Dez chefes de equipa de urgência do Hospital Garcia de Orta apresentam demissão
A demissão em bloco deve-se à "decisão do Conselho de Administração de retirar a Cirurgia Geral da presença física no serviço de urgência”. BE vai pedir esclarecimentos sobre demissões.
Dez chefes de equipa de urgência do Hospital Garcia de Orta, em Almada, demitiram-se esta quinta-feira, segundo a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), com o hospital a admitir a “possibilidade de demissão”.
“Hoje [quinta-feira] demitiram-se 10 chefes de equipa de urgência do Hospital Garcia de Orta e outros tantos internistas que exercem funções no Serviço de Urgência demitiram-se em bloco, em carta enviada ao Conselho de Administração”, refere a SPMI, em comunicado enviado às redações.
Contactado pela agência Lusa, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Roque da Cunha, confirmou que “os chefes de equipa de Medicina apresentaram a demissão por insuficiência de recursos humanos”.
O SIM adianta que “vai fazendo chegar ao bastonário da Ordem dos Médicos as situações em que as equipas de urgência estão com um número de profissionais abaixo dos níveis desejados”.
Após o comunicado da SPMI, a dar conta das demissões, em nota enviada na noite desta quinta-feira à Lusa, o Conselho de Administração do Hospital Garcia de Orta refere que um grupo de chefes de equipa do Serviço de Urgência Geral enviou hoje “uma carta ao Conselho de Administração, alertando para alguns problemas internos inerentes” àquele serviço, na qual “também fazia referência à possibilidade de demissão”.
“De imediato o CA [Conselho de Administração], na pessoa do sr. diretor clínico, recebeu o grupo e, nessa reunião, foram esclarecidas as dúvidas existentes e assumido o compromisso, por parte do CA, de adoção de medidas possíveis, neste momento, para ajudar a resolver as questões e as situações colocadas”, acrescenta a nota do Hospital Garcia de Orta.
Contudo, questionada pela agência Lusa durante a tarde de quinta-feira sobre as demissões, na sequência de informações que chegaram à Lusa, o hospital respondeu nessa ocasião por escrito que “nenhum diretor de serviço do HGO [Hospital Garcia de Orta] se demitiu” nem nessa resposta se fazia referência à “possibilidade de demissão” que consta na nota enviada à noite.
Na resposta enviada cerca das 17h30, o hospital dava conta também da marcação de uma nova reunião para a “primeira quinzena de outubro”.
A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna acrescenta no seu comunicado que o “protesto dos internistas do Hospital Garcia de Orta se deve à decisão do Conselho de Administração de retirar a Cirurgia Geral da presença física no Serviço de Urgência”.
“É evidente que isso levará a um esgotamento ainda maior dos internistas na Urgência, para além de pôr em perigo os doentes do foro cirúrgico, que ficam dispersos numa amálgama de doentes ainda maior”, alerta a SPMI.
Catarina Martins “muito preocupada” com demissão de chefias
Na sequência da demissão dos chefes de equipa de urgência do Hospital Garcia de Orta, a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, afirmou estar “muito preocupada” com a situação, defendendo que as administrações hospitalares devem poder contratar os médicos de que precisam.
“Nós estamos muito preocupados com a situação do Garcia de Orta. É um hospital a que têm faltado muitos profissionais e que tem recorrido à prestação de serviços e, portanto, tem tido muita dificuldade em fazer as suas equipas“, disse Catarina Martins, que considerou o recurso a médicos em regime de prestação de serviços uma forma de privatização parcial do Serviço Nacional de Saúde.
“Para nós é absolutamente urgente que hospitais como o Garcia de Orta possam contratar, de forma permanente, os profissionais de que precisam – médicos e não só -, porque é a única forma de ter estabilidade nas equipas”, acrescentou a coordenadora do Bloco durante uma ação de pré-campanha eleitoral nas Festas da Moita, no distrito de Setúbal.
Catarina Martins adiantou que o BE vai pedir esclarecimentos sobre as demissões, mas sublinhou que o problema da falta de médicos no Hospital Garcia de Orta, em Almada, “já está diagnosticado há muito tempo”.
“Achamos que o que está a acontecer é sintoma de se estar a atrasar a necessidade absoluta de médicos. E estar sempre a recorrer a empresas de prestação de serviços quando faltam médicos é uma forma de ir privatizando partes do Serviço Nacional de Saúde, de o tornar mais desregrado, com menos coerência entre si, de o fragilizar”, disse.
“Voltamos a chamar à atenção: há tantos hospitais deste país que estão à espera de autorização para contratar os médicos de que precisam”, frisou Catarina Martins.
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