Bancos portugueses pagam 5 vezes menos que os europeus nos depósitos

A taxa de juro dos depósitos dos bancos europeus é de 0,35%, enquanto os bancos portugueses pagam apenas 0,07%. É o maior diferencial de taxas desde 2012.

Desde junho de 2021 que os bancos europeus têm vindo a aumentar as taxas de juro dos depósitos, passando de uma remuneração de 0,14% para os atuais 0,35%. No caminho oposto têm estado os bancos portugueses, que não só continuam a revelar grande relutância em aumentar a remuneração dos depósitos, como em agosto chegaram inclusive a cortar novamente a taxa de juro.

De acordo com dados do Banco de Portugal, a taxa de juro média dos depósitos até um ano em Portugal é praticamente nula, cerca de 0,07%. Trata-se de um valor cinco vezes abaixo da taxa de juro média dos depósitos europeus. É o maior diferencial de taxas desde dezembro de 2012. Mas não só.

Segundo os últimos dados divulgados pelo Banco de Portugal, até há pouco tempo, a generalidade dos bancos portugueses continuou a cortar a taxa de remuneração dos depósitos até aos 0,04% (maio). E só a subiu por duas ocasiões (junho e julho) até aos 0,09%, valor registado em janeiro de 2020.

os bancos europeus, não só começaram a subir as taxas de juro dos depósitos em meados do ano passado como não deixaram de colocar o “pé no acelerador”. Particularmente desde junho, quando quase duplicaram a taxa de de juro no espaço de três meses, elevando a remuneração dos depósitos para o valor mais elevado desde junho de 2018.

Fonte: Banco de Portugal.

Taxas de juro a duas velocidades

Empresas, famílias e Estado têm enfrentado uma enorme pressão nos seus orçamentos por conta da subida das taxa de juro. No crédito à habitação, a taxa de juro de novas operações superou em agosto os 2%, o valor mais elevado desde 2016; e as empresas confrontam-se já com taxas de 2,75%, 75 pontos base acima da taxa média desde agosto de 2019.

Do lado do Estado, a pressão dos juros é constantemente sentida sempre que o Tesouro vai ao mercado da dívida buscar financiamento. Ainda esta quarta-feira, numa emissão de Bilhetes do Tesouro a 11 anos, Portugal pagou 2,1% quando em maio tinha obtido uma taxa de juro de -0,314% numa emissão semelhante. Nos últimos seis anos, a curva de rendimentos de Portugal registou um aumento médio de 159 pontos base em todas as maturidades.

Em contrapartida, os bancos continuam a mostrar-se bastante reticentes em atualizarem as taxas dos depósitos. Aliás, até há pouco tempo, a generalidade dos bancos continuou a reduzir a taxa de remuneração dos depósitos até aos 0,04% registados em maio, apesar das taxas Euribor terem começado a subir em meados de dezembro de 2021.

Fonte: Banco de Portugal e Reuters.

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BCP paga 8,5% por 350 milhões em dívida sénior

  • ECO
  • 18 Outubro 2022

Emissão de 350 milhões visa reforçar o rácio de proteção contra perdas. BCP salienta "elevada procura e diversificação dos investidores" num momento de volatilidade. Paga juro 8,5% .

O BCP BCP 0,70% prepara-se para obter 350 milhões de euros em obrigações de dívida sénior preferencial para reforçar os seus rácios de proteção contra perdas, com os títulos a custarem uma taxa de juro de 8,5% ao ano, segundo avançou a instituição em comunicado.

A emissão terá um prazo de três anos, com opção de reembolso antecipado pelo banco no final do segundo ano, um preço de emissão de 100% e uma taxa de juro fixa de 8,5%, ao ano, durante os primeiros dois anos (correspondente a um spread de 5,547% sobre a taxa mid-swaps de dois anos).

No terceiro ano, não havendo recompra antecipada, a taxa de juro resultará da soma da Euribor a 3 meses com um spread de 5,547%, explica o banco liderado por Miguel Maya no comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.

O BCP congratula-se com a “elevada procura verificada e o perfil diversificado dos investidores” que “atestam mais uma vez a capacidade do banco em aceder ao mercado de capitais, mesmo em contexto de elevada volatilidade e grande incerteza, como o que se tem verificado nos últimos meses”.

A emissão visa reforçar os passivos elegíveis para cumprimento do requisito de MREL (requisito mínimo de fundos próprios e créditos elegíveis), que obriga os bancos europeus com importância sistémica a constituir uma almofada financeira adicional para fazer face às dificuldades.

No caso de haver perdas, estes instrumentos são absorvidos para restaurar o respetivo capital do banco.

(Notícia atualizada às 19h14 com comunicado do BCP na CMVM)

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BES/Novobanco recebeu quase 40% do dinheiro injetado pelo Estado na banca desde 2008

BES/Novobanco foi a “instituição financeira que mais beneficiou dos apoios públicos” desde 2008, tendo já recebido 8,3 mil milhões de euros dos contribuintes, aponta o Tribunal de Contas.

O BES/Novobanco foi a “instituição financeira que mais beneficiou dos apoios públicos” desde 2008, tendo recebido do Estado cerca de 8,3 mil milhões de euros, quase 40% do total que os contribuintes gastaram com ajudas à banca nos últimos anos, de acordo com o Tribunal de Contas.

