40 mil famílias saíram de incumprimento no primeiro semestre
O número de famílias a falhar prestações do crédito caiu abaixo da fasquia dos 500 mil pela primeira vez, em junho. Em seis meses, foram 40 mil a deixar esse cenário, a maioria no crédito ao consumo.
À medida que a situação da economia e das famílias portuguesas dá sinais de melhoria, diminuem as situações de incumprimento com o crédito. O número de famílias em falta com as prestações dos seus empréstimos caiu abaixo dos 500 mil no final de junho, fasquia nunca antes quebrada no histórico do Banco de Portugal (BdP). Só nos primeiros seis meses deste ano, mais de 40 mil agregados deixaram de estar em incumprimento com os seus empréstimos. É no consumo que está o grosso das saídas.
Dados divulgados pela instituição liderada por Carlos Costa, nesta terça-feira, mostram que no final junho existiam 484.047 devedores inscritos na central de responsabilidade de crédito. Ou seja, que estavam em falta com o pagamento dos seus créditos. Esse número é o mais baixo desde o início do histórico do BdP, que remonta ao primeiro trimestre de 2009.
Só nos primeiros seis meses do ano, o número de famílias que deixaram de constar da lista de devedores em incumprimento do banco central reduziu-se em 40.121.
Número de famílias em incumprimento
Fonte: Banco de Portugal
Esta redução acontece num contexto em que a crise financeira parece estar ultrapassada, a economia dá passos mais firmes no sentido da recuperação e os rendimentos das famílias também recuperam em paralelo com a queda do desemprego, que se encontra em mínimos de 14 anos.
A quebra do número de devedores em falha com o pagamento das prestações é transversal às diferentes finalidades de crédito, mas é mais notória na finalidade de consumo. Nos primeiros seis meses deste ano, 37.105 famílias deixaram de ter prestações do crédito ao consumo em atraso, com o número total a recuar para um mínimo histórico de 427.892.
Por se tratarem de créditos mais rápidos quando comparados com a habitação, tal ajuda a explicar o facto de o consumo ser a finalidade em que o número de incumpridores mais se reduziu. No final de junho, este segmento era responsável por 2.205 milhões de euros de crédito malparado, 8,6% face ao total de empréstimos ao consumo. Seria necessário recuar até junho de 2009 para ver um montante do incumprimento tão baixo, e até março de 2011 para ver um rácio de malparado semelhante.
No caso do crédito à habitação, também foi sinalizado um novo mínimo histórico no número de incumpridores, com este a baixar para 102.230. Nos primeiros seis meses do ano, 9.475 agregados deixaram de estar em falta com o pagamento das suas prestações do crédito da casa. No final de junho, este segmento era responsável por 2.688 milhões de euros de malparado, 2,7% face ao total do crédito à habitação. Ou seja, níveis mínimos de setembro de 2013 e junho de 2014, respetivamente.
Apesar da melhoria da saúde financeira de muitas famílias e da maior capacidade para assumirem compromissos financeiros com créditos, há outro fator menos positivo que poderá ajudar a redução das situações de incumprimento. Este facto é salientado por Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Apoio ao Sobreendividado (GAS), da Deco.
Temos tido, principalmente este ano, muitas solicitações de pessoas com crédito que já foi vendido pela banca, e que muito dele já não está reportado na Central de Responsabilidades de Crédito.
Uma das razões que aponta para ajudar a explicar, pelo menos em parte, a redução do número de famílias em situação de incumprimento relaciona-se com a venda de carteiras de malparado por parte dos bancos. “Temos tido, principalmente este ano, muitas solicitações de pessoas com crédito que já foi vendido pela banca, e que muito dele já não está reportado na Central de Responsabilidades de Crédito”, adianta Natália Nunes. “Ou seja, há um grande número de carteiras de crédito hipotecário, mas também de crédito pessoal que está a ser cedido, mas o certo é que continuamos a ter famílias com estas situações”.
A responsável da associação de consumidores diz, aliás, não ter uma perceção que aponte no sentido de uma quebra no número de situações de sobreendividamento que chegam ao seu gabinete. “Em relação às famílias que nos pedem ajuda não vimos nenhuma diminuição em termos de número de pessoas em dificuldade. O que temos visto é que muitas das situações são longas ou muito longas, de pessoas já confrontadas com penhoras dos seus bens e rendimentos. Isso é algo que tem vindo a acentuar-se” salienta Natália Nunes.
Começamos a ver pessoas que já nos estão a pedir para ajudar a renegociar crédito à habitação contratado em 2016 e 2017, e também cartões de crédito contratados recentemente.
“Aliás, começamos a ver pessoas que já nos estão a pedir para ajudar a renegociar crédito à habitação contratado em 2016 e 2017, e também cartões de crédito contratados recentemente. Ou seja, se por um lado pode dizer-se que os efeitos da crise estão a abrandar, já estamos a ser chamados a dar resposta famílias que contrataram já depois do início desta euforia”, acrescenta, salientando contudo que as pessoas que contactam o seu gabinete estão a fazê-lo antes de entrar numa situação de incumprimento.
Natália Nunes lembra o facto de a banca ter aligeirado as regras para a concessão de crédito, nomeadamente para a compra de habitação, mas diz que muita da responsabilidade por essa realidade está em “alguma instabilidade e precariedade que ainda existe em alguns contratos de trabalho”.
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