Covid-19 é bom para a crise climática? Ambientalistas dizem que não
Quercus e Zero não estão otimistas. As associações ambientais avisam que a redução das emissões de gases poluentes é uma “situação transitória”. Bruxelas diz que "emergência climática não desapareceu”
Com a pandemia de Covid-19 a agravar-se, o consumo de combustíveis fósseis está a cair a pique e as emissões poluentes seguem o mesmo caminho. Apesar de parecer que o novo coronavírus até tem um efeito positivo a curto prazo nas alterações climáticas, os ambientalistas e ativistas climáticos não estão nada contentes. Porquê? Em Portugal, a Quercus explica que, para começar, se trata de uma “situação transitória”.
O mesmo alerta tinha já sido lançado na semana passada por Greta Thumberg e António Guterres: com todas as atenções desviadas das alterações climáticas para o coronavírus, a ativista sueca apelou aos jovens de todo o mundo para continuarem a manifestar-se online, enquanto o secretário-geral da ONU alertou que a luta contra a pandemia não pode invalidar nem fazer esquecer a luta pelo ambiente.
“A crise climática e ecológica global é a maior que a Humanidade já enfrentou”, avisou Greta.
Por seu lado, Guterres frisou que, apesar da queda momentânea nas emissões de gases poluentes, devido ao surto mundial de coronavírus, esta não deve ser sobrestimada porque “a magnitude de uma crise climática não tem comparação com o impacto temporário de uma pandemia”. “Não vamos combater as alterações climáticas com um vírus”, atirou.
Com a Comissão Europeia completamente focada em mitigar o impacto económico do surto do novo vírus, tendo já anunciado um plano de 37 mil milhões de euros, a presidente Ursula Von der Leyen garantiu no entanto que o seu Executivo comunitário continua empenhado no Green Deal e em tornar a Europa no primeiro continente neutro em carbono até 2050.
“Não podemos ignorar o se passa a nível global. A emergência climática não desapareceu”, disse o comissário europeu para o Ambiente, Virginijus Sinkevicius, em declarações à Bloomberg TV.
Por cá, os ambientalistas da Zero e da Quercus não estão otimistas. Apesar da quebra na procura mundial de petróleo, o presidente da associação ambientalista Zero, Francisco Ferreira, disse à Lusa que “ainda é muito baixa” e lembrou que “é preciso uma redução de 7,6%” em cada ano.
Francisco Ferreira salientou que, para que sejam atingidos os números de redução de emissões para este ano, era preciso que o cenário se mantivesse. “Somando a redução mundial do consumo de petróleo e o cenário na quebra de produção na China e quebras à escala mundial ficamos efetivamente próximos da meta da ONU para a temperatura não ultrapassar 1,5 graus”, notou o responsável, acrescentando que “estas são mudanças conjunturais e não estruturais e com impactes que em áreas como o emprego não são também as desejáveis”.
Em comunicado, a Quercus sublinha que “é preciso não esquecer que uma queda de 25% das emissões na China, durante duas ou três semanas, representa uma redução mundial de apenas 1%. O que quer dizer que este eventual impacte positivo não é a longo prazo. Ou se aproveita esta crise para mudar comportamentos, ou mais tarde a recuperação económica poderá, provavelmente, ser ainda mais prejudicial”.
A associação ambientalista portuguesa reconhece que “as restrições nas viagens aéreas e as limitações de contacto, que envolvem naturalmente uma redução das deslocações automóveis, resultarão num declínio substancial no consumo de combustíveis fósseis e na redução de gases com efeito de estufa, que contribuem negativamente para a qualidade do ar e que influenciam as alterações climáticas”.
Qual o reverso da medalha? Diz a Quercus que “se por um lado esta pandemia mostra sinais positivos para o ambiente, por tempo limitado, a necessidade de proteção individual com máscaras e luvas levou ao consumo exponencial de materiais em plástico descartável, que após utilização (em meio hospitalar) terão necessariamente como destino final a deposição em aterro, por se tratar de um resíduo com risco biológico”. Para os doentes tratados em casa, nem sequer existem canais de recolha para estes resíduos, sendo o lixo indiferenciado o destino a ser dado aos mesmos, por falta de outra alternativa, sublinha Associação Nacional de Conservação da Natureza.
Outro problema poderá ser a corrida aos hipermercados e a aquisição exagerada de bem perecíveis, seguida de um aumento do desperdício alimentar.
“Esta pandemia que está a parar o mundo irá inevitavelmente servir para repensarmos os nossos comportamentos, e até que ponto conseguimos mudar alguns hábitos na nossa vida, para além de poder contribuir para promover a discussão das políticas ambientais e governamentais adotadas por cada um dos países em matéria ambiental”, remata a Quercus.
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