“Diferenças biológicas”: Trabalhador da Google dispara contra mulheres na tecnologia
Um trabalhador da Google, cuja identidade não foi divulgada, fez circular um memorando onde afirma que há menos mulheres na tecnologia por "diferenças biológicas".
Numa altura em que várias empresas do setor tecnológico estão a ser atacadas por se afastarem de políticas de integração e igualdade no trabalho, vem a público uma nota de dez páginas escrita por um engenheiro de software da Google, na qual este avança motivos biológicos para a baixa percentagem de mulheres na tecnologia e em posições de liderança.
O trabalhador, cuja identidade não foi divulgada, fez circular o memorando por todos os seus colegas na sede da tecnológica. Por se terem sentido incomodados com o que era afirmado, alguns trabalhadores da Google serviram-se do Twitter para fazer saber que isto estava a acontecer. “Sexista” e impulsionador de uma “cultura machista e misógina” foram alguns dos adjetivos utilizados.
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Na nota, mais tarde divulgada na integra pelo site Gizmodo, o engenheiro da Google garante que a menor percentagem de mulheres no setor tecnológico não se explica apenas pelos fatores culturais e pelos preconceitos de género perpetuados nas empresas, mas porque homens e mulheres “diferem biologicamente em muitas maneiras”, entre as quais:
- As mulheres preferem posições relacionadas com “áreas artísticas e sociais”, porque têm mais “abertura em relação a sentimentos e estética, em vez de ideias”;
- Por procurarem “um maior balanço trabalho-vida”, as mulheres focam-se menos no “status“, “empurrando muitos homens para trabalho com salários maiores, [mas] menos satisfatórios”.
Para além disto, o trabalhador serviu-se da nota para criticar os veículos de integração e promoção da diversidade utilizados pela sua empresa, afirmando que estes instauram “intolerância em relação a ideias e provas que não encaixam numa certa ideologia”, “alienando os mais conservadores”.
“Ao contrário das respostas públicas, recebi muitas mensagens privadas de colegas expressando gratidão por trazer estes assuntos importantes com os quais concordam, mas que nunca tinham coragem de divulgar ou defender por causa da nossa cultura de vergonha e a possibilidade de ser despedido”, pode ler-se na nota.
Departamento do Trabalho está atento à Google
Em abril deste ano, o Departamento do Trabalho norte-americano acusou a multinacional tecnológica de praticar “disparidades compensatórias sistémicas” contra trabalhadores do sexo feminino, violando leis federais. Esta conclusão chegou ainda antes do encerramento da investigação, no entanto, ao The Guardian, um responsável do gabinete afirmou que “o departamento já recebeu provas convincentes de discriminação muito significativa contra mulheres nos postos mais comuns” da empresa.
À luz de tais acusações, e com a pressão sobre a empresa a adensar-se, a Google contratou há pouco menos de um mês uma nova vice-presidente para tomar conta da pasta da diversidade, integridade e governação. Danielle Brown, que passou da Intel para a Google, apressou-se a enviar uma nota aos trabalhadores, garantindo que a nota do engenheiro “avança suposições incorretas sobre género” e que este ponto de vista “não é o que a empresa endossa, promove ou encoraja”.
Portuguesas na tecnologia
Um estudo da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género divulgado no passado mês considera que as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) são uma das áreas em que mais se sente a desigualdade entre géneros, quer seja na formação, quer seja no mercado de trabalho. Entre os jovens que concluíram o Ensino Superior em 2014 na área das TIC, apenas 19,8% eram do género feminino.
Ao ECO, Mariana Moura Santos, designer, empreendedora e fundadora do projeto Chicas Poderosas, afirmou na altura que “a sociedade está distribuída sob a forma de man’s world, quer queiramos quer não, e as próprias mulheres têm isso incutido no ADN”. Contudo, para esta, “temos [as mulheres] de aprender a mexer-nos digitalmente para fazer com que as nossas histórias e a nossa voz cheguem mais longe”.
O mesmo relatório avança ainda que, se o número de mulheres na tecnologia fosse igual ao dos homens, o PIB iria avançar cerca de 9.000 milhões de euros anualmente.
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