O duelo francês visto por portugueses a viver em França

O que dizem os portugueses que vivem em França sobre as eleições? O ECO recolheu opiniões sobre Marine Le Pen, Emmanuel Macron, a queda dos partidos tradicionais e o futuro dos franceses.

Macron é, para muitos portugueses que vivem em França, a luz ao fundo do túnel. Adaptado à realidade francesa, poder-se-ia dizer que é a luz no topo da Torre Eiffel, um dos símbolos mais importantes do país que trouxe a liberdade, igualdade e fraternidade ao mundo. Le Pen é, pelo contrário, vista como inimiga desses valores. Apesar de querer colocar barreiras à globalização e imigração, a candidata também recolhe apoio de portugueses a viver em França.

Como se diz em finanças, Emmanuel Macron está num grande ‘momentum’. A classificação é dada por Sofia Ramos, professora portuguesa a dar aulas em França, ao ECO, recordando que “ele começou do nada, não tem apoio de nenhum partido e chegou onde chegou”. Entretanto, na segunda volta, os apoios multiplicaram-se: de Obama a Hollande, dos derrotados a Merkel, exceto o de Melenchón, pelo menos de forma direta.

Há uma fratura como a que originou o Brexit, mas Sofia Ramos considera que em França essa tendência é mais suave. “As pessoas [que vivem] mais fora dos centros urbanos são mais eurocéticas, mas no geral os franceses são europeístas“, explica ao ECO, referindo que essa é a razão pela qual Marine Le Pen “não tem tanto sucesso com o seu ‘Frexit'”.

É por isso que esta professora portuguesa considera que Le Pen teria mais votos se falasse apenas em imigração, excluindo a saída da União Europeia do seu discurso. “O Frexit não é assim uma coisa muito popular”, afirma, com base na sua experiência de contacto com franceses. “Ela [Le Pen] não está a considerar os custos que isso tem efetivamente para a França“, remata.

Independentemente de quem suceda Hollande, a herança deixada é pesada. “As pessoas sentem que a economia não vai muito bem”, considera Sofia Ramos, referindo como ponto mais preocupante o desemprego que, “nomeadamente em algumas pessoas de 50 anos, foi muito forte”. E, tal como a questão da imigração, é dos fatores que mais impacto direto tem na vida das pessoas. Apesar de também estar cética em relação às sondagens, Sofia Ramos vê Macron com uma imagem de “dinamismo e modernismo” que tende a beneficiar o candidato que ainda não completou 40 anos.

"Vou ter de votar no candidato ‘menos pior’ e não em alguém que me deve representar.”

Joana Solleliet

Portuguesa a viver em França

De uma outra perspetiva, uma jovem portuguesa em França, Joana Solleliet, partilha da mesma opinião, rejeitando por completo um voto na Frente Nacional por questões “históricas” e de “valores humanos”, ainda que Le Pen tenha tentado afinar o discurso do partido face ao que o seu pai defendia. A portuguesa faz um paralelo com as eleições de 2002 entre Jacques Chirac e o pai de Le Pen para demarcar as diferenças: Solleliet não vê tanta mobilização contra Le Pen como nesse ano nem uma vantagem tão grande de Macron como Chirac teve, dado que o independente é visto como uma escolha de “menor mal” para muitos eleitores.

“A situação atual para as eleições em França é muito triste porque vou ter de votar no candidato ‘menos mau’ e não em alguém que me deve representar, como se pretende numa democracia”, comenta a portuguesa ao ECO. E é também essa falta de confiança na atual democracia francesa que levou a uma segunda volta com um candidato independente e uma candidata da extrema-direita, maioritariamente fora do horizonte do Eliseu.

Joana elenca os motivos: promessas não cumpridas, escândalos financeiros e a situação económica atual do país. A solução? “É necessária uma mudança do sistema, algo que é reivindicado pelos candidatos fora do sistema“, atira.

"As grandes clivagens parecem-me ser, uma vez mais, identitárias.”

Tiago Moreira Ramalho

Português a viver em França

Outro português em França, Tiago Moreira Ramalho, considera que Macron cavalgou os eleitores deixados pela viragem à esquerda de Hamon e o escândalo de Fillon. “Macron pode capitalizar o descrédito de Fillon que decorre do escândalo de corrupção, e um largo eleitorado do PS que não se revê naquilo que consideram o radicalismo tanto de Hamon como de Mélenchon”, explica em declarações ao ECO.

No entanto, mesmo o fenómeno do independente não é assim tão novo, dado que “François Bayrou, por exemplo, que teve perto de 19% na primeira volta em 2007”.

Do seu ponto de vista, não é tanto o euroceticismo e a economia que dominam a campanha, mas a imigração e o terrorismo. “As grandes clivagens parecem-me ser, uma vez mais, identitárias, especialmente em torno da questão islâmica em França e a associação entre Islão e terrorismo”, considera. Mas não há dúvidas de que a economia francesa “está algo estagnada” e que o desemprego continua “relativamente alto”.

"Não podemos esperar um resultado de surpresa como nos EUA porque as situações não são nada idênticas.”

Ricardo Vieira

Português a viver em França

Para Ricardo Vieira, pianista a viver em França desde 2008, esta é a segunda eleição a que assiste. Em relação à primeira que assistiu e que elegeu Hollande como Presidente de França, o português refere que “os franceses estão bastante mais confusos e perdidos na sua intenção de voto”. Ainda assim, rejeita um paralelismo com os Estados Unidos: “Não podemos esperar um resultado de surpresa como nos EUA porque as situações não são nada idênticas”.

Ricardo Vieira aposta em Macron para vencedor, argumentando que a diferença perante Le Pen é significativa, mais do que era entre Hillary e Trump. Além disso, o pianista nota os apoios diretos de personalidades como Obama, François Bayrou e até o próprio Hollande. “É interessante ver Macron num movimento criado por ele em abril de 2016 chegar a favorito para Presidente da Republica Francesa”, um ano depois.

