Portugal paga hoje cheque chorudo aos credores. Abate 6,6 mil milhões à dívida
Uma linha de obrigações lançada há dez anos atinge esta sexta-feira a maturidade, obrigando Portugal a abrir os cordões à bolsa para devolver 6,6 mil milhões de euros aos credores.
A dívida pública portuguesa dá esta sexta-feira um novo tombo, com o Tesouro nacional a devolver aos mercados mais de 6,6 mil milhões de euros relativos a uma linha de obrigações que foi emitida há dez anos.
Foi a 27 de fevereiro de 2008 que o IGCP, que é a entidade responsável pela gestão da dívida pública, avançou para uma operação sindicada com vista a lançar uma nova maturidade de referência no mercado. E logo aí foram colocados 3.000 milhões de euros em títulos a vencer em 15 de junho de 2018.
Na altura, a República portuguesa gozava de um rating que hoje em dia parece inalcançável — Aa2, a terceira melhor notação para a Moody’s –, mas os cofres nacionais não se livraram de um juro anual generoso de 4,45% com estas obrigações, refletindo o contexto de taxas de juro elevadas por parte do BCE, isto quando se estavam a sentir os primeiros sinais da crise do subprime.
Depois dessa operação sindicada, esta linha de obrigações foi sendo reaberta ao longo do tempo. E chega ao dia de hoje com um saldo vivo de 6.642 milhões de euros, dinheiro este que terá de ser liquidado esta sexta-feira.
E há dinheiro mais do que suficiente na conta do IGCP para fazer face a este cheque chorudo que terá de passar aos investidores. Na verdade, o Tesouro português reforçou a sua almofada financeira durante os primeiros meses deste ano justamente para acomodar esta devolução. Só em obrigações do Tesouro, a agência liderada por Cristina Casalinho angariou mais de 4,7 mil milhões de euros em 2018. Isto depois de ter fechado 2017 com 9,8 mil milhões de euros nos seus cofres.
Com este reembolso, é mais do que expectável que a dívida pública portuguesa registe uma queda acentuada. Em maio, o endividamento público situava-se nos 250 mil milhões de euros, o valor mais elevado desde agosto do ano passado. Em março, a dívida pública ascendia a 126,7% do total da riqueza produzida em Portugal, acima da meta do Governo para o final do ano: 122,2% do PIB.
Se o pagamento de 6,6 mil milhões de euros de uma assentada parece desafiante, a verdade é que o IGCP tão pouco terá a vida mais facilitada nos próximos anos. Em 2019, há uma linha de obrigações a dez anos a vencer e o montante para devolver é de 8,7 mil milhões de euros. No ano seguinte, são mais de dez mil milhões para reembolsar. E em 2020 atinge-se um pico no calendário de reembolsos de Portugal: 13,5 mil milhões de euros.
Além destes reembolsos aos mercados, o IGCP está também a trabalhar no sentido de pagar o que ainda deve ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Cristina Casalinho revelou no início de maio, no Parlamento, que já enviou uma proposta ao Governo para que seja formalizado junto dos parceiros europeus um pedido para reembolsar o que ainda deve ao FMI. Ainda estão 4,5 mil milhões de euros por liquidar junto da instituição.
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