E se os seus dados pessoais fossem expostos num museu?
Enquanto, deste lado do globo, o Facebook está sob a lupa dos legisladores, do outro, o artista Deng Yufeng foi mais longe: tornou os dados de 300 mil chineses comprados na internet numa exposição.
E se os seus dados pessoais fossem expostos num museu sem a sua autorização? Deste lado do globo, a utilização indevida de informações deste tipo de 87 milhões de utilizadores do Facebook pela Cambridge Analytica colocou o tema da proteção de dados no mapa. Do outro, Deng Yufeng foi mais longe: o artista chinês comprou os dados de mais de 300 mil cidadãos na internet e transformou-nos numa polémica exposição.
Num museu da pequena cidade de Wuhan, Yufeng criou filas com folhas de papel, nas quais estão escritas as informações em questão. Os documentos estão, no entanto, revestidos por uma solução líquida, que apenas dá aos visitantes equipados com um determinado foco de luz o acesso aos dados.
Com a vontade de fomentar a discussão sobre a falta de privacidade no mundo digital na mira, a exposição “346.000 Wuhan Citizen’s Secrets” (isto é, os segredos de 346 mil cidadãos de Wuhan, numa tradução literal) não passou despercebida às autoridades chinesas.
Dois dias depois da sua abertura, a polícia informou Deng Yufeng de que está a ser investigado por se suspeitar que tenha adquirido esses dados ilegalmente.
Ao The New York Times, o artista explica que os comprou através de uma aplicação móvel de troca de mensagens e sublinha que o processo decorreu com facilidade. No total, Yufeng diz ter pago 800 dólares (648,18 euros) pelos nomes, géneros, contactos telefónicos, matrículas e históricos de compra e de viagem que utilizou para construir a sua exposição.
Troca-se privacidade por eficiência?
Na China, é comum a compra e venda digitais de dados pessoais por “corretores” especializados nesse negócio, que é, claro, ilegal. Na opinião polémica do líder executivo de um dos maiores motores de busca chineses, o Baidu, os cidadãos sínicos estão mesmo dispostos a trocar a sua privacidade por conveniência, segurança e eficiência.
Esse dilema relativo às falhas na cibersegurança não é, no entanto, exclusivo do Oriente. Deste lado do mundo, na semana passada, o fundador e presidente do Facebook foi ao Senado e ao Congresso norte-americanos prestar esclarecimentos sobre o uso indevido de dados de 87 milhões de utilizadores da rede social pela empresa de marketing Cambridge Analytica.
Na audição, Mark Zuckerberg revelou que a plataforma recolhe dados não só dos seus utilizadores, mas de todos os internautas. “Mesmo que alguém não tenha feito login, nós recolhemos certas informações, como a quantas páginas estão a aceder, como medida de segurança”, disse o empresário, inflamando o debate.
Alguns congressistas acabaram por exigir ao líder da gigante que promova mais medidas de segurança para menores na rede social. A imprensa norte-americana está a considerar que a composição desse órgão legislativo — isto é, a idade avançada de grande parte dos seus membros — não tem permitido a colocação das questões certas e dificilmente dará espaço à criação das normas verdadeiramente adequadas.
Em Portugal, 63 mil pessoas terão sido afetadas por esta transferência indevida de dados pela norte-americana Cambridge Analytica. A empresa de marketing terá usado estes dados de milhões de utilizadores do Facebook para elaborar um programa informático destinado a influenciar o voto dos eleitores, favorecendo a campanha presidencial de Donald Trump.
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