O pianista português que vive em França espera uma abstenção em máximos, comparada com a que se registou em eleições presidenciais anteriores. “Sem dúvida o Presidente que chegar ao poder não será por muitos considerado ‘O’ Presidente de França”, diz. Contudo, Ricardo Vieira diz que há um ponto positivo: a campanha de ódio de Le Pen perdeu o seu vigor dado que em Paris a candidatou não chegou aos 5% dos votos, sendo que esta é a região com mais emigrantes.

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BE negoceia com o Governo escalões de IRS para 2018

  • ECO
  • 7 Maio 2017

Pedro Filipe Soares revela, em entrevista, que está a negociar com o Governo a alteração aos escalões. A discussão assenta no custo da revisão.

Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, quer que a alteração aos escalões de IRS seja uma realidade no Orçamento do Estado para 2018. O BE está a negociar com o Governo a entrada do dossiê no próximo OE, mas admite que ainda não sabe quanto irá custar a alteração.

Em entrevista à TSF e Diário de Notícias, Pedro Filipe Soares diz que “os acordos têm de ser cumpridos e ainda não foram cumpridos”. Entre esses acordos está a “alteração dos escalões do IRS, devolvendo dinheiro, através da redução de impostos, aos trabalhadores, particularmente dos escalões mais baixos…”.

“Nós estamos, neste momento, a negociar a entrada desse dossiê no Orçamento do Estado para 2018. Por isso, nós não discutimos com notícias públicas ou com fontes que não dão a cara; nós discutimos diretamente com o Governo estas matérias. E o que está em cima da mesa é que nós possamos ter, no Orçamento do Estado para 2018, um aumento do número de escalões de IRS”, refere

Pedro Filipe Soares diz que “a negociação não é com o Partido Socialista, é com o governo, o que nós estamos a fazer”. “A disputa que está, neste momento, em causa não é se se faz ou não a alteração dos escalões para 2018”, diz o líder parlamentar do BE. O ponto está no custo da medida. O que está “à mesa de negociações é qual é o valor deste pacote orçamental, se tem mais ou menos efeito na alteração dos escalões de IRS”.

“Essa é a discussão e é a discussão que nós estamos a fazer com toda a abertura. Há aqui uma divergência no que toca ao valor: o governo, indicativamente, colocou no Programa da Estabilidade que seria um valor de cerca de 200 milhões de euros; nós achamos que isso é manifestamente insuficiente face ao caminho que gostávamos de fazer para, no final da legislatura, acabar com as alterações de impostos que o Vítor Gaspar fez e que foi aquele enorme aumento de impostos”, nota.

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Emmanuel Macron: “Defenderei a França, defenderei a Europa”

Os primeiros resultados dão como garantida a vitória de Emmanuel Macron, com mais de 65% dos votos. Le Pen já assumiu a derrota. Acompanhe ao minuto a noite eleitoral francesa.

Depois da primeira volta há duas semanas, a França foi novamente às urnas este domingo. Emmanuel Macron, do movimento “En Marche!”, venceu as eleições por larga margem, com uma percentagem de votos estimada em mais de 65%. Marine Le Pen, da “Frente Nacional”, já assumiu a derrota. Siga aqui, ao minuto, as principais notícias da noite eleitoral.

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Voos da Qatar Airways e turismo na agenda de Costa

  • Lusa
  • 7 Maio 2017

O primeiro-ministro parte para o Qatar com o objetivo de garantir voos regulares para Lisboa da Qatar Airways. Procura também investimentos na ordem de vários milhões de euros no setor do turismo.

Investimentos na ordem de vários milhões de euros no setor do turismo e voos regulares para Lisboa da Qatar Airways são dois dos assuntos económicos na agenda da visita de segunda-feira do primeiro-ministro ao Qatar.

Fonte do executivo português referiu à Lusa que o Qatar é um país com uma presença económico-financeira “discreta”, mas em crescimento em Portugal, sendo apontados como exemplos dessa realidade as suas participações de 2,27% no capital da EDP, o investimento na Vinci e, mais recentemente, o projeto de hotel do grupo W no Algarve (de quase 300 milhões de euros).

A visita de António Costa ao Qatar, na perspetiva do executivo de Lisboa, poderá permitir a expansão de negócios, para além do turismo, em áreas como a construção civil, obras públicas, agroalimentar, energia e saúde.

“Portugal apresenta-se como um país com políticas fiscais competitivas para o investimento externo e com vantagens administrativas garantidas para investimentos privados, caso dos vistos Gold”, salientou a mesma fonte.

No processo de expansão das relações comerciais entre os dois países, está previsto que em 2018 passe a haver um voo direto entre Lisboa e Doha da Qatar Airways, bem como a abertura pela empresa BIMTEC (ramo da construção, engenharia e projetos) de uma representação em Portugal, tendo em vista funcionar como plataforma para o resto da Europa e América do Norte.

Apesar destes negócios, a balança comercial entre Portugal e o Qatar é ainda reduzida: as exportações portuguesas atingiram 17,8 milhões de euros em 2015 e aumentaram para 28,6 milhões de euros em 2016.

Já as importações nacionais estavam nos 19,1 milhões de euros em 2015 e baixaram para 13,9 milhões de euros em 2016. O Qatar, em janeiro de 2017, posicionava-se como o 72º cliente de Portugal e o seu 84º fornecedor.

De acordo com dados fornecidos pelo executivo de Lisboa, o número de empresas exportadoras portuguesas “tem vindo gradualmente a aumentar, sendo 247 empresas as que venderam para o mercado do Qatar em 2015 – isto, quando em 2014, eram apenas 203.

O maior volume de exportações portuguesas pertence aos setores dos minerais e minérios, vestuário, máquinas e aparelhos, madeira, cortiça e produtos agrícolas – produtos que, em conjunto, representam 62% do total exportado.

Portugal, por sua vez, importou principalmente plásticos e borrachas, químicos, vestuário, veículos e outros materiais de transporte.

