Pedro Nuno Santos vai a Bruxelas ‘vender’ a geringonça de Costa
Com a queda dos partidos socialistas na Europa, nomeadamente em França e Holanda, a esquerda europeia aspira por uma nova solução. A ideia de uma 'geringonça' europeia vai a debate esta quarta-feira.
O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares vai esta quarta-feira a Bruxelas para apresentar a solução governativa implementada em Portugal. Pedro Nuno Santos vai ser o orador principal do debate “A solução governativa de Portugal: uma inspiração para a esquerda europeia?”, co-organizado pela FEPS (Foundation for European Progressive Studies) e Fundação Res Publica.
A abrir o debate estará o ex-ministro da Presidência de José Sócrates, Pedro Silva Pereira, que é atualmente eurodeputado socialista e presidente da Fundação Res Publica. A sessão conta com a apresentação da investigadora Ana Rita Ferreira, professora de ciência política da Universidade da Beira Interior, autora do trabalho “A solução governativa de Portugal: uma quarta via para as políticas sociais-democratas?”.
Depois será a vez de Pedro Nuno Santos dar o seu testemunho do seu papel de elo de ligação entre o Governo, o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista ‘Os Verdes’. O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares é a cola desta “experiência histórica”, como classifica o texto introdutório deste debate. “Quase dois anos no poder, a solução governativa de Portugal prova que é possível uma alternativa política na Europa”, descreve o texto do mesmo evento.
Este tipo de solução governativa foi bastante especulada em Espanha, depois das eleições terem, por duas vezes, um resultado inconclusivo. Nesses dois momentos, o Podemos e o PSOE negociaram um possível Governo de coligação, mas não foram bem-sucedidos. O líder do partido de extrema-esquerda que se tornou a terceira força política espanhola, Pablo Iglesias, chegou a estar em Lisboa para apoiar a candidata presidencial Marisa Matias. Nesse momento, Iglesias lamentou que o PSOE não fosse como o PS português.
“Oxalá em Espanha contássemos com um Partido Socialista que demonstrasse algo parecido com aquilo que demonstrou o português”, disse em janeiro do ano passado, referindo que “em Portugal tomaram uma decisão positiva em relação a setores que defendiam continuar entrincheirados com os poderosos”. O próprio Pedro Sánchez, então líder do PSOE, esteve em Lisboa no início de 2016, tendo elogiado a solução governativa portuguesa.
Contudo, a solução não foi avante. Em entrevista ao ECO em fevereiro, o presidente dos socialistas europeus, Gianni Pittella, já tinha admitido que a geringonça não era exportável. “Não é um modelo exportável para fora simplesmente porque cada país tem as suas especificidades e peculiaridades”, explica, referindo que não se pode “reproduzir este modelo em diferentes contextos políticos”.
A ideia subjacente a esta discussão levada a Bruxelas é a possibilidade de haver mais alianças à esquerda, dentro da União Europeia, para que os partidos sejam “parceiros estratégicos contra a austeridade”, quebrando a ideia de ‘bloco central’ governativo até agora vigente. O texto classifica o pacto português como uma “excecional história de progressismo e uma inspiração para o movimento social-democrata”.
O debate andará, por isso, à volta da possibilidade do exemplo português servir de “catalisador” de um bloco europeu à esquerda que construa uma nova agenda política, mas também da possibilidade de se construir pontos de unidade entre uma esquerda mais moderada e uma esquerda mais afastada do centro.
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