “Medo é uma cena que não assiste” ao BCP

Miguel Maya diz que banco mantém o apoio dos seus acionistas, incluindo a Fosun, que se prepara para alienar alguns investimentos na Europa para lidar com a dívida de 38 mil milhões.

“O medo é uma cena que não nos assiste”, respondeu o CEO do BCP, Miguel Maya, depois de questionado se receava que a Fosun venda a sua participação de quase 30% por conta das dificuldades financeiras que o grupo chinês atravessa.

O conglomerado da China está a preparar a venda de ativos face à pressão de uma dívida de 38 mil milhões de euros e os investimentos em Portugal estão a ser considerados, avançou a agência Bloomberg na semana passada.

“O que eu tenho sentido dos acionistas é um suporte ao banco ao longo de todo este processo”, prosseguiu Miguel Maya na apresentação dos resultados do BCP. “Já se falou várias vezes na Sonangol e depois ouvia sempre a Sonangol dizer o contrário do que aparecia escrito nos jornais. A Sonangol continua com uma posição no BCP. A Fosun reiterou o apoio e interesse no investimento do BCP”, rematou o gestor.

A Fosun já veio assegurar publicamente que não vai vender a sua posição no BCP. Também garantiu isso em privado, revelou Miguel Maya. “Para mim é suficiente. Não fiz mais nenhuma pergunta porque não careço de mais nenhuma resposta”, adiantou.

Mais do que a eventual incerteza na estrutura acionista, o líder do BCP disse estar concentrado em criar as condições para ter “um banco mais moderno, inovador, com capacidade de merecer a preferência dos clientes, com capacidade de remunerar melhor os trabalhadores e os acionistas”.

Já se falou várias vezes na Sonangol, e depois ouvia sempre a Sonangol dizer o contrário do que aparecia escrito nos jornais. A Sonangol continua com uma posição no BCP. A Fosun reiterou o apoio e interesse no investimento do BCP.

Miguel Maya

CEO do BCP

“O que temos de fazer é, através da geração orgânica de capital, conseguir criar condições para fazer crescer e valorizar o banco. Gostaríamos muito de contar – e temos a expectativa – de continuar a contar com os acionistas, como temos vindo a contar até ao dia de hoje”, afirmou.

O BCP registou lucros de 97 milhões de euros entre janeiro e setembro, o que representa uma subida de 63% em relação ao mesmo período do ano passado.

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Dificuldades em pagar empréstimo? Reestruture apenas “se for absolutamente imprescindível”, aconselha presidente do BCP

Subida das taxas de juro está a criar dificuldades às famílias no pagamento dos empréstimos. Precisa de reestruturar? “Só se for absolutamente imprescindível”, aconselha presidente do BCP.

A subida agressiva das taxas de juro está a colocar muitas famílias em dificuldades no pagamento dos empréstimos à banca. O Governo prepara medidas para aliviar esta pressão, ao agilizar os processos de renegociação dos créditos. Mas o presidente do BCP, Miguel Maya, tem um conselho: “Apenas solicite a reestruturação se for absolutamente imprescindível”.

O responsável adiantou que o banco estará disponível para apoiar os clientes em dificuldades com as “soluções mais adequadas” para assegurar que não entram em incumprimento.

Contudo, sinalizou de seguida, “é um risco elevado para os clientes pensarem que isto é for free [de graça], que não vai ter consequências” no futuro.

Em causa está o facto de o cliente cujo crédito for reestruturado passar a estar marcado no sistema. Quando quiser pedir dinheiro ao banco no futuro, esta reestruturação vai constar no seu histórico, o que poderá dificultar a obtenção de um novo financiamento.

Não é irrelevante para quem [do banco] aprecia esse pedido de crédito o facto de saber que, mesmo num contexto de taxa de juro que permanece baixo, tenha sido necessário fazer uma reestruturação”, explicou na conferência de apresentação dos resultados do BCP até setembro, que subiram 63% para 97 milhões. “Qualquer gestor rigoroso e diligente tem em conta o histórico do cliente”, sinalizou.

Miguel Maya adiantou que o banco já tem capacidade para apresentar soluções aos clientes em dificuldades através dos regimes existentes do PARI e PERSI – de prevenção do incumprimento e de regularização do incumprimento, respetivamente – e não precisa das medidas do Governo. Mas também não vê inconveniente que se crie “um quadro adicional”, embora manifeste preocupação que “possa criar os incentivos errados que levem a comportamentos errados”.

Se for para corrigir situações de clientes que se endividaram em crédito pessoal noutros bancos e, agora, o BCP, porque é onde tem o crédito à habitação, é que vai pagar porque a taxa de esforço subiu, isto não faz sentido nenhum. É absolutamente despropositado”, atirou.

“Como é que vamos tratar um cliente que tem uma taxa de esforço superior porque a taxa de juro subiu ou porque até tinha uma taxa fixa, mas, entretanto, contraiu mais dez créditos noutros bancos?”, questionou. Miguel Maya diz que quer conhecer o diploma, pois há muitos fatores a ter em consideração neste tema.

