Negócio milionário de Neymar viola fair play financeiro?
A compra de Neymar pode colocar em risco a participação do PSG nas competições europeias. Em causa estão as regras do fair play financeiro da UEFA que o clube francês pode não conseguir cumprir.
As regras do fair play financeiro foram implementadas pela UEFA em 2011, mas foi a partir de 2013 que o controlo sobre gastos excessivos dos clubes apertou. Com o iminente negócio recorde de Neymar por 222 milhões de euros, surgem dúvidas sobre o incumprimento destas regras por parte do Paris Saint-Germain (PSG). O presidente da liga espanhola já se mostrou contra a transferência, mas a UEFA é mais cautelosa: só irá pronunciar-se à posteriori dado que o PSG pode vender jogadores para compensar o desequilíbrio financeiro provocado pela maior transferência de sempre do mundo do futebol.
O Porto é um dos clubes que já foram afetados por estas regras. Em junho, a UEFA castigou os portistas com uma multa de 700 mil euros — mais o pagamento condicional de mais 1,5 milhões de euros — e outras penalizações: irão ficar com prémios retidos e haverá uma limitação ao número de jogadores inscritos. Na nota relativa aos ‘dragões’, a UEFA destacava “o impacto positivo geral do fair-play financeiro nos números agora monitorizados”. Falta agora saber o que acontecerá com o PSG se concretizar a compra de Neymar.
O que dizem as regras?
Segundo o site da UEFA, “em termos rigorosos, os clubes podem gastar até mais cinco milhões de euros do que ganham por período de avaliação (três anos)”. Contudo, existe margem para exceder este limite, “se ele estiver inteiramente coberto por uma contribuição/pagamento por parte do(s) dono(s) do clube ou entidade envolvida”, para não acumular dívida insustentável. Para a época de 2017/2018, o limite é de 30 milhões de euros.
Caso as regras sejam infringidas, cabe ao Comité de Controlo Financeiro dos Clubes da UEFA decidir as medidas e as sanções a aplicar. “A não-conformidade com os regulamentos não significa que um clube seja excluído automaticamente, mas não haverá exceções”, explica a UEFA, referindo que são considerados vários fatores, nomeadamente a tendência do resultado do equilíbrio das contas.
Antes de chegar às consequências, o comité tem celebrado acordos com os clubes, numa abordagem de reabilitação, impondo restrições e um plano para chegarem ao break-even. A monitorização da UEFA passa também pelas dívidas em atraso, nomeadamente impostos, salários ou a fornecedores. Em último caso — se não cumprirem as regras — os clubes podem ser desqualificados de competições, impedidos de jogar em competições europeias ou até ver um título ser retirado.
De acordo com este guia da UEFA, atualizado pela última vez em 2015, já foram impedidos de participar nas competições europeias seis clubes por não pagarem aos jogadores ou terem dívidas em atraso a outros clubes. Um clube foi excluído das competições da UEFA por não ter cumprido os requisitos de break-even.
O que diz a UEFA sobre o caso Neymar?
Questionado pela agência noticiosa espanhola EFE, o responsável da UEFA pelo fair-play financeiro, Andrea Traverso, considerou esta semana que “o impacto potencial da contratação de Neymar pelo PSG terá efeitos na economia do clube durante anos”. Contudo, ressalvou que “é complicado avaliar este tipo de operação, uma vez que a UEFA desconhece os planos do clube”.
Traverso apontou para a possibilidade de o clube vender jogadores para colmatar esta despesa e cumprir com as metas das regras. “Só podemos fazer cálculos a posteriori e assim verificar que as regras são cumpridas”, assinala. “Independentemente de recebermos, ou não, uma denúncia, analisaremos os detalhes do negócio para assegurar o cumprimento das regras do fair-play financeiro”, assegurou Andrea Traverso.
Só podemos fazer cálculos a posteriori e assim verificar que as regras são cumpridas.
A cláusula de rescisão de Neymar de 222 milhões de euros é mais do dobro do maior valor alguma vez pago por um jogador de futebol. Esse recorde foi alcançado no ano passado com a transferência de Paul Pogba da Juventus para o Manchester United por 105 milhões de euros. A concretizar-se o negócio, segundo a Reuters, o brasileiro virá a ganhar 550 mil euros por semana — quase 30 milhões de euros por ano. Contudo, segundo a agência, ao abrigo das regras, a despesa com salários dos clubes não pode exceder 70% da sua receita.
Uma das vozes opositoras a este negócio é a do presidente da liga espanhola de futebol, Javier Tebas, que já anunciou, em entrevista ao jornal espanhol As, que irá apresentar uma queixa à UEFA se o PSG avançar para o negócio, alegando o incumprimento das regras de fair play. Segundo o jornal desportivo espanhol, a Marca, também o Barcelona está preparado para se queixar à UEFA caso o negócio se concretize. Já esta quinta-feira a imprensa espanhola revelou que o advogado especialista em direito desportivo, representante do PSG, Juan de Dios Crespo, ficou encarregue de entregar os 222 milhões de euros na sede da Liga espanhola, mas o cheque terá sido recusado.
O impacto potencial da contratação de Neymar pelo PSG terá efeitos na economia do clube durante anos.
Já o PSG tem recusado fazer comentários. O clube de Paris tornou-se uma das equipas mais ricas do mundo depois de, em 2012, ter sido adquirido pela Qatar Sports Investments, um braço de um fundo soberano do Qatar. Segundo a ESPN, o PSG foi sancionado em 2014 com uma multa de 60 milhões de euros, viu a sua equipa para a Liga dos Campeões diminuir de 25 para 21 elementos e teve restrições com transferências. Por causa dessa sanção, o PSG não pode negociar com a UEFA um acordo voluntário, o que dificultará o cumprimento das regras com a transferência de Neymar.
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