Na semana passada, o tribunal avisou que a fatura do Estado com o Novobanco não está fechada, tendo em conta a existência de um mecanismo de capital adicional (capital backstop) até 1.600 milhões de euros e os litígios entre o Fundo de Resolução e o banco no tribunal arbitral.

A seguir ao BES/Novobanco surge o BPN, nacionalizado em 2008, que recebeu 27,9% do total dos apoios públicos, num total de 6,15 mil milhões de euros, e a Caixa Geral de Depósitos (CGD), que já custou 5,5 mil milhões, cerca de 25% do total.

De 2008 a 2021, as despesas suportadas pelo Estado com a banca atingiram os 29,6 mil milhões de euros, enquanto as receitas ascenderam a 7,5 mil milhões, “originando um saldo desfavorável para os contribuintes de 22,05 mil milhões”, calcula o Tribunal de Contas no parecer da conta geral do Estado entregue esta terça-feira ao Parlamento e do qual constam 49 recomendações ao Governo e à Assembleia da República.

A lista de bancos que tiveram de ser ajudados pelo Estado conta ainda com mais quatro instituições, sendo que o Banif (resolvido em 2015) já custou quase três mil milhões e o BPP (banco fundado por João Rendeiro) custou 268 milhões, enquanto as ajudas ao BCP e BPI geraram lucro para o contribuinte de 919 milhões e 168 milhões, respetivamente, por conta dos chamados Cocos (obrigações de capital contingente que tinha um juro elevado) subscritos pelo Estado durante a troika.

O tribunal adianta que a expectativa de recuperação do dinheiro injetado pelo Estado na banca é “bastante limitada”, “especialmente” os mais de três mil milhões de euros que foram injetados pelo Fundo de Resolução no Novobanco nos últimos anos por via do mecanismo de capital contingente.

Estado teve a menor despesa desde 2011

No ano passado, o Estado gastou 432 milhões de euros com apoios à banca, o valor mais baixo desde 2011. Este montante diz sobretudo respeito aos 429 milhões injetados pelo Fundo de Resolução no Novobanco ao abrigo do acordo de capital contingente. Outros dois milhões foram gastos com a reprivatização do BPN e um milhão teve a ver com o Fundo de Recuperação de Crédito dos Investidores.

Já as receitas ascenderam a 219 milhões de euros, provenientes da recuperação de créditos garantidos no BPP, Parvalorem e Parups (164 milhões de euros), dividendos da Caixa Geral de Depósitos (51 milhões) e reembolso de um empréstimo pela Parvalorem (33 milhões).

O Tribunal de Contas adianta ainda que as responsabilidades contingentes do Estado associadas aos apoios ao setor financeiro diminuíram 161 milhões de euros em resultado da amortização de dívida financeira da Oitante que estava garantida pelo Estado, fixando-se em 39 milhões no final do ano passado.

(Notícia atualizada às 15h21)

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BCP diz que foi alvo de ciberataque por “entidades mal intencionadas” a partir do exterior

“Entidades mal-intencionadas, a partir do exterior, estão a dirigir intensos e não legítimos pedidos ao site e às apps do banco”. BCP assegura que clientes já acedem às plataformas sem dificuldades.

O BCP BCP 0,70% está a ser alvo de um ciberataque de “entidades mal-intencionadas” que, a partir do exterior, estão “a dirigir intensos e não legítimos pedidos ao site e às apps do banco”, adianta fonte oficial ao ECO.

O site e a aplicação de telemóvel registaram limitações no acesso no início da tarde. O banco esclarece agora que está a ser atacado por entidades de fora do país, mas assegura que a grande parte dos clientes já acede sem problemas às suas plataformas online e mobile.

“A partir das 14h00 de hoje, entidades mal-intencionadas, a partir do exterior, estão dirigir intensos e não legítimos pedidos ao site e às apps do banco, dificultando e pontualmente impedindo, dessa forma, o acesso dos clientes”, refere a instituição financeira ao ECO, assegurando que “tomou as medidas necessárias para mitigar os efeitos referidos e a generalidade dos clientes já está a aceder sem dificuldades“.

Num primeiro esclarecimento, já depois da notícia do ECO, o banco disse que tinha detetado a origem do problema e que contava restabelecer os serviços brevemente. “Houve um problema no início da tarde com as comunicações que afetou o acesso ao site e à app do Millennium bcp. Já está diagnosticado e o serviço deve ser restabelecido dentro em breve”.

O site Downdetector, frequentemente usado pelos utilizadores para reportarem falhas, dá conta de dezenas de notificações nas últimas horas (a partir das 13h24) relacionadas, entre outros, com problemas no mobile banking e no login no homebanking. Também há reportes de problemas com o ActivoBank, o banco online do BCP, a partir sensivelmente da mesma altura.

Este é o último ataque cibernético a grandes empresas portuguesas, depois da TAP, Impresa (dona da Sic e Expresso) e Vodafone, e ainda outros meios de comunicação como a agência Lusa e Newsplex (Sol e i).

