O que fará hoje a Moody’s, a mais maldisposta das agências

Agenda da Moody's volta a marcar encontro com Portugal. Mas não é certo que atualize notação depois de não se ter pronunciado nas últimas duas vezes que isso estava previsto. À terceira é de vez?

Os destinos de Portugal e da Moody’s voltam a cruzar-se esta sexta-feira. A agência tem agendado para o dia de hoje uma ação de rating. Mas não é certo que se pronuncie depois de ter faltado à chamada nas últimas duas vezes em que isso esteve previsto este ano. E por isso a dívida nacional continua no “lixo”.

Contactada pelo ECO, a Moody’s diz que “não comenta a respeito de potenciais ações de notação”. “Caso anuncie uma ação de notação, será feito de acordo com suas obrigações regulatórias. Note que o calendário de publicações de risco soberano da Moody’s é apenas indicativo”, frisou a agência.

A resposta da Moody’s envolve algum suspense. Mas não deixa de divergir da posição manifestada por Cristina Casalinho, presidente do IGCP, que explicou em entrevista ao ECO no início de agosto que desta vez a Moody’s vai ter mesmo de fazer qualquer coisa. “O que sabemos é que o próprio regulador, a ESMA, já clarificou e que daqui para a frente terão de fazer qualquer coisa, publicar algum relatório. Pelo menos têm sido essas as indicações que temos tido. Tem-nos sido indicado que têm de alinhar o seu comportamento pelo das restantes agências”, esclareceu Casalinho.

Seja como for, depois do fecho dos mercados desta sexta-feira, conhecemos o desfecho do caso.

"A Moody’s não comenta a respeito de potenciais ações de notação. Caso a Moody’s anuncie uma ação de notação, será feito de acordo com suas obrigações regulatórias. Note que o calendário de publicações de risco soberano da Moody’s é apenas indicativo.”

Moody's

Expectativas elevadas

Depois de a Fitch ter elevado o outlook da dívida portuguesa de estável para positivo em junho, há alguma expectativa de que também a Moody’s o faça agora. Isto significaria que, na próxima decisão de rating da Moody’s, a notação portuguesa poderá finalmente sair do lixo para a primeira agência a retirar o grau de investimento a Portugal, logo em 2011, em vésperas da crise.

Atualmente, a dívida portuguesa cota-se com uma notação de BB+ com perspetivas de evolução estáveis. E, para lá da incerteza se do calendário da Moody’s sairá alguma avaliação, o BiG espera boas novas esta sexta-feira.

“A Moody’s foi a primeira agência de rating a retirar o grau de investimento em 2011, mostrando um comportamento de avaliação conservador e rígido ao longo dos últimos anos. No dia 1 de setembro, esperamos uma subida da perspectiva/outlook do rating soberano de Portugal para positiva, mantendo a classificação em BB+”, adianta ao ECO a equipa de research do BiG.

“Um impulso da avaliação moderadamente positivo emana dos esforços bem-sucedidos na consolidação fiscal, permitindo a saída do Procedimento por Défice Excessivo — colocando Portugal debaixo do braço preventivo mais rigoroso do Pacto da Estabilidade e Crescimento. Contudo, a Moody’s também pode manter a perspetiva estável para o governo provar o seu compromisso de medidas fiscais sustentáveis em seguimento das atuais negociações de Orçamento de Estado 2018”, refere a mesma fonte.

"A Moody’s foi a primeira agência de rating a retirar o grau de investimento em 2011, mostrando um comportamento de avaliação conservador e rígido ao longo dos últimos anos. No dia 1 de setembro, esperamos uma subida da perspectiva/outlook do rating soberano de Portugal para positiva, mantendo a classificação em BB+.”

Equipa de research do BiG

O que vai estar em causa?

Se a Moody’s atualizar finalmente a notação da dívida portuguesa esta sexta-feira, fá-lo nove meses depois da última vez que emitiu uma opinião sobre Portugal. Na altura, a agência norte-americana sublinhou os riscos que mais a preocupava:

  • O elevado fardo da dívida do governo.
  • As perspetivas de crescimento moderadas num cenário de elevado endividamento do setor privado.
  • Fraqueza do setor financeiro.

Quanto ao primeiro ponto, depois de uma subida da dívida no primeiro semestre para máximos de sempre, Mário Centeno reafirmou o objetivo de baixar o rácio de endividamento para 127,6% do PIB, marcando o início de uma trajetória que o ministro espera que chegue aos 109,4% do PIB em 2021. O tema da dívida pública não deverá escapar à análise da Moody’s.

Como aspetos positivos a favor de Portugal surgem o bom desempenho da economia em 2017 e ainda a resolução de grande parte dos problemas do setor bancário.

A atividade económica acelerou na primeira metade do ano e vai ajudar às metas da redução do défice e da dívida. No setor financeiro, houve muitas novidades desde dezembro do ano passado: o BCP conclui o seu aumento de capital e restabeleceu a confiança junto dos investidores; o BPI foi comprado pelos espanhóis do CaixaBank, que conferem maior solidez acionista; a Caixa Geral de Depósitos concretizou o seu plano de reforço de capital e está a implementar finalmente a reestruturação, depois da polémica em torno da anterior administração de António Domingues; e o Novo Banco está em vias de ser vendido ao Lone Star, estando dependente da oferta de recompra de obrigações que está em curso até ao início de outubro

“A economia tem seguido um robusto caminho de crescimento desde 2014, contudo o endividamento privado e público permanecem os importantes fatores da limitação”, explicam os analistas do BiG, deixando em aberto a possibilidade de a Moody’s deixar tudo como estava no sentido de pressionar o Executivo de António Costa nas negociações do Orçamento do Estado para 2018.

“A Moody’s também pode manter a perspetiva estável para o governo provar o seu compromisso de medidas fiscais sustentáveis em seguimento das atuais negociações de Orçamento do Estado 2018. Se Portugal não abordar e corrigir as limitações estruturais como o nível da dívida corporativa e/ou a trajetória da dívida, é improvável que a Moody’s altere a sua decisão de notação a médio prazo”, frisa o BiG.

"A Moody’s também pode manter a perspetiva estável para o governo provar o seu compromisso de medidas fiscais sustentáveis em seguimento das atuais negociações de Orçamento do Estado 2018.”

Equipa de research do BiG

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