De que lado está o único acionista ‘português’ da EDP?
O BCP, o único acionista 'português' da EDP, ainda não se pronunciou sobre a OPA à EDP, mas aparece como intermediário financeiro dos chineses na operação.
- Nuno Amado, presidente executivo do BCP.
A Oferta Pública de Aquisição (OPA) lançada pela China Three Gorges (CTG) sobre a totalidade do capital da EDP estará nas mãos dos acionistas, mas, entre os que são de referência, acima de 2%, só há um ‘português’: É o Millennium BCP que tem 2,44% do capital da elétrica através do seu fundo de pensões.
Depois de conhecida a primeira reação oficial do conselho executivo da EDP, que considera o preço de 3,26 euros por ação insuficiente, o banco ainda não fez qualquer comentário sobre esta operação, mas há um dado que pode antecipar a sua posição. O BCP tem um acionista de referência chinês, a Fosun, e é intermediário financeiro da própria oferta.
Desde o aumento de capital do BCP, o poder mudou de mãos. Até então, era a Sonangol a desempenhar o papel de acionista de referência, mas a necessidade de capital trouxe outro acionista, precisamente chinês. A Fosun passou a ser o acionista mais relevante, e foi a Fosun a ditar os movimentos mais recentes no banco, nomeadamente a passagem de Nuno Amado para chairman e de Miguel Maya para presidente executivo. Nota curiosa, António Mexia estava na administração não executiva do BCP, mas já não estará no próximo mandato, enquanto Jorge Magalhães Correia, presidente da Fidelidade e homem-forte da Fosun em Portugal, vai integrar a administração do banco.
O Fundo de pensões do BCP tem, formalmente, autonomia de decisão sobre a venda da participação na EDP, porque tem de responder perante os respetivos investidores. Por outro lado, o ainda presidente executivo do BCP, Nuno Amado, é membro do Conselho Geral e de Supervisão, indicado, claro, pelo próprio BCP. Neste quadro, de que lado estará o BCP no momento da decisão, quando a OPA chegar ao mercado? Oficialmente, ninguém comenta, mas diversas fontes contactadas pelo ECO garantem que só poderá ter uma posição, e essa será a favor da CGT. Vamos por partes.
Nuno Amado vai ter de pronunciar-se na defesa do interesse da elétrica quando o conselho geral e de supervisão da companhia emitir a sua opinião. António Mexia considera que o preço de 3,26 euros por ação não reflete o valor da companhia, mas deixou uma posição mais estruturada para mais tarde. Mas se Mexia tem esta avaliação, o Conselho Geral e de Supervisão também a terá? E de forma unânime, ou Nuno Amado, por exemplo, vai ter uma posição própria? Depois, do lado acionista, será a administração do próprio fundo de pensões a ter de decidir se aceita ou não este preço e a justificar o racional da decisão, perante os seus próprios investidores.
A OPA vai obrigar a uma clarificação de poder na EDP e, se de um lado estão os fundos e outros investidores como a família Mazzaveu, do outro está a CTG, ou seja, uma empresa pública do Estado chinês. A Fosun, essa, é uma empresa privada chinesa, mas ninguém acredita na possibilidade de um grupo privado desalinhar da estratégia de uma empresa do próprio Estado. Ainda assim, esta posição é de justificação difícil tendo em conta a resposta da administração executiva e, sobretudo, dos investidores nos dias seguintes ao anúncio da OPA.
Os títulos da energética nacional continuam a valorizar e continuam a cotar acima do preço oferecido pela China Three Gorges, de 3,26 euros: Valorizaram mais de 9% e esta terça-feira encerraram com um ganho de 1,18% para os 3,44 euros. A subsidiária EDP Renováveis, que também foi alvo de uma oferta, fechou a subir 0,25% para os 8,075 euros.
(Correção: BCP é intermediário financeiro da OPA e não um dos assessores financeiros)
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