Caldeira Cabral: “Nenhuma empresa estava preparada para esta crise”
A liquidez é a chave para as empresas resistirem à crise económica causada pela Covid-19, mas a demora na atribuição de apoios públicas está a criar dificuldades.
O tecido empresarial português está a enfrentar um desafio como nunca e o elevado endividamento herdado da crise anterior é um desafio adicional. Com os apoios públicos a demorarem em chegar, economistas e empresários pedem rapidez e menos burocracia. E alertam que são necessários mais fundos comunitários.
“As empresas estavam melhor, mas ainda muito alavancadas. Nenhuma empresa estava verdadeiramente preparada para esta crise“, diz Manuel Caldeira Cabral, administrador da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões e ex-ministro da Economia, numa conferência online organizada pela Nova SBE sobre estratégias de relançamento da economia.
O economista considera que as linhas de crédito, com uma dotação global de 6,2 mil milhões de euros, têm uma dimensão proporcional às necessidades financeiras das empresas, mas alertou para os atrasos. “Espero que cheguem às empresas. E penso que há condições para isso, mas a rapidez nos bancos e na segurança social tem de ser acelerada“, afirmou Caldeira Cabral.
João Talone, fundador da empresa de private equity Magnum Capital, alinha com o apelo. “Todo o pacote de ajuda às empresas foi bem pensado, mas mal executivo devido à máquina burocrática“, disse, apontando para a demora na atribuição de crédito bonificado e o pagamento da comparticipação do lay-off. “Há muita burocracia e o meu medo é que quando chegarmos ao fim desta primeira fase muitas empresas não tenham resistido”.
Apesar de verem as linhas de crédito com bons olhos, economistas e gestores alertam para o impacto que a estratégia vai ter nas contas das empresas. No final do ano passado, 60% da estrutura de capital das empresas é dívida e estudos preliminares citados na conferência apontam que empresas com mais liquidez e menos dívida foram menos afetadas.
Em alternativa à dívida, a solução pode passar capitalizar as empresas, com fundos públicos ou privados. “As linhas de crédito vão levar as empresas a ficar muito endividadas, o que dificulta a recuperação económica. Os subsídios têm a vantagem de manter as relações económicas, mas são dispendiosos e é difícil se não houver ajuda europeia“, aponta Miguel Ferreira, da Nova SBE. Também Talone defende apenas apoios a fundo perdido se estes forem financiados por fundos comunitários.
Além da capitalização, as empresas terão igualmente de se reinventar para lidar com a crise, que poderá durar anos. Face à elevada incerteza, os especialistas consideram que é necessário planear a gestão com base em diferentes cenários, bem como aproximar trabalhadores e clientes da nova realidade.
“Estamos a passar por uma crise que provavelmente nenhum de nós alguma vez uma paragem da economia à escala global da forma como está a acontecer. Penso que, em teoria, os grupos económicos de maior dimensão conseguem resistir melhor às pressões de mercado. Essa capacidade de resistência tem de ser provada na prática“, acrescentou Vasco de Mello, do grupo José de Mello.
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