BdP: Guerra comercial de Trump pode anular crescimento da economia portuguesa
Se a guerra comercial desencadeada por Trump atingir uma escala global, a economia portuguesa pode sofrer um impacto negativo acumulado de 2,5% sobre o PIB nacional, prevê o Banco de Portugal.
Donald Trump está a disparar medidas protecionistas em todas as direções. Primeiro, anunciou a imposição de novas tarifas aduaneiras à União Europeia, Canadá e México. Depois, fez da China alvo. Todos os lesados já prometeram retaliar e se o conflito se alargar à escala global, ao longo dos próximos três anos, Portugal pode esperar um impacto negativo acumulado de 2,5% sobre o PIB nacional. A previsão foi avançada, esta quinta-feira, pelo Banco de Portugal (BdP) e, a concretizar-se, significaria mesmo o anulamento do crescimento económico lusitano — a mesma instituição prevê que, em 2019, Portugal cresça 1,9%, um abrandamento face aos 2,3% previstos para este ano, e em 2020 1,7%.
“Os riscos de maior protecionismo a nível global têm vindo a aumentar impulsionados pelos Estados Unidos”, explica o Banco de Portugal. Por isso, a entidade decidiu estudar o impacto macroeconómico da escalada destas tensões, considerando dois cenários alternativos: no primeiro, a guerra comercial mantém-se limitada entre os EUA e todos os seus parceiros comerciais. “Os Estados Unidos aumentam as tarifas sobre as importações de todos os bens originários de terceiros — implicando um aumento dos preços de exportação destes países para os EUA de cerca de 10% — e que estas economias retaliam impondo tarifas do mesmo montante sobre as importações provenientes dos EUA”, explica o relatório. Já no segundo cenário, o conflito alarga-se à escala global e todos os países impõem direitos aduaneiros aos restantes, revertendo também os acordos comerciais estabelecidos.
No caso de uma guerra comercial limitada, o BdP prevê que o PIB mundial recue 0,7% até 2020 e o comércio mundial se reduza quase 3%. Neste mesmo cenário, também o PIB da Zona Euro recuaria, em termos acumulados, cerca de 0,4% até 2020 e o dos Estados Unidos perderia cerca de 1,8%. Ao longo dos três anos considerados, o impacto registado na economia portuguesa seria de 0,7% do PIB nacional, sendo o efeito nos preços de 0,4%.
Já no que diz respeito ao segundo cenário considerado — o mais dramático, mas também o menos provável — o PIB mundial reduziria 2,5% e as trocas comerciais a nível mundial recuaria 9,6%, no final do horizonte de três anos. Neste caso, o PIB da Zona Euro chegaria mesmo a perder cerca de 2% e a redução nos Estados Unidos ascenderia a quase 4%, ao fim dos três anos. Por cá, uma guerra comercial generalizada representaria, um impacto negativo acumulado sobre o PIB de cerca de 1,7% em 2019 e que atingiria os 2,5% em 2020. Caso este cenário de confirmasse, quase anularia o crescimento de 1,9% previsto para 2019 e de 1,7% para 2020.
“O aumento de barreiras comerciais pode ter um impacto bastante negativo sobre a economia portuguesa, dado que o crescimento recente tem assentado, em larga medida, no dinamismo das exportações“, salienta a instituição. Tal é especialmente relevante tendo em conta o ganho significativo português de quotas de mercado das exportações de bens e serviços registado no último ano e divulgado, esta quinta-feira, no mesmo relatório. Nesse quadro, é importante ainda destacar que os Estados Unidos (tanto nos bens com um ganho de 19,9%, como no turismo com 5,4%) estão entre os destinos das exportações onde Portugal ganhou mais quota de mercado em 2017.
Além destes efeitos diretos referidos, o Banco de Portugal identifica ainda um conjunto de “canais adicionais” através dos quais as medidas protecionistas podem afetar as economias envolvidas. São eles o aumento da incerteza, a disrupção e ajustamento das cadeias de produção globais (que tenderão a magnificar o impacto) e a menor concorrência internacional e consequente redução das possibilidades de especialização.
No que diz respeito à retaliação, é importante referir que é já esta sexta-feira que a União Europeia passará a aplicar novas tarifas aduaneiras sobre as importações dos Estados Unidos. Depois de Donald Trump ter decidido impor taxas sobre o aço e o alumínio provenientes do Velho Continente, o bloco europeu vão responder com tarifas sobre cerca de uma centena de produtos norte-americanos “emblemáticos”, do sumo de laranja à manteiga de amendoim, passando pelas calças de ganga e bourbon.
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