Bolsas na Europa têm os dias mais longos. Traders pedem para trabalhar menos horas
Depois dos operadores, é a vez dos traders. Inquérito da Bloomberg revela que 74% dos intervenientes do mercado bolsista é favorável à redução do horário de negociação da bolsa.
Os trabalhadores dos mercados acionistas do mundo que estão abertos durante mais horas querem equilibrar o horário de trabalho. Na Europa, as bolsas negoceiam durante mais duas horas que nos Estados Unidos e os traders consideram que uma redução poderia ajudar à liquidez, mas principalmente permitir conciliar a vida profissional e pessoal. Do lado das empresas, esta poderá ser uma forma de atrair e reter talento para o setor.
Em novembro do ano passado, a Associação de Mercados Financeiros a Europa (AFME) e a Associação de Investidores (IA) — entidade que representa os operadores financeiros e os investidores nas bolsas europeias — enviaram uma carta à Euronext a solicitar uma redução do horário de funcionamento em 90 minutos. Agora, é a vez de os traders se mostrarem favoráveis à redução do horário de trabalho, revela um inquérito da Bloomberg.
A Bloomberg inquiriu 114 operadores no mercado bolsista na Europa, em Londres, Paris e Amesterdão, entre eles traders, profissionais financeiros, analistas e gestores de fundos acionistas. 74% mostraram-se a favor da redução de horário e apontam causas como a conciliação entre a vida pessoal e profissional, a concentração de liquidez à hora de abertura e de fecho da bolsas europeias e, ainda, a possibilidade de ter mais tempo para comunicar com os media.
A redução de horário de trabalho na bolsa tem sido um assunto debatido nos últimos meses. “Reduzir o horário de negociação da bolsa pode aumentar a eficiência de mercado”, defende Matthew McLoughlin, head of trading na britânica Liontrust Investment Partners LLP, citado pela Bloomberg. “Não há qualquer benefício em alargar o período de liquidez mais que o necessário”, sublinha.
Mais de metade dos inquiridos concorda em reduzir o número de horas de negociação de bolsa em 90 minutos. No quadro geral, 78% dos inquiridos defende que o mercado bolsista europeu poderia abrir mais tarde e 75% concorda que podia fechar mais tarde.
Sobre a hora exata, não há consenso, mas 28% dos inquiridos defende que a hora de abertura da bolsa poderia ser adiantada para as 9h00, na hora de Londres e Lisboa, e o fecho para as 16h00, o mesmo horário que tinha sido proposto em novembro. Atualmente, a negociação em bolsa decorre entre as 8h30 e as 16h30.
No mesmo inquérito, os traders referem que os avanços da tecnologia — que já “permitem negociar remotamente” — deveriam permitir alterar os horários de negociação da bolsa.
Maior conciliação entre a vida pessoal e profissional
Além da forte concordância com a redução do horário da bolsa, a sondagem da Bloomberg revelou ainda outras propostas: a abertura da bolsa só às 11h00 da manhã (hora de Londres) ou uma hora de almoço ao meio dia (atualmente é contínuo). Por outro lado, há quem proponha o prolongamento das negociações para as 24 horas do dia.
O horário de abertura às 8h00 da manhã implica que os traders devem estar no local de trabalho às 6h00 da manhã. Este horário pode ter implicações na conciliação entre a vida pessoal e profissional, principalmente para quem tem filhos. Além disso, sublinha a Bloomberg, poderá ter impacto na atração de talento, pois este poderá ser um motivo para optar por um outro setor de atividade que dê maior flexibilidade.
“Só porque este horário foi considerado apropriado há 20 anos, não significa que seja adequado para a sociedade de hoje ou para a força de trabalho com espírito tecnológico que temos”, defende McLoughlin, da britânica Liontrust. “O setor financeiro precisa de entender que está a cometer um grande erro nesta matéria e é necessário corrigi-lo”, acrescentou.
"Só porque este horário foi considerado apropriado há 20 anos, não significa que seja adequado para a sociedade de hoje ou para a força de trabalho com espírito tecnológico que temos.”
Em resposta ao pedido de consideração por parte dos operadores, a Euronext mostrou-se “disponível para o diálogo” e considerou-o um “assunto delicado”. Também a bolsa de Londres já se mostrou favorável à redução de horários, afirmando que “apoia fortemente a diversidade e a cultura dentro do local de trabalho”, enquanto a bolsa da Alemanha confirmou que vai debater esta opção junto dos acionistas.
Mas poderá haver entraves a uma uniformização das horas de negociação para todos os países europeus já que o mercado alemão poderia abrir só às 10h00 ou o finlandês às 11h00, por exemplo. “Acreditamos que reduzir o horário de negociação não é bom para o mercado, pois reduz as possibilidades de investidores e traders implementarem as suas decisões de negociação”, defende Peter Vorrath, head of business and corporate development da alemã SSW-Trading GmbH.
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