“Abdiquei da estabilidade por uma aventura”, afirma Cortez de Lobão, o responsável por tornar a Herdade de Maria da Guarda na 2ª maior produtora de azeite do país, que o ECO foi conhecer.
Enquanto o resto do mundo se depara com uma quebra na produção de azeite, a Herdade de Maria da Guarda aumentou-a em 15%. Com mais de 300 anos, mil milhões de oliveiras espalhadas por cerca de 600 hectares em Serpa, no Alentejo, o ECO foi conhecer a casa agrícola que é uma das maiores produtora do país.
A Herdade de Maria da Guarda (HMG) existe desde 1779 mas foi só em 2005 que apostou fortemente na produção de azeite. Depois de um investimento de 15 milhões de euros e, atualmente com 35 colaboradores, a HMG produziu dois milhões de quilos de azeite e faturou quase oito milhões de euros no ano passado. Mas como é que este crescimento aconteceu?
Dos EUA para Portugal
A Herdade de Maria da Guarda está na família de João Cortez de Lobão, atual dono da marca, há várias gerações. Jornalista durante uma década, trabalhou depois no fundo de investimento Friends Villas Fischer Trust Investiments, nas Torres Gémeas em Nova Iorque, nos EUA, e regressou uns anos depois para Portugal “por princípios”. “Queria que os meus filhos fossem portugueses e só conseguimos ser cidadãos do mundo se soubermos onde estão as nossas raízes”, conta o empresário. Trabalhou como administrador no BCP até 2005, altura em que deixou a instituição financeira para investir em Serpa, uma decisão que, segundo o próprio, “economicamente não fazia muito sentido”.
Rumou ao Alentejo para fazer da herdade de família um negócio rentável. A tarefa foi mais difícil do que imaginava. “Abdiquei da estabilidade por uma aventura. Fiquei a viver sem ordenado e com um passivo sempre a aumentar. Os primeiros três anos foram muitíssimo difíceis”.
"Às vezes tomamos decisões que economicamente não fazem muito sentido mas fazem sentido para nós.”
Ao mesmo tempo, vivia-se a crise do subprime e os bancos estavam muito reticentes em emprestar dinheiro: “Foi uma luta para não me cortarem as linhas de crédito. Eu só pensava: que estupidez, porque é que eu fui deixar o banco, uma coisa estável, para agora estar a lutar com toda a gente, isto ainda vai acabar mal”, relembra. Mas não acabou e a luta “valeu muito a pena. Às vezes tomamos decisões que economicamente não fazem muito sentido mas fazem sentido para nós”.
Portugal é um dos países que produz azeite de melhor qualidade e é do Alentejo que provém cerca de 70% do azeite português. Em 2016, a produção mundial caiu devido à seca e às pragas de insetos que afetaram vários países produtores, como Itália, mas a produção portuguesa aumentou.
E na HMG não foi diferente: já é a segunda maior produtora de azeite no país e, no ano passado, bateu recordes ao produzir mais de dois milhões de quilos de ouro líquido, o que resultou numa faturação de mais de sete milhões de euros e João Cortez de Lobão já pensa em investir mais de um milhão este ano. Quase 100% do azeite produzido pela herdade alentejana é exportado, principalmente para Itália, mas a empresa conta ainda com uma marca própria, o azeite Lagaretta, que é sobretudo oferecido a instituições sociais.
Os segredos do negócio
Em primeiro lugar, importa referir que “somos o país que tem a maior percentagem de azeite de muito boa qualidade no mundo”, afirma o dono da Herdade de Maria da Guarda. Além disso, “somos das poucas propriedades que produzem azeite 100% virgem extra, que é um azeite que não tem acidez e é muito valorizado pelo mercado. O nosso processo é muito rápido e, em seis horas, as azeitonas são transformadas em azeite, o que faz toda a diferença”, explica Cortez de Lobão.
Por outro lado, Portugal tem uma vantagem em relação aos outros países: a produção é muito precoce e começa numa altura em que há muita pressão no preço porque existe grande procura e pouca oferta. “No início do ano, o mercado tem falta de azeite. Por isso, assim que começamos a produzir, vendemos logo, o que também nos permite uma margem de lucro maior”, afirma o dono da Herdade de Maria da Guarda.
"Os trabalhadores não são recursos humanos, são pessoas.”
Mas essas não são as únicas razões para que o negócio de João Cortez de Lobão seja tão rentável. Além da “estrelinha da sorte” que o empresário diz ter, afirma que “somos muito eficientes”. Todo o processo de produção conta com tecnologia de ponta, o planeamento do ano é pensado ao pormenor e a equipa é “bem treinada e motivada”, e liderada pelos jovens diretores da terra, Bruno Barbosa e Dora Veiga.
“Preocupamo-nos em manter as pessoas estimuladas. Os trabalhadores não são recursos humanos, são pessoas. E podemos não ser quem paga melhor mas somos que tem mais gente numa situação estável”, refere o empresário que acrescenta que a justiça social e a igualdade nos direitos e salários entre homens e mulheres é uma preocupação constante. “São pormenores que fazem toda a diferença e fazem com que os nossos colaboradores tenham orgulho em trabalhar na Herdade de Maria da Guarda”.
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Em Serpa também há ouro. Mas nasce nas oliveiras
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