Um em cada cinco trabalhadores continua no local de trabalho
Percentagem de pessoas que afirma estar em casa, saindo somente em situações de absoluta necessidade, é muito alta.
Um em cada cinco inquiridos num estudo da Escola Nacional de Saúde Pública (20,6%) afirma que continua a trabalhar no local de trabalho e 2% dizem que não ficam em casa, apesar de não terem de ir para o emprego.
Os dados constam da segunda semana do inquérito “Opinião Social” do Barómetro Covid-19, que decorreu entre os dias 21 e 30 de março e contou com um total de 156.192 respostas.
Apesar dos 2.754 inquiridos que dizem não ficar em casa representarem uma pequena percentagem (2%), os investigadores quiseram perceber “quem são estas pessoas e porque não estão a aderir ao distanciamento físico”, afirma a coordenadora científica do inquérito da ENSP, Sónia Dias, em comunicado.
“Quase todas as pessoas deste grupo (95%) reconhecem as medidas veiculadas pelas autoridades de saúde como importantes ou muito importantes, mas apesar disso não ficam em casa”, descreve a coordenadora.
Do total destas pessoas, 34,1% consideram que o risco de ficar infetado com o novo coronavírus (SARS-CoV-2) é baixo ou nulo.
A maior parte destes inquiridos (59,7%) confiam na resposta dos serviços de saúde, 24,2% consideram as medidas implementadas pelo Governo “pouco ou nada adequadas”.
Para Sónia Dias, “a análise destas variáveis pode indicar uma aparente desvalorização das consequências de ser infetado” e uma subjetividade na avaliação do conceito de “sair somente em caso de absoluta necessidade”.
“É importante identificar as barreiras à adesão de comportamentos preventivos para que se possam definir estratégias para as ultrapassar”, acrescenta a equipa de investigação.
Sónia Dias reforça a importância de definir de “forma clara” as medidas que cada um deve adotar, para “garantir o esforço conjunto para travar a epidemia”.
O inquérito revela ainda que a percentagem de pessoas que afirma estar em casa, saindo somente em situações de absoluta necessidade, é muito alta.
No entanto, a análise mais detalhada permite identificar que apenas 76,5% das pessoas referem estar em casa, sem sair para trabalhar.
Segundo o inquérito, cerca de 80% dos respondentes disseram já se ter sentido “em baixo, agitado, ansioso ou triste devido às medidas de distanciamento físico”.
“Estão também mais ansiosas, agitadas, em baixo ou tristes as pessoas que têm receio de perder o rendimento (64,2%) e as que temem uma interrupção de fornecimento de bens essenciais (45,4%)”, sublinha.
As pessoas em idade laboral são as que mais receiam perder o rendimento (61,6% têm idades entre os 46 e os 65 anos e 65,5% entre os 26 e os 45 anos) e as pessoas das regiões do Algarve e do Norte.
“Ser trabalhador por conta própria parece influenciar muito o nível de receio de perder o rendimento”, afirma a investigadora.
As mulheres estão mais receosas acerca de uma interrupção de fornecimento de bens essenciais, quando comparadas com os homens, sendo as pessoas das ilhas e do Alentejo que mais reportam este receio.
O Barómetro é um projeto de investigação, que analisa a evolução da pandemia em Portugal, da ENSP, que apela para a participação de todos no preenchimento do questionário
O projeto lançou uma nova área da investigação focada nos profissionais de saúde, um dos grupos profissionais em maior risco de contrair Covid-19, que visa “criar conhecimento científico que possa ser útil para os serviços de saúde ocupacional, para as unidades de saúde e para os decisores em políticas públicas de saúde, tendo em vista a proteção, afirma António Sousa Uva, coordenador científico do Saúde Ocupacional.
A análise destes resultados pretende ser “uma contribuição para a proteção dos profissionais que estão na linha da frente do combate ao vírus e contribuir para o combate à pandemia de forma mais efetiva”.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia do Covid-19, já infetou mais de 940 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 47 mil.
Dos casos de infeção, cerca de 180.000 são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Em Portugal, segundo o balanço feito pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 209 mortes, mais 22 do que na quarta-feira (+11,8%), e 9.034 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 783 em relação a terça-feira (+9,5%).
Dos infetados, 1.042 estão internados, 240 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 68 doentes que já recuperaram.
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março, tendo a Assembleia da República aprovado hoje o seu prolongamento até ao final do dia 17 de abril.
Além disso, o Governo declarou no dia 17 de março o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.
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