Ainda no que respeita às relações económicas entre os dois países, as empresas portuguesas atualmente presentes no Qatar operam principalmente nos setores da arquitetura, engenharia, construção e tecnologia, esperando-se a curto prazo a entrada de outras dos ramos farmacêutico, têxteis (caso da Sacoor) e agroalimentar.

Em sentido contrário, o Governo português está a acompanhar a entrada da holding Al Faisal em Portugal, que se encontra já a analisar oportunidades de negócio em tecnologias de ponta e saúde, para além dos setores hoteleiro e imobiliário.

No final de 2016, a holding Al Faisal, um dos principais grupos financeiros privados do Qatar (com um património líquido estimado de pelos 2,2 mil milhões de dólares), comprou 78.46% do Banif Malta.

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Banco (pouco) Popular. O sol brilhará de novo?

Banco tem um plano chamado Sunrise com o qual quer voltar à ribalta. Mas a carteira intoxicada com malparado pode não deixar outro caminho senão a fusão com uma grande instituição. Voltará a brilhar?

Banco Popular apresentou prejuízos de 3,5 mil milhões de euros em 2016.Fotomontagem: Raquel Sá Martins

Sunrise. O Banco Popular tem um plano para voltar à ribalta. O banco espanhol atravessa extremas dificuldades com o elevado volume de ativos tóxicos. Um problema de 37,4 mil milhões de euros que está a consumir o capital aos acionistas e a cabeça ao recém-chegado presidente executivo Emilio Saracho. Na última intervenção junto dos acionistas, Saracho não podia ser mais claro: “Estamos condenados a aumentar o capital”. Não há muitas mais alternativas para uma instituição que pode ser engolida por outro grande banco.

O Banco Popular quer “ver o dia nascer” depois de um eclipse total em 2016. Fechou o ano passado com prejuízos históricos de 3,5 mil milhões de euros. E está em vias de chamar novamente os acionistas para pedir dinheiro, depois de novo trimestre no vermelho em 2017: prejuízos de 137 milhões de euros.

Desde 2012, já fez três aumentos de capital no valor global de 5,5 mil milhões de euros. Que foram insuficientes para os buracos abertos com a aposta no imobiliário e noutros ativos problemáticos. Os analistas falam em necessidades de 4,2 mil milhões de euros para repor os rácios de força financeira. Contas feitas, é muito dinheiro para um banco que está avaliado em 2,8 mil milhões de euros.

Apesar de ser um dos bancos mais rentáveis no negócio das pequenas e médias empresas, o Banco Popular está a passar um mau bocado por causa do bilionário problema com os ativos tóxicos (non performing assets, NPA), onde se inclui uma pesada carteira de malparado (non performing loans, NPL) avaliado em mais de 19 mil milhões de euros. São empréstimos cujas cobranças são muito duvidosas e têm obrigado bancos em toda a Zona Euro a registar imparidades — bancos portugueses incluídos — e a um esforço para construir capital para eventuais necessidades futuras.

Malparado disparou em 2012 com a crise bancária em Espanha

Fonte: BPI Research (valores em milhões de euros)

Depois da bolha imobiliária em Espanha, a economia espanhola quase foi ao fundo em 2012, deixando empresas e famílias espanholas sem condições para honrarem os seus compromissos de reembolso junto do banco. A fatura sobrou para os bancos mais expostos ao mercado dos imóveis.

No caso do Popular, viu o malparado disparar 51% no curto espaço de um ano, dos 14 mil milhões para um montante superior a 21 mil milhões em 2013. Se o Banco Central Europeu (BCE) veio retirar lucros aos bancos com a política de juros baixos para promover a economia, os empréstimos de cobrança duvidosa complicaram ainda mais as contas do banco.

Nascer de novo

Saracho completou recentemente 50 dias à frente do Popular. É pouco tempo para dar a volta à instituição, mas aquele que é considerado o melhor banqueiro espanhol, ex-JPMorgan Chase, quer um novo amanhecer para o banco “pelo qual vale a pena lutar”. Foi isso que disse aos acionistas quando no mês passado abriu a porta a um novo reforço de capital no banco.

Em 2016, o Popular apresentou provisões de 5,7 mil milhões de euros para “limpar” o seu balanço, três vezes mais do que havia registado em 2015, e 1.000 milhões acima daquilo que os próprios responsáveis esperavam. Mas este esforço para por dinheiro de lado não teve propriamente impacto na capacidade de absorção do risco dos seus ativos não rentáveis (os NPA). O banco queria um nível de cobertura sobre os ativos problemáticos de 50% no final do ano passado. Mas o aumento destes ativos para um total de 37,4 mil milhões de euros levou a que o rácio de cobertura ficasse nos 45% — estava nos 38% no final de 2015.

Por causa da magnitude de provisões, os prejuízos do banco dispararam naquele que foi o pior resultado na sua história de mais de 90 anos, excedendo largamente o montante que o banco havia levantado no último aumento de capital, realizado a meio do ano passado, na ordem dos 2,5 mil milhões de euros. Consequência: os rácios de capital do banco foram ao fundo novamente.

Prejuízos superam os cinco mil milhões desde 2012

Fonte: Bloomberg (valores em milhões de euros)

No âmbito do plano Sunrise (nascer do sol) está, entre outras medidas, a criação de um banco mau para “desintoxicar” a carteira do Banco Popular. Isso aliviaria as necessidades de dinheiro fresco para o banco cumprir os requisitos das autoridades europeias, que têm forçado o sistema financeiro a robustecer as suas finanças.

Em todo o caso, no final de 2016, os parâmetros que medem a força do banco apontavam para um agravamento da fragilidade da instituição. O rácio CET1 phased-in estava nos 12,1%, abaixo dos 13,1% registados um ano antes.

