A ITEC faz algumas das máquinas e robôs usados por grandes fabricantes na construção de automóveis de luxo. Mas a empresa quer crescer e investir. E desenvolver mais tecnologia, de Braga para o mundo.
É de uma pequena rua na periferia de Braga, quase totalmente ocupada por empresas, que partem algumas das máquinas usadas por grandes empresas no fabrico de peças para automóveis de marcas de luxo: Audi, BMW, Porsche e Rolls Royce. A empresa que as faz dá pelo nome de ITEC e foi fundada por antigos alunos de engenharia da Universidade do Minho. “Temos uma equipa de engenharia com competências nas áreas da mecânica, de software e de projeto elétrico, que se dedica à produção de células robotizadas para linhas de produção”, resume Carlos Rodrigues, um dos sócios.
Esta empresa do norte do país tem assistido a um crescimento acentuado do volume de negócios. Fechou 2016 com faturação na ordem dos 9,1 milhões de euros, face aos 5,4 milhões registados em 2015. Este ano, estimava fechar 2017 com 13 milhões de volume de negócios. Mas, perto do fim de maio, garante ter já esse valor “em carteira”, face às encomendas recebidas. Com uma vasta componente exportadora, tem já máquinas prontas a enviar para a Malásia — outras estão na China, no México e numa série de países no velho continente europeu. Mas também as tem em vários outros países que se estendem pelos quatro cantos do mundo. Até ao final da década, o plano é duplicar a taxa de exportação.
O principal cliente da ITEC é mesmo a Bosch, empresa internacional fixada no concelho e que corresponde a 50% das receitas da companhia. A exposição àquela empresa é assumida por Carlos Rodrigues, e vista com bons olhos: “A ITEC foi uma empresa que foi crescendo sempre identificada com os princípios, com as exigências Bosch. Bebemos muito da cultura Bosch em termos de qualidade, e em conceitos. E isso ajudou-nos a crescer e fez de nós, hoje, penso que o maior fornecedor português da Bosch na área da automação industrial e robótica.” E acrescenta: “Eu próprio trabalhei na Bosch há 20 anos.”
"A ITEC foi uma empresa que foi crescendo sempre identificada com os princípios, com as exigências Bosch. Bebemos muito da cultura Bosch em termos de qualidade, e em conceitos.”
Tamanha exposição pode ser vista como um risco, mas a estratégia da ITEC é aproveitar essa relação para crescer. “Temos de crescer para ganhar dimensão para ir para outros mercados. A Bosch é que tem crescido demasiado e tem absorvido toda a nossa capacidade de produção. Mas claro que o nosso esforço é sempre no sentido de distribuir o nosso conhecimento e know-how por outras empresas do setor automóvel, porque há muitas oportunidades”, garante Carlos Rodrigues. Para já, o plano parece estar no bom caminho. Mas importa não esquecer a queda de quase 6,5% no volume de negócios da ITEC entre 2012 e 2013, de 3,1 milhões para 2,9 milhões de euros, fruto, em parte, da desaceleração das encomendas da Bosch.
Temos de crescer para ganhar dimensão para ir a outros mercados. A Bosch é que tem crescido demasiado e tem absorvido toda a nossa capacidade de produção.
Para os próximos três anos, o plano é “ambicioso”, conta ao ECO Carlos Rodrigues. É um plano “de investimento não só em I&D [investigação e desenvolvimento] como também em novas instalações, em criar novas unidades de negócio, em investir em algumas tecnologias ligadas à Indústria 4.0, nomeadamente na manufatura aditiva e manufatura subtrativa. Com isso, pretendemos ainda reforçar a nossa posição, não só na Bosch mas também no setor automóvel [em geral]”, avança o sócio da ITEC. O valor são mais de cinco milhões de euros, ao abrigo de um programa financiamento, o programa Interface, do Clube de Fornecedores Bosch. Tudo isto para fechar o ano de 2020 com 20 milhões de euros de volume de negócios. Esse é o grande objetivo.
"Estamos a falar de um investimento na ordem dos cinco milhões de euros [até 2020] ao abrigo de um programa de financiamento, o programa Interface, do clube de fornecedores Bosch, onde estamos envolvidos.”
Neste momento, a ITEC espera ver aprovado o plano e procura já o local onde situar as novas instalações, com características específicas e melhores condições do que aquelas que tem no sítio onde está. São questões que surgem com o crescimento e que já levaram a empresa a expandir-se para o armazém em frente, que alugou recentemente e está agora a usar. No total, conta com 38 colaboradores, 28 deles nas áreas ligadas à engenharia.
Que máquinas faz, então, a ITEC? São aparafusadoras robóticas, máquinas de colagem que limpam com plasma e curam com raios UV, e por aí em diante. O projeto começa sempre com um protótipo em CAD, enviado pelo cliente, seguindo-se o desenho da máquina com as características pedidas — de raiz ou modificando outra que precise de ser atualizada. É numa fase inicial mas mais avançada que a ITEC recebe um protótipo físico. Depois, é feita a assemblagem, os testes e tudo o que é preciso para garantir que, no final, a máquina funciona — e, sobretudo, funciona bem. Pelo meio há muita engenharia e programação. E o próximo passo é permitir que as máquinas façam o seu autodiagnóstico. Isto é, pretende-se que avisem a manutenção antes mesmo de os problemas acontecerem, recorrendo a inteligência artificial.
Importa não esquecer que a ITEC não faz as peças: faz as máquinas. O ECO não pôde fotografar essas peças, que estão ao abrigo de contratos de confidencialidade entre a empresa e as marcas com quem trabalha (a par da Bosch, a Delphi, a Autoeuropa, entre muitas outras). Mas são, por exemplo, componentes ligados aos painéis de instrumentos dos automóveis, inserção dos ponteiros em conta-quilómetros, colagem de elementos ao visor dos painéis, entre outras — em suma, integração de componentes. Na calha estão também projetos ligados a outros setores: há um relacionado com alarmes e outro ligado à indústria farmacêutica.
Por agora, a ocupar um dos armazéns, além de outras, estão seis máquinas quase terminadas. Em letreiros, por cima de cada uma, estão várias indicações. Nome do projeto? “Robôs Aparafusamento Porsche.” Cliente? “Bosch MC.”
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As máquinas da Porsche são feitas nesta fábrica de Braga
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