Exclusivo CMVM contacta bancos e corretoras para travar euforia com a bitcoin
Regulador está em alerta com a euforia dos investidores em relação às moedas digitais e está a realizar uma ação de supervisão junto dos intermediários que vendem produtos associados à bitcoin.
O regulador do mercado de capitais português está a acompanhar de muito perto a euforia em torno da bitcoin e encontra-se inclusivamente a realizar uma ação de supervisão transversal junto dos bancos de investimento e corretoras a operar em Portugal e que vendem produtos financeiros associados à moeda digital, sabe o ECO.
Com esta ação de fiscalização, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliário (CMVM) pretende fazer o apuramento exaustivo de toda a oferta de produtos financeiros que têm como ativo subjacente a bitcoin ou outra moeda virtual, numa ação de fiscalização mais global que tem como objetivo reforçar a proteção dos investidores particulares, o grupo de investidores mais vulnerável à euforia em torno das moedas digitais.
Em concreto, apurou o ECO, a CMVM está a analisar quais os intermediários financeiros a operar no mercado nacional que estão comercializar este tipo de produtos complexos e que permitem aos investidores comprar de forma indireta estas criptomoedas que têm vindo registar enorme popularidade nos últimos meses.
Paralelamente, o regulador liderado por Gabriela Figueiredo Dias está a perguntar aos intermediários de que forma é que estão a comercializar estes produtos financeiros. Pretende ainda saber que tipo de informações estão a ser transmitidas pelos gestores financeiros aos investidores no âmbito da venda destes instrumentos associados à bitcoin.
Contactada pelo ECO, a CMVM não quis fazer qualquer comentário.
80% dos investimentos resultam em perda total
A CMVM está em cima do tema e ainda recentemente alertou os investidores sobre as operações chamadas Initial Coin Offerings (ICO), uma espécie de “oferta pública de ações” realizada na Internet usando uma moeda virtual. Nestas ICO, os investidores compram uma nova moeda digital emitida pela empresa, à qual pagam com euros ou dólares, a moeda física que costumam usar no dia-a-dia.
Estas ICO não são reguladas por nenhuma entidade e os investidores que participam nelas ficam desprotegidos, avisou o polícia dos mercados no alerta emitido no dia 3 de novembro.
Do mesmo modo, também a bitcoin ou outra moeda digital como a ethereum ou litecoin escapam ao controlo das autoridades oficiais — aliás, parte do entusiasmo em relação às criptomoedas tem a ver o fator desregulação. Mas se CMVM pouco pode fazer em relação a quem comercializa bitcoin, porque não são propriamente ativos financeiros, o regulador pode emitir alertas como este que fez em relação às ICO.
A euforia das moedas digitais chegou a Portugal sobretudo por causa dos recordes sucessivos da bitcoin que todos os jornais e televisões cobrem diariamente. E isso está a preocupar a CMVM que tenta proteger sobretudo os investidores de retalho, que possuem menores conhecimentos acerca dos mercados financeiros e das implicações e riscos que muitos dos produtos associados à bitcoin apresentam.
Um estudo europeu da ESMA mostrou que 80% dos investimentos realizados em produtos complexos, com um elevado grau de alavancagem e que têm como ativo subjacente moedas virtuais, apresentam uma perda total para os investidores. Por isso, todo o cuidado é pouco quando se investe nestes instrumentos financeiros, alerta a CMVM.
Opções binárias e CFD na mira
Na mira do regulador estão sobretudo as entidades e os produtos financeiros complexos associados à bitcoin com um grau de alavancagem elevado. Estes instrumentos derivados têm como subjacente um ativo (replica o comportamento de um ativo sem ter de o possuir) e têm implícito um elevado risco para quem os compra.
Esse é o caso das opções binárias e dos CFD (contratos de diferenças) de bitcoin, produtos que estão a merecer particular atenção da CMVM porque as perdas para os investidores podem ser repentinas.
O ECO fez uma ronda por várias corretoras nacionais e encontrou pelo menos duas casas que permitem uma exposição às bitcoin. Tanto no Banco Carregosa como na Orey é possível comprar ETN (Exchanged Traded Notes), um tipo de instrumento financeiro também ele complexo em que a entidade financeira responsável promete ao comprador pagar em função da variação de um índice (neste caso da bitcoin).
No caso do Banco Carregosa, o que se pode transacionar são ETN chamados Bitcoin Tracker One Eur, que se encontram admitidos à cotação na principal bolsa de Estocolmo e a sua variação replica os movimentos protagonizados pela bitcoin. Este produto cotava há um ano nos 33,56 euros, de acordo com a Bloomberg. Hoje em dia já transaciona nos 717,9 euros, ou seja, trouxe ganhos aos investidores na ordem dos 2000%.
Paulo Rosa, trader sénior do Banco Carregosa online, adiantou ao ECO que “alguns clientes já investiram” neste produto. “Mas muitas vezes, os clientes que contactam as nossas salas de mercado sobre bitcoin, fazem-no mais para pedir informação do que para negociar imediatamente”, referiu ainda.
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