Vender ativos mas Portugal fica

O banco deverá precisar de mais 4,2 mil milhões de euros, segundo as estimativas dos analistas. A venda de ativos está prevista no tal programa Sunrise e poderá ajudar a obter capital e reduzir necessidades. A imprensa espanhola tem noticiado com frequência que Emilio Saracho deve promover a alienação de algumas das subsidiárias internacionais do Banco Popular e também a banca de investimento. Vendeu ainda esta semana o Popular Servicios Financieros à Abanca num negócio que representou uma mais-valia de 6,7 milhões de euros. Em relação a Portugal, é para manter.

A operação portuguesa, que chegou a ser dada como descartável, deverá continuar no Popular porque aquele responsável acredita que o banco tem mais a ganhar mantendo-se em Portugal do que com a venda do negócio, segundo adiantaram fontes próximas de Saracho ao jornal económico Cinco Dias.

Em Portugal, a atividade do banco já reduziu de dimensão. Ao ECO, o fonte do banco adiantou que já saíram os cerca de 300 trabalhadores do banco e já encerraram os 47 balcões. Estas medidas que fazem parte da reestruturação que vai tornar Popular Portugal numa sucursal da casa mãe no último trimestre do ano. Não obstante o downsizing, o banco diz que está por cá para ficar e para crescer.

Popular já foi bem mais popular na bolsa

Fonte: Bloomberg (valores em euros)

Ainda assim, há mais ativos considerado non core, nomeadamente posições na Wizink, Aliseda, TotalBank. São negócios que podem aliviar as necessidades dos 4,2 mil milhões para os 2,7 mil milhões.

Estas operações podem ajudar Saracho a devolver alguma confiança ao banco junto do mercado que chegou a avaliar o Popular em cerca de 20 mil milhões. Caso contrário, pode estar a caminho de uma OPA.

Os jornais espanhóis referem em concreto uma proposta que o BBVA pôs em cima da mesa por cerca de seis mil milhões no final de novembro do ano passado. Já se falou no Sabadell, mas dificilmente os acionistas iriam aceitar ser integrados num banco mais pequeno.

Com o BBVA (ou mesmo o Santander, dizem os analistas), a fusão seria mais facilmente “digerida” para os acionistas do Popular. É um banco de grande dimensão e a oferta de ações em troca do Popular poderia ser um caminho alternativo para o sol brilhar de novo.

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Qual é o indicador de que Costa mais se orgulha? Do Eurobarómetro

  • ECO
  • 6 Maio 2017

António Costa encerrou a convenção autárquica do PS - e da candidatura de Manuel Pizarro no Porto - a revelar o "orgulho" no Eurobarómetro e a pedir um acordo de regime na reforma do poder local.

António Costa não esperava ter uma Convenção Autárquica tão agitada, tudo corria sobre rodas, mas Rui Moreira trocou-lhe as voltas no dia anterior e obrigou-o a ‘inventar’ uma candidatura de emergência à Câmara do Porto com o ‘óbvio’ Manuel Pizarro. Perante centenas de autarcas, Costa falou, muito, do último ano de governação e sinalizou qual é aquele de que mais se orgulha. “Dos vários indicadores que eu tenho visto sobre este ano e meio de governação, aquele que me tem dado mais orgulho é o indicador do Eurobarómetro de como entre 2015 e 2016 os portugueses duplicaram a confiança no governo e na assembleia da república”.

O secretário-geral do PS elencou, claro, os dados económicos, desde logo o emprego. Há um ano, estávamos a lutar contra as sanções, mas menos de um ano depois, cumprimos as nossas obrigações e aguardamos que a CE retire Portugal do Procedimento dos Défices Excessivos. Nesta mudança, funda-se um dos maiores ganhos deste ciclo de governação. Os cidadãos recuperaram confiança, os investidores recuperaram confiança, os investidores estrangeiros voltaram a confiar no nosso país, e por isso nós não temos só melhores resultados orçamentais, nós temos também melhores resultados económicos. O país tem mais 153 mil postos de trabalho do que tinha anteriormente”.

E sublinhou, logo a seguir, o orgulho no Eurobarómetro. “E hoje quando se fala tanto em populismo, aquilo que mata mesmo o populismo é sermos capazes de reconstruir uma relação de confiança com os cidadãos, em que os cidadãos digam “sim, podemos acreditar neles, porque quando eles dizem, eles fazem e quando dizem que não fazem, não vão efetivamente fazer”.

Na convenção que dá início formal à campanha pré-eleitoral autárquica para as eleições de 1 de outubro, António Costa fixou o que é o principal objetivo do partido: “Qual é ambição? A nossa é ganhar estas eleições autárquicas e ganhar é, desde logo, continuarmos a ter a presidência da Anafre e da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP)”. E, numa referência óbvia ao Porto e à candidatura de rajada de Manuel Pizarro, Costa atirou: “Não há vitórias antecipadas, nem derrotas antecipadas, e quando o PS entra em jogo, entra em jogo para ganhar”.

A reforma do poder local, claro, esteve presente neste discurso. E pressionou Pedro Passos Coelho. A reforma do poder local e a transferência de competências para as câmaras “não pode ser a reforma do PS, mas a reforma de todos”, insistiu. E lançou um desafio: Costa quer saber se na Assembleia da República todos os partidos acompanharão ou não o governo para fazer uma reforma do poder autárquico. “Se têm ou não vontade política para concretizar esta reforma, antes das eleições autárquicas, para entrar em vigor em 1 de janeiro de 2018, para todas as câmaras e freguesias”.

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Morreu António Pires de Lima, ex-bastonário da Ordem dos Advogados

  • Lusa
  • 6 Maio 2017

O estado de saúde do antigo bastonário da Ordem dos Advogados degradou-se nos últimos anos. O velório de António Pires de Lima realiza-se este domingo.

António Pires de Lima, 80 anos, morreu ao início da tarde deste sábado, no Hospital da Luz, em Lisboa, onde se encontrava internado desde o início da semana, disse à Lusa fonte familiar. O antigo bastonário da Ordem dos Advogados (OA), cuja saúde se degradara nos últimos anos, morreu rodeado da família, acrescentou a mesma fonte.

