Teixeira dos Santos: Aligeirar a avaliação de crédito não é um bom caminho
O presidente-executivo do Eurobic discorda da opinião de António Costa, que defende que a banca deveria conceder mais crédito às empresas.
Depois de o primeiro-ministro ter afirmado que os bancos precisam de emprestar mais dinheiro às empresas, Teixeira dos Santos disse não concordar com esse ponto de vista. Para o presidente-executivo do Eurobic, “a banca tem vindo a fazer o seu caminho” e pedir que haja uma facilidade na avaliação do risco “não é a sugestão de um bom caminho”. Teixeira dos Santos falou ainda da situação económica italiana, deixando o alerta de que “será muito complicada uma rutura com a União Europeia“.
“A banca tem vindo a responder àquilo que a economia tem vindo a solicitar“, disse Teixeira dos Santos esta terça-feira, durante o Fórum Eurobic, em Castanheira do Ribatejo. Os bancos saíram “muito fragilizados” de um período prolongado de crise e com a “consciência de que essa situação de deveu a erros cometidos no passado na avaliação do risco”.
Questionado sobre se concorda com a opinião de António Costa que disse, em entrevista à TVI esta segunda-feira, estar preocupado com “a falta de crédito ao investimento produtivo”, “aquém do que é normal no investimento às empresas”, o presidente do Eurobic disse que pedir aos bancos que “aligeirem a avaliação do risco é entrar por um caminho de risco que pode vir a dar mau resultado e que acaba sempre por pesar nos contribuintes”.
Se o crédito às empresas não aumentou nestes últimos anos, isso deveu-se, sobretudo, “à forte retração da própria procura de crédito”, disse. Alertando para o facto de Portugal ser, no contexto mundial, “um dos países com maior peso da dívida total do país — pública e privada”, o professor disse que as coisas estão a melhorar, “porque a desalavancagem das empresas foi feita”, acrescentando que se trata de “dar tempo ao tempo”.
Orçamento para o próximo ano será de “continuidade”
A cerca de 15 dias da data limite de entrega do Orçamento do Estado (OE2019) para o próximo ano, Teixeira dos Santos espera um “orçamento de continuidade”, sem “preocupação de vir gerar um grande estímulo para a economia”, na medida em que será semelhante ao deste ano. “Certamente que não haverá espaço para aumentar nem para diminuir impostos“, disse.
Acreditando que “há preocupação em assegurar um quadro de paz social, estabilidade política e rigor orçamental”, o professor diz ser algo que “não é fácil”, acrescentando que espera ser possível chegar a uma solução. “O importante é que, num contexto externo europeu de alguma turbulência que necessariamente será gerado com isto de Itália, Portugal não pode gerar qualquer razão de dúvida externa a quem nos financia, de que não seremos um país que, sob o ponto de vista da política orçamental, vai deixar de ser rigoroso e de abandonar o caminho rigoroso que tem feito até agora“.
“Se pusermos em causa o ganho reputacional que o país teve, de um momento para o outro tudo perde-se e podemos ser confrontados com a situação complicada nos mercados que nos pode afetar muito mais a nós do que a Itália, porque a nossa dívida é muito elevada”, explicou.
“Vai ser muito difícil a Europa conviver com Itália num cenário de rotura”
Depois de Mário Centeno ter reconhecido que a proposta orçamental apresentada na semana passada pelo Governo italiano suscita “questões”, e de ter alertado para a necessidade desta cumprir “um conjunto de princípios” seguidos pelos países da Zona Euro, Teixeira dos Santos diz que, com Itália, “o enquadramento é diferente”. “A Itália cumpre o pacto de estabilidade, não cumpre é o que se chama a vertente preventiva do pacto de estabilidade“, disse.
A Europa queria que a meta do défice italiano fosse de 0,8%, depois o Governo do país anunciou uma meta de 1,6% e, na semana passada, esse valor aumentou para 2,4% do PIB nos próximos três anos. “A melhor forma de prevenir eventuais infrações é reduzir o défice para valores próximos do equilíbrio. No caso da caminho das finanças públicas requerido por Itália, isso requeria o tal défice de 0,8% que o país não quer cumprir”, disse Teixeira dos Santos. Isto vai “perturbar os mercados financeiros que financiam e atuam nos mercados de dívida pública, porque grande parte da dívida italiana é contraída domesticamente, contrariamente à maioria dos restantes países“, completou.
A questão de fundo, disse, é o desafio político que Itália está a colocar à Comissão Europeia e às autoridades europeias por desrespeito por um conjunto de regras. “Sou tentado a arriscar que, à boa maneira europeia, se vai chegar a um compromisso onde todos vão procurar salvar a casa. Pode demorar, mas acho que, claramente, o poder político italiano que tem uma componente europeia vai querer marcar terreno e jogar esta provocação. Vão ter de ter algum ganho de caso e a Europa vai ter de ceder para evitar uma situação de rotura“, afirmou o diretor do Eurobic. E, nesse caso, “será muito difícil a Europa conviver num cenário de rotura política e económica com a Itália”.
(Título corrigido às 9h36 com alteração do contexto em que foi feita a declaração de Teixeira dos Santos)
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