O gestor assegurou, ainda assim, que o BCP “estará à altura de encontrar uma solução” se as dificuldades “tiverem a ver com o endividamento que o cliente tem no banco e o crescimento da prestação está a comprometer a vida digna das pessoas”.

De acordo com as simulações do ECO, um empréstimo de 150 mil euros poderá ver a prestação agravada até 230 euros (subida de 50%) se o contrato for revisto no próximo mês.

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Lucro do BCP sobe 63% para 97 milhões até setembro apesar dos problemas na Polónia

BCP fechou os primeiros nove meses do ano com lucros de 97,2 milhões de euros, uma subida de 63% em relação ao mesmo período do ano passado. Problemas na Polónia continuam a pesar no resultado.

O BCP registou lucros de 97,2 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, o que representa uma subida de 63% em relação ao mesmo período do ano passado, apesar das dores de cabeça que o negócio na Polónia continua a dar.

Em Portugal, o banco liderado por Miguel Maya teve um lucro de 295,7 milhões de euros, mas o grupo continua a ser muito penalizado pelo polaco Bank Millennium, que enfrenta mais de 15 mil processos em tribunal por causa dos empréstimos concedidos em francos suíços na primeira década de 2000.

Em conferência de imprensa, o CEO explicou que o resultado positivo tem sobretudo a ver com a “subida dos proveitos core” em quase 25% e com “uma gestão rigorosa dos custos”. A grande fatura veio da Polónia:

  • encargos de 393,1 milhões de euros associados à carteira de créditos hipotecários em francos suíços;
  • provisões para moratórias de crédito de 304,6 milhões de euros;
  • contribuição de 59,1 milhões de euros para o Fundo de Proteção Institucional (IPS);
  • registo da imparidade do goodwill do Bank Millennium de 102,3 milhões de euros.

Sem o impacto do Bank Millennium, o grupo BCP teria um resultado de 536 milhões de euros, traduzindo um aumento de 125% face ao mesmo período de 2021. Miguel Maya disse que, apesar dos problemas, a venda do banco polaco “não é o caminho”, sobretudo numa altura de enorme incerteza e porque o mercado polaco é “muito interessante”. “Quem é que compra com esta incerteza? Não se consegue marcar um preço, quando não se consegue perceber o que está por trás”, afirmou.

O gestor frisou que o resultado ainda não satisfaz. O REO (rentabilidade do capital próprio) está nos 2,5%. “Continua muito abaixo do que pretendemos, abaixo do custo de capital. Não temos a rentabilidade necessária para o custo de capital do banco”, disse. 10% é o rácio de referência para o setor.

Margem dispara 32% à boleia da subida dos juros

Beneficiando da subida das taxas de juro do mercado, sobretudo na Polónia, o banco registou uma margem financeira de 1,54 mil milhões de euros, uma subida de 32,7%. As comissões avançaram 7,3% para 573,8 milhões, com o aumento da atividade económica (devido ao alívio das restrições da pandemia) a impulsionar as transações bancárias.

Tudo somado, os proveitos core ascenderam a 2,1 mil milhões entre janeiro e setembro, mais 24,7% comparado com os primeiros nove meses do ano passado.

Por seu turno, os custos operacionais subiram ligeiros 2,6% para 781 milhões, o que atira o resultado operacional para 1,3 mil milhões (subida de 42%). O rácio cost-to-income já está abaixo da meta de 40% prevista para a estratégia até 2024, atingindo os 38% em setembro.

Depósitos a prazo aumentam cinco mil milhões

Em termos de balanço, os recursos de clientes aumentaram 3,5% para 91,1 mil milhões de euros, destacando-se os depósitos à ordem de 48,1 mil milhões e os depósitos a prazo de 25,7 mil milhões (mais cinco mil milhões em relação a setembro de 2021). Miguel Maya ainda não abriu o jogo sobre quando é que o banco vai começar a subir os juros dos depósitos. “Não comentamos a nossa política comercial”, disse aos jornalistas, sublinhado que vai ter em conta a “leitura do mercado, a posição competitiva e necessidade de financiar os recursos do banco”.

Já o crédito cresceu a um ritmo inferior, apenas 1,1%, para 58,6 mil milhões de euros (mais 600 milhões). A carteira de crédito à habitação subiu 400 milhões para 27,9 milhões e das empresas aumentou 300 milhões para 24,8 mil milhões. Já o consumo caiu 100 milhões para 5,9 mil milhões.

Quanto aos rácios, apesar do impacto extraordinário da Polónia, o rácio total atingiu os 15,1% e o CET1 os 11,4%, acima das exigências regulamentares. “Continua-se a exigir ao BCP uma gestão rigorosa do capital e alocação rigorosa do capital no negócio”, sublinhou Miguel Maya.

(Notícia atualizada às 19h19)

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