Calçado investe 30 milhões de euros na indústria 4.0
A nível global as marcas focadas na Geração Z duplicaram desde o ano passado. Este é o consumidor que também o calçado português terá de conquistar.
Em 2020, estima-se que 40% da população mundial será Geração Z, geração que terá o dobro do poder de compra dos Millennials. A grande questão no palco da MICAM – a maior feira de calçado do mundo e que voltou a reunir a indústria em Milão – é se as marcas estão preparadas para entender estes consumidores emergentes e que irão transformar, por completo, o retalho e o próprio produto.
Há drivers globais apontados pela WGSN na Micam para estes jovens consumidores de futuro: elevated conscious, digitally native e Individualist. Nas suas prioridades estão marcas sustentáveis e inclusivas que vão mudar o sistema de valores – priorizando a qualidade e não a quantidade, são adeptos da economia circular e numa era datanomics vão aumentar as expectativas em relação aos produtos, já que as marcas têm todos os dados e a tecnologia a seu favor para os conquistar de forma customizada e respeitando a sua individualidade. Complexo? A verdade é que, embora não sejam estes os visitantes da MICAM, é este consumidor que também a indústria portuguesa do calçado terá de conquistar.
Na Micam estiveram mais de 80 empresas portuguesas (responsáveis por 550 milhões de euros de exportações), a segunda maior delegação estrangeira numa feira estratégica para consolidar a posição do calçado português nos mercados externos. Evento que, ao fim de 50 anos, também está ele próprio a olhar para o futuro, para as tendências e para os nichos de mercados, tendo incluído nesta edição uma nova área – o “Player District”, dedicado ao calçado desportivo.
As marcas portuguesas estão naturalmente atentas a esta nova área: “Ultimamente há uma grande tendência nesse sentido, algo mais técnico, mais sustentável e, sobretudo, mais desportivo – não quer dizer que não haja também uma aposta nos modelos clássicos – mas, cada vez mais, os novos consumidores procuram mais este tipo de calçado e temos uma grande incidência nesta nossa coleção de calçado mais desportivo”, explicou Miguel Vieira. Com marca própria no mercado há 30 anos, o criador também está a adaptar-se aos novos consumidores, com “forte aposta nas redes sociais”. “Basta ver o número de seguidores que temos”, acrescenta.
Canais de marketing que estão a crescer e a desenvolver-se, como sublinhou a Launchmetrics, a plataforma de soluções de marketing e data analytics para a moda, luxo e cosmética, na MICAM. “Novos conceitos de mercado a que temos de estar atentos, apostando nas novas tecnologias, na formação, e trazendo novos jovens para a nossa indústria”, disse Luís Onofre, presidente da Apiccaps, acrescentando que esta feira, no final, permite sempre “tirar ilações para o futuro”.
“É um facto que a população mundial está a mudar. Se, por um lado, o envelhecimento, por via do tão esperado aumento da esperança média de vida, acarreta novos desafios, por outro, emerge uma nova geração, com gostos diversificados. A grande mudança que está a ocorrer na indústria de calçado é precisamente ao nível do produto. Desenvolvemos calçado mais jovem, mais atual, com características técnicas e materiais diversificados. Também ao nível da comercialização, muitas mudanças têm vindo a ocorrer. O aumento das vendas online e a personalização dos produtos são duas áreas críticas a que as empresas portuguesas de calçado estão particularmente atentas”, acrescenta Paulo Gonçalves, responsável de comunicação da Apiccaps.
No âmbito do FOOTURE 4.0 – Roteiro para a Economia Digital, serão investidos cerca de 30 milhões de euros na “criação de novas formas de interação com o cliente, num contexto digital e em rede, na “melhoria da flexibilidade, tempo de resposta ao cliente, inteligência do negócio e sustentabilidade, bem como na “qualificação do cluster”, uma estratégia que aprofundaremos nos últimos anos. Acredito que o facto de as empresas portuguesas serem, já, das mais modernas do mundo nos ajudará nessa caminhada”, diz Paulo Gonçalves.
“Fashion Disruption” em tempos de Influencer Marketing
Segundo um relatório da by BCG & Altagamma, o boca-a-boca tornou-se a principal forma de impactar o modo como os consumidores desenvolvem as suas opiniões e decisões de compra, com quase 40% da influência a vir diretamente das redes sociais e blogues. A questão já não é o “se”, é mais o “como”, as marcas devem criar envolvimento com os consumidores nestes canais.
O Influencer Marketing cresce, segundo a Launchmetrics, mas também crescem os desafios como manter a autenticidade da marca ou encontrar o retorno do investimento em estratégias omnicanal. “É um enorme desafio e oportunidade. Do ponto de vista tecnológico, algumas das empresas mais modernas do mundo estão instaladas precisamente em Portugal. Julgo que reunimos todas as condições para estarmos na linha da frente da digitalização. Desde logo, depois de termos consolidado a imagem do calçado português nos mercados externos, muita da nossa tenção e investimento estará diretamente associado ao investimento na promoção das marcas. E nesse domínio, estamos já a investir em todas as vertentes da comunicação”, acrescenta Paulo Gonçalves.
Na Micam, que decorreu de 15 a 19 de setembro, 12 novas marcas estiveram em destaque com espaço próprio no Emerging Designers e entre elas esteve a portuguesa Balluta. Com o social media a amplificar as oportunidades de sucesso para uma nova geração de empreendedores, num mercado até aqui feito de marcas reconhecidas e com importantes investimentos nos media tradicional, a Micam quis explorar o fenómeno juntando os designers a 12 influencers italianos, que durante a edição mostraram as coleções no Instagram. “O júri escolheu marcas que são, no fundo, um apanhado do que se passa em termos de tendências, desde design para a Geração Z, com o stand dos japoneses, à sustentabilidade, como é o caso da nossa marca”, começou por explicar Catarina Pedroso, fundadora da Balluta e que trabalhou com a influencer @camilla_agazzone . “É só mais uma maneira de comunicar. Para nós é um meio importante e selecionamos criteriosamente as influenciadoras com quem trabalhamos. Temos quase ano e meio de marca e a estratégia que adaptámos foi associarmo-nos a raparigas e mulheres que usam marcas que fazem bench para criarmos uma associação de qualidade”.
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