O velório de António Pires de Lima realiza-se a partir das 14h00 de domingo na igreja dos Santos Reis Magos, ao Campo Grande, em Lisboa. Na segunda-feira, às 13h00, haverá missa de corpo presente na igreja, realizando-se de seguida o funeral para o cemitério do Alto de S. João, em cujo crematório o corpo será cremado, às 15h00.

António Pires de Lima nasceu em 30 de Outubro de 1936 na freguesia de Santa Maria Maior, concelho de Barcelos, distrito de Braga.

Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em 1958, António Pires de Lima era casado e pai de quatro filhos e foi bastonário da OA no triénio 1999/2001.

Advogado em regime de profissão liberal, foi consultor jurídico em vários organismos e sociedades e mediou arbitragens de âmbito internacional. Foi também membro do Tribunal Arbitral.

Entre as condecorações e louvores que obteve contam-se a das medalhas das campanhas em Angola em 1966/68, onde cumpriu serviço militar obrigatório entre 1957/59 e para onde foi reincorporado em 1960/61 e 1966/68, e a medalha de Benemerência da Cruz Vermelha Portuguesa.

Comenda de Mérito Civil Espanha e a Comenda de Número da Ordem Isabel a Católica foram outras das condecorações atribuídas a António Pires de Lima.

Foi ainda membro do Conselho Distrital e vice-presidente do conselho geral da OA e do Conselho Nacional de Profissões Liberais, membro da Junta Directiva da Câmara do Comércio e Indústria Luso-Espanhola, e vice-presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, entre outros.

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Rui Rio: Regionalização “bem feita” diminui a despesa pública

  • Lusa
  • 6 Maio 2017

O antigo presidente da Câmara do Porto disse este sábado que "no dia em que Portugal se predispuser a fazer um debate sério e sensato sobre a regionalização", o país dá "um passo em frente".

O antigo presidente da Câmara Municipal do Porto Rui Rio (PSD) disse este sábado que uma regionalização bem feita diminui a despesa pública e defendeu um debate sério e sensato sobre o tema em Portugal.

“Eu acredito que no dia em que Portugal se predispuser a fazer um debate sério e sensato sobre a regionalização, damos um passo em frente — ou podemos dar, se a coisa for bem feita — para ter uma despesa pública menor e uma despesa pública muito mais eficiente”, disse Rui Rio, em Pombal, durante um encontro de autarcas do PSD.

Intervindo no II Congresso de Autarcas do PSD do distrito de Leiria, o também antigo vice-presidente social-democrata nas lideranças de Durão Barroso, Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite, afirmou que a regionalização não aumenta a despesa pública “ao contrário do que muitos pensam e dizem”.

Rui Rio destacou a performance do poder local em Portugal ao nível económico e financeiro, mas também no desenvolvimento municipal, frisando que na dívida pública de cerca de 130% do Produto Interno Bruto (PIB) “a parte correspondente às câmaras municipais é de apenas 2,5%”.

“Quem deu cabo das finanças públicas deste país não foram as autarquias, foi a Administração Central. Quem é despesista é a Administração Central. Isto é absolutamente inequívoco”, argumentou. Para Rui Rio, em 40 anos de poder local democrático, as câmaras “endividaram-se pouco” e fizeram um trabalho “notável”. No entanto, admitiu que há câmaras “muito mal geridas”. “E há câmaras muito bem geridas e câmaras assim-assim, há de tudo. (…) E se tirássemos as 10 ou 20 piores, então é que isto [a dívida] ficava em nada”, frisou Rui Rio.

Defendeu igualmente que quanto mais perto os políticos, como os autarcas, estão dos problemas, “maior é a capacidade para gerir bem os recursos disponíveis”. “Se estamos perto, conseguimos fazer mais com menos, se estamos muito longe dos problemas, erramos mais, fazemos menos e gastamos também mais. Se as finanças públicas estão como estão, não é [culpa] do poder local, ponto. Não é mesmo”, reforçou.

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Trabalho remoto: já não é preciso picar o ponto

  • Juliana Nogueira Santos
  • 6 Maio 2017

Da informática à criação de conteúdo multimédia, já são muitos os profissionais que trabalham remotamente. O ECO foi saber porquê.

A digitalização mudou radicalmente o funcionamento do nosso quotidiano, desde coisas tão pequenas como a forma como socializamos, até à forma como trabalhamos. A facilidade de acesso a ligações rápidas de internet, a flexibilização dos sistemas de trabalho e a naturalidade com que já são encaradas as relações virtuais foram fatores que possibilitaram o aparecimento de novas modalidades de trabalho, como é o caso do trabalho remoto.

Um trabalhador em regime de trabalho remoto é aquele que trabalha fora dos escritórios de uma empresa, mas que continua a produzir para a mesma. Estes podem ser freelancers, trabalhadores remotos — aqueles que têm um espaço fixo de trabalho — ou completamente nómadas — aqueles que simplesmente têm o mundo inteiro como escritório.

E quais são os trabalhos que podem passar a este regime? Em média, cerca de metade das profissões que existem hoje podem ser executadas a partir de qualquer lugar. A informática, o design, a arquitetura, a criação de conteúdo multimédia, as vendas e o atendimento a clientes são todas áreas remote friendly, mas espera-se que com os avanços tecnológicos, esta lista se torne bastante mais extensa.

Mas será que vale a pena trabalhar remotamente? O ECO falou com quem já o fez, quem o estuda e quem o prepara para que possa perceber se, no seu caso, esta mudança de vida vale a pena.

Uma mudança de chip

Pedro Oliveira começou a trabalhar remotamente em 2012. Ele estava em Lisboa e a empresa para a qual trabalhava em Leiria. A proximidade cultural e geográfica era grande, pelo que Pedro não sentiu muitas diferenças: “Se houvesse algum problema, em duas horas estava na empresa”.

