Juncker prometeu e as importações de soja dos EUA disparam 283%. Coincidência? Nem por isso
Em julho as importações de soja dos EUA disparam 282,9%, depois de Juncker ter prometido a Trump que a UE iria importar mais. É coincidência? Nem por isso. Juncker já sabia das condições de mercado.
Jean-Claude Juncker e Donald Trump selaram um acordo que permitiu pôr água na fervura e arrefecer os ânimos da guerra comercial que ameaçava escalar para níveis incomportáveis. Entre os pontos acertados entre os dois líderes estava um aumento das importações europeias de soja norte-americana. Uma semana depois, os dados da Comissão Europeia demonstram que o presidente da Comissão Europeia cumpriu a sua palavra. As importações provenientes do EUA, em julho, aumentaram 282,9% em termos homólogos.
Como foi possível, se as importações são feitas por privados? Como foi possível, se a Europa proíbe as importações de soja transgénica e 94% da soja plantada nos EUA é geneticamente modificada, segundo estatísticas do Departamento de Agricultura norte-americano? Como foi possível um aumento tão grande num tão curto espaço de tempo? Coincidência? Nem por isso. O ECO perguntou à Comissão Europeia. Eis as respostas.
- Como foi possível um aumento tão rápido num tão curto espaço de tempo? Porque a soja norte-americana se tornou a mais competitiva do mercado na sequência das tarifas impostas pela China às importações de soja americana, explicou ao ECO fonte comunitária. Brasil e Argentina passaram a ser os fornecedores de eleição e, consequentemente, o valor desta commodity aumentou. Na realidade, a Europa não está a importar mais soja, está apenas a aumentar a quota de mercado da soja americana, que passou em julho a ser de 36,5%.
- Juncker já tinha conhecimento deste comportamento do mercado quando fez a promessa Trump? “Não”, garantiu ao ECO fonte comunitária. “Contudo, o presidente da Comissão Europeia já tinha conhecimento das condições de mercado”, acrescenta a mesma fonte. Isto porque a imposição das tarifas chinesas aconteceu em meados de junho e, apesar de as estatísticas ainda não revelarem a nova tendência, já era possível perceber a futura evolução.
- Como foi possível Juncker fazer uma promessa de aumento das importações se estas são feitas por privados? “Pelas condições de mercado”, respondeu ao ECO a mesma fonte comunitária. Ou seja, o presidente da comissão Europeia já sabia do agravamento das tarifas chinesas e da consequente nova atratividade da soja americana.
- A Europa está a importar soja transgénica? Está, e nem poderia ser de outro modo, dado que os EUA praticamente não têm outro tipo de produção. Mas fonte comunitária garantiu ao ECO que, mesmo assim, não são violadas as regras europeias que proíbem o consumo de soja transgénica. Ou seja, uma vez que a Europa não é autossuficiente na produção de soja para alimentar o gado — faltam terras aráveis para isso, já que é dada prioridade ao trigo, por exemplo — é necessário importar, por isso, são abertas exceções pontuais à entrada de soja transgénica. “Mas esta nunca se destina ao consumo humano”, acrescenta a mesma fonte, precisando que a soja transgénica ingerida pelos animais revela depois vestígios muito ténues no produto final, a carne ou leite destinados ao consumo humano.
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