Mário Leite Silva renuncia à presidência do BFA
Mário Leite Silva é gestor e braço-direito de Isabel dos Santos nos negócios que envolvem esquemas financeiros suspeitos, revelados na investigação jornalística Luanda Leaks.
O presidente do Conselho de Administração do Banco de Fomento Angola (BFA), Mário Leite Silva, gestor de Isabel dos Santos, renunciou ao cargo, com efeitos a partir de 22 de janeiro. A informação, a que a Lusa teve acesso, foi transmitida esta quinta-feira aos trabalhadores do banco angolano.
Mário Leite Silva é um dos gestores portugueses dos negócios de Isabel dos Santos que envolvem esquemas financeiros suspeitos, revelados na investigação jornalística conhecida como Luanda Leaks.
A Procuradoria-Geral da República anunciou na quarta-feira que Isabel dos Santos foi constituída arguida por alegada má gestão e desvio de fundos durante a sua passagem pela Sonangol, tal como alguns cidadãos portugueses, entre os quais Mário Leite da Silva.
O português, braço direito da filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, assumiu o cargo de presidente do BFA em janeiro de 2017, após a assinatura do acordo de compra de 2% do BFA pela Unitel, sendo eleito para o triénio 2017-2019.
Na carta de renuncia a que o ECO teve acesso, Mário Leite Silva explica que no final de dezembro o conselho de administração da Unitel “aprovou formalmente a lista de pessoas a designar para o conselho de administração do BFA para o triénio que agora de inicia” e como não faz parte do mesmo, o gestor considerou “ser o momento apropriado para fazer cessar” as suas funções naquele órgão.
O gestor foi também alvo, tal como Isabel dos Santos e o seu marido, Sindika Dokolo, do arresto preventivo de participações em empresas e contas bancárias decidido em dezembro pelo Tribunal Provincial de Luanda.
No conselho de administração do BFA está também outro dos gestores próximos de Isabel dos Santos, António Domingues, ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos, como vice-presidente. Um cargo que chegou também a ser ocupado por Isabel dos Santos, segundo o relatório e contas de 2017, ano em que a assembleia geral de acionistas aprovou a nomeação dos órgãos sociais para o triénio 2017-2019.
Também Jorge Brito Pereira, advogado de longa data de Isabel dos Santos, faz parte dos órgãos sociais do BFA, na qualidade de presidente da mesa da assembleia geral, e é também um dos facilitadores de negócios expostos pela investigação ‘Luanda Leaks’.
Por outro lado, a PricewaterhouseCoopers (PwC) constava no relatório mais recente do banco como auditor externo, mas a consultora anunciou, na segunda-feira, ter cessado os contratos de serviços com empresas controladas pela empresária angolana, na sequência das notícias do Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) com base em mais de 715 mil ficheiros.
O Luanda Leaks detalha esquemas financeiros da empresária angolana e do marido que lhes terão permitido desviar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais, alegações que Isabel dos Santos considera “completamente infundadas”.
Mário Leite da Silva substituiu Fernando Ulrich em 5 de janeiro de 2017, logo após o Banco Português de Investimento (BPI) concretizar a venda de 2% do BFA à Unitel, passando a operadora angolana a controlar o banco.
“Em consequência da concretização desta transmissão, as participações do Banco BPI e da Unitel no BFA passaram a ser de, respetivamente, 48,1% e de 51,9%”, lê-se na informação enviada pelo BPI em 5 de janeiro de 2017 à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Em consequência do negócio, Fernando Ulrich e José Pena do Amaral renunciaram aos cargos de presidente e vogal do conselho de administração do BFA, respetivamente.
Os acionistas do BPI aprovaram, em 13 de dezembro de 2016, à segunda tentativa, a venda parcial do BFA pelo BPI, perdendo este o controlo do banco angolano que fundou no final da década de 1990.
Em setembro desse ano, a administração do BPI, liderada por Artur Santos Silva e Fernando Ulrich, tinha proposto a venda de 2% do BFA à Unitel, por 28 milhões de euros, operação apresentada como a “única solução” para que o BPI cumprisse as exigências do Banco Central Europeu de redução da exposição ao mercado angolano, onde Frankfurt entendia que a supervisão bancária não é equivalente à europeia.
(Notícia atualizada às 10h50 com a carta de renúncia)
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