Há freguesias lisboetas onde um quinto das casas é para turistas
Se o alojamento local contribuiu para a requalificação das cidades, ajudou também a que os preços das casas aumentassem muito. Em dois anos, as rendas nas zonas turísticas mais populares subiram 26%.
O alojamento local tem um peso cada vez maior sobre o mercado imobiliário, sobretudo em Lisboa e no Porto. Na capital, já há freguesias onde o alojamento local representa mais de 20% do total de fogos disponíveis — é o mesmo que dizer que um quinto das casas que existem só estão disponíveis para arrendar a turistas. No Porto, o peso é menor, mas também já há freguesias onde o alojamento local representa mais de 10% do número de habitações.
A conclusão consta do estudo “Alojamento Local – Qual o Fenómeno?“, encomendado pela Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) às faculdades de Direito e de Economia da Universidade Nova de Lisboa. O estudo faz a caracterização da oferta do mercado português do alojamento local, medindo depois o impacto desta oferta sobre o setor imobiliário e analisando, por fim, o regime jurídico em que o alojamento local se enquadra.
É no primeiro ponto que se aborda a presença de alojamento local em cada freguesia. Santa Maria Maior, a freguesia lisboeta onde se encontram bairros como Alfama ou o Chiado, altamente populares entre os turistas, é a que tem maior percentagem de alojamentos locais: 22% das casas existentes nesta freguesia estão registadas no Airbnb, plataforma de arrendamento de curto prazo.
Se considerarmos apenas as casas que estão registadas no Registo Nacional do Alojamento Local (RNAL), a percentagem nesta freguesia é menor (é de 15,1%), mas isso não quer dizer que, afinal, há menos casas que só estão disponíveis para turistas. Quer dizer que a diferença entre estes dois valores é o número de casas que exerce atividade turística de forma ilegal, sem estar registada oficialmente.
Depois de Santa Maria Maior, a Misericórdia (onde se encontra o Bairro Alto) é a segunda freguesia com maior proporção de alojamento local no mercado imobiliário: 18,5% das casas disponíveis são para turistas.
No Porto, destaca-se a União de Freguesias da Cedofeita, onde 11% das casas disponíveis estão registadas no Airbnb.
Rendas aumentaram 26%
E qual o impacto desta oferta turística para os habitantes da cidade? Há os dois lados da moeda. No final da apresentação do estudo, que decorreu esta manhã na reitoria da Universidade Nova, a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, lembrou, por exemplo, que, desde que o novo regime do alojamento local entrou em vigor, em 2014, cerca de 10 mil imóveis foram requalificados, sendo que cerca de 40% destes estavam desocupados.
“É inquestionável o papel importante que o alojamento loca tem tido na requalificação urbana e a forma como voltou a dar vida às cidades e a muitos dos nossos espaços”, disse a governante.
O outro lado da moeda é que viver nas cidades, sobretudo em Lisboa e no Porto, ficou bem mais caro. O estudo da Nova nota que, antes de 2014, quando foi aprovado o novo regime, as rendas nas zonas onde o alojamento local é mais popular rondavam os 9,5 euros por metro quadrado. Hoje, as rendas nestas mesmas zonas rondam os 12 euros por metro quadrado, um aumento superior a 26%.
Os autores do estudo calculam que, se o novo regime do alojamento local não tivesse entrado em vigor, as rendas nestas zonas ficariam a rondar hoje os 10,3 euros por metro quadrado.
A evolução dos preços das casas que estão para venda também é reveladora. Nas zonas onde a concentração de alojamento local é elevada, o preço médio por metro quadrado passou de 2.022 euros em 2013 para 2.784 em 2016. Sem regime do alojamento local, o preço médio seria de 2.133 euros por metro quadrado, estimam os autores do estudo.
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