Governo vai proibir realização de eventos privados no Panteão Nacional
Primeiro-ministro considera que a utilização do Panteão Nacional para eventos festivos "é absolutamente indigna". Vai proceder a alterações na lei que permite o uso monumentos para eventos privados.
O Panteão Nacional, em Lisboa, acolheu um jantar de um grupo de grandes investidores e fundadores de startups que participaram no Web Summit, jantar realizado esta sexta-feira no âmbito da Founders Summit e que está a causar polémica nas redes sociais. O primeiro-ministro já reagiu. Considera que a utilização do Panteão Nacional para eventos festivos “é absolutamente indigna”. E vai proceder a alterações na lei que permite o uso monumentos públicos para eventos privados.
“A utilização do Panteão Nacional para eventos festivos é absolutamente indigna do respeito devido à memória dos que aí honramos”, declarou António Costa. “Apesar de enquadrado legalmente, através de despacho proferido pelo anterior Governo, é ofensivo utilizar deste modo um monumento nacional com as características e particularidades do Panteão Nacional”, acrescentou.
Adiantou ainda que o Governo procederá à alteração do referido despacho, “para que situações semelhantes não voltem a repetir-se, violando a história, a memória coletiva e os símbolos nacionais”.
"A utilização do Panteão Nacional para eventos festivos é absolutamente indigna do respeito devido à memória dos que aí honramos. Apesar de enquadrado legalmente, através de despacho proferido pelo anterior Governo, é ofensivo utilizar deste modo um monumento nacional com as características e particularidades do Panteão Nacional.”
De acordo com o Público, o jantar teve lugar no átrio do Panteão Nacional, o monumento histórico da capital onde estão sepultados alguns dos nomes maiores a História do país, como o escritor Almeida Garrett, o general Humberto Delgado ou a fadista Amália Rodrigues.
Só tiveram acesso a esse jantar exclusivo por convite, relata o jornal, contando que na última semana tiveram lugar outros eventos bastante restritos em locais como o Palácio das Necessidades ou o Palácio da Ajuda.
Na quinta-feira, por exemplo, depois do encerramento do Web Summit, o Governo ofereceu um cocktail no Palácio das Necessidades, onde trabalha o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Foi convidada a “nata das natas” dos fundadores de startups — entre 40 a 60 empresários — que estiveram presentes na cimeira. O próprio primeiro-ministro, António Costa, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, também participaram neste evento.
No mesmo dia, depois do cocktail, os chamados founders jantaram no Palácio Nacional da Ajuda, num evento para o qual Costa estava convidado mas não compareceu, conta o Público.
Estes eventos paralelos ao Web Summit e que são exclusivos não são uma novidade. Mas a realização do jantar no Panteão Nacional causou alguma revolta nas redes sociais. Num dos vídeos, surge Paddy Cosgrave, fundador e CEO do Web Summit, a discursar durante o evento onde refere que “falou com o ministro que lhe disse que era o primeiro jantar alguma vez realizado aqui”.
Tweet from @Vasco_da_Gamba
O antigo diplomata português Francisco Seixas da Costa questiona: “Ajudem-me: acham mesmo normal que o jantar final do Web Summit seja entre os túmulos do Panteão Nacional?”
Tweet from @seixasdacosta
Apesar da polémica, a lei permite a realização de eventos privados em monumentos históricos, incluindo o Panteão Nacional, Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém, o Palácio Nacional de Mafra ou o Museu Nacional Soares dos Reis.
Para o Panteão Nacional, a tabela de preços permite reservar o adro do monumento (com capacidade para 400 lugares sentados) para um jantar por 4.000 euros por noite, enquanto alugar o terraço para um cocktail custa 2.000 euros.
Ex-secretário de Estado da Cultura lamenta
Ao jornal Expresso (acesso livre), o antigo secretário de Estado da Cultura Jorge Barreto Xavier, responsável pela iniciativa legislação que permite a utilização de monumentos e outros espaços culturais, lamenta a decisão do Governo de António Costa de mudar o regulamento.
O ex-governante explica que o despacho por ele emitido “não autoriza nem deixa de autorizar a cedência de um determinado espaço” e até estabelece que as autorizações para a sua utilização “devem salvaguardar a dignidade de cada espaço”.
“Já cansa que o atual Governo tente sempre fugir à responsabilidade, procurando encontrar culpados para as más decisões que toma”. O primeiro-ministro “deu a cara pela Web Summit, deve também dar a cara pela decisão de ceder o Panteão para o jantar”, referiu Jorge Barreto Xavier.
Se o Governo tomou uma decisão no sentido de isso deixar de ser possível, acho que foi uma decisão muito sensata e óbvia, corresponde aquilo que qualquer pessoas com bom senso faria.
Também o Presidente da República já se pronunciou sobre o caso. Esta tarde, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que o Panteão está longe de ser o espaço indicado para a realização de um evento com as características do que aconteceu na sexta-feira. “A imagem que eu tenho do Panteão Nacional não é a de ser um local adequado para um jantar nem que seja o jantar mais importante do Estado“, sublinhou.
(Notícia atualizada às 18h04 com reação do antigo secretário de Estado da Cultura. Atualizada novamente às 18h28 com declarações de Marcelo Rebelo de Sousa)
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Governo vai proibir realização de eventos privados no Panteão Nacional
{{ noCommentsLabel }}