Pela sardinha, pescadores de Peniche aceitam parar por cinco meses
"Estamos abertos a baixar os limites de captura, mas deixem-nos pescar", defendem os pescadores, que dependem da captura da espécie.
Defensores da sardinha, a sua ‘galinha dos ovos de ouro’, os pescadores de Peniche querem uma paragem total desta pesca para a frota do cerco e do arrasto durante cinco meses em 2018, mas alertam que não pescar vai destruir o setor.
Com as embarcações encostadas ao cais, depois de, na quarta-feira, se ter iniciado mais um período de defeso biológico da espécie, Hélder Copa, armador da ‘Deusa dos Mares’, recorda à agência Lusa que esta paragem temporária, que se prolonga até abril, “foi exigida” pelo setor desde há vários anos.
Reconhecendo que “é benéfica” para o repovoamento do recurso, é da opinião que em 2018 “se pare totalmente cinco meses” a pesca da sardinha não só para as embarcações do cerco, como também do arrasto, cuja pesca ameaça mais a sustentabilidade ambiental.
O seu irmão, Ernesto Copa, mestre da ‘Princesa das Ondas’ admite que, ao contrário de há vários anos, hoje olha para o defeso como “eficaz” e a paragem ocorrida entre novembro de 2016 e abril de 2017 permitiu ter “sardinha em excesso” ao ponto de os preços terem baixado mesmo no período de verão, altura em que é mais consumida.
A opinião é unânime entre os pescadores, como é o caso de Paulo Leitão, armador da ‘Mestre Comboio’, para quem parar cinco meses “não é preocupante”, o mesmo já não se passa se for proibido de pescar aquela espécie durante todo o ano de 2018, afirma à Lusa.
“Uma sardinha para atingir os 17 centímetros demora um ano, o que significa que em seis ou sete meses de defeso conseguimos ter sardinha com um tamanho razoável”, sem necessitar de pescar petinga — a sardinha juvenil — e pôr em causa o repovoamento, explica Carlos Pacheco, do barco ‘Avô Varela’ à Lusa.
“Estamos abertos a baixar os limites de captura, mas deixem-nos pescar”, pedem, alertando para que “sem sardinha, a pesca do cerco se torna inviável”.
“Um cabaz de sardinha vale 50 euros, enquanto um de cavala grande 13 euros e de carapau 4,5 euros”, justifica Carlos Pacheco, para concluir que não é rentável optarem por outras pescarias.
Seria preciso encher um barco de cavala ou carapau para fazer algum dinheiro, mas essas espécies também não abundam.
Além do defeso de cinco meses, implementado nos últimos anos, em Peniche é aceite a proposta de restringir a pesca nas maternidades da sardinha, localizadas nas regiões Norte e Centro.
“Mesmo com essas restrições, ficam de fora muitas possibilidades de pesca”, tranquiliza Ernesto Copa.
Contudo, alerta Carlos Pacheco, a medida poderá obrigar as embarcações do Norte do país a pescar na zona de Peniche, como aconteceu no último verão, provocando não só uma “sobre-exploração” do recurso, como também uma “descida dos preços”, o que não é desejável.
“Não queremos encharcar o mercado de peixe, mas sim fazer dinheiro”, salienta Hélder Copa.
Os pescadores dizem que, em resultado dos esforços de pesca do setor, se verifica uma melhoria do ‘stock’, comprovada pelas descargas em lota deste verão, colocando por isso em causa os estudos resultantes das pesquisas científicas realizadas pelo navio Noruega.
Enquanto as embarcações mais modernas do cerco estão dotadas de ‘sonares’ que permitem ver os cardumes de sardinha até a uma distância de 500 metros, o navio científico possui apenas tecnologia que lhe permite visualizar o que está à sua profundidade.
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