(Notícia atualizada pela última vez às 16h46)

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Portugal é o país europeu com menos mulheres na administração de bancos

Análise da DBRS mostra que bancos portugueses têm apenas 23% de mulheres nas suas administrações, a taxa mais baixa na Europa. "Ainda há trabalho a ser feito”, aponta a agência.

Portugal é o país da Europa com menos mulheres na administração de bancos, de acordo com uma análise da DBRS. Os bancos portugueses têm apenas 23% de gestoras nos cargos de topo da banca, a taxa mais baixa entre os pares europeus. Compara, por exemplo, com os níveis de paridade de género dos conselhos de administração dos bancos nórdicos.

A agência diz que “ainda há trabalho a ser feito” para encontrar um maior equilíbrio de género nas administrações dos bancos do Velho Continente. Mas isto é especialmente verdade para Portugal, que está na cauda da tabela.

“A diversidade de género continua a ser um desafio para a indústria bancária. (…) Em 2021, média, usando uma amostra de 43 bancos europeus, as mulheres representam apenas 37% dos assentos nos conselhos de administração, um número que desce para 26% se considerarmos as mulheres nas equipas de gestão executiva” adianta a DBRS.

Mulheres no topo da banca

Os dados da agência mostram uma evolução positiva, mas com muito caminho por fazer: em 2014, a média de mulheres nos boards da banca era de 22%, subindo para 32% em 2019 e 35% em 2020.

Para Portugal, foram tidos em conta os conselhos de administração de três bancos: Caixa Geral de Depósitos, BCP e Novobanco, que tiveram mudanças recentes. No final do ano passado, estas instituições tinham 23% de mulheres tanto no board como na comissão executiva.

A Alemanha é o segundo país europeu onde se regista maior diferença entre homens e mulheres na administração de bancos: 29% de mulheres integram o conselho de administração e apenas 16% exercem funções de gestão executiva.

Do lado oposto da lista estão os bancos dos países nórdicos: na Dinamarca até há mais mulheres do que homens na administração de bancos (55%), enquanto Noruega (50%) e Suécia (48%) apresentam praticamente uma paridade de género.

A DBRS dá conta ainda da falta de mulheres nos cargos de CEO ou de chair dos boards dos bancos. Apenas cinco bancos da amostra têm uma mulher como CEO: DNB, Handelsbanken, NatWest, Nationwide e Bank of Ireland. E apenas quatro tinham um conselho de administração presidido uma mulher: DNB, Rabobank, Santander e BMPS.

A agência nota ainda que elevados níveis de diversidade no local de trabalho contribuem para melhores resultados, tanto em termos de inovação ou de envolvimento os trabalhadores, como em termos de desempenho financeiro. E mostra que há uma correlação positiva entre a representação feminina na administração e os ratings dos bancos, embora “a causalidade não seja clara”.

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Sindicatos “atentos” à almofada de 700 milhões do fundo de pensões do BCP

  • ECO
  • 17 Agosto 2022

Administrador financeiro admitiu que o banco pode utilizar a folga de 700 milhões de euros do fundo de pensões para reforçar os rácios de capital. Sindicatos dizem-se atentos.

Os sindicatos da banca dizem que estão “atentos” à eventualidade de o BCP utilizar a almofada de 700 milhões de euros do fundo de pensões do banco para reforçar os rácios. “Os sindicatos dos bancários da UGT garantem que não permitirão que nada seja feito fora do estrito cumprimento da lei e que defenderão sempre os interesses dos beneficiários do fundo de pensões, no ativo ou na situação de reformados”, adiantam o Mais Sindicato, o Sindicato dos Bancários do Centro (SBC) e o Sindicato dos Bancários do Norte (SBN) numa nota conjunta.

A possibilidade de usar a folga do fundo de pensões foi levantada pelo administrador financeiro da instituição, Miguel Bragança, em conferência de resultados com os analistas.

Questionado por um analista sobre quais as alavancas que o banco tinha para impulsionar os rácios de capital, no contexto dos problemas que o Bank Millennium enfrenta na Polónia, o gestor disse: “Neste momento, pensamos que é mais importante eliminar o risco ou quase eliminar a volatilidade no rácio de capital causada pelo fundo de pensões. Com o passar do tempo e também dependendo do nosso nível de rácio de capital, isto pode mudar”.

Ao ECO, o banco disse que “esta questão não está a ser equacionada” pois já cumpre os rácios de capital exigidos pelos reguladores.

Ainda assim, os sindicatos reagem com apreensão. Esta terça-feira foi o Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) defender que “é da mais elementar justiça que parte deste excedente reverta para a realização de aumentos condignos, salariais e de pensões, para que os trabalhadores e pensionistas do BCP possam recuperar o poder de compra perdido e para voltar a nivelar a idade de reforma com o restante setor”.

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BCP admite usar almofada de 700 milhões do fundo de pensões perante “tormentas” na Polónia

Subida das taxas de juro criou almofada de 684 milhões no fundo de pensões do BCP. Banco admite que pode usar essa folga para reforçar as suas proteções contra eventuais contratempos na Polónia.

A subida das taxas de juro criou uma almofada de quase 700 milhões de euros no fundo de pensões do BCP que, a enfrentar várias “tormentas” na Polónia, como classificou o CEO Miguel Maya, admite utilizá-la para melhorar os seus rácios de capital e assim reforçar as suas proteções face a eventuais contratempos.

