Bancos nacionais aceleram corrida ao dinheiro barato do BCE para responder à pandemia
Mais bancos querem recorrer às operações de refinanciamento de prazo alargado - ORPA direcionadas III - do BCE. Resposta à falta de liquidez e oportunidades de rentabilidade explicam apetite.
Com o Banco Central Europeu (BCE) a acenar com dinheiro barato num contexto de pandemia, os bancos portugueses estão a “correr” para o apanhar. Há mais bancos a assumirem a intenção de recorrer às operações de refinanciamento de prazo alargado, as designadas ORPA direcionadas III, disponibilizadas pela entidade liderada por Christine Lagarde com condições mais favoráveis. Resposta às necessidades de liquidez das empresas e particulares explicam o apetite, mas o setor quer também tirar partido das oportunidades de rentabilidade criadas pelo liquidez extremamente barata.
Dois bancos nacionais assumiram ter participado nas ORPA direcionadas III realizadas em março, de acordo com o inquérito sobre o mercado de crédito do Banco de Portugal. Mas houve quatro a revelar a intenção de participar em operações futuras deste mecanismo em que o BCE concede empréstimos de longo prazo aos bancos, oferecendo-lhes um incentivo — com juros mais baixos face ao habitual — de modo a que estes disponibilizem mais crédito às empresas e famílias.
As instituições financeiras nacionais que participaram nas ORPA de março, justificaram o recurso a esse mecanismo sobretudo com a necessidade de reforçarem o cumprimento dos respetivos requisitos regulamentares ou prudenciais, mas também com a necessidade de atenuarem dificuldades de financiamento atuais e pelas condições atrativas de rendibilidade permitidas.
Foi em março que a pandemia parou a maioria das economias europeias, acabando por reduzir a liquidez nos mercados. Muitos investidores, penalizados pela turbulência que se instalou nos mercados financeiros, retraíram-se, evitando novos investimentos em antecipação ao forte impacto do Covid-19 no ciclo económico.
Os bancos que pretendem agora participar em futuras ORPA apontaram precisamente as dificuldades de financiamento atuais, assim como condições atrativas de rendibilidade permitidas pela liquidez do BCE, para recorrerem a estas operações de financiamento em breve.
“Os bancos anteveem uma utilização da liquidez sobretudo para os dois fins referidos, mas também como alternativa ao crédito interbancário [em que os bancos se financiam junto de outros bancos] ou a outras operações de cedência de liquidez“, diz o inquérito realizado pelo Banco de Portugal. E também “para a aquisição de obrigações soberanas nacionais”, permitindo-lhes, com o BCE a comprar dívida pública no mercado — tem uma “bazuca” de 750 mil milhões de euros –, obter algum retorno.
Os bancos dizem ainda esperar que “a sua participação nestas operações contribua para melhorar a respetiva situação financeira, nomeadamente através da melhoria da capacidade para cumprir os requisitos regulamentares e prudenciais e da rendibilidade e posição de liquidez global do banco”, mas também “para o aumento do volume de crédito concedido a empresas e a particulares“.
De acordo com o inquérito do Banco de Portugal (BdP) aos bancos sobre o mercado de crédito, no que respeita à procura de crédito, os bancos “anteveem um forte aumento da procura por parte das empresas e uma forte redução por parte dos particulares, em particular no segmento da habitação”.
Este aumento da procura de crédito perspetivada do lado das empresas enquadra-se num contexto em que têm sido disponibilizadas linhas de financiamento que podem ser utilizadas pelas empresas para mitigar os efeitos da pandemia na sua atividade. Foram lançadas linhas que ascendem a milhares de milhões de euros, isto ao mesmo tempo que empresas e famílias passaram a ter acesso a moratórias nos créditos.
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