Subida do petróleo tira 0,1 pontos ao PIB português
No Orçamento do Estado, o Governo apontava para um preço médio do barril de petróleo de 54,80 dólares. Hoje essa média já vai em 69,89 dólares, uma diferença que retira 0,1% ao crescimento do PIB.
Com a escalada das cotações do petróleo, a carteira dos consumidores fica com cada vez menos euros sempre que “estacionam” o automóvel nos postos de abastecimento. Mas o Estado também sente. Apesar de os “cofres” públicos receberem uma “fatia” substancial do valor pago nas bombas, esta valorização expressiva da matéria-prima até aos 80 dólares está a custar milhões à economia. Já desapareceram 0,1 pontos percentuais do PIB.
Num país altamente dependente das importações da matéria-prima, a subida do preço do barril arrasou já por larga margem a estimativa do Executivo, naquele que é um dos pressupostos em que assenta o Orçamento do Estado para este ano. O Governo estimava que, este ano, o valor médio do Brent seria de 54,80 dólares, mas a realidade é bem diferente: o preço médio está em 69,89 dólares, ou seja, 27% acima do que estava estimado.
Brent perto dos 80 dólares
Mesmo com o euro ligeiramente mais forte do que o antecipado (1,22 dólares contra a estimativa de 1,18 dólares), o resultado não muda de figura. Há uma diferença de 24% no valor previsto para a matéria-prima. E essa diferença tem um custo avultado para o crescimento da economia nacional, como o próprio Governo apontou no OE.
“Se o preço do petróleo em 2018 aumentar 20% face ao inicialmente estimado, a simulação aponta para um impacto negativo no crescimento real do PIB na ordem dos 0,1 pontos percentuais”, refere o documento, o mesmo em que o Executivo apontou como meta um crescimento do PIB de 2,3% em 2018, uma desaceleração face aos 2,7% do ano passado. Questionado sobre esta ameaça, não foi possível até agora obter resposta do Ministério das Finanças.
"Se o preço do petróleo em 2018 aumentar 20% face ao inicialmente estimado, a simulação aponta para um impacto negativo no crescimento real do PIB na ordem dos 0,1 pontos percentuais.”
Essa fatura no PIB já foi assumida pelo Executivo, de resto, no Programa de Estabilidade, quando a previsão para o petróleo foi revista em alta para os 65,90 dólares, sendo que também este valor já foi superado pelas cotações nos mercados internacionais, numa altura em que os investidores temem os efeitos da quebra da produção da Venezuela para níveis da década de 50, mas principalmente o impacto das sanções dos EUA ao Irão. Está 6% acima.
Fatura mais elevada, ISP mais rentável
Este efeito negativo no PIB traduz, essencialmente, a elevada fatura energética que o país tem de pagar todos os anos com a importação de uma matéria-prima que não se produz em Portugal. O país importa muitos produtos energéticos, contando com uma fatura de cerca de oito mil milhões de euros, sendo que as exportações (de produtos refinados) não chegam a metade do valor.
Há um défice na balança comercial dos produtos energéticos (com petróleo a dominar), que pesa nas contas do país, mas há também outro efeito que é o do impacto que tem nos preços, puxando por estes. Quanto mais altos, menor será o consumo das famílias, logo há um efeito negativo na geração de riqueza no país.
O impacto mais direto nos preços é nos dos combustíveis. Os valores de venda da gasolina e do gasóleo estão a subir há dez semanas consecutivas, tocando máximos de meados de 2014. O gasóleo simples está já com um preço médio em torno dos 1,37 euros, mas que fica já muito perto dos 1,50 euros em muitos postos de abastecimento de referência. A gasolina está nos 1,588 euros, com o preço nas bombas nos 1,68 euros.
Estes valores, que põem Portugal no top dos preços dos combustíveis na Europa, resultam, essencialmente da elevada fiscalidade que recai sobre estes produtos. A fiscalidade leva 53% do valor pago por litro no caso do gasóleo e chega mesmo a 61% na gasolina. Nos primeiros quatro meses do ano, só o ISP gerou uma receita de 1.091 milhões de euros, mais 3,4% que no período homólogo.
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