Indústria da Madeira e Mobiliário: Depois dos incêndios, “empresários não aguentam mais quatro anos”
Os industriais da madeira e mobiliário queixam-se da falta de matéria prima e dizem que "não aguentam mais quatro anos". Setor diz que vai ficar dependente das importações em 70%.
A indústria da madeira e mobiliário de Portugal está a ser fustigada pelos incêndios que se registam em Portugal. Vítor Poças, presidente da Associação das Indústrias da Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP), adianta em declarações ao ECO que “os empresários nacionais não aguentam mais quatro ou cinco anos“.
Para Vítor Poças, os milhares de hectares de floresta ardida ao longo de 2017, “são uma forte ameaça à sustentabilidade do setor”.
O setor, representativo de cerca de 2500 milhões de euros de exportações, adianta que “a madeira portuguesa para os próximos 4/5 anos é manifestamente pouca, pelo que nos tornaremos dependentes das importações em cerca de 70%”.
“Não podemos vender aquilo que temos, pelo que teremos de ir comprar a Espanha. A falta de matéria-prima já é notória”, acrescenta.
Para já, este ano deverá ainda ser de crescimento para o setor podendo, no entanto, começar já a haver um decréscimo nos produtos de primeira transformação. “Mas o próximo ano irá seguramente refletir uma queda no resultados dos produtos de primeira transformação”, refere.
O presidente da AIMMP adiantou mesmo que “o ano de 2017 significou a maior pancada que podia ter sido dada à indústria. E digo pancada como uma externalidade negativa que pouco tem a ver com a indústria, mas que realmente vem trazer prejuízos avultados”.
"O ano de 2017 significou a maior pancada que podia ter sido dada à indústria. E digo pancada como uma externalidade negativa que pouco tem a ver com a indústria, mas que realmente vem trazer prejuízos avultados.”
Segundo o dirigente associativo, o facto de estes incêndios terem fustigado sobretudo a zona centro do país é ainda mais grave, na medida em que era aí que se concentrava uma grande mancha do pinheiro bravo, que mais alimenta a indústria da madeira e mobiliário.
Vítor Poças salienta que “o fogo constitui uma destruição forte para o pinheiro, uma vez que as árvores afetadas já não rebentam e deviam ser retiradas da floresta para, ou darem lugar a novas plantações, ou para que existisse uma regeneração natural. Em ambos os casos estamos a falar de um ciclo de produção de mais de 20 anos”.
Apesar de tudo, há madeira ardida que pode ser utilizada. “Mesmo a madeira que pode ser utilizada pela indústria perde valor, perde qualidade, perde consistência e resistência mecânica“.
Que soluções existem?
Vítor Poças defende a criação de uma empresa de fomento florestal. Uma ideia que considera revolucionária e que passa “pela criação de uma empresa pública capaz de proceder à agregação de parcelas, com dinheiro para comprar ou permutar terrenos, ou seja, capaz de trabalhar o ordenamento do território”.
“Estou a falar de uma empresa pública que tivesse poder de pressão junto dos proprietários, porque precisamos de dimensão. E muitas vezes o que se assiste é que 100 metros quadrados pertencem a seis ou sete proprietários. Faltando dimensão, falta investimento e falta uma gestão profissionalizada“, sublinha Poças.
Para o presidente dos industriais da madeira e mobiliário, num segunda fase “essa empresa, quando já tivesse dimensão, podia ser vendida a privados”. “Nenhum privado arrisca investir na floresta com o risco de incêndio que existe, não há financiamento bancário e não há quem faça seguros. O Estado seria o único a ter capacidade interventiva no terreno”.
A ideia foi mesmo apresentada há cerca de 15 dias a membros do Governo, nomeadamente aos secretários de Estado das Florestas, Indústria e Internacionalização.
Vítor Poças diz que “o secretário de Estado das Florestas gostou da ideia”. No entanto, sublinha que não basta gostar.
É preciso peso político e, brevemente, terei de me encontrar de novo com ele. É preciso acabar com a ideia do subsídio, o que é necessário é que o Estado crie instrumentos para resolver todas estas questões.
Aliás, Poças salientou que amanhã, quarta-feira, haverá uma reunião da Plataforma de Acompanhamento das Relações da Fileira Florestal, onde irá estar presente o secretário de Estado das Florestas. E apesar de adiantar que não existe relação entre esta reunião e os incêndios do passado fim de semana, Poças reconhece que esse será seguramente o tema dominante do encontro.
O presidente da AIMMP defende ainda a criação de protocolos entre o Estado e os municípios no sentido de contornar a falta de acessos que hoje se regista nas florestas. “É uma vergonha termos caminhos de carros de bois, onde nem passam tratores, quanto mais carros de bombeiros. É urgente que se coloquem máquinas no terreno para fazer caminhos com um mínimo de cinco metros de largura”.
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