Três temas que vão marcar 2017

Eleições na Europa, bancos centrais e... Trump. Não é preciso ler a bola de cristal para perceber quais os principais temas com potencial para mexer os mercados em 2017.

O que dizem os astros para 2017? Que Alemanha, França e Holanda estão perfeitamente alinhados na ida a votos para escolher os seus Governos, com forte ascendente sobre o que vai acontecer na Zona Euro. Que a Reserva Federal norte-americana e o Banco Central Europeu (BCE) estão desalinhados no que toca à política monetária, promovendo o dólar ao estatuto de rei no mercado cambial. E há a incerteza Trump a pairar sob uma intensa névoa que promete ser o próximo ano. Estes deverão ser os principais temas para acompanhar ao longo de 2017. Vem aí nova montanha russa, dizem os analistas.

Eleições e o surgimento do populismo na Europa

Se 2016 foi um ano pródigo em surpresas políticas, com o Brexit e a eleição de Trump em destaque, o próximo ano não deverá deixar os investidores muito mais descansados. Alemanha e França, as duas maiores economias da Zona Euro, vão a votos para eleger novos governos perante o crescimento de movimentos populistas que pode deixar o projeto europeu em causa.

“2017 está a preparar-se para ser um novo ano de risco político. O surgimento do populismo tem potencial para afetar a política — com grandes implicações para os mercados”, referem os analistas da BlackRock, no outlook para o próximo ano. “As políticas europeias vão ser de novo o centro das atenções dos investidores nos próximos meses. As próximas eleições em França, Holanda e Alemanha vão definir os momentos de liderança política e o futuro da Zona Euro”, reforça a Schroders.

"2017 está a preparar-se para ser um novo ano de risco político. O surgimento do populismo tem potencial para afetar a política — com grandes implicações para os mercados.”

BlackRock

Global Investment Outlook 2017

Tome nota na sua agenda: Holanda vai a votos no dia 15 de março; França tem eleições marcadas para 23 de abril (primeira volta) e 7 de maio (eleição final); e a Alemanha coloca a liderança de Merkel à prova no outono. “A vitória dos partidos estabelecidos nestes países irá provavelmente permitir às ações da região escalar um significativo muro de preocupações, mas qualquer passo em falso poderá resultar numa disrupção nos mercados obrigacionistas e de ações, não apenas na Europa mas numa base global“, considera a Schroders.

O mapa das eleições em 2017

Fonte: BlackRock Investment Institute Dados de Nov 2016
Fonte: BlackRockRaquel Martins

Fim do dinheiro barato?

Sim, mas só nos EUA. Porque, na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) vai continuar a providenciar a economia de todos os estímulos sem que a sua ação tenha surtido algum efeito considerável até ao momento.

A divergência nas políticas monetárias entre Reserva Federal norte-americana (Fed) e BCE, acompanhando a intervenção de Trump na economia, deverá conduzir a moeda única à paridade com o dólar, isto é, um euro vai valer o mesmo que um dólar — a última vez que isso aconteceu foi há 14 anos. Na última reunião do ano, Janet Yellen e os membros do Comité Federal do Mercado Aberto (FOMC) promoveram a segunda subida dos juros em oito anos, prometendo mais subidas em 2017 e 2018.

“A inflação deverá acelerar mas continuará bem abaixo dos objetivos dos bancos centrais em muitas das economias desenvolvidas, exceto nos EUA”, dizem os analistas do Credit Suisse. “Se é provável que a Fed prossiga com a normalização gradual das taxas de juro [sinalizando uma expansão económica que poderá manter as bolsas norte-americanas em alta], outros bancos central deverão manter uma postura mais acomodatícia, enquanto se afasta da expansão mecânica dos balanços”, acrescentam.

"Enquanto é provável que a Fed prossiga com a normalização gradual das taxas de juro, outros bancos central deverão manter uma postura mais acomodatícia, enquanto se afasta da expansão mecânica dos balanços.”

Credit Suisse

Investment Outlook 2017

No caso do BCE, o enfoque está sobretudo no plano de compra de dívida dos governos. Mario Draghi já esticou a corda até final de 2017, embora tenha reduzido o ritmo de aquisição de títulos a partir de abril dos 80 mil milhões mensais para os 60 mil milhões a partir de abril. Uma medida que manterá as obrigações em alta (com os juros controlados) e dará fôlego às ações europeias. Mas e o que acontecerá em 2018?

Uma incógnita chamada Trump

A eleição de Donald Trump para a Casa Branca, em novembro, foi uma das prendas surpresa que o ano de 2016 trouxe ao Mundo. No plano interno, a promessa de fazer descolar a maior economia do mundo com a introdução de estímulos orçamentais em larga escala, através da redução dos impostos e do aumento dos gastos públicos (política de reflação), deixou as bolsas em Wall Street a negociar consecutivamente em máximos históricos.

“Um pacote de 600 mil milhões em infraestruturas poderá adicionar 0,25% ao crescimento norte-americano, um corte nos impostos das empresas de 35% para 15% poderá adicionar 10% ao crescimento dos resultados em 2018. Tendo em conta que os lucros por ação dos EUA não têm crescido há três anos consecutivos, o atual bom momento da economia, impulsionado pela agenda de Trump, poderá determinar um crescimento de dois dígitos os lucros das empresas tanto em 2017 como em 2018. Isso dará bastante suporte para mais ganhos nas ações norte-americanas”, identifica a Schroders.

O Goldman Sachs acrescenta: “Os mercados estão famintos de crescimento. Isto é visível na ânsia que os mercado manifestaram com a mensagem focada no crescimento de Trump. Também é visível na velocidade com que a narrativa do mercado acerca do outlook económico mudou de ‘incerto’ para ‘crescimento’ com a eleição de Trump”.

É no plano externo que a incógnita Trump poderá exercer maior pressão sobre os mercados. A aproximação a Putin, a constante confrontação com a China, a agenda protecionista — já ameaçou de romper com vários tratados de comércio internacional — e a aparente inabilidade de lidar com questões internacionais tornam o Presidente eleito num enorme ponto de interrogação no próximo ano.

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