OCDE alerta: choques externos serão um desafio para Portugal
A OCDE alerta que a economia portuguesa será "particularmente" desafiada caso exista um impacto externo. A Organização diz que há uma reduzida capacidade de suportar um choque económico.
A economia portuguesa ainda está vulnerável a impactos externos negativos. O alerta é dado esta terça-feira pela OCDE no Economic Outlook de novembro. A Organização considera que a recuperação económica ganhou “tração” em 2017 graças às reformas estruturais do passado e ao reforço do consumo privado. Para 2018, até é mais otimista do que o Governo: aponta para uma subida do PIB de 2,3% face aos 2,2% esperados por Mário Centeno. Contudo, os riscos de um choque externo persistem, principalmente no setor financeiro.
“Embora a estabilidade do setor financeiro tenha aumentado durante os últimos anos, os ativos de baixa qualidade e a fraca rentabilidade [dos bancos] reduz a sua capacidade de aguentar um choque económico adverso“, assinala a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico. No capítulo dedicado a Portugal, a OCDE nota ainda que o “elevado” nível de crédito malparado e a dívida pública “elevada” fazem com que a economia “real” venha a ser “particularmente desafiada” perante um qualquer choque externo negativo.
A dívida pública mantém-se muito alta, o que limita a capacidade do Governo de responder na eventualidade de existirem choques externos futuros.
Além disso, existem outros fatores que mantêm a economia portuguesa em perigo face crises externas. “O setor privado, especialmente as empresas, continuam a estar altamente endividadas“, assinala a organização liderada por Angel Gurría. Do lado do setor público, a OCDE alerta o Governo de que mais expansão orçamental “pode ter o risco de debilitar a sustentabilidade orçamental”. “A dívida pública mantém-se muito alta, o que limita a capacidade do Governo de responder na eventualidade de existirem choques externos futuros”, aponta o documento.
OCDE mais otimista que o Governo no PIB de 2018
Apesar dos avisos, a OCDE está mais confiante no crescimento económico de Portugal do que o Governo: no Economic Outlook prevê-se uma subida do PIB de 2,3% para 2018 e 2019, enquanto o Executivo prevê um crescimento de 2,2%. Os motores da economia serão a procura interna e as exportações, na ótica da OCDE, uma vez que o consumo vai continuar acelerar devido à criação de emprego. “O crescente consumo privado tem refletido a notável subida do real rendimento disponível e a aceleração do emprego”, assinala a OCDE.
Além disso, o investimento também deverá continuar a acelerar, principalmente pela promessa do Executivo de subir consideravelmente o investimento público no próximo ano. Ao mesmo tempo, o setor privado está a responder à aceleração do consumo privado e aos aumentos da rentabilidade — “o investimento privado tem aumentado rapidamente e existem indicadores que apontam para uma maior intenção de contratar”.
Do lado das contas públicas, a OCDE prevê que o défice de 2017 fique nos 1,5%, acima do objetivo de 1,4% do Governo. Para 2018, a estimativa é de 1%, face aos 1,1% do Executivo. A Organização considera que a política orçamental nesses dois anos será “levemente expansionista”. Contudo, a organização alerta que, no futuro, a política orçamental expansionista deve ser “evitada” dado que é preciso diminuir a dívida pública. Ainda assim, a OCDE sugere que há espaço para tornar a política orçamental mais amiga do crescimento fazendo um ajustamento na composição da despesa e dos impostos.
O crescente consumo privado tem refletido a notável subida do real rendimento disponível e a aceleração do emprego.
“Reformas que promovam a produtividade e facilitem a entrada dos profissionais de serviços iria reforçar a força da recuperação” económica, aconselha a OCDE. Este deveria ser o foco do país, segundo o documento, uma vez que iria promover a produtividade e o dinamismo empresarial.
No futuro, a Organização prevê que o crescimento dos salários aconteça em breve, o que irá “eventualmente traduzir-se” no aumento da inflação. Além disso, a OCDE refere que se a recuperação económica nos parceiros comerciais de Portugal for melhor do que a esperada, isso poderá alavancar as exportações portuguesas e o investimento privado.
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