Em 2015 fundou, juntamente com José Paiva, a Landing.jobs, uma plataforma de recrutamento em tecnologia e passou a gerir a equipa remotamente a partir de Londres. “É preciso mudar completamente o chip” garante, ao ECO, Pedro Oliveira. “A forma como se trabalha muda drasticamente, mas a motivação é tudo”.

A autonomia e a flexibilidade são duas características do trabalho remoto que agradam a Pedro. “Se antes se media o esforço pelas horas, agora mede-se através dos objetivos. Deixa de fazer sentido picar o ponto”. Além disto, e como habitualmente são trabalhos que necessitam de muito foco, ajuda ter um espaço próprio de concentração.

Ainda assim, afirma que o esforço para que esta solução resulte tem de vir não só do trabalhador, mas também da empresa, aspeto que não se tem vindo a observar. “Há um desequilíbrio entre os dois lados. As empresas não estão a acompanhar as vontades dos trabalhadores”, nota Pedro Oliveira.

A sua empresa, a Landing.jobs conta atualmente com quatro membros da equipa em regime de trabalho remoto, sendo que dois estão em Londres, um em Barcelona, um em Colónia. A restante equipa, cerca de 20 trabalhadores, está nos escritórios de Lisboa.

Remoto e produtivo

Para Tiago Sá “mudar o chip” não tem sido muito difícil. Corria o ano de 2015 e o informático trabalhava em Londres, numa startup, mas a distância do seu país estava a deixá-lo cansado da cidade. Queria voltar para Portugal. “Cheguei a despedir-me porque não havia muito para mudar de ideias”, afirma Tiago.

A empresa compreendeu a situação, mas não estava disposta a perder um dos seus empregados, por isso propôs que o informático voltasse para Lisboa e continuasse a colaborar remotamente. Tiago aceitou a proposta e a startup preparou tudo a preceito: “Puseram câmaras nos escritórios e eu acompanhava tudo o que estava a acontecer. Quando tínhamos reuniões por Skype, era só aceder à câmara da sala e conseguia ver toda a gente.”

Tiago Sá é web developer na ASOS, uma loja online de moda.

Durante os anos de faculdade Tiago já tinha trabalhado em regime de freelancer, pelo que a rotina não foi um choque. As diferenças foram mais expressivas nos resultados ao fim do dia: “Quando mudei para remoto, fiquei mais produtivo”, confessa Tiago. “No escritório é mais fácil perder o foco.”

Entretanto passou para outra empresa, no mesmo regime, mas em casa o mais difícil era organizar-se. Não por razões pessoais, mas porque esta nova empresa não o permitia. “A organização é muito importante, um empregado que esteja em casa stressa muito se não souber o que fazer”

Já no princípio deste ano, chegou a altura de procurar outro desafio. A oportunidade veio da cidade que já conhecia bem, Londres. “Custa-me muito estar parado e achei que podia aprender mais em Londres, por isso aceitei”, recorda Tiago. Voltou então para a capital britânica em fevereiro deste ano para trabalhar como web developer nos escritórios da ASOS, uma conhecida loja de moda online.

As transformações que advêm desta nova modalidade de trabalho não se restringem ao ecossistema do trabalhador, mas também à sociedade, como explica ao ECO Isabel Paredes, especialista em Recursos Humanos e professora assistente na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. “Para a sociedade, o teletrabalho pode trazer maior estabilidade comunitária, dado que não é necessário o teletrabalhador mudar de local de residência para um local próximo das instalações da empresa, um aumento do empreendedorismo, menos poluição, com a redução das viagens casa-trabalho-casa, e uma utilização mais eficaz dos recursos energéticos.”

Longe da vista, longe do coração

Se por um lado trabalhar em qualquer lado torna tudo mais flexível para o trabalhador, por outro pode trazer algumas complicações. A ausência constante dos escritórios pode fazer com que o trabalhador remoto não viva a cultura da empresa como deveria viver, sentindo-se assim isolado do resto da equipa.

O isolamento social é, portanto, uma das consequências negativas desta modalidade de trabalho que se pode constituir como a mais prejudicial. O trabalhador, por não ter esse estímulo, pode afastar-se da sua equipa ou mesmo isolar-se em casa, não mantendo uma relação de sociabilidade com os demais.

"Puseram câmaras nos escritórios e eu acompanhava tudo o que estava a acontecer. Quando tínhamos reuniões por Skype, era só aceder à câmara da sala e conseguia ver toda a gente.”

Tiago Sá

Sobre a sua experiência de trabalho remoto.

O espírito de equipa é algo valorizado por Pedro Oliveira, que tenta ir aos escritórios de Lisboa todos os meses, para que consiga manter o contacto com a sua equipa. No entanto, confirma que estar longe tem os seus senãos. “Há vezes em que eu chego à minha empresa e há pessoas que não me conhecem”, afirma, bem-disposto.

Para Tiago Sá, o maior problema deste regime não são os fatores sociais, mas sim a carga de trabalho. Este diz que acaba por trabalhar mais remotamente do que se estivesse num escritório com um horário de oito horas. “Quando estou a trabalhar não dou conta das horas a passar e acabo por ficar mais tempo em frente ao computador”, garante o web developer.

Para a psicologa Isabel Paredes, as consequências negativas vão para além do isolamento social e do autocontrolo: “Podem surgir menores possibilidades de desenvolvimento e promoção, visto que as chefias não têm a possibilidade de observar presencialmente o trabalho, um aumento dos conflitos entre trabalho e vida familiar e, mesmo, consequências negativas para a segurança e a saúde dos colaboradores por falta de boas condições ergonómicas no posto de trabalho”.

Como forma de minimizar os impactos negativos, quer no trabalhador, quer no ambiente da empresa, os empregadores têm de se esforçar por fortalecer constantemente as ligações entre os seus trabalhadores. A comunicação tem de ser fluida e têm de existir momentos em que toda a equipa esteja reunida, como encontros mensais ou atividades periódicas em grupo.

