Caixa fecha balcões, autarquias e juntas põem contas a “zeros”
Já são várias as freguesias e câmaras em todo o país a transferirem o dinheiro das contas da CGD para outros bancos em resposta ao encerramento dos balcões da Caixa. Deixam as contas a "zeros".
Não é uma, nem duas ou três. São já várias as câmaras municipais e juntas de freguesia a colocarem as contas que têm na Caixa Geral de Depósitos (CGD) a “zeros”. Isto em resposta à decisão do banco liderado por Paulo Macedo de encerrar os balcões nestas regiões num total de cerca de 70 agências em todo o país. Se Louriçal, em Pombal, foi o primeiro a adotar esta medida, rapidamente se seguiram outras, sendo o caso de Viseu um dos mais polémicos.
“Se a Caixa manteve teimosamente esta decisão, obviamente que a câmara de Viseu não podia tomar outra atitude que não fosse esta. Dei instruções à contabilidade da autarquia para que colocassem a zero todas as contas que estavam na CGD. Assim aconteceu e também dei instruções para que, inclusive, as transferências dos impostos do Estado e da Direção-Geral da Administração Local passassem a serem distribuídas por outros bancos com que Viseu trabalha”, disse o presidente da câmara municipal de Viseu, Almeida Henriques, ao Jornal do Centro, no início da semana.
"Dei instruções para que, inclusive, as transferências dos impostos do Estado e da Direção-Geral da Administração Local passassem a serem distribuídas por outros bancos com que Viseu trabalha.”
Em Viseu, a CGD encerrou o balcão da Rua Formosa, o que é “menos problemático para as populações”, revelou o presidente da câmara de Viseu ao ECO, no mês passado. O problema, disse, seria o fecho da agência de Abraveses, que “não só serve dez mil habitantes da freguesia, como permite, na proximidade, servir uma população global de mais de 21 mil habitantes das freguesias vizinhas e do norte do concelho de Viseu”.
Apesar de o caso de Viseu ser o mais polémico, não foi o primeiro a adotar esta medida de retaliação. A decisão de transferir todo o dinheiro do banco estatal para outras instituições financeiras começou a cerca de 140 quilómetros de distância. Foi em Pombal que tanto a autarquia como a freguesia decidiram dar este passo como consequência do encerramento do balcão no Louriçal. “Fomos pioneiros” na decisão de pôr a “zeros” as contas da CGD, explicou o presidente da junta de freguesia ao ECO, garantindo que a câmara municipal seguiu os mesmos passos.
Além do Louriçal, também Avanca, em Estarreja, decidiu cortar a relação que tinha com a instituição financeira liderada por Paulo Macedo. Ao ECO, o presidente da junta de freguesia deixou claro que o dinheiro foi todo transferido para o Crédito Agrícola, tanto na freguesia como na câmara municipal. O mesmo está a acontecer em Pedras Salgadas, onde a câmara municipal de Vila Pouca de Aguiar tem em marcha o processo de transferência.
Mais a sul, no Alentejo, as autarquias também estão a demonstrar a sua revolta com o encerramento dos balcões através do “fecho” das contas. É o caso de Colos, em Odemira. Aqui, apenas a junta onde foi encerrada a agência decidiu seguir os mesmos passos. De acordo com fonte oficial da câmara municipal de Odemira, a autarquia apenas vai reavaliar a sua relação com a CGD se esta não voltar atrás na sua decisão.
"Recomendamos ao executivo camarário que exerça pressão junto da administração da CGD, nomeadamente, transmitindo a esta que, na medida do que for permitido, o município fará um boicote às operações com a CGD, se a instituição encerrar o balcão da vila de Aver-o-Mar [na Póvoa de Varzim].”
A câmara de Odemira não é a única a ameaçar escolher outro banco para ter as suas contas. Também Póvoa de Varzim, onde fechou o balcão de Aver-o-Mar, aprovou uma moção para “boicotar” as operações da CGD. “Recomendamos ao executivo camarário que exerça pressão junto da administração da CGD, nomeadamente, transmitindo a esta que, na medida do que for permitido, o município fará um boicote às operações com a CGD, se a instituição encerrar o balcão da vila de Aver-o-Mar”, lê-se na proposta apresentada pela bancada do PSD, que tem a maioria.
E em Darque, Viana do Castelo, e São Vicente da Beira, em Castelo Branco, as juntas dizem estar à espera de uma resposta da CGD às contrapropostas apresentadas. Se for negativa, então deverão cortar a relação com a Caixa. Um corte que nunca pode ser total uma vez que juntas e autarquias têm de ter sempre uma conta aberta com o objetivo de assegurar as transações que o Estado tenha de fazer através do banco público. Contactada pelo ECO, a CGD não comenta.
Depois de ter fechado 64 no ano passado, o banco estatal encerra 73 agências este ano, no âmbito do acordo de reestruturação estabelecido com a União Europeia em 2016. Grande parte destes balcões encerraram até ao final de junho.
Ainda não há uma lista completa dos balcões da CGD que fecharam, ou vão fechar, portas. As localizações vão sendo conhecidas pelos protestos das populações e pelas críticas das autarquias por não receberem qualquer tipo de informação oficial por parte da equipa liderada por Paulo Macedo. No Parlamento, deputados dos vários partidos vão enviando perguntas ao Governo, o maior acionista da instituição financeira, a pedir explicações. Mas não obtiveram uma resposta até agora.
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