Rui Rio diz que relações entre Angola e Portugal têm agora uma “estrada aberta”
Rui Rio encontrou-se esta quinta-feira com o Presidente angolano, João Lourenço, e destacou que os dois países têm uma "estrada aberta" para restabelecer relações.
O presidente do PSD, Rui Rio, disse, em Luanda, que as relações entre Angola e Portugal têm agora uma “estrada aberta” pela frente, destacando o “simbolismo” de ter sido recebido pelo chefe de Estado angolano, João Lourenço.
O líder do maior partido da oposição portuguesa falava aos jornalistas, no Palácio Presidencial, em Luanda, depois de uma audiência, pouco habitual enquanto dirigente partidário, de cerca de 30 minutos, com o Presidente angolano.
À saída, Rui Rio admitiu que as dificuldades provocadas pelo processo judicial em Lisboa, contra o ex-vice-presidente da República, Manuel Vicente, estão ultrapassadas entre os dois países e o relacionamento entra numa nova fase de cooperação.
“Penso que isso é aquilo que todos nós desejamos. Estão criadas, neste momento, as condições, está uma estrada aberta para essa cooperação que tem já muitos anos, como todos sabemos. Pronto, tem os seus acidentes de percurso, teve um acidente de percurso como todos sabemos e não vale a pena naturalmente escondê-lo, mas uma vez ultrapassado temos é que trabalhar e estreitar ainda mais os laços”, disse Rui Rio, questionado pelos jornalistas.
"Estão criadas, neste momento, as condições, está uma estrada aberta para essa cooperação que tem já muitos anos, como todos sabemos. Pronto, tem os seus acidentes de percurso, teve um acidente de percurso como todos sabemos e não vale a pena naturalmente escondê-lo.”
O líder do PSD, que ainda esta quinta-feira, ao final da manhã, é recebido em Luanda pelo presidente do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) e ex-chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, insistiu que Portugal não pode deixar de olhar para os parceiros históricos, em detrimento das alianças na Europa.
“Como eu costumo dizer, na Europa temos aliados e temos amigos. Mas aqui [Angola], é mais do que amigos, aqui até família temos”, sublinhou.
“Portugal é um país, como todos sabemos, desde 1986, muito virado à Europa, integrado na Europa, mas há 600 anos que está virado para o Atlântico. As nossas relações com os países atlânticos são absolutamente fundamentais. E, portanto, esta aproximação cada vez maior entre Portugal e Angola é muito importante e naquilo que possa ser o meu contributo para que isso possa acontecer a disponibilidade é total e foi isso que eu também tive oportunidade de referir ao senhor Presidente da República”, disse ainda.
Com o processo judicial em torno das suspeitas sobre Manuel Vicente, que durante meses ameaçou as relações entre os dois países, transferido para julgamento em Luanda, e numa altura em que a prevista visita a Luanda do primeiro-ministro português António Costa ainda não está confirmada, Rui Rio aponta a importância de ter sido recebido pelo Presidente angolano na retoma dos níveis de relacionamento: “O próprio ato de me receber é já um ato simbólico nesse sentido. Acho que é extraordinariamente positivo para ambos os países”.
Da economia, à educação ou à saúde, e também “naquilo que, de parte a parte, possa ser interessante”, o líder do PSD destaca que Portugal tem várias “complementaridades” com Angola.
“E há muitos aspetos onde nós nos podemos complementar. E acho que isso é bom, é bom para ambos os países”, sublinhou.
Reuniões em Luanda foram de “grande relevo”
Rui Rio classificou as reuniões com o líder do MPLA, José Eduardo dos Santos, e com o Presidente angolano, João Lourenço, como “de grande relevo” para Portugal, garantindo que visitou Angola mal teve oportunidade.
“Eu vim quando tive oportunidade de vir. A minha deslocação a Angola está pensada há bastante tempo, desde que eu sou presidente do partido, houve a oportunidade de o fazer agora e eu fi-lo agora”, disse Rui Rio, questionado pelos jornalistas, ainda na sede nacional do MPLA, sobre uma antecipação ao primeiro-ministro português.
Ao sair da reunião com José Eduardo dos Santos, chefe de Estado angolano entre 1979 e 2017, Rui Rio classificou os encontros desta manhã – os primeiros do género, ao mais alto nível, em vários anos – como sendo “de grande relevo” para Portugal.
“É bom para o PSD, mas eu penso que é bom, acima de tudo, e é isso que me preocupa sempre, é bom para Portugal e penso que também bom para Angola”, apontou. Rui Rio chegou a Luanda na quarta-feira à noite e regressa a Portugal na sexta-feira.
Os encontros desta quinta-feira, os únicos conhecidos da agenda, acontecem precisamente na véspera da reunião extraordinária do Comité Central do MPLA, de preparação do congresso que marcará a saída de José Eduardo dos Santos da liderança do partido e a confirmação de João Lourenço na liderança, também, partidária.
Rui Rio justificou a reunião com José Eduardo dos Santos como o “estreitar de relações historicamente muito boas”, entre o MPLA e o PSD: “É com todo o gosto que nós continuamos com essa relação, que é boa para os dois partidos e é boa, como digo, quer para Angola quer para Portugal”.
Uma transição no poder, ao fim de quase 40 anos, que o político português vê com naturalidade, face aos “novos desafios” de Angola: “Uma coisa eram os desafios nos 70, nos anos 80, nos anos 90. E agora o desafio que se põe a Angola é completamente diferente. Há aqui o abrir de uma nova etapa, que é normal, é assim na vida”.
Rui Rio insistiu que Angola e Portugal podem ter uma colaboração complementar, em várias áreas, desde a economia à educação, passando ainda pela saúde.
O mesmo acontece com a implementação do modelo autárquico em Angola, que arranca, com as primeiras eleições locais, em 2020, em que, afirmou, “o MPLA terá seguramente um papel decisivo”, podendo contar com a experiência de mais de 40 anos de “Portugal e do PSD”.
“Se essa experiência poder servir para alguma coisa, estamos naturalmente também disponíveis”, afirmou Rui Rio.
Questionado pelos jornalistas, o líder do PSD admitiu a necessidade de a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) encontrar um novo rumo, para fortificar a própria organização e a relação entre os países.
Usando como exemplo a CPLP, disse igualmente que Portugal “não pode estar só virado para a Europa”, devendo antes dar atenção também aos países do Atlântico, sendo Angola, nesse contexto, um “parceiro natural”.
A viagem do líder do PSD acontece depois de a Procuradoria-Geral da República ter transferido para Angola o processo judicial que envolve Manuel Vicente.
O primeiro-ministro, António Costa, também deverá deslocar-se a Angola em breve, mas não foram ainda adiantadas datas.
Em 04 de junho, o chefe de diplomacia angolano, Manuel Domingos Augusto, disse, em Bruxelas, que estava a trabalhar diretamente com o seu homólogo português, Augusto Santos Silva, para que o programa da deslocação de António Costa a Angola “esteja à altura dessa visita”.
Na altura, Manuel Domingos Augusto comentou que a visita do primeiro-ministro português a Luanda “já poderia ter tido lugar antes”, se não fosse o processo do ex-vice-Presidente angolano, mas sublinhou que, resolvida que está essa questão, com a transferência do processo para a Justiça angolana, “agora o mais importante” é trabalhar em conjunto para repor a normalidade nas relações luso-angolanas.
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