Ainda que esta “questão não esteja a ser equacionada”, pois, como “foi demonstrado na apresentação de resultados do primeiro semestre, os rácios de capital do banco situam-se acima dos requisitos regulamentares”, segundo adiantou fonte oficial do BCP ao ECO, o administrador financeiro admitiu esta possibilidade junto dos analistas.

“Temos algo que é muito positivo em ter uma almofada no fundo de pensões que nos permite, se entrarmos numa recessão e as taxas de juro descerem novamente, não ter qualquer tipo de impacto em termos de capital”, explicou o CFO na conference call com os analistas que fazem cobertura do BCP. Acrescentou depois: “Neste momento, pensamos que é mais importante eliminar o risco ou quase eliminar a volatilidade no rácio de capital causada pelo fundo de pensões. Com o passar do tempo e também dependendo do nosso nível de rácio de capital, isto pode mudar”.

Miguel Bragança tinha sido questionado por um analista sobre quais as alavancas que o banco tinha para impulsionar os rácios de capital, no contexto do impacto da recente medida de moratórias de crédito aprovadas na Polónia e que vai infligir um custo de 330 milhões de euros no Bank Millennium, controlado em 50,1% pelo BCP, no terceiro trimestre. Porque os rácios vão entrar em incumprimento em sequência dessa lei, o banco polaco já ativou o plano de recuperação para restaurá-los.

Este foi o último dos problemas que se colocaram ao Bank Millennium, que há muito que vem enfrentando riscos legais relacionados com os créditos hipotecários em franco suíços originados antes de 2008 e que já obrigaram a provisões de 600 milhões de euros.

Já este ano, além do impacto das novas moratórias, teve um outro encargo que não estava nos planos: teve de contribuir com 54,3 milhões de euros para o recém-criado Fundo de Proteção Institucional que visa assegurar a estabilidade do setor polaco.

Em Lisboa, o CEO do BCP disse há duas semanas que confia na gestão do Bank Millennium a superar aquilo que considerou serem “tormentas” e afastou um aumento de capital por causa dos problemas na Polónia. “Se a operação tem capacidade de repor os rácios lá e nós temos os rácios acima dos regulamentares, e que temos de continuar a gerir com rigor, não estamos a planear nenhuma operação de aumento de capital em Portugal”, indicou Miguel Maya. “Não está considerado no plano de recuperação [do Bank Millennium], nem é nossa intenção, qualquer tipo de suporte de capital ou liquidez à operação polaca” por parte do BCP, reforçou.

O banco português fechou o mês de junho com um rácio de capital total e rácio CET1 fully implemented estimados de 15,3% e de 11,3%, respetivamente (15,9% e 11,8%, em base pro forma, sujeito a autorização do BCE), acima dos requisitos regulamentares.

Já o Bank Millennium viu o rácio cair CET1 para 12,1% e deverá entrar em incumprimento este trimestre assim que reconhecer o custo com as moratórias de crédito. Estes problemas levaram a agência Fitch a baixar o rating do banco para o nível “lixo” na semana passada.

"Neste momento, pensamos que é mais importante eliminar o risco ou quase eliminar a volatilidade no rácio de capital causada pelo fundo de pensões. Com o passar do tempo e também dependendo do nosso nível de rácio de capital, isto pode mudar.”

Miguel Bragança

Administrador financeiro do BCP

Esperar para ver

Nem tudo foram más notícias para o banco nos últimos meses. E uma das evoluções positivas que Miguel Bragança anunciou aos analistas teve mesmo a ver com o fundo de pensões, que já apresenta uma folga de 684 de milhões de euros à boleia da subida das taxas de juro. “Quando as taxas de juro sobem, as responsabilidades baixam, o que é positivo (…) O que verificámos agora é que há um excesso nos ativos do fundo de pensões em relação às responsabilidades que é de quase 700 milhões de euros”, explicou.

O tema da almofada do fundo de pensões do banco, atualmente um fundo fechado e que desde 2011 não tem novas adesões, suscitou grande interesse dos analistas que acompanharam a sessão de apresentação de resultados por telefone.

O banco vai mesmo usar essa folga de 700 milhões? Miguel Bragança disse que se trata de “um julgamento da gestão sobre o que é melhor para o preço da ação: se um rácio CET1 mais alto ou eliminar o risco do fundo de pensões”.

E para já não há dúvidas em relação à posição do banco neste tema: “Neste momento, pensamos que há mais valor em eliminar o risco do fundo de pensões no rácio de capital. Se as coisas evoluírem, claro que é uma decisão que sempre podemos tomar, tendo em consideração que temos o direito a tirar isto [os fundos em excesso] fora”.

Folga “consistente” e regulador para ter luz verde

O administrador revelou ainda as condições que tem de ser observadas para que se possa avançar com esta operação: uma folga “consistente” entre ativos e responsabilidades do fundo de pensões e ainda a autorização do regulador do fundo de pensões, a ASF.

“Por consistente, o que está na lei é que temos de ter uma diferença positiva entre ativos e responsabilidades nos últimos cinco anos, e nós temos. (…) Isto é uma condição objetiva que se não for cumprida, não nos permite tirar o dinheiro do fundo de pensões”, explicou. A cobertura no final de junho de 2022 era de 125%.

