Greve deixou parados esta manhã sete em cada dez comboios previstos
Sete dos últimos dez meses foram marcados por greves, ameaçadas ou concretizadas. Entre trabalhadores da CP, da IP e da EMEF, os comboios nacionais já estiveram parados oito dias.
A greve dos trabalhadores da Infraestruturas de Portugal (IP) desta quarta-feira marca o oitavo dia de paralisação dos comboios nacionais este ano. Desde o início de 2018, já foram convocados 17 momentos de protesto que acabaram por se refletir em oitos dias de paragem (a contar com esta quarta).
Segundo adiantou fonte da CP ao ECO, até às 10h00 foram realizados 143 dos 453 comboios que estavam programados: 104 em Lisboa e 39 no Porto. De notar que estão a circular apenas os comboios urbanos de Lisboa e do Porto, isto é, não circularam comboios nem no serviço Regional nem no Longo Curso.
Nos dez meses que o ano já leva, sete foram marcados ora por ameaças ora por paragens concretizadas. Dos trabalhadores da CP aos da IP, passando pelos da EMEF, o aumento dos salários e a modernização da ferrovia estão entre as principais reivindicações dos trabalhadores.
Primeira ameaça: 19 de fevereiro
Após terem passado janeiro em negociações com a Comboios de Portugal sobre o regulamento das carreiras, os trabalhadores da transportadora ferroviária lusitana decidiram usar a greve como forma de protesto, tendo agendado uma paralisação para 19 de fevereiro.
“A atual administração, quando se apresentou aos trabalhadores, assumiu pretender dar continuidade ao trabalho desenvolvido anteriormente, o que não se está a verificar, nomeadamente nos compromissos assumidos pela empresa em valorizar de forma efetiva os trabalhadores com baixos salários”, lia-se no aviso entregue no início do mês em questão.
Nessa ocasião, os trabalhadores sublinhavam também a necessidade de alugar e comprar material circulante, reforçando que o quadro atual estava a resultar na “degradação e destruição” do transporte ferroviário.
A dois dias da paralisação, o protesto foi, no entanto, desconvocado, na sequência das negociações entre a administração da CP e os sindicatos.
Primeira paragem: 20 de fevereiro
Depois dos trabalhadores da IP terem recuado na greve, foi a vez dos profissionais da EMEF – Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário anunciarem uma paralisação, que ficou marcada para 20 de fevereiro.
Na ocasião, os trabalhadores manifestaram-se contra o processo de transformação em Agrupamentos Complementares de Empresas — que apelidaram de “privatização parcial da empresa” — e em defesa da contratação coletiva.
Trabalhadores da IP paralisados a 12 de março
O impasse nas negociações do Acordo Coletivo de Trabalho levou as organizações sindicais que representam os trabalhadores das empresas do grupo Infraestruturas de Portugal (IP) a marcar uma paralisação a 12 de março.
Reclamavam aumentos salariais de cerca de 4%, que garantisse um aumento imediato de 40 euros por cada trabalhador, no mínimo.
Esta greve acabou por representar a supressão de mais de 150 comboios em todo o país. “Num dia normal, teriam circulado 266 comboios, mas devido à greve da IP realizaram-se 110 em todo o país”, disse, na altura, fonte da CP à Lusa.
EMEF volta a parar a 28 de março
Pouco mais de um mês depois da primeira paralisação do ano, os trabalhadores da EMEF voltaram a parar a 28 de março para exigir “a negociação da melhoria dos salários, o fim da precariedade laboral e a admissão de trabalhadores necessários”. Defendiam ainda a revisão do Acordo de Empresa e Regulamento de Carreira.
Além disso, os trabalhadores da EMEF queriam ser tratados de maneira semelhante aos da CP, isto é, pediam “o mesmo tratamento face a uma atualização salarial, tendo como referência o que tinha sido feito na CP”, empresa que detém 100% do capital social da EMEF.
A paralisação acabou por ser desconvocada depois da administração da empresa ter chegado a acordo com os sindicatos e com a tutela, em que ficou estabelecido um aumento salarial de 23 euros para os operários e de 16 euros para as restantes categorias.
Menos de uma semana depois…
Menos de uma semana depois do protesto da EMEF, foi a vez de os trabalhadores da IP pararem, a 2 de abril. Ainda que a paralisação tenha acontecido sem serviços mínimos, menos de 20 comboios foram suprimidos a nível nacional.
Mais uma vez, as negociações em torno dos aumentos salariais serviram de gatilho a esta greve.
Já em maio, IP ameaça nova greve
Os trabalhadores da Infraestruturas de Portugal convocaram greve parcial no dia 10 de maio e uma total a 11 de maio, mas acabaram por não a concretizar. “Foi alcançado um acordo e a greve vai ser desconvocada”, informou, na ocasião, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Setor Ferroviário.
Esse acordo previa uma atualização de 23 euros para todos os trabalhadores que tenham um vencimento até 1.300 euros. Para os que recebiam salários entre 1.300 e 2.000, a atualização foi de 16 euros.
Junho, mês das (muitas) greves
Junho foi um mês de tensões no seio da CP. Os trabalhadores ferroviários convocaram cinco dias de paralisação, tendo sido concretizados, desses, três.
O primeiro dia de greve, a 4 de junho, deixou quase 100% dos comboios urbanos de Lisboa e 72% dos do Porto e regionais parados. De acordo com os dados fornecidos por fonte oficial da CP, foram suprimidas 10 ligações internacionais, 60 comboios regionais, 114 comboios urbanos de Lisboa e 36 urbanos de Porto. Isto nas primeiras oito horas desse dia.
A paragem alargou-se, depois, a 12 e 13 de junho. Nesses dias, quase metade dos comboios acabaram por ser suprimidos, afetando sobretudo os urbanos de Lisboa. A paralisação terminou com a promessa de que a luta havia de continuar a 23 e 24 do mesmo mês, o que, afinal, não aconteceu.
A terceira paralisação marcada para junho de 2018 acabou por ser suspensa. Os sindicatos ferroviários e o Governo chegaram a acordo sobre as questões de segurança ferroviária e do agente único (revisor), encerrando o “conflito laboral”.
Agosto livre de greves, mas não de ameaças
Os trabalhadores da IP convocaram uma paralisação para 27, 29 e 31 de agosto da prestação de serviços nos Centros de Comando Operacional de Porto, Lisboa e Setúbal, que acabou por ser travada por um acordo com o Governo.
“A Infraestruturas de Portugal (IP) informa que, após várias reuniões que decorreram na Secretaria de Estado das Infraestruturas nos últimos dias, foi possível estabelecer um acordo conjunto entre a SEI, a IP e a APROFER – Associação Sindical dos Profissionais do Comando e Controlo Ferroviário”, informou a empresa em comunicado.
Os profissionais defendiam o reconhecimento das carreiras de supervisão, melhorias salariais e uma “postura de boa fé” do Governo na negociação coletiva.
Trabalhadores de bilheteiras e revisores em protesto
Os trabalhadores de bilheteiras e os revisores fizeram greve no primeiro dia de outubro, levando ao encerramento de 85% dos locais de venda de bilhetes. Também a circulação ferroviária foi afetada: cerca de 60% das ligações foram suprimidas.
Neste momento de protesto, os profissionais defendiam a contratação de mais profissionais, mais comboios e a negociação do contrato coletivo de trabalho.
Segundo os sindicatos, por falta de trabalhadores das bilheteiras, “a CP deixa de cobrar milhares de euros”, enquanto por falta de revisores “existem comboios que transportam cerca de 900 utentes que, por questões de segurança, deveriam circular com dois revisores e circulam só com um”.
Mais uma em outubro
A segunda paralisação ferroviária de outubro tinha sido marcada para 12 de outubro, mas acabou por ser adiada para 31 do mesmo mês.
“Face à posição fechada do Governo e da Administração da IP, as organizações sindicais decidiram reformular as formas de luta em curso, começando pelo adiamento da greve marcada para a próxima sexta-feira, para o próximo dia 31 de outubro”.
Os profissionais lutam, mais uma vez, “pela defesa da negociação de um acordo coletivo de trabalho e de um regulamento de carreiras”.
Esta terça-feira, os sindicatos representativos dos trabalhadores da IP decidiram manter a greve, após uma reunião com o Governo em que não foi possível “chegar a acordo”, segundo o coordenador da Fectrans. “Não houve acordo. É um processo que vai levar algum tempo. Houve muito pouca evolução”, afirmou à Lusa José Manuel Oliveira.
O secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme W. d’Oliveira Martins, lamentou a posição dos sindicatos representativos dos trabalhadores da Infraestruturas de Portugal (IP) em avançar para greve, referindo que o Governo “fez muitas cedências”. “Só posso lamentar a situação de rotura a que os sindicatos nos conduziram e que vai ter reflexo na greve, que vai prejudicar os cidadãos e a circulação dos passageiros que utilizam o meio ferroviário”, disse em declarações à Lusa.
(Notícia atualizada com o número de comboios parados)
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