Sword Health. A fisioterapia em casa, quando nasce, é para todos
Startup portuguesa criou uma aplicação móvel que permite fazer reabilitação motora em casa, com acompanhamento remoto por parte de uma equipa médica.
Quando, aos dez anos, viu o irmão de doze ficar em coma durante seis meses depois de ter sido atropelado, Virgílio Bento percebeu que não há fisioterapeutas suficientes para responder a todos os pacientes. O problema pode traduzir-se com uma equação simples: o tratamento de uma pessoa que sofra um AVC deveria passar por duas horas de fisioterapia por dia; só há recursos humanos suficientes para duas horas por semana, por paciente.
Hoje, aos 31 anos, Virgílio está a meio caminho de resolver esse problema. Depois de dois anos de desenvolvimento e de testes piloto, a SwordHealth, startup que fundou em 2013 e que já foi considerada pela Comissão Europeia como uma das empresas mais inovadoras da Europa, acaba de lançar para o mercado uma aplicação móvel de reabilitação motora, adequada às especificidades de cada doente.
A solução chama-se Sword Arya e permite fazer uma reabilitação independente e em casa, com acompanhamento remoto constante por parte da equipa médica da Sword. Os exercícios são simplificados ao máximo: os pacientes vestem módulos no membro a reabilitar e a aplicação monitoriza os exercícios que estão a ser feitos, avaliando a velocidade, a correção e a concretização de cada movimento, como se vê no vídeo:
No final, a equipa médica da Sword recebe os resultados dos exercícios feitos pelos pacientes, o que lhe permite corrigir ou ajustar os planos personalizados de fisioterapia.
O simples facto de o paciente poder fazer os exercícios prescritos mais vezes, sozinho ou acompanhado pelos seus cuidadores, aumenta exponencialmente as suas probabilidades de recuperação, quer em termos de tempo que leva a recuperar, quer em termos de amplitude dos movimentos que recupera. Mais concretamente, 93% dos doentes que já utilizaram a aplicação, nos testes piloto, apresentaram melhorias na qualidade da execução das tarefas motoras.
"É inevitável que o Sword seja abrangido pelo Serviço Nacional de Saúde, porque oferece resultados maximizados com baixos custos e uma monitorização constante”
Ao mesmo tempo, os preços são muito mais acessíveis para o paciente, que teria de pagar até cinco vezes mais se tivesse de pagar pelos serviços de um terapeuta. A tecnologia da Sword, que já inclui o acompanhamento dos médicos da empresa, está disponível a partir de 50 euros por mês, dependendo do tipo de problema de cada doente.
Para já, este custo é suportado pelo paciente, mas Virgílio Bento acredita que não faltará muito para a tecnologia ser abrangida pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS). “É inevitável, porque o Sword oferece duas coisas que o SNS adora: resultados maximizados com baixos custos e uma monitorização constante — tudo o que o paciente faz, o médico sabe”, diz ao ECO.
O facto de ser uma solução tecnológica também não é entrave para os pacientes mais velhos. “Pessoas de 90 anos usaram a aplicação e o feedback foi muito bom, porque o interface é muito simples e intuitivo, funciona muito à base de voz e de cores. E, como fizemos um trabalho de simplificação muito extenso para facilitar o trabalho do terapeuta, isso também se reflete para os pacientes”, conta Virgílio Bento.
A Sword Arya permite a recuperação de doentes com lesões neurológicas (como AVC) e músculo-esqueléticas (ancas, joelho, ombro, quedas, etc.).
Portugueses e chineses já podem reabilitar-se em casa. Americanos também vão poder
Desde que arrancou, a Sword já passou por duas rondas de investimento, com dois grupos de business angels: uma de 150 mil euros em março de 2014 e uma de 250 mil euros em janeiro de 2015. O dinheiro serviu para desenvolver a aplicação móvel e para fazer testes pilotos, em centros de reabilitação e em casa dos pacientes, onde é suposto o software ser utilizado. “O foco tem de ser em casa, porque é onde o paciente quer estar”, sublinha o CEO da Sword.
Os testes foram feitos em Portugal e na China. Por cá, foi feito um piloto com 10 pacientes em casa, com “resultados promissores”, e, no centro Sword no Porto, a empresa já está a tratar 40 pacientes por dia.
A China foi um mercado que apareceu nos planos da Sword pelas suas características, no mínimo, peculiares: tem 13 mil terapeutas para 1,3 milhões de pacientes, ou um terapeuta para cada 100 mil pacientes. “Entrámos na China com um parceiro que tinha acabado de abrir lá um centro de terapia e que se deparou com esse problema: tinha pacientes, mas não tinha terapeutas”.
Em janeiro, a Sword chega também aos EUA, onde vai fazer três grandes testes piloto, com foco em casa dos pacientes.
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