“Não podemos ter salários tão baixos se queremos que o turismo floresça”
A maioria dos representantes do setor tem resistido a aumentos e exige contratos de trabalho mais flexíveis. Mas o presidente do Turismo do Centro defende que é preciso valorizar as profissões.
A criação de emprego nas atividades de alojamento e restauração está a disparar este ano e o setor do turismo é aquele que tem dado o maior contributo para a redução do desemprego em Portugal. O turismo é aplaudido como um dos principais motores da economia, mas falta falar do elefante na sala: um dos setores que mais emprega em Portugal e que mais faz mexer a economia é também um dos que menos paga. No ano passado, o salário médio líquido pago no setor do turismo foi de 614 euros por mês. O presidente do Turismo do Centro não tem dúvidas: se se quer que o turismo continue a crescer, é preciso valorizar as profissões e pagar mais.
“A valorização do setor passa por dois fatores. O primeiro tem a ver com as competências e, para isso, é muito importante o papel das escolas de hotelaria. Mas passa também por uma consciencialização pública do valor que a profissão tem. A profissão na atividade turística nunca foi muito valorizada do ponto de vista social, nem bem paga. É preciso pagar mais“, disse Pedro Machado, à margem do congresso anual da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), a decorrer em Coimbra.
Quem vai para a atividade turística tem de ser reconhecido e não pode ser visto como alguém que foi para ali porque não sabia fazer mais nada.
E continuou: “Se temos uma indústria que é fortemente exportadora, que é responsável por mais de 40% da balança económica do país, não podemos ter salários tão baixos, quando queremos que a indústria floresça e, ao mesmo tempo, que a qualidade do serviço acompanhe o crescimento da indústria. Quem vai para a atividade turística tem de ser reconhecido e não pode ser visto como alguém que foi para ali porque não sabia fazer mais nada”.
A posição de Pedro Machado não é, contudo, consensual entre os empregadores do setor. Neste mesmo congresso, o presidente da AHP, Raul Martins, criticou os contratos coletivos de trabalho que vigoram no setor, que classificou de “obsoletos”, por não responderem “às modernas formas de organização e novas funções da hotelaria, porque estão agarrados a modelos do século XX”. Leia-se: os empregadores querem contratos de trabalho mais flexíveis para poderem sobreviver à sazonalidade.
Também Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), tem resistido a novos aumentos do salário mínimo. Em entrevista recente ao semanário Sol, Calheiros disse que “claramente não há folga para aumentar para os 600 euros” e que essa questão nem sequer foi posta em cima da mesa da Concertação Social.
O presidente do Turismo do Centro reconhece que a sazonalidade é um problema que tem de ser resolvido por sindicatos e patrões — o turismo é diferente de outros setores que “não têm até quatro meses de interrupção da sua atividade”, pelo que “tratar de forma igual aquilo que é diferente é uma injustiça” –, mas insiste na questão do aumento salarial.
“Basta vermos os salários médios pagos na esmagadora maioria daqueles que prestam serviços na atividade turística e percebemos que estamos a falar de salários muito baixos”, sublinha. A responsabilidade, diz, é das associações do setor, a começar pela AHP e pela AHRESP. “Temos associações com grandes responsabilidades que podem discutir este assunto”.
A jornalista viajou para Coimbra a convite da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP).
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