Um ano a trabalhar pelo mundo

Se há muitos que optam por abandonar as secretárias habituais, para poderem ter o mundo como escritório, há outros que não o fazem, não porque não querem, mas porque não têm um plano. A instabilidade e a incerteza associada a esta escolha leva muitos a ficarem apenas pela ambição. A pensar nestes, Greg Caplan e a sua equipa criaram a Remote Year, uma empresa que planeia todos os detalhes de um ano a trabalhar remotamente.

Desde alojamento, passando pelos transportes e pelos espaços de trabalho, até eventos, a Remote Year planeia todos os passos do ano, sendo que o trabalhador só tem de ir escolhendo ao longo desse período o tipo de percurso que quer seguir. Há percursos para todos, desde aqueles que querem aproveitar o tempo para se divertirem até aos que preferem levar uma vida mais fit.

"Os millennials querem sentir que o que fazem tem um propósito, que estão a ser valorizados. Não são como as outras gerações que se ficam por fazer as coisas da mesma maneira.”

Hannah Camarata

Diretora de Expansão e Desenvolvimento da Remote Year

Hannah Camarata foi responsável pelo primeiro grupo de trabalhadores a ingressar nesta aventura de um ano e é agora diretora de expansão e desenvolvimento da empresa. Ao ECO explica que o mais importante é conseguir inserir os viajantes na comunidade que os recebe, porque só assim se vive a experiência ao máximo. “Tem de haver o mesmo número de locais e viajantes no mesmo grupo para que este se torne num ser vivo”.

A partilha de conhecimento entre culturas estabelece-se assim como o ponto forte deste projeto que tal como Hannah afirma, “recebe as mentes mais brilhantes.” E os resultados são os melhores: “É uma experiência que muda uma pessoa. Fica-se mais confiante e olha-se para o mundo com outras lentes.”

Assim, esta nova geração estabelece-se como aquela que não segue os mesmos moldes, nem no que toca ao trabalho. “Os millennials querem sentir que o que fazem tem um propósito, que estão a ser valorizados. Não são como as outras gerações que se ficam por fazer as coisas da mesma maneira”, remata Hannah Camarata.

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Grupo de Buffett ganha menos. A culpa é dos seguros

Por causa de um ciclone na Austrália, a unidade de seguros do grupo de Warren Buffett provocou um rombo de 4,8% nos lucros operacionais do primeiro trimestre.

O grupo de Warren Buffett nunca teve os cofres tão cheios. Mas os lucros derraparam no primeiro trimestre.thetaxhaven/Flickr

Os lucros operacionais da Berkshire Hathaway caíram 4,8% no primeiro trimestre deste ano para 3,56 mil milhões de dólares. O grupo do magnata Warren Buffett apresentou perdas no negócio dos seguros, que ofuscaram os ganhos registados noutros setores, como o da energia. A notícia surgiu esta sexta-feira, na véspera do encontro anual da empresa que se está a realizar este sábado em Omaha, no Estado norte-americano do Nebraska.

A quebra é explicada por um aumento pontual nos custos da unidade seguradora do grupo, relacionado com o ciclone Debbie, que fez estragos na Austrália em março. Os custos aumentaram ainda na General Re. Na Geico, que presta cobertura de risco para automóveis, os lucros chegaram mesmo a dar um trambolhão de 34%. A Bloomberg lembra, no entanto, que os seguros mantêm-se um setor lucrativo para Buffett há já mais de uma década.

Em contrapartida, a energia rendeu 501 milhões de dólares em lucros ao grupo de Warren Buffett, em comparação com os 441 milhões de dólares registados no período homólogo. De acordo com a agência, o grupo opera redes elétricas no Reino Unido e condutas de petróleo nos Estados Unidos.

Outro dado relevante é o facto de que a Berkshire Hathaway nunca teve os cofres tão cheios. O grupo detinha, no final do primeiro trimestre deste ano, 96,5 mil milhões de dólares em conta, o que leva alguns analistas a especularem que Buffett se estará a preparar para mais uma grande aquisição. Enquanto isso, o magnata tem vindo a aumentar a posição do grupo em empresas como a Apple e uma série de companhias aéreas, da American Airlines à United Continental. Reduziu, no entanto, a posição na IBM, como o ECO já noticiou aqui.

A Bloomberg recorda que, ao longo dos últimos 50 anos, Warren Buffett (86 anos) transformou a Berkshire Hathaway de uma empresa do setor têxtil em dificuldades financeiras, num gigante económico com ramificações em negócios distintos. No portefólio estão dezenas e empresas do setor dos seguros, energia, retalho, transportes e indústria.

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Seis dicas para empreendedores… de outros empreendedores

  • ECO
  • 6 Maio 2017

Na sexta semana do empreendedorismo, quatro empreendedores portugueses partilharam a sua experiência no evento Entrepreneurs Talks. O ECO reuniu seis dicas para quem quer começar um negócio.

O empreendedorismo em cima da mesa. Nela, sentam-se Lara Ligeiro, responsável pela Starters Academy, um programa de aceleração de startups. No lugar de empreendedores mais experientes, estiveram Miguel Cordeiro, diretor da plataforma empreendedor.com e organizador da feira de empreendedorismo de Lisboa, e Nuno Silva, investidor de risco que fundou a primeira empresa aos 18 anos e cujo projeto mais recente é a uReplay. Ao todo, são dez empresas atualmente nas suas mãos. Cátia Neves também já lidou com um número elevado de startups, mas do lado da comunicação: é fundadora da Outstand, a primeira empresa portuguesa especializada no marketing de startups.

Num período em que, nas palavras de Lara Ligeiro, “tudo é empreendedorismo”, impõe-se a necessidade de “ir um pouco mais fundo e tirar mais sumo disto”. Cátia Neves realça o lado trendy que foi acentuado pela Web Summit: “As startups têm às suas costas o vir salvar o mundo; somos um povo de descobridores, e estamos a tentar descobrir pela via económica”. Mas como? O ECO reuniu seis dicas que, segundo estes empreendedores, podem ajudar a encontrar o caminho.