Depois, “como acontece muitas vezes, o regulador pode sempre considerar que tirar os fundos do fundo de pensões é muito arriscado e pode rejeitar ou limitar” essa operação, avançou ainda.

Miguel Bragança revelou que caberá à administração do banco dar esse passo, se assim entender, enviando uma carta à autoridade do fundo de pensões com esse pedido para reduzir os fundos em excesso do fundo de pensões que é gerido pela Pensõesgere.

Mais tarde, perante a insistência das perguntas, o administrador acrescentou que “há outras áreas de geração de capital” que estão mais interessados em explorar na Polónia: a venda de créditos através da titularização de carteiras. “A Polónia tem uma agenda muito forte em termos de titularizações. Através da titularização, juntamente com a geração orgânica de capital, eles [Bank Millennium] pretendem atingir os rácios de capitais exigidos”, adiantou Miguel Bragança.

O BCP registou uma subida de 500% do lucro para 74,5 milhões de euros no primeiro semestre do ano.

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Fitch corta rating do banco polaco do BCP para “lixo”

Prejuízos e deterioração do rácio de capital devido às novas moratórias e às provisões para os créditos em francos suíços levam Fitch a baixar rating do Bank Millennium em dois níveis para "lixo".

A Fitch baixou a notação de risco do banco polaco do BCP em dois níveis, de “BBB-” para “BB”, um patamar considerado investimento especulativo ou, no jargão dos investidores, “lixo”, com um outlook – perspetiva de evolução – “estável”.

A agência de rating americana justifica a decisão de cortar o rating do Bank Millennium, detido em 50,1% pelo BCP, com a erosão do rácio common equity Tier 1 (CET1) para 12,1% no final de junho face aos 15,6% há um ano, devido aos prejuízos e outros resultados negativos. “Já tínhamos indicado anteriormente que a queda do rácio CET1 para um nível abaixo dos 13% poderia desencadear um downgrade”, assinalam os analistas da Fitch.

Além disso, é expectável uma “erosão significativa do capital no terceiro trimestre de 2022, que deverá levar ao incumprimento do requisito de reserva de capital combinado e ao lançamento do plano de recuperação do banco”, de acordo com a agência.

A Fitch explica que a erosão de capital (que se vai verificar em todo o setor financeiro polaco) tem a ver com o novo regime de moratórias de crédito que o Governo da Polónia anunciou há semanas. O Bank Millennium já avisou que espera um custo upfront até 330 milhões de euros com esta medida, que será reconhecido no terceiro trimestre, e está a preparar medidas para repor os rácios ao abrigo de um plano de recuperação a ser anunciado. E espera prejuízos neste trimestre.

A agência norte-americana diz ainda que a redução do rating tem por base o atual ambiente operacional no mercado polaco, falando numa “maior vontade das autoridades polacas de intervirem no setor bancário e impor grandes custos adicionais aos bancos”.

Em relação ao outlook “estável”, que deixa antever que não haverá mudanças nos próximos meses, a Fitch diz que reflete a expectativa de recuperação dos rácios de capital do banco polaco a partir do quarto trimestre. “O banco continua rentável e vai beneficiar das taxas de juro mais altas e maiores margens, enquanto o impacto negativo das provisões para os riscos legais com a carteira de crédito em francos suíços, que levou a perdas em 2021 e no primeiro semestre de 2022, deverá retroceder gradualmente”, afirma.

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Banca lucra mais 75% no primeiro semestre. Os lucros estão a cair do céu?

Espanha avançou com uma taxa sobre os proveitos caídos do céu da banca e energia. Por cá, os lucros dos bancos aumentaram para 1.000 milhões no primeiro semestre. Banqueiros declinam novo imposto.

Os principais bancos em Portugal lucraram 1.002 milhões de euros na primeira metade do ano, o que representa uma subida de 75% em relação ao ano passado. Mas os banqueiros não consideram que os resultados sejam “expressivos”, rejeitam a ideia de os lucros estarem a cair do céu e alertam que ainda há muito caminho a percorrer até serem rentáveis. Nem querem ouvir falar de um imposto extraordinário como aquele que Espanha acabou de anunciar sobre o setor.

O tema dos “lucros caídos do céu” está a aquecer no país vizinho, depois de o governo ter avançado um imposto extraordinário sobre as receitas dos bancos com juros e comissões. A medida visa ainda o setor energético.

Esta sexta-feira, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa não descartou a possibilidade de termos também uma taxa sobre os lucros excessivos em Portugal.

Esse é um caminho que os banqueiros portugueses já disseram que não gostariam de ver por cá. Por várias razões. Uma é que os bancos já pagam muitos impostos, entre contribuições para os fundos de resolução e adicional de solidariedade que foi introduzido na pandemia e ainda não caiu. A outra é que a rentabilidade do negócio continua muito aquém do custo de capital.

Ainda assim, os bancos nacionais viram os seus resultados melhorarem significativamente nos seis primeiros meses do ano. O lucro do BCP disparou 500% e o do Santander Totta subiu 200%. Já esta sexta foi a vez de o BPI anunciar um aumento de 9% do lucro e a Caixa revelar que os resultados subiram 65%. O Novobanco apresenta as contas na segunda.

