Ou as companhias aéreas saem do Reino Unido antes do Brexit, ou perdem rotas
O medo da perda de postos de trabalho e de rotas de circulação leva várias companhias aéreas britânicas a considerarem deixar o Reino Unido.
Com o Brexit cada vez mais próximo, várias companhias aéreas que operam no Reino Unido começam a considerar alternativas para onde possam deslocar as suas bases e procurar garantir que a maioria dos acionistas continua a pertencer e a reger-se pelas regras da União Europeia (UE).
Vários membros da UE já avisaram certas companhias, como a easyJet e a Ryanair, de que têm de deslocar as suas sedes para fora do Reino Unido ou vender parte das suas ações a investidores de países da UE se quiserem continuar a voar dentro do espaço europeu depois do Brexit.
Mas esta pressão pode ter o efeito contrário e levar a que as companhias britânicas surjam com as suas próprias leis, o que deixaria as companhias da UE perante uma concorrência desleal e escolhas ainda mais difíceis, como um potencial enfraquecimento no investimento no Reino Unido no curto prazo. Por outro lado, algumas podem querer estabelecer, no médio e longo prazo, as suas próprias filiais no Reino Unido, para conseguirem continuar a operar no país e a manter-se a par da concorrência.
No caso da EasyJet, por exemplo, as suas rotas na Europa são tão importantes para o seu modelo de negócio que esta pressão pode muito bem incentivar a empresa a investir fora do Reino Unido para manter a sua quota do mercado europeu. Como explica o The Guardian, estas companhias poderão vir a ter de forçar o afastamento dos investidores britânicos para poderem atrair os de nacionalidades de países que continuem a pertencer à UE.
Vários oficiais da UE já deixaram clara, nas várias reuniões que decorreram com as diversas companhias aéreas, a necessidade de manter regras rígidas e acabar com a “negação sobre as consequências de o Reino Unido sair do Bloco” que parecem pairar entre estas empresas, com algumas a manterem a esperança de que a Comissão Europeia seja flexível com as suas leis e mantenha os acordos vigentes.
Thomas van der Wijngaart, perito de aviação na Clyde & Co, disse ao The Guardian que pode haver consequências económicas severas para o Reino Unido se as companhias aéreas deslocarem as suas estruturas operativas e financeiras para fora do país, em prol de criar uma presença mais forte no continente. “Pode acontecer que as companhias decidam ter voos ‘domésticos’ [dentro do continente] operadas sob a sua nova licença, o que provavelmente levaria à redução do número de postos de trabalho no Reino Unido”.
Como a easyJet e a Ryanair estão a preparar-se para descolar
A easyJet está a criar uma companhia para operar na UE — cujo anúncio oficial deve acontecer já nas próximas semanas — para conseguir obter um certificado de voo dentro da UE. No entanto, a companhia insiste que a sede e os escritórios serão localizados no Reino Unido. Atualmente, são acionistas de países da UE que detêm 84% da companhia, mas a percentagem deverá baixar para os 49% depois do Brexit, devido ao aumento das ações detidas por Stelios Haji-loannou, que tem dupla nacionalidade britânica e cipriota, e cujas ações vão ser classificadas como europeias e não britânicas. O Financial Times já divulgou que as ações são atualmente classificadas como britânicas para irem de encontro às leis restritivas de propriedade da companhia, que terão de mudar depois do Brexit.
Já a Ryanair, que tem a sua casa-mãe na Irlanda, não vai ter de se deslocar e 60% das suas ações já são detidas por cidadãos europeus. Ainda assim, também esta percentagem vai baixar, para os 40%, quando os investidores britânicos forem excluídos da companhia, tornando assim essencial ganhar mais investidores europeus para se manter de acordo com a legislação vigente. Michael O’Leary, CEO da Ryanair, já veio condenar o “otimismo ligeiramente louco” do Governo britânico em relação ao Brexit.
Outro porta-voz da empresa irlandesa acrescentou: “Apesar de parecer que estamos a encaminhar-nos para um Brexit muito árduo, ainda há muita incerteza quanto ao que o processo realmente vai implicar. Esta incerteza vai continuar a representar um desafio para os nossos negócios durante os anos financeiros de 2017 e 2018”.
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