1. Mercado: o termómetro das boas ideias

Nuno Silva não tem dúvidas quanto ao melhor conselheiro dos empreendedores: “quem vos vai dizer a verdade é o mercado“; são os potenciais clientes quem pode dizer se o produto é interessante para eles ou não. Lara Ligeiro sublinha a importância do “saber ouvir”: o mercado sim, mas também a equipa, e aqueles que já falharam. A Starters Academy procura isso mesmo: disponibilizar uma rede de mentores, incubadoras, contabilidade, apoio legal, para que as startups possam crescer apoiadas em quem já sabe um pouco mais.

2. Não é só o pitch

Já há uma ideia definida. Agora? Um pitch! Os pitch são importantes, mas Nuno Silva alerta para a substância: “Só se preparam para o pitch do conceito; e o registo de uma marca? E os passos para criar uma empresa em Portugal?”. Detalhes sobre a exequibilidade do projeto são um fator de distinção que pode ser decisivo. Cátia Neves deteta uma dificuldade das startups em “explicar o que têm para dar”, e é nisso que as tenta ajudar. Porque no mundo dos negócios “só recebes se dás”.

3. …mas o pitch conta, se for para a pessoa certa

Estas noções serão especialmente relevantes num evento como a Web Summit. Miguel Cordeiro recorda: “No primeiro dia fiquei um bocadinho desiludido — estava mal preparado. Muitos disseram que era uma porcaria. Não é, é como todas as coisas: o que quisermos fazer delas.”. Nuno Silva avisa que os empreendedores “têm de saber o que querem, não ser bola de pingue-pongue”. Os empreendedores ganham o jogo se apontarem no ângulo certo e não se deixarem arrastar “atrás dos investidores vermelhos”, os mais procurados do evento, diz Cátia Neves. É uma lição antiga do marketing, escolher a pessoa “que está interessada em ouvir”.

4. Mãos à obra: pintar a ideia de ouro

A ideia já foi vendida, mas… “A ideia é bola” diz Miguel. “Quase toda a gente já teve a mesma ideia do que nós, e se não teve, variou na cor.”. O segredo para pintar a ideia de ouro? “A equipa certa, foco, risco e ambição”, conclui. A equipa é um ponto-chave, pois por vezes os empreendedores “não sabem fazer nada” para concretizar e a única solução é “delegar”. No seu percurso profissional, Miguel Cordeiro aprendeu ainda que a combinação perfeita são “competências diferentes mas necessárias.”. Lara Ligeiro nota ainda uma melhoria no ecossistema em termos de sinergias: “agora é mais fácil fazer parcerias“.

5. No errar é que está o ganho

Cátia Neves acredita que “não existe uma fórmula para uma startup de sucesso: o que existe é um conjunto de tentativas e erros”. Miguel Cordeiro concorda, e afirma que “os últimos dois anos e meio foram sobretudo descobrir o que não funciona, e por isso é que aprendi tanto. Nos últimos anos aprendi 85% do que sei”. Também Lara Ligeiro coloca no top das suas experiências mais úteis uma empresa onde “tudo o que podia correr mal, correu”.

6. 10% sexy, 90% suor

Sim, o mundo das startups é sedutor: tem o charme de permitir “fazer a diferença”, o fator que leva Cátia, Miguel e Nuno a preferirem o empreendedorismo aos empregos que já tiveram em grandes multinacionais. Mas fazer a diferença não é simples. “Muitas vezes estou com a corda ao pescoço.” confessa Cátia, a alerta que os empreendedores “não se podem encostar: são um pilar da startup. Ela pode cair quando decidem tirar férias”. A frase “10% sexy, 90% suor” é de Nuno Silva, que, por isso mesmo, apela à sensatez: “ideias boas nem sempre dão o lucro que o empreendedor precisa para sobreviver”, sendo que neste caso o conselho é “não te metas nisso”.

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Apostas suspensas e anuladas em mais um jogo do Feirense

  • Lusa
  • 6 Maio 2017

A Santa Casa decidiu suspender e anular todas as apostas do Placard no jogo entre o Paços de Ferreira e o Feirense. Mais uma vez, soaram os alarmes devido a um fluxo anormal de apostas.

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa não vai aceitar mais apostas no Placard para o jogo deste sábado entre Paços de Ferreira e o Feirense e vai anular as apostas registadas até ao momento.

Em comunicado hoje enviado, a Santa Casa informa que o seu departamento de jogos “decidiu não aceitar mais apostas no Placard para o jogo Paços de Ferreira – Feirense”, marcado para as 18h15 de hoje, e vai proceder à “anulação das apostas registadas até ao momento, cumprindo o disposto no regulamento do jogo”.

Já em fevereiro, a Santa Casa suspendeu as apostas no Placard relativamente ao jogo também com o Feirense mas frente ao Rio Ave, uma situação que foi explicada com o grande afluxo de movimentos. Na altura, Pedro Santana Lopes apontou que, “quando há um excesso de concentração de apostas, num prognóstico ou num jogo — cada jogo tem três prognósticos no Placard — num curto espaço de tempo, soam as campainhas de alarme”.

Quando a Santa Casa suspendeu as apostas do Placard do Feirense – Rio Ave, o Ministério Público decidiu instaurar inquérito ao caso, precisando que o processo “corre termos no DIAP (Departamento de Investigação e Ação Penal) de Aveiro (Secção de Santa Maria da Feira)”, segundo disse à Lusa a Procuradoria-Geral da República.

O Placard é um jogo de apostas da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que foi lançado em setembro de 2015. Em 2016, aumentou as vendas em 489,3% em relação a 2015 e assumiu-se como o terceiro jogo mais vendido, com um peso de 13,4% no conjunto de vendas.

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