Lucros dos bancos sobem

Fonte: Bancos

Cada banco enfrenta a sua realidade. No BCP e Totta, por exemplo, o disparo dos resultados deve ser entendido à luz da reestruturação que fizeram em 2021 e cujos custos extraordinários foram contabilizados no exercício semestral do ano passado. Razão pela qual, livres agora desses encargos, assistiram a uma subida acentuada dos lucros.

No que diz respeito ao BPI, metade do resultado de 214 milhões veio de Angola. Na Caixa, uma grande parte do lucro de 486 milhões veio de recuperação de crédito e de provisões, ou seja, de perdas que registou no passado.

Ter lucro não é sinónimo de rentabilidade, argumentam os banqueiros. Esses indicadores parecem dar-lhes razão. No BCP, a rentabilidade dos capitais próprios (ROE) está nos 2,8%, depois de ter obtido um lucro de 74,5 milhões, o mais baixo dos grandes bancos. O BPI e o Totta contam com um return on tangible equity (ROTE) de 6,4% e 10,5%. A Caixa tem o ROE de 10%. Apenas o Totta e o banco público apresentam rentabilidades capazes de cobrir o custo de capital, o que deixa os outros bancos a dizerem que ainda “há muito trabalho a fazer” para serem atrativos para os investidores.

O que dizem os banqueiros?

Apesar da melhoria dos resultados na primeira metade do ano, o nível de lucros ainda não satisfaz a banca. “Podem parecer expressivos, mas em termos relativos não são”, disse o líder do BPI, explicando que, além de o ROE não cobrir o custo do capital, os bancos continuam a ter avaliações em bolsa completamente esmagadas em relação ao valor contabilístico (book value).

O BCP, o único banco nacional cotado em bolsa, tem transacionado no mercado com um desconto de 50% em relação ao book value nos últimos anos. O seu CEO, Miguel Maya, também rejeitou liminarmente a ideia de “lucros caídos do céu”. “Estamos com ROE abaixo de 3%, é manifestamente baixo. O que digo é que temos resultados extraordinários por baixo”, argumentou.

“Lucros excessivos? Até agora zero”, disse o presidente da Caixa. Até mostrou um slide com as avaliações que os investidores estão a dar aos bancos espanhóis, alemães e franceses entre os 0,32 e 0,54 vezes o book value. “Que os bancos vão aumentar os resultados, irão, mas o mercado não acredita que os bancos tenham lucros extraordinários, senão isso estaria refletido nas avaliações. É que temos outros riscos: de recessão, de diminuição de rendimento disponível com risco de aumento de malparado”, explicou. Ou seja, “o mercado vê tudo menos uma banca com lucros sorridentes”.

Além da baixa rentabilidade, também lamentam a elevada carga fiscal que pesa sobre a sua atividade – mais elevada do que nos outros países e que “mina a competitividade dos bancos nacionais” no mercado europeu, salientou Miguel Maya. Além de pagarem para o fundo único de resolução europeu, também têm de pagar para o Fundo de Resolução nacional e ainda a contribuição extraordinária sobre o setor bancário, que existe desde 2011, e o adicional de solidariedade criado na pandemia.

Por isso, o CEO do Totta, Castro e Almeida, até ironizou sobre se via o Governo português a acompanhar o espanhol na criação de uma taxa sobre receitas excessivas: “Mais impostos? Só se for retirar. Quando se fala de impostos, se calhar está na altura de os tirar. Em Espanha, eles estão a querer introduzir, em Portugal, não sei se vão retirar o imposto que já existe”.

Já Oliveira e Costa não vê essa taxa espanhola a ser replicada em Portugal e destacou que os bancos portugueses já demonstram uma “solidariedade significativa” com a sociedade, citando os 48,3 milhões de euros de contribuições para os fundos de resolução e adicional de solidariedade.

Comissões e margem de juros sobem mais de 10%

A nova taxa extraordinária em Espanha aplica-se às receitas com comissões e margem financeira dos bancos com faturação acima dos 800 milhões de euros. O Governo espanhol quer travar proveitos “excessivos” com a subida dos juros e o impacto nas famílias e empresas.

Por cá, uma parte da subida dos lucros dos bancos nacionais deve-se exatamente à melhoria da margem de juros e das comissões, que são o core da atividade bancária.

No seu conjunto, os bancos viram a margem financeira, que resulta sobretudo da diferença dos juros cobrados nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos, aumentar quase 17% para 2.180 milhões de euros. O comissionamento aumentou quase 13% para 1.078 milhões.

Explicações? Não são receitas a caírem do céu, dizem os banqueiros. A subida deve-se ao aumento dos volumes de crédito concedido à economia e ao maior número de transações (devido à abertura da economia após a pandemia e ainda aos negócios dos seguros e mercados financeiros) e não à subida dos spreads dos empréstimos ou do preçário, argumentam.

Margem dos bancos aumenta

Fonte: Bancos

O administrador financeiro do Santander Totta, Manuel Preto, lembrou que a subida dos juros ainda vai demorar no repricing dos contratos e que 30% do funding do banco vem dos mercados (e não depósitos), que já estão a cobrar mais por via do aumento dos spreads da dívida pública. Por isso, espera que a pressão na margem continue até final do ano.

