Empresas da bolsa começam a mostrar as contas. Analistas antecipam quebra de 5,5%
Época de resultados arranca esta terça-feira, mas é na próxima semana que os pesos-pesados apresentam contas. Analistas antecipam uma quebra nos lucros. O coronavírus pode ofuscar as surpresas.
Esta a chegar a época de resultados à bolsa nacional, mas não há grandes motivos para festejos. A expectativa é a de que as maiores empresas portuguesas tenham obtido lucros robustos no ano passado, mas abaixo dos registados no ano anterior. Números que serão revelados ao mesmo tempo em que se conhecem os dividendos a distribuir pelos investidores, algo que poderá acabar por ser ofuscado pelos receios dos investidores quanto ao impacto do coronavírus.
“Passado o primeiro mês do ano, o PSI-20 está em terreno ligeiramente positivo, em linha com as principais bolsas. No entanto, isso deve-se quase unicamente à valorização das ações do grupo EDP e Jerónimo Martins, que mais do que compensam as perdas em grande parte das restantes cotadas”, refere Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros. “O PSI-20 é um índice relativamente pouco diversificado, sobretudo por ter alguns ‘pesos pesados’ que são determinantes na evolução do índice“.
O índice de referência nacional mantém-se na linha de água em 2020, com um ganho de 1,5%, apesar de as bolsas mundiais estarem a viver um arranque de ano conturbado. Numa altura de tensão a nível internacional, a época de resultados poderá ser uma lufada de ar fresco ou um vento adverso que penalize ainda mais o comportamento da bolsa portuguesa.
"Sem dúvida que a epidemia coronavírus tem merecido muito mais atenção do que a divulgação de resultados. O mercado continua a acreditar no aparecimento de estímulos, fiscais e monetários, se necessários e está a considerar que a epidemia não terá impactos duradouros na economia.”
Os lucros das cotadas do PSI-20 deverão recuar 5,5% em 2019 face ao ano anterior, segundo a projeção da Refinitiv/IBES para o ECO. A quebra — que compara com uma subida de 0,5% nas contas das cotadas europeias do Stoxx 600 — poderá levar o resultado líquido global para um total de quase 3.288 milhões de euros. A estimativa aponta para serem os setores de consumo e materiais a penalizarem o resultado global do índice, enquanto utilities, banca e telecom estão do lado oposto.
Mas os resultados poderão acabar por ser ignorados. “Sem dúvida que a epidemia coronavírus tem merecido muito mais atenção do que a divulgação de resultados“, admite Garcia. “Na verdade, o mercado continua muito otimista para as bolsas em termos gerais. O segmento growth continua a ter um comportamento muito mais positivo do que o value, o que também atesta a menor importância dada aos resultados divulgados. O mercado continua a acreditar no aparecimento de estímulos, fiscais e monetários, se necessários e está a considerar que a epidemia não terá impactos duradouros na economia“.
Cotadas portuguesas deverão lucrar menos que europeias
Nova gestão da Navigator e dos CTT sob escrutínio
“Chegados ao período de divulgação dos resultados relativos ao ano de 2019, consideramos que as empresas devem, de um modo geral, apresentar bons resultados, não sendo expectável grandes surpresas positivas ou negativas”, diz Pedro Barata, gestor da GNB Gestão de Ativos, sobre a época que arranca esta terça-feira, com a apresentação de resultados da Navigator.
A papeleira, que é desde novembro liderada por António Redondo, é uma das cotadas em que Barata vê maior potencial para surpresas. “Queremos perceber se a mudança do CEO e a adoção de uma estratégia mais conservadora impactou de alguma forma os resultados da empresa num cenário de contração do preço da pasta que se prolonga há algum tempo”, aponta o gestor.
Esta semana serão a Navigator e a Semapa a apresentar contas ao mercado, mas é na próxima semana que virá uma enchente de lucros para os investidores gerirem, incluindo dos pesos pesados Galp, BCP, EDP, EDP Renováveis, Nos e Jerónimo Martins, que, em 2018, acumularam mais de dois terços dos lucros do índice. Este ano, deverão manter o destaque.
Próximas três semanas concentram maior parte dos resultados do PSI-20
Tal como a Navigator, o mesmo se aplica aos CTT, que tem um novo CEO além de um plano de reestruturação em curso. Neste caso, Pedro Barata refere que será importante perceber quais os resultados da estratégia seguida pela nova equipa de gestão, num mercado que apresenta bastantes desafios. Nas contas até setembro, a operadora postal quase duplicou os lucros face ao período homólogo, enquanto a papeleira viu uma quebra nos resultados líquidos.
Fora do PSI-20, é nas empresas de media que estará o foco. “Poderemos ainda assim ter uma surpresa agradável nos resultados da Impresa, fruto da dinâmica criada à volta das novas contratações da SIC e da grelha de programação do segundo semestre e que já deverá refletir-se na sua plenitude nos resultados deste último trimestre”, acrescenta Pedro Barata.
Em sentido contrário, a TVI perdeu a liderança, numa altura em que está a ser alvo de uma oferta pública de aquisição (OPA). A Cofina vai pagar cerca de 125 milhões de euros pela Media Capital e assumir uma dívida na ordem dos 80 milhões de euros, numa operação que deverá ficar concluída ainda no primeiro trimestre do ano, dado que já tem o aval dos reguladores em Portugal.
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