BCE não mexe na taxa. Draghi muda o discurso?
Com a taxa de inflação a aliviar, o BCE deverá manter a taxa de referência inalterada. As atenções viram-se para as declarações de Mario Draghi.
O Banco Central Europeu (BCE) deverá manter, numa reunião em Talin, na Estónia, as taxas de juro de referência para a zona euro, segundo os analistas ouvidos pela Lusa.
De acordo com o departamento de estudos económicos do banco BPI, antes do final do verão “não se antecipam novidades” de política monetária, mas o BCE deverá reconhecer o cenário de crescimento mais equilibrado, mantendo, contudo, um discurso cauteloso e com enfoque na trajetória de inflação que voltou a recuar em maio, corrigindo um efeito de calendário.
“Entretanto a apreciação da moeda europeia, pelo potencial impacto na inflação, reforça a argumentação a favor dos que advogam a manutenção de uma postura pouco agressiva na comunicação com o mercado”, refere.
Para o economista chefe da Allianz Global Investors (AllianzGI), Franck Dixmier, “com um caminho difícil pela frente, o BCE não tem pressa”.
Para o responsável, quando o banco central “alterar finalmente o curso”, irá reduzir gradualmente os estímulos primeiro, para aumentar os juros de seguida.
“Mas isso não deve acontecer no próximo encontro do banco. Ao invés, o presidente Draghi vai dar ênfase à sólida recuperação na zona euro, ao mesmo tempo que apresenta a baixa inflação-base como motivo para não tomar quaisquer medidas substantivas”, disse.
Para o gestor da corretora XTB, Eduardo Silva, a política monetária expansionista do BCE está a ter um impacto forte no crescimento, emprego e inflação e, de uma forma secundária, tem ainda influência no investimento, nos juros da dívida, no sentimento de mercado e principalmente, está finalmente a servir de catalisador da economia europeia.
“Desde a última reunião, assistimos a um deteriorar ligeiro dos dados económicos, essencialmente dos dados ‘core’ da inflação. Verificamos uma aceleração do crescimento, no entanto a inflação, mesmo perto de máximos de quatro anos, estará realmente numa tendência sólida de subida? Vários analistas não acreditam que a inflação ‘core’ não esteja a subir ao ritmo exigido para sinalizar o final do programa”, referiu.
Assim, para Eduardo Silva, o consenso entre analistas aponta para que existam novidades em termos de política monetária na reunião de setembro ou dezembro.
Até lá, disse, o presidente da instituição, Mario Draghi, “terá de fazer um balanço entre traçar um cenário positivo, sem que anuncie uma inversão na política do BCE”.
Para o gestor de ativos da Orey iTrade, José Lagarto, o “ruído” em torno do BCE tem sido uma constante ao longo dos últimos meses.
“Os países do norte da Europa em geral, e em particular a Alemanha, têm elevado as pressões sobre o banco central de forma a que este inicie o processo de normalização da política monetária, diminuindo os incentivos, subindo taxas de juro e baixando o montante do programa de compra de ativos”, disse.
Mas a resposta até agora por parte de Mario Draghi tem sido a de que a normalização da política monetária acontecerá quando estiverem reunidas as condições necessárias para a manutenção da estabilidade de preços na zona euro, notou José Lagarto, referindo-se aos números relativos à inflação e ao fraco crescimento dos salários.
Por outro lado, avisou, ainda se mantêm eventos de risco na Europa, com eleições na Alemanha e em Itália e ainda as negociações em torno do ‘Brexit’.
Assim, concluiu, o BCE poderá manter hoje a sua política monetária, prosseguindo o discurso de que a atual política monetária continuará a servir os objetivos do banco central, com o programa de compra de ativos a ser levado a cabo até finais deste ano, conforme decisão anterior, e a manutenção dos atuais níveis das taxas de juro.
A principal taxa de refinanciamento do BCE está em 0%, um mínimo histórico fixado em março de 2016.
Em 10 de maio, Mario Draghi disse que a política de estímulos monetários do BCE termina quando se cumprirem os objetivos de inflação e que ainda é cedo para o fazer.
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