Para o BCP, que se destaca no aumento da margem financeira, o desempenho deve-se em grande parte ao banco na Polónia, onde o banco central iniciou o ciclo de subida dos juros mais cedo do que o BCE.

Todos lembram ainda que vivemos um período anormal de juros muito baixos e que ainda não regressamos a níveis normais. E “não será com a Euribor a 2% que há lucros anormais”, atirou Paulo Macedo.

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Subida da energia pode atirar “empresas viáveis e bem geridas” para fora do mercado, alerta presidente do BCP

Miguel Maya não vê o malparado subir por causa da subida das taxas de juro do BCE. Mas admite que a subida dos custos da energia poderá colocar em stress "empresas viáveis e bem geridas”.

“Não perspetivo, nos próximos dois anos, nenhuma subida dos NPL (non performing loans) com base nos custos financeiros. Repito: não perspetivo nenhuma subida dos NPL com base no aumento das taxas de juro”, declarou esta quarta-feira o presidente da comissão executiva do BCP. Miguel Maya alertou antes para o impacto da subida dos custos energéticos que poderá atirar boas empresas para a falência.

“Os custos de energia – têm relevância muitíssimo superior [à subida dos juros] – podem por fora de mercado empresas viáveis, bem geridas, competitivas”, referiu o gestor na conferência de apresentação dos resultados do banco.

“A preocupação que se gosta de pôr em cima do juro… o juro continua a estar muito baixo. A grande preocupação deve ser: como é que, num contexto de custos de energia e perturbações na cadeia de valor – fatores que estão completamente fora da normalidade –, a economia e a sociedade portuguesa consegue defender as empresas bem geridas e com viabilidade económica e que têm um problema financeiro em resultado dessas duas grandes condicionantes”, considerou.

No que diz respeito à subida das taxas de juro pelo Banco Central Europeu (BCE), Miguel Maya disse que se trata de “um processo de normalização da política monetária” e não de “uma subida dos juros para fora da normalidade”.

“Fora da normalidade é o que ainda hoje temos que é taxa zero. Isto é ainda uma anormalidade. Ainda não estamos dentro de uma política monetária normal”, frisou.

“Não sou profeta da desgraça”

Em relação às perspetivas para a evolução da economia, tendo em conta o contexto da guerra, da elevada inflação e do aperto monetário do BCE, o líder do BCP afirmou que “a situação é preocupante, mas não é dramática”, recusando desempenhar o papel de “profeta da desgraça”.

“Não estamos a perspetivar uma situação de enormes dificuldades como as que se viveram na crise anterior. Os depósitos das famílias estão a crescer, estamos a lidar com uma situação completamente diferente. O crescimento para a economia portuguesa é francamente positivo”, elencou.

Ainda assim, disse perspetivar um “processo de arrefecimento da economia, mas não um problema estrutural da economia seriíssimo”.

O BCP registou um lucro de 74,5 milhões de euros no primeiro semestre do ano, uma subida de 500% em relação ao resultado de 12,3 milhões do mesmo período do ano passado,

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Lucro do BCP dispara 500% para 74,5 milhões. Miguel Maya rejeita “lucros caídos do céu”

O BCP fechou a primeira metade do ano com lucros de 74,5 milhões de euros, uma subida de 500% em relação ao mesmo período do ano passado. CEO Miguel Maya rejeita ideia de "lucros caídos do céu".

O BCP registou um lucro de 74,5 milhões de euros no primeiro semestre do ano, uma subida de 500% em relação ao resultado de 12,3 milhões do mesmo período do ano passado, mas continua a enfrentar problemas com o seu banco na Polónia.

“Os resultados foram muito influenciados pelo aumento dos proveitos core” e também por uma “gestão rigorosa dos custos operacionais”, explicou o CEO do banco, Miguel Maya, na apresentação dos resultados, rejeitando a ideia de “lucros caídos do céu” na banca por causa do novo ciclo de juros do Banco Central Europeu (BCE) e que o Governo espanhol pretende começar a taxar.

Não sei o que são lucros caídos do céu, estamos com ROE abaixo de 3%, é manifestamente baixo. O que digo é que temos resultados extraordinários por baixo“, disse aos jornalistas.

“Temos apanhado fardos pesadíssimos caídos do céu”, acrescentou ainda, apontando aos 60 milhões de euros que o banco pagou em contribuições bancárias em Portugal, incluindo para o Fundo de Resolução. “Isto mina a competitividade do banco quando falamos em concorrência na Zona Euro”.

Miguel Maya começou a apresentação dos resultados a dar conta dos efeitos extraordinários relacionados com o Bank Millennium, detido a 50,1% pelo BCP, incluindo encargos de 257,82 milhões de euros associados à carteira de créditos em francos suíços, a contribuição de 54,3 milhões para o Fundo de Proteção Institucional polaco e registo da imparidade do goodwill do Bank Millennium de 102,3 milhões.

Sem imparidades e provisões, o resultado do banco aumenta 45,7%, destaca a instituição financeira, com o lucro de 174,5 milhões de euros da atividade em Portugal a compensar os prejuízos da unidade polaca.

Apesar do disparo dos resultados, que também têm a ver com o efeito base (no ano passado registou um custo de 80 milhões com a reestruturação, o que penalizou as contas há um ano), o CEO do BCP ressalvou que ainda “há muito trabalho a fazer” na recuperação da rentabilidade do banco, com o rácio ROE a atingir apenas os 2,8% no final de junho (acima dos 0,4% há um ano).

"Não sei o que são lucros caídos do céu, estamos com ROE abaixo de 3%, manifestamente baixo. O que digo é que temos resultados extraordinários por baixo.”

Miguel Maya

Presidente do BCP

Margem financeira dispara quase 30%. Maya diz que comissões não vão baixar

O banco já está a sentir os efeitos positivos da subida dos juros. Depois de anos sob pressão, a margem financeira – diferença entre juros recebidos nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos – disparou 28,6% para 985,2 milhões de euros na primeira metade do ano, graças sobretudo ao desempenho da unidade polaca (onde o banco central arrancou mais cedo com subidas das taxas de referência do que o BCE).

Em relação ao negócio em Portugal, Maya sublinhou que a taxa da margem financeira ainda se encontra algo pressionada pela exposição ao crédito Covid.

Também as comissões aceleraram 11% para 332,7 milhões de euros, “beneficiando principalmente do desempenho da atividade em Portugal, refletindo em larga medida a progressiva normalização da atividade económica”. Sobre este tema, Miguel Maya adiantou que as comissões não vão baixar e explicou que a política de comissionamento não está dependente da evolução da margem financeira. “São comissões adequadas ao serviço. (…) A nossa preocupação é que as comissões sejam percebidas pelo cliente em função do valor do serviço”, referiu, lembrando que a inflação também pesa no banco, que “está a pagar eletricidade mais cara e combustíveis mais caros”.

Tudo somado, o produto bancário aumentou 14,9% para 1.283,4 milhões de euros nos seis primeiros meses do ano.

Subir taxa dos depósitos? BCP não abre o jogo

Estes números demonstram a capacidade comercial do banco em cima de um volume de depósitos de mais de 91 mil milhões de euros (sobem 0,8% em termos anuais) e de créditos de mais de 57 mil milhões de euros (sobem 2,1%).

Questionado sobre se vai subir a taxa dos depósitos, Maya não abriu o jogo: “Temos reflexão, pensamento e estratégia sobre esta matéria, mas estas coisas não se anunciam, executam-se. A nossa estratégia tem em consideração as condições do mercado”. Ainda assim, lembrou que as taxas do mercado ainda não estão positivas, estão a zero.

O banco destaca a “melhoria da qualidade da carteira de crédito”, com o rácio de NPE a cair para 4,3% em junho, “refletindo essencialmente o desempenho da carteira de crédito doméstica, cujo rácio de NPE revelou uma redução de 5,3% para 4,0% entre os períodos indicados anteriormente”.

Quanto aos rácios de capital, fechou o mês de junho com um rácio de capital total e rácio CET1 fully implemented estimados de 15,3% e de 11,3%, respetivamente (15,9% e 11,8%, em base pro forma, sujeito a autorização do BCE), acima dos requisitos regulamentares.

(Notícia atualizada às 18h48)

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Caso Frankowicze: Banco polaco do BCP põe de lado mais 100 milhões

Instituição continua a lidar com riscos relacionados com os empréstimos da casa em moeda estrangeira concedidos na década de 2000.

O polaco Bank Millennium, controlado em 50,1% pelo BCP, decidiu por de lado mais 107 milhões de euros para enfrentar os riscos legais relacionados com os empréstimos hipotecários em moeda estrangeira originados na década de 2000.

“As provisões refletem a continuação das tendências negativas nas decisões judiciais, a entrada de novos processos judiciais e as alterações na metodologia de avaliação de risco do banco”, explica a instituição financeira em comunicado enviado esta sexta-feira ao mercado.

Em causa estão provisões de 467,4 milhões de zlotys (cerca de 97 milhões de euros) para os riscos com os empréstimos concedidos pelo próprio Bank Millennium, enquanto outros 48 milhões de zlotys (10 milhões de euros) dizem respeito a provisões para a carteira de crédito originada pelo Euro Bank, banco adquirido em 2019, mas sem impacto no resultado líquido.

Por causa das contingências relacionadas com este caso conhecido como “Francowicze”, o banco já tinha colocado de lado 660 milhões de euros.

O banco assume que, “apesar deste nível de provisões, devido ao seu sólido desempenho operacional”, apresentaria um resultado líquido positivo para o segundo trimestre do ano. Mas a contabilização de custos relacionados com a adesão ao regime de proteção constituído com outros bancos levará a prejuízos neste período.

Na década de 2000, os polacos contraíram empréstimos em francos suíços para beneficiarem de um zloty forte e de taxas de juro baixas na Suíça. Entretanto, com a crise, a moeda helvética disparou no mercado cambial, agravando o valor das dívidas das famílias para níveis impagáveis. Muitas foram para tribunal nos últimos anos para contestar estas dívidas.

O banco polaco apresenta as contas do primeiro semestre a 26 de julho.

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