O empreendedorismo tem idade? O ECO foi investigar a questão na maior feira de tecnologia do mundo e para justificar a resposta negativa trouxe "startupers" dos 19 aos 61 anos.
No congestionado pavilhão dois do Web Summit há uma coração que pisca e prova que o empreendedorismo nada tem a ver com idades. É aquele que está bem preso à t-shirt branca de Hans, holandês de 60 anos que está de visita à maior feira de tecnologia do mundo para divulgar o seu sistema inovador de monitorização cardíaca com recurso a imagens 3D.
![](https://ecoonline.s3.amazonaws.com/uploads/2018/11/60anos.jpg)
“Conseguimos triplicar o valor clínico de um eletrocardiograma”, diz ao ECO o responsável da ECG Excellence. Sobre o evento da equipa de Paddy Cosgrave, Hans não esconde o ceticismo: “É muito bla bla”. Curva-se um pouco e aproxima-se para evitar ter a voz engolida pelo ruído; confessa que as suas expectativas já eram baixas.
Hans Slijp acredita que este não é o lugar certo para conhecer quem interessa (os investidores), mas é uma ótima oportunidade para um pouco de “publicidade”. Foi exatamente isso que veio fazer a Lisboa.
“Há por aqui muitas soluções baseadas em conexão de dados, mas poucas em recolha de novas informações. Há aqui uma grande competição para ver quem será a próxima Uber dos dados médicos“, explica, com os seus óculos empoleirados no meio do nariz. Ainda assim, Hans diz levar desta experiência “contexto” e relações com investidores e potenciais parceiros.
Levo a vontade de “melhorar” quem sou
![](https://ecoonline.s3.amazonaws.com/uploads/2018/11/19anos.jpg)
Do outro lado da entupida FIL, o romeno Damian está a fazer uma última ronda aos stands das startups do dia. Ao ECO, diz que é “apenas o rapaz de informática” da empresa que o trouxe à capital portuguesa: a GLAD People.
De camisola amarela, o empreendedor de 19 anos explica que está a construir um chatbot que permite fazer compras diretamente do Messenger do Facebook. “Se quiser uma pizza, o nosso bot vai mostrar-lhe as opções disponíveis. Depois é só encomendar. Tudo dentro da mesma conversa”, esclarece.
E o que achou o jovem do Web Summit? “É um evento enorme, conheci imensas pessoas”, sublinha, referindo que as suas expectativas foram mais do que concretizadas. Aliás, enfatiza com um sorriso gigante, se a empresa tornar a desafiá-lo, tem todo o gosto em voltar. Enquanto esse dia não chega, Damian Monea garante que a edição deste ano já lhe colocou na bagagem algo de extrema importância: a vontade de ser melhor.
Empreendedorismo com “cabelos brancos”
![](https://ecoonline.s3.amazonaws.com/uploads/2018/11/57anos.jpg)
Mais ao lado, no pavilhão quatro, António Mendes partilha do mesmo sorriso de Damian. Aos 57 anos, o português responsável pela Spindots, rede social de descontos, marca presença nesta feira pela segunda vez.
“Andamos, enquanto consumidores, a perder valor”, explica ao ECO. A sua startup agrega cupões e vales de desconto de várias lojas numa única plataforma, permitindo a partilha entre utilizadores.
Há dois anos, Mendes trouxe a Spindots a esta conferência e levou apenas “visibilidade”. Agora veio à caça de investimento e de clientes que queiram também dar uma nova “dinâmica às lojas que ainda andam de lápis na orelha”, àquelas que precisam de uma mãozinha na sua “conversão digital”. “Em Portugal, o campeonato é de capital de risquinho. Estivemos a pedir meio milhão, mas tivemos de descer para 180 mil euros”, clarifica.
De olhar fixo e postura desenvolta, o empreendedor brinca que não trouxe uma startup mas uma holdup. “Já estamos acima dos 50”, gargalha.
Acima de investidores, parceiros
![](https://ecoonline.s3.amazonaws.com/uploads/2018/11/21anos.jpg)
À caça de investimento veio também a austríaca Marie Williere, de 21 anos. De jeans e t-shirt negras, a jovem explica que a Eyeson oferece uma solução semelhante ao Skype mas… melhor. Melhor como? “Garantimos a mesma qualidade de vídeo independentemente do número de participantes da conferência”, reforça.
No ano passado, Marie veio ao Web Summit como participante, estreando-se este ano como startuper. Desta edição, não leva investimento mas muitos contactos, potenciais parceiros e a impressão de que, desta vez, a feira foi “um bocadinho menor em termos de oferta”.
![](https://ecoonline.s3.amazonaws.com/uploads/2018/11/23anos.jpg)
E por falar em parceiros, são muitos os cartões-de-visita que vão na mala do finlandês Konsta Leskela, de 23 anos.
A cinco passos do seu stand, Konsta olha atento para a multidão que flui pelas veias da feira. Tem um ar jovem mas aprumado. “Há muita coisa a acontecer. Para aproveitar é preciso ter um plano”, conta ao ECO.
Além de contactos, o finlandês diz levar na bagagem “muita inspiração” desta sua primeira visita à maior feira de tecnologia do planeta. Veio à boleia da Saavu, uma plataforma que agrega todos os passos da organização de eventos numa única página munida de uma espécie de chatbot.
“Voltamos com a nossa ideia confirmada”
![](https://ecoonline.s3.amazonaws.com/uploads/2018/11/37anos.jpg)
A alguns corredores de distância, Daria e Peter Huszar, de 37 e 49 anos, preparam os seus computadores para a próximo picth. Os criadores da Deejni — uma espécie de Excel “automágico”, como gostam de chamar-lhe — já não são estreantes, mas garantem que voltaram com a mesma missão: “Mudar a vida dos analistas financeiros”.
De óculos em forma de asa de borboleta e camisola riscada, Daria apresenta o seu negócio: trata-se de uma ferramenta de automatização dos “processos de análise e controlo financeiro” que deverá “libertar o tempo” consumido atualmente em “trabalho de macaco”, isto é, no tratamento de dados, em vez de na sua avaliação.
“Levamos clientes e a confirmação do nosso problema. Toda a gente nos diz que tem este problema”, garante.
![](https://ecoonline.s3.amazonaws.com/uploads/2018/11/38anos.jpg)
Semelhante souvenir da FIL leva Ali Ercan, de 38 anos. “A ideia testada. Já tinha funcionado na Turquia mas pode ser aplicada no Brasil, na China, na Austrália“, explica o turco da NeedsMap.
De acordo com a Ali, a sua solução permite sinalizar necessidades num mapa que podem receber resposta, não só organizações como de qualquer internauta.
Depois de ter conseguido implementar a sua ideia “com sucesso” na Turquia, os olhos do homem de barba mal cuidada e sorriso largo estão postos no horizonte. “Globalizar” é o verbo que lhe sai dos lábios, piscando também olho a Portugal.
O que levam os summiters para casa? Dos “8 aos 80”
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Nem só de empreendedores jovens vive o Web Summit
{{ noCommentsLabel }}