Elétricas cobram mais pela energia hídrica do que pela produzida nas centrais
Uma investigação do Expresso concluiu que as elétricas do mercado ibérico poderão estar a aproveitar a alta dos preços para ganhar mais com a energia produzida nas barragens.
As empresas de energia do mercado ibérico de eletricidade (Mibel) passam muitas horas a vender eletricidade produzida pelas barragens a um preço superior ao da energia produzida a partir do carvão e do gás. Ou seja, poderão estar a cobrar mais pela energia produzida pelas barragens como forma de compensar o aumento dos custos de produção de energia nas centrais termoelétricas. É a conclusão de uma investigação do Expresso (acesso pago), numa altura em que os preços da energia em Portugal e Espanha estão em alta.
O fenómeno é encarado sob suspeita, porque o custo de produção de energia hídrica é menor do que o custo de produção de energia a partir de combustíveis fósseis. Face aos dados analisados, o jornal questiona se os preços praticados no Mibel estão, realmente, a refletir o normal funcionamento do mercado.
De acordo com o semanário, a energia hídrica ditou o preço de fecho em 63% das horas do mês de julho. Em agosto, a percentagem foi de 55% das horas. Em setembro, até ao passado dia 20, as barragens ditaram preço da energia em 57% das horas. Em suma, as elétricas da Península Ibérica estão, a maior parte do tempo, a pôr as barragens a cobrar mais pela energia do que as centrais a carvão ou gás natural.
A justificação da EDP é a de que as barragens estão “a trabalhar muito mais” este ano, pelo que “é expectável que as centrais hídricas estejam a marcar mais o preço no Mibel”. Em causa, o facto de 2017 ter sido um ano mais seco.
Porém, ao mesmo tempo que a EDP argumenta que as centrais termoelétricas, que usam combustíveis fósseis, estão menos competitivas devido ao preço elevado da matéria-prima e ao custo das licenças de CO2, o Expresso encontrou momentos em que a energia hídrica marcou o preço no Mibel quando a maior parte da eletricidade consumida tinha origem no carvão e no gás natural.
Um especialista contactado pelo jornal referiu que, em causa, poderá estar o aproveitamento por parte das elétricas da atual conjuntura de preços altos. Ou seja, numa altura em que as centrais termoelétricas estão (efetivamente) menos competitivas, as empresas de energia poderão estar a tentar compensar, ganhando mais nas hídricas. No final, os consumidores poderão ver a sua fatura agravar-se.
Segundo o jornal, o secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches, confessou que o Governo tem algumas “reservas” que já comunicou ao regulador setorial, a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE). “Sabemos que este tem sido um ano com pouco vento, mas olhamos com atenção redobrada para a forma como é, ou não, utilizada a energia hídrica”, disse.
Atualmente, o preço grossista da energia no mercado ibérico está nos 75 euros por megawatt hora (MWh). Em causa, o aumento do preço do carvão e do gás natural, mas também o aumento do custo das licenças para a emissão de CO2.
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