Centeno baixa previsão do crescimento. Não chega, avisam economistas
O ministro das Finanças quantificou, pela primeira vez, o corte na previsão de crescimento. Os economistas ouvidos pelo ECO, que já antecipavam um cenário pior, olham com cautela para a Zona Euro.
Falta pouco mais de um mês para Mário Centeno enviar para a Comissão Europeia a atualização do Programa de Estabilidade, com novas previsões para a economia portuguesa. O Governo sinalizou que pode rever em baixa a previsão de crescimento do produto interno bruto (PIB): o ministro da Economia admite uma “nova fase do ciclo económico” e o ministro das Finanças indica que pode cortar “duas décimas” à projeção de crescimento económico, colocando-a em 2%. Uma projeção que ainda pode ser vista como otimista, revelam as previsões dos economistas contactados pelo ECO.
Em outubro de 2018, quando entregou o Orçamento do Estado para este ano, o Governo previu uma subida do PIB de 2,2% este ano, contra um crescimento económico de 2,3% no ano passado. Entretanto, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que a economia cresceu 2,1% em 2018. E sucedem-se revisões em baixa das instituições internacionais.
- A 7 de fevereiro, a Comissão Europeia cortou as previsões para a Zona Euro de 1,9% para 1,3% para este ano, encolhendo a projeção de crescimento para Portugal em uma décima: dos 1,8% que estimava em novembro do ano passado para 1,7% que antevê agora.
- Já este mês, a 6 de março, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) cortou as previsões para o bloco do euro de 1,9% para 1%.
- À OCDE seguiu-se o Banco Central Europeu (BCE) que na quinta-feira baixou as perspetivas sobre o desempenho económico no bloco do euro. A equipa de economistas liderada por Mario Draghi acredita que a Zona Euro vai crescer apenas 1,1% em vez dos 1,7% estimados antes.
Resta agora aguardar pelo Fundo Monetário Internacional que em abril atualiza previsões no âmbito dos Encontros de Primavera, que se realizam entre os dias 12 e 14 na cidade de Washington, nos EUA. Para já, o FMI vê a Zona Euro a crescer 1,6%. Mas quando esteve em Lisboa para participar no Conselho de Estado, a diretora-geral do Fundo, Christine Lagarde, pintou um quadro de abrandamento a nível mundial.
Mário Centeno está consciente desta tendência de abrandamento. Na entrevista à RTP, na quarta-feira, o ministro admitiu rever em baixa as previsões de crescimento “em apenas uma décima ou duas”. Ou seja, a previsão de crescimento do PIB passa de 2,2% para 2% no cenário de maior revisão.
No entanto, pode ser insuficiente este corte. Tanto o Santander como o BPI apontam para um crescimento de 1,8%, a par do que o Banco de Portugal e o FMI anteveem. Já o Conselho de Finanças Públicas (CFP), que aponta para 1,9%, e a OCDE que tem uma projeção 2,1%, estão mais próximos do que pode vir a ser a nova previsão de crescimento que o Governo se prepara para assumir dentro de cerca de um mês.
“De acordo com as nossas previsões, uma estimativa de 2% para o crescimento em 2019 parece ser otimista”, diz ao ECO a economista do BPI Teresa Gil Pinheiro.” A previsão do BPI para o crescimento do PIB em 2019 é de 1,8%, consolidando a perspetiva de que a economia está atualmente numa fase mais madura do ciclo, com ritmos de crescimento mais sustentáveis”, afirma a economista, acrescentando que “os riscos, positivos e negativos, que envolvem este cenário são equilibrados, ainda que ligeiramente enviesados em sentido descendente, tendo em conta a permanência de fatores de incerteza na economia global”.
Rui Constantino, economista-chefe do Santander – instituição que aponta para um crescimento de 1,8% -, adianta que “em breve” o banco vai “fazer uma reavaliação do cenário, incorporando também a visão sobre a economia global, que apontaria a uma revisão em baixa”. No entanto, “a dimensão da revisão ainda não pode ser quantificada”, adianta Rui Constantino.
"Em breve, iremos fazer uma reavaliação do cenário, incorporando também a visão sobre a economia global, que apontaria a uma revisão em baixa, mas a dimensão da revisão ainda não pode ser quantificada.”
Centeno justifica a revisão mais tímida das previsões com o facto de ver “sinais mistos” na economia. Apesar do abrandamento das exportações, e de a economia já ter crescido menos que o previsto em 2018, o ministro das Finanças lembra o comportamento muito positivo das receitas fiscais e das contribuições para a Segurança Social que se explica apenas pela robustez da atividade económica.
Mário Centeno tem destacado a evolução destes indicadores como um sinal da evolução da economia. Em janeiro, a receita fiscal (excluindo o ISP e Imposto sobre o Tabaco que beneficiaram de fatores transitórios) subiu 12,8% graças ao andamento do IVA (mais 15,9%), do IRS (mais 7,6%) e do IRC (mais 84,4%) “devido ao desempenho da economia”, assinalam as Finanças. O ministério tutelado por Mário Centeno destaca também o crescimento de 7,3% da receita com contribuições para a Segurança Social, depois de um crescimento de 6,3% em 2017 e de 7,6% em 2018. “A evolução da receita destes impostos e contribuições sociais, em que não existiu nenhum aumento de taxas entre 2018 e 2019, reflete o dinamismo da economia e do mercado de trabalho, que manteve uma aceleração ao longo de 2018 e dá indicações de continuar em 2019.”
Além das informações que recolhe juntos dos serviços que tutela, Mário Centeno olha também para indicadores produzidos pelo banco central. Na entrevista à RTP, o governante mencionou que o indicador coincidente do Banco de Portugal, referente a janeiro, parece sugerir uma inversão da tendência de abrandamento.
Os economistas ouvidos identificam um conjunto de indicadores a acompanhar com atenção nos próximos tempos para saber como anda a economia. “Como a incerteza se materializa já nas revisões de crescimento para a Zona Euro (como efetuado quinta-feira pelo BCE), deveremos acompanhar a evolução das variáveis de procura externa: PIB dos principais parceiros externos, avaliação da carteira de encomendas externas (ao nível da confiança dos empresários) e a evolução das exportações”, defende o economista-chefe do Santander.
No Orçamento deste ano, o Executivo previa um crescimento de 4,2% na procura externa relevante, que mede a que se dirige à economia portuguesa. Mário Centeno estimava que se este indicador crescesse dois pontos menos, ou seja, 2,2%, o crescimento do PIB ficaria três décimas abaixo. Daí a necessidade de acompanhar o que se passa nos principais parceiros comerciais.
Teresa Gil Pinheiro refere a importância de acompanhar a evolução das exportações e também das importações de bens e serviços, acrescentando que seguir a economia nacional passa também por acompanhar de perto o andamento dos indicadores coincidentes do Banco de Portugal e de atividade e clima económico do INE que “são os que melhor resumem a evolução da atividade e do sentimento dos agentes económicos”.
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