Poupança já não está negativa mas riscos mantêm-se
No primeiro trimestre deste ano, as famílias gastaram tudo o que tinham disponível, e ainda mais. Mas entre abril e junho retomaram a poupança. O risco já passou?
Nos primeiros três meses deste ano, a poupança das famílias ficou negativa. Ou, por outras palavras, as famílias não pouparam nada — gastaram tudo o que tinham disponível, e ainda mais. O episódio foi único na história deste indicador, no segundo trimestre a poupança regressou. Mas o que é que isto quer dizer sobre a saúde financeira da economia?
Entre janeiro e março deste ano, o valor da poupança bruta foi negativo: ficou em -299 milhões de euros. Quer dizer que neste trimestre as famílias recorreram ao crédito, ou mobilizaram poupanças, para consumir para lá dos seus rendimentos líquidos nesse trimestre. A taxa de poupança ficou assim negativa: -0,9%.
A situação foi pontual: não se deteta tampouco se a análise for feita como mandam as boas regras da estatística, em médias móveis de quatro trimestres, para suavizar as variações esporádicas e detetar melhor a tendência. Mas a verdade é que nunca tinha acontecido haver um valor negativo, desde, pelo menos, o quarto trimestre de 1999.
Depois, no segundo trimestre deste ano, o valor da poupança voltou a positivo: ficaram por gastar mais de dois mil milhões de euros e a taxa de poupança do trimestre recuperou para 5,7%. Contudo, o problema não desapareceu. Vale a pena olhar para o gráfico da série longa, construído com base no ano terminado em cada trimestre:
Taxa de poupança está em mínimos históricos
Fonte: INE
“A taxa de poupança está em níveis baixíssimos”, frisa Teresa Gil Pinheiro, economista do departamento de research do BPI. Nos últimos trimestres, “caiu para níveis históricos”, nota. No ano terminado em junho, a taxa de poupança ficou em 3,4%, o valor mais baixo desde 1999, à exceção do registado, precisamente, no ano terminado em março.
O Instituto Nacional de Estatística explica que no primeiro trimestre de 2016 houve um movimento de antecipação de compra de automóveis, justificado pela expectativa de subida dos impostos sobre estes bens, com a entrada em vigor do Orçamento do Estado para 2016.
Além disso, lembra Teresa Gil Pinheiro, havia em simultâneo a expectativa de aumento dos rendimentos, por causa da reposição progressiva dos salários aos funcionários públicos e da redução da sobretaxa de IRS. Ou seja, as famílias ainda não tinham começado a ganhar mais, mas começaram logo a gastar mais.
É prudente? “Não”, responde a economista. O perigo são as pedras no caminho, isto é, eventuais alterações de rendimento. As famílias com poupanças curtas ficam mais vulneráveis a situações de desemprego ou, no longo prazo, aos efeitos negativo da subida dos juros. “Neste momento é um cenário pouco provável mas, se houver uma subida dos juros, ou os rendimentos crescem ao mesmo ritmo, ou o rendimento disponível encolhe”, explica.
De entre os países da União Europeia para os quais há dados, Portugal destaca-se como um dos que apresentou uma taxa de poupança em 2015 mais baixa.
Portugal entre os países com taxa de poupança mais baixa
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