Sem fundo de greve, motoristas perdem 30 euros por cada dia de paralisação
Sindicatos independentes são relativamente recentes e dependem apenas das quotizações, sem fundo de greve disponível. Paralisação é por isso um sacrifício que fazem em nome do longo-prazo, dizem.
Tanto o Sindicato Independente de Motoristas de Mercadorias (SIMM), como o Sindicato Nacional de Matérias Perigosas (SNMMP), as estruturas que apresentaram o pré-aviso de greve para 12 de agosto, são entidades relativamente recentes: os primeiros foram criados há sensivelmente quatro anos e os segundos no final do ano passado. Ambas enfrentam, portanto, uma limitação na greve que se preparam para executar: a inexistência de um fundo de greve. Assim, e apesar da paralisação ser por tempo indeterminado, haverá seguramente um tempo determinado para os motoristas aguentarem sem salário.
“Não temos fundo de greve, só as quotas dos associados. Os nossos fundos são reduzidos”, reconheceu Anacleto Rodrigues, dirigente do SIMM, em declarações ao ECO. “Enquanto estivermos em greve vamos estar a perder dinheiro. Eu próprio vou estar a perder dinheiro a cada dia de greve”, apontou.
Também Pedro Pardal Henriques, representante do SNMMP, referiu esta quinta-feira que a greve não está a ser financiada. “Os trabalhadores não têm qualquer fundo, não existe qualquer fundo que financie esta greve. Não têm nada a perder. Já não é só uma questão dos direitos que reivindicam, é uma questão de honra. Têm sido humilhados pelo Governo que os devia proteger e pelas entidades patronais”, afirmou na conferência de imprensa em que reafirmou a intenção de manter a paralisação que começa na próxima segunda-feira, mas não se sabe quando termina.
Apesar das repetidas tentativas de contacto do ECO ao representante e ao presidente do SNMMP durante a última semana para abordar em maior profundidade este ponto, nem um nem outro responderam a qualquer solicitação.
Para Anacleto Rodrigues, mais importante do que olhar para o dinheiro que vai perder nos dias em que não for para a estrada é pensar no médio prazo que é, de facto, o foco em que ambos os sindicatos estão centrados. E esse olhar a médio prazo diz que é possível perder 100 ou 200 euros hoje, para mais do que os recuperar nos meses seguintes fruto de uma revisão salarial “justa”, defende.
“Nos últimos 20 anos, os salários no setor só foram revistos em 14,3%”, apontou o dirigente do SIMM, relembrando que o que está em causa — ou seja, a “razão do desespero” dos motoristas — está precisamente neste ponto. Sentem que foram descurados nas últimas duas décadas e agora combatem para recuperar a totalidade ou parte do que devia ter sido acomodado gradualmente ao longo dos últimos anos. Não tendo acontecido, o copo encheu e agora transbordou. Para chegar onde querem, estão dispostos a passar fatura não só à economia e ao país, como a eles próprios.
“Todos os que optarem por aderir à greve vão perder dinheiro. Para um motorista Nacional, por exemplo, falamos em mais de 26 euros por dia”, detalhou Anacleto Rodrigues. Já se considerarmos um motorista Internacional, que tem direito a mais 160 euros mensais, este valor pode chegar a atingir os 33 euros. Mas é tudo uma questão de perspetiva: “Podemos perder dinheiro durante uma semana de trabalho, para depois recuperá-lo rapidamente com uma revisão justa”, sublinhou.
Porém, e não sendo os salários dos motoristas propriamente significativos, esta pode ser uma visão onde a teoria não corresponde à prática. Saindo da análise do SIMM e olhando para os valores apontados como médios para o setor — salário bruto mensal em 2019 rondará os 1.169 euros, sem diuturnidades, dos quais 630 de vencimento base –, percebe-se que nem todos os motoristas poderão ter margem para abdicar de vários dias de salário. Quantos dias aguentarão o tempo indeterminado? Dependerá caso a caso.
Há ainda um outro fator a ter em conta nos cálculos ao custo da paralisação para os próprios motoristas: de acordo com a Antram, o acordo que está em negociação avançada com a Fectrans, e que prevê uma subida do vencimento dos motoristas entre 10% e 18% já em janeiro, não será extensível aos sindicatos independentes que preferiram a via da greve à da manutenção da negociação.
Os filiados do SIMM e do SNMMP ficarão assim de fora das novas condições que serão fechadas para o setor, o que pode significar a perda de mais de 120 euros mensais — e até mais no caso dos motoristas de matérias perigosas — a juntar ao de curto prazo, os tais cerca de 30 